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Uma metáfora da situação da Europa

por beatriz j a, em 01.01.13

 

 

 

 

Moleiro Editor

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Isto parece-me uma matáfora da situação da Europa: a Merkele e os amigos a quererem que sejamos como a China estão a transformar a Europa num monstro que se destrói a si próprio.
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Estamos reféns da visão medrosa e tacanha dos economistas da moda e de políticos sem conhecimentos, sem bagagem cultural e sem envergadura que defendem que para competirmos com a China temos que tornar-nos iguais à China, escquecendo que tornarmo-nos iguais à China significa termos povos sem direitos humanos, sem direitos civis nem laborais, mantidos pouco acima da escravatura, em empregos onde não ganham para uma vida digna e, calados.
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A Europa vinha a construir -com muitos precalços pelo caminho, é certo- uma sociedade governada pela razão, pela autonomia dos cidadãos e dos povos, pelo respeito dos direitos humanos, pelo ideal duma sociedade mais justa, mais igualitária, mais humana. Os outros povos do mundo olhavam para aqui quando queriam um ideal a atingir.
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De repente, o fim da Guerra Fria e a globalização fizeram o mundo ocidental regressar ao capitalismo selvagem que defende, mesmo se à custa do avanço civilizacional de mais de dois ou três séculos, o sucesso a todo o custo, o lucro a todo o custo, a competição desenfreada e o crescimento a todo o custo.
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Com esses princípios que contrariam o espírito europeu das luzes e do desenvolvimento sustentado das democracias, a Europa partiu para uma política de não cooperação entre os seus membros, mas de manipulação e exploração de uns pelos outros, com objectivos dúbios de pôr uns países na pobreza a servirem de mão de obra barata para os outros poderem competir com a China. Estamos a assemelhar-nos à China...
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Mas quem é que quer uma Europa construída à maneira da China? Se tivéssemos políticos de qualidade e saber, aproveitávamos esta oportunidade histórica única para construir uma união entre povos, abdicando dum ideal -irrealista- de crescimento contínuo indefinidamente e apostando num crescimento cujo indíce de medida seja a qualidade de vida, a boa vida.
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Porque não medir o índice da sociedade europeia pela qualidade vida dos seus cidadãos? Entendendo-se por qualidade de vida, uma vida digna onde ter uma educação e uma habitação e um trabalho não sejam um luxo mas um instrumento generalizado para a construção duma vida digna. Uma vida que não se esgota no trabalho porque uma boa vida tem que incluir tempo de lazer, tempo de família e a possibilidade de dedicar-se a fins pessoais.

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Ninguém tem o direito moral de desenhar para os outros uma vida de trabalho ou de miséria desde a infância até à cova.

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É claro que para isso é preciso mudar muita coisa: em primeiro lugar a organização do trabalho. É preciso que as pessoas trabalhem menos horas e lhes seja pago um dia de trabalho, para que todos possam ter acesso ao trabalho. É preciso desistir do lucro desenfreado, apostar numa sociedade onde o dinheiro esteja mais bem distribuído e onde não se eduquem as pessoas para uma ideia de sucesso ligada a ter muitos bens de luxo.
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É preciso mudar a educação que não pode ser vista apenas como meio de formar trabalhadores. Uma pessoa pode tirar um curso superior de música e ser agricultor, como pode tirar um curso de filosofia e ser trabalhador de um fábrica. Se a sociedade formar os seus cidadãos para serem pessoas úteis mas autónomas e críticas, aquilo que somos enquanto pessoas não estará, necessariamente, ligado ao trabalho que fazemos e, podemos ter um trabalho qualquer e prosseguir outros interesses pessoais no tempo disponível, sem que isso seja visto como insucesso, o que aumenta a nossa qualidade de vida. É claro que podemos não querer tirar um curso superior e estudar o suficiente para arranjar um trabalho. Mas, isso tem que ser uma opção da pessoa e não uma imposição de governos.
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É preciso os economistas deixarem de vir, do alto da sua cátedra, dizerem aos políticos que a solução dos problemas é desqualificar a vida de quase toda a gente para não desagradar aos grandes barões das finanças que engolem povos.
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Era preciso que reorganizássemos a sociedade de modo a não nos desviarmos daqueles ideais do iluminismo, embora interpretados à luz actual, que continuam a ser ideais justos. Pois que interesse tem a vida colectiva da humanidade se não juntarmos esforços para nos melhorarmos enquanto humanidade?
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Isto parece difícil? Pois é... mas mais difícil foi o Galileu fazer valer a sua ideia de educação e ciência. Mais difícil foi vencer o nazismo. Mais difícil é pensar que estes séculos de luta onde tanta gente se sacrificou para que tivéssemos sociedades democráticas, governadas pela razão e não pelas religiões, onde as pessoas são vistas como pessoas e não como meros instrumentos do lucro alheio, serão todos perdidos e que daqui a cem anos estaremos como os chineses ou os árabes estão agora.
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Não seria preferível aproveitar esta oortunidade única e construir uma sociedade de povos cooperantes, interessados mais na qualidade vida dos seus cidadãos que no lucro desmedido? Não seria excepcional chegar à sociedade das nações onde todos os dias se discutem guerras e massacres e dizer, 'olhem o que fizémos. E, se nós o fizémos outros também o poderiam fazer...?'
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Porque é que há-de ser impossível? Os povos querem-no. Ainda temos uma geração de pessoas que estudaram sem se endividarem para o resto da vida e estão conscientes do que está em causa, como se vê pelas saídas à rua de tantos milhares de pessoas em tantos países a protestar o rumo que a Europa está a seguir.
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Já os outros povos deixaram de olhar para a Europa como o ideal duma civilização justa... porque já não o é. É uma civilização que parece ter agora como objectivo degradar-se até ao nível da China. Como se vê pelas palavras deste Olli Rehn, temos na Europa uma falta aflitiva de políticos de qualidade.
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Olli Rehn diz que Portugal precisa de mais consolidação orçamental em 2014

“excesso de regulação da actividade empresarial e a rigidez do mercado laboral”, assim como o “acesso fácil a dinheiro barato” e a existência de “sectores protegidos”.

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Ainda estamos no 1º dia de 2013 e este indivíduo já vem dizer, sem nenhum pudor, que temos que continuar a despedir pessoas por 2014 adentro porque há muito dinheiro fácil(!) no país. Decerto o escandaliza que ainda haja um empregado com direitos laborais no país, pois o que se deseja mesmo é que nos tornemos como os trabalhadores da Apple na China onde os patrões das fábricas constroem muros à volta das fábricas suficientemente altos para eles deixarem de se suicidar.

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A crise da Europa é uma crise de mediocridade das ideias, mediocridade dos políticos que nos governam e mediocridade dos economistas que os aconselham. Falta de ideias, falta de visão histórica, falta de coragem política, ganância própria dum modelo de capitalismo selvagem, próprio de sociedades não civilizadas. Fazem tudo ao contrário do que deveriam fazer!

 

 

publicado às 15:02


Pessoas

por beatriz j a, em 06.09.12

 

 

 

 

A NG tem programa sobre 'mulas', correios de droga, que são apanhados no aeroporto. Já apanhei vários.

Todos eles -e elas- sem excepção, dizem que ficaram em choque quando foram apanhados e perceberam que iam ser presos. Quase todos tinham filhos que ficaram ao deus dará ou com família enquanto eles estavam presos num país da América Latina ou na Tailândia. Depois dizem que se arrependeram, que choraram, que a prisão é horrível, que cheirava mal...

O que me choca é perceber que as pessoas só se arrependem porque foram apanhadas e, antes de serem apanhadas, não pensam no que estão a fazer e acham que vão safar-se, transportando droga que destruirá uma vida e uma família algures, como se isso não tivesse importância nenhuma.

Nenhuma deles é pobre, ou drogada, são tudos pessoas de classe média, sem problemas de dinheiro. É só gente estúpida, mesmo.

 

publicado às 22:07


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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