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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
First, direction. Next, aceleration.
Há os que sonham e imaginam as coisas a acontecer-lhes, e há os que sonham e se vêem a si próprios a acontecer. Os primeiros raramente realizam os sonhos pois que vivem na ilusão de que basta imaginarem para que tudo lhes aconteça: desiludem-se. Mesmos os reis poderosos de antigamente, entre o sonharem e as coisas acontecerem tinham de colaborar e partilhar os seus sonhos com os outros, os fazedores de sonhos. Existir apenas, ou mostrarem-se de vez em quando ao povo não bastava. Os segundos realizam muitas vezes os sonhos porque sabem que para os sonhos nos encontrarem temos que fazer metade do caminho. Temos de ter a iniciativa. É assim em tudo: nos negócios e também na vida.
Se a vontade é indómita, se o coração é grande e a razão prevalece...o sonho acontece.
Hoje meti-me num táxi, em Lisboa, e apanhei um tipo que era taxista há cinco dias. Contou-me que tinha ficado desempregado, que estava com 53 anos e que não tinha aguentado ficar em casa a receber o subsídio de desemprego. Trabalhava desde os 12 anos e não estava habituado a não fazer nada. Falámos sobre o horror que é uma pessoa sentir-se inútil enquanto vê os outros trabalharem. À saída desejei-lhe sorte.
Mais tarde apanhei outro táxi e o homem contou-me que tinha sido duma comissão de trabalhadores numa empresa antes de ser taxista. A propósito da greve da Galp explicou-me a visão dele acerca das causas da greve e contou-me os truques que se fazem para impedir que outros trabalhadores façam o nosso trabalho.
Não sei se é por andar muito de táxi mas os taxistas falam muito comigo. Recomeçamos sempre as conversas onde tinham ficado da última vez que me sentei no táxi deles. Contam-me a vida.
Aqui em Setúbal conheço todos os taxistas que andam ao serviço e sei o que se passa na vida deles. O sr. A. já me safou de alguns apertos. Conhece toda a gente em Setúbal e é sempre simpático com os clientes. O sr. H tem dois filhos. O mais novo tem asma e ele vai com ele às urgências pelo menos três vezes por mês. O sr. M. todos os dias corre a pé desde a Quinta do Anjo, onde mora, até Setúbal. O sr. J. já trabalhou no Irão. Fala-me sempre das montanhas cheias de neve. Era lá camionista e sente saudades do país. O sr. L. veio de Lisboa para aqui. Estava farto do trânsito de Lisboa, veio tentar a sorte aqui. Mora sozinho com um gato. O sr. C. tem uma filha professora na Madeira e o R. tem o táxi sempre com indícios de actividades nocturnas espalhados pelo chão do carro...A sra. A. guia com uma mão, para mostrar que guia melhor que os homens.
Onde estão os claros cursos dos rios
largos e de margens definidas?
Passam longe dos bosques sombrios
onde as vidas são perdidas.
Cada vez mais actual esta música. Adolescentes, enfiados em guetos, juntam-se a gangs para terem algum sentido de afirmação. Têm a sensação - não errada - de não terem nada a esperar, nada a perder...
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