Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Fui tirar esta fotografia a uma notícia do jornal Expresso sobre o caso das vítimas do Meco. A notícia não identifica o autor da foto nem o sítio. Parece-me o cabo Espichel.
O que gosto nesta fotografia? A figura humana. Experimento pôr um dedo em cima da figura humana para ver a paisagem deshumanizada. A beleza da Natureza mantém-se: a côr azulada da rebentação das ondas, os vários tons de cinza sobrepostos e o castanho suave da areia, que aparece como uma onda em movimento. No entanto, perde a força que lhe é dada pelo contraste da figura humana na sua quietude estática de contemplação -adivinhamos- e assombro face à pujança indómita da natureza. Se não existira a pessoa humana quem se assombraria com a Natureza e para quê assombraria a Natureza? O olhar do fotógrafo também apanhou essa perplexidade e passou-a para nós. E, de onde nos vem essa capacidade de adivinharmos a disposição interna dos outros (ainda que erradamente, por vezes) só com o vislumbre de uma posição particular do corpo ou da atenção?
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.