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Às vezes andamos tão absorvidos com os problemas e o mundo da outra realidade, a aparente -as políticas do dia a dia, os agravos e isso- que esquecemos que temos acesso à poesia e que demorar-se na poesia é um acesso directo à paz que vem com a tranquilidade. Agora há pouco fui dar com o blog de RAA que já não visitava há um certo tempo e dei de caras com estes versos transcritos em baixo. Entra-se logo num estado de espírito de acesso a uma dimensão diferente.

De vez em quando esqueço que também sei escrever um verso e que a demora na poesia infunde uma sensação de profunda tranquilidade e paz.

 

Esta camisa

perfeitamente passada

pelas rugas

da minha mãe

 

Daniel Jonas, Bisonte 8(2016

 

 .......

 

O teu Produto Interno

é Bruto.

 

Filipa Leal, Vem à Quinta-Feira (2016)

 

fui ao outro blog, o da poesia, ver o que andava a escrever há 10 anos. Escrevia muito nesses anos. em 2008 escrevi 157 textos poéticos. Muitos podia tê-los escrito hoje. Outros, não, são muito atormentados, alguns revoltados.

 

 

escrito a 25 de Setembro de 2008 às 16:22

 

Sinto o meu país na carne
profundamente dilacerado,
tão depressa não creio que volte
à primavera do recente passado.

Que mágoa esta de viver
em tempos de Judas multiplicados
quem pudera algum dia conceber
tais dias tão depressa ressuscitados...

Tornámo-nos obesos na vontade
e a valentia de outrora
não é agora mais que memória
do que já fizemos
por esse mundo fora.

Deixámos e até ajudámos
que os servis de coração
( os mais vis na ambição )
se içassem ao poder,
oferecemos-lhes o punhal
e abrimos ao golpe o peito
- foi profundo e brutal.
Quem sabe se desta vez
o ataque não foi mortal...

As civilizações e os povos
desaparecem por vezes
num curto espaço de tempo
quebradas que são suas gentes
por homens brutos e tolos
que só na ambição são adultos.

Como o animal enjaulado,
cujo passo é cerceado
por chão electrificado,
também o povo é quebrado
quando o tronco é atacado
pelos golpes de perversidade
das correntes de corrupção
que forçam a decomposição
do impulso de criação
e da paixão de liberdade
( essas forças de renovação! )
de tal modo que a vontade
ou quebra e torna-se apática
ou reage com violência
- no primeiro caso se entrega
às forças da decadência
até à dissolução;
no segundo irrompe em fúria
e tudo se acaba breve
em caos e revolução.
 
bja
 

 

 
 
 escrito a 1 de Setembro de 2008 às 21:29
 
 
Gosto das risadas das crianças
a jogar à apanhada
no verão depois do jantar
- elevam-se
entram em casa
pelas portadas abertas
que refrescam do calor o ar.

Transportam-me logo à infância
e sinto essa espécie de alegria
que acompanhava as nossas correrias
por entre os canteiros de flores
- bocas-de-lobo, amores-perfeitos e miosótis
que à hora do crepúsculo intensificam os odores.
 
bja
 

publicado às 16:35



no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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