Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
A tranquilidade não é ausência de paixão nem distância que isso é alienação, incapacidade de lidar com o sofrimento que vem muitas vezes com a entrega, a exposição, a partilha, o envolvimento, o risco de estar presente e deixar-se ver, como se é.
A meditação como isolamento do mundo é uma droga de alienação. O silêncio há-de ser um estado de espírito de aceitação, não do mundo como é porque ele não é bom mas das nossas limitações em transformá-lo e transformarmo-nos para melhor. Há muitas maneiras de transformar o mundo para melhor: plantar árvores, ajudar os outros, inventar uma técnica... todas elas implicam presença, atenção, partilha, risco, exposição.
Presença significa, 'estar ali ao alcance da mão', 'ser visível' e ocupar um certo espaço que nos rodeia. É o contrário de ausente que significa, 'não estar, não ser, não-existir'.
A virtude está na presença e não na ausência.
É preferível tentar e fracassar, do que não tentar; é preferível expôr-se e fracassar do que fechar-se. Pior é querer e não ser capaz. Sócrates, no fim da vida, era um homem tranquilo, não por ter conseguido isolar-se das frustrações, injustiças, humilhações e enganos, pelo contrário, mas por saber que tinha tentado melhorar os outros e a si próprio. 'Melhor sofer uma injustiça que cometê-la', dizia, pois se a cometemos, juntamos ao mal que fizémos o termos de viver connosco próprios sabendo-nos injustos.
De modo que é melhor arriscar a tempestade que esconder-se e nunca ver o mar.
- Olá, como vais? - Tudo bem, e tu? Coisas que se dizem, porque é costume. Passaram meses. No mundo exterior, não no interior. Tive um pesadelo hoje. Talvez tenha sido mais um sobressalto. Desde a semana passada que os tenho. Pequenas catarses. Como as fumarolas dos vulcões, para ir aliviando a pressão.
O coração é só um músculo cheio de sangue, tenho que lembrar-me disto.
Passaram meses. A vida não pára mas na verdade pára. Pensei que o tempo curava, mas foi outro sonho. E nem sei se tenho tempo...
Se tivesse asas voava. Se tivesse companhia voava em formação consonante. Olhar as coisas por cima com a distância dos sábios. Sabedoria não tenho. Tenho frases e ideias e milhares de livros na cabeça ou no estômago, não sei. Mas é só isso, nada mais.
O dia amanheceu dum azul límpido indiferente aos cinzentos das vidas. E agora parece uma tarde de Primavera. Mas é um engano, eu sei que é Outono. Era só outro sonho. Há-de passar. Há-de passar.
- Olá, como vais? - Tudo bem, e tu?
Venus de'Medici - galleria degli Uffizi (via Paul, Paul, Paul)
(...)
Most of us no longer know how to grow the food we eat or build the homes we live in, after all. We don’t understand animal husbandry, or how to spin wool, or perhaps even how to change the spark plugs in a car. Most of us don’t need to know these things because we are members of what social psychologists call ‘transactive memory networks’.
We are constantly engaged in ‘memory transactions’ with a community of ‘memory partners’, through activities such as conversation, reading and writing. As members of these networks, most people no longer need to remember most things.
(...)
What’s new, however, is that many of our memory partners are now smart machines. But an AI – such as Google search – is a memory partner like no other. It’s more like a memory ‘super-partner’, immediately responsive, always available. And it gives us access to a large fraction of the entire store of human knowledge.
Researchers have identified several pitfalls in the current situation. For one, our ancestors evolved within groups of other humans, a kind of peer-to-peer memory network. Yet information from other people is invariably coloured by various forms of bias and motivated reasoning. They dissemble and rationalise. They can be mistaken. We have learned to be alive to these flaws in others, and in ourselves. But the presentation of AI algorithms inclines many people to believe that these algorithms are necessarily correct and ‘objective’. Put simply, this is magical thinking.
The most advanced smart technologies today are trained through a repeated testing and scoring process, where human beings still ultimately sense-check and decide on the correct answers. Because machines must be trained on finite data-sets, with humans refereeing from the sidelines, algorithms have a tendency to amplify our pre-existing biases – about race, gender and more. An internal recruitment tool used by Amazon until 2017 presents a classic case: trained on the decisions of its internal HR department, the company found that the algorithm was systematically sidelining female candidates. If we’re not vigilant, our AI super-partners can become super-bigots.
A second quandary relates to the ease of accessing information. In the realm of the nondigital, the effort required to seek out knowledge from other people, or go to the library, makes it clear to us what knowledge lies in other brains or books, and what lies in our own head. But researchers have foundthat the sheer agility of the internet’s response can lead to the mistaken belief, encoded in later memories, that the knowledge we sought was part of what we knew all along.
A new kind of civilisation seems to be emerging, one rich in machine intelligence, with ubiquitous access points for us to join in nimble artificial memory networks. Even with implants, most of the knowledge we’d access would not reside in our ‘upgraded’ cyborg brains, but remotely – in banks of servers. In an eye-blink, from launch to response, each Google search nowtravels on average about 1,500 miles to a data centre and back, and uses about 1,000 computers along the way. But dependency on a network also means taking on new vulnerabilities. The collapse of any of the webs of relations that our wellbeing depends upon, such as food or energy, would be a calamity. Without food we starve, without energy we huddle in the cold. And it is through widespread loss of memory that civilisations are at risk of falling into a looming dark age.
(...) in an educational setting, unlike collaborative chess or medical diagnostics, the student is not yet a content expert. The AI as know-it-all memory partner can easily become a crutch, while producing students who think they can walk on their own.
Uma pessoa está mais de vinte anos sem ir a um médico a não ser aqueles dois que tem mesmo que ser, tipo o dentista e isso, sem entrar num hospital e sem tomar medicamentos. Nem sequer tem uma gaveta de medicamentos. Lembro-me de ter, literalmente, um termómetro dos antigos com mercúrio, uma caixa de aspirinas, uma de dimicina, uma bisnaga de hirudóide e uns pensos rápidos. Mais nada. Nem sequer conhecia nomes de medicamentos vulgares. Enquanto o meu filho era pequeno, de cada vez que estava doente comprava os medicamentos que o médico mandava e depois aquilo gastava-se e pronto.
Agora é isto. Uma gaveta cheia de medicamentos, mais os que não cabem na gaveta, fora os da cozinha, que estou a tomar e os que estão no quarto... ahh e o saco para onde atiro os exames e relatórios médicos que são às dezenas, pois neste último, quase um ano, fiz o quê...? Deixa ver... biópsias e endoscopias com biópsia, meia dúzia, electrocardiogramas, ressonâncias magnéticas, radiografias, quase três dezenas no acelerador linear, uma PET, TACs...? ohh, sei lá... uma dúzia, quase todas com contraste... os tratamentos, claro, que são na ordem das dezenas, os de químicos todos endovenosos (o tratamento da químio eram quatro horas a enfiar cenas no corpo e quando era a vez do saco do medicamento que levava duas horas a despejar, o braço onde o injectavam ficava tão frio, gelado, que parecia ir cair como nos desenhos animados ou o homem gelo no filme do batman) e análises ao sangue contam-se já pela centena... embora as análises não as guarde a não ser as últimas, umas primeiras que fiz pelas quais tenho estima (sim, sim, estima) e mais uma ou duas importantes. E os medicamentos que já tomei devem estar na ordem do milhar. [um aparte - acho que as Bayers e outras multinacionais farmacêuticas desincentivam a investigação de cura do cancro porque isto é uma mina de ouro. Milhões de pessoas no mundo a dependerem de medicamentos todos os dias.]
Outro dia uma colega disse-me que tinha feito dois exames e duas análises ao sangue para despistar um problema e que já não podia ver hospitais, médicos e técnicos à frente. lol Já outra vez uma pessoa conhecida me dizia, 'fiz uma TAC em que injectam um líquido qualquer (iodo... radioactivo) e a Beatriz nem imagina! Aquilo foi horrível.' lol Nem lhe disse nada :))
A minha vida agora é andar em hospitais. Ontem estive no hospital, hoje fui ao hospital fazer um ecocardiograma a amanhã vou ao hospital fazer tratamento.
Enfim, e de cada vez que passo por este caos de medicamentos penso que tenho que organizar aquilo mas quero lá saber de organizar medicamentos... não sou farmacêutica.
É isto, como a vida de uma pessoa muda radicalmente em menos de um ano.
Claro, no meio das coisas más descobrem-se coisas boas. Uma das minhas irmãs vem sempre comigo, não falhou um único tratamento e até nas endoscopias/biópsias esteve comigo e tem passado secas monumentais por causa de mim, para além de me ter apanhado nos piores momentos quando os tratamentos foram tão agressivos, os de final de Julho e os de Agosto, que houve ali uma semana que se não fosse ela e o meu amigo André eu não tinha ido fazer os tratamentos. E os maus momentos também ela os sentia um bocado por estar comigo. Aquelas quatro horas da químio passavam mais depressa e custavam menos por causa dela. Houve dias em que ríamos tanto, de parvoíces e a lembrar de coisas da infância, que as pessoas ficavam a olhar com aquela cara de, 'aquela deve ser maluca, como é que está ali com cinco sacos pendurados para injectar no braço e ri como se estivesse na esplanada ao sol ou assim?'
Estas coisas que fazem por nós não têm preço.
Algumas são radicais porque lidam com as pessoas em situações que de um momento para o outro podem tornar-se extremas e embora a morte faça parte da vida ou, do ciclo da vida, melhor dizendo, é sempre uma fonte de angústia porque as pessoas não são cimentos onde as coisas embatem, são mais esponjas onde elas penetram, por muitas defesas que tenham.
E nós que somos exteriores também sentimos, embora não como a mesma intensidade, se sentimos a pessoa que sente e queremos confortar mas não sabemos como porque não podemos...
A troposfera, uma pequena faixa da atmosfera de pouco mais de 12 quilómetros, em conjunto com a hidrosfera (os mares) e a litosfera (a crosta terrestre) é todo o espaço onde ocorre vida. Até agora, que saibamos, em todo o universo conhecido, só nessa pequena e frágil faixa de atmosfera de pouco mais de 12 quilómetros ao redor da Terra, da qual dependemos, existe vida e possibilidade de vida. Isto é estranho e dá que pensar.
Acho fascinante, conhecendo nós a desordem e loucura onírica da obra de alguns deles, o ar atinadinho com que encaram o fotógrafo, tão bem compostos, nos seus fatos e vestidos sóbrios e abotoadinhos. Tentamos adivinhar na cara de Dali ou de Eileen Agar ou ainda de Eluard, a vida interior intensa que sabemos que tinham mas nada se vê neste exterior respeitável, um bocado burguês. Isso é das coisas mais fascinantes nas pessoas, esse universo interior que se esconde sob uma aparência de normalidade.
E a esperança, tão viva, no olhar deles, que já não são. Impressiona. A vida é breve.
International Surrealist Exhibition, New Burlington Galleries - England - London, 1936
Standing left to right: Rupert Lee, Ruthven Todd, Salvador Dalí, Paul Eluard, Roland Penrose, Herbert Read, E.L.T. Mesens, George Reavey and Hugh Sykes Williams. Seated left to right: Diana Brinton Lee, Nusch Eluard, Eileen Agar, Sheila Legge and an unidentified friend of Dalí
Hiroshige - Sudden Shower over Shin-Ōhashi bridge and Atake (1857)
Van Gogh - Bridge in the rain, after Hiroshige (1887)
Sudden Shower Over Shin-Ohashi Bridge
The voice of the thunder god
rolls from roiling clouds, ripening
plum to damson.
Hats and parasols are drenched, bare flesh
stung by rain that falls so hard
each drop seems an admonishment.
But look past huddled shapes
bowed and scattering
at the blue-grey
of the wide river Sumida’s rippled skin
to where a boatman
poles his log raft
downstream: as if the storm
isn’t happening: as if he knows
this visitation won’t last long,
neither waiting for its passing
nor hurrying: back bent,
arms outstretched, moving on.
Roy Marshall
Ils ont entre 45 et 55 ans, mais vivent comme des jeunes de 30 ans. Et ils ont peut-être raison.
In a New York Times column on Russell’s 1932 essay “In Praise of Idleness,” Gary Gutting writes, “For most of us, a paying job is still utterly essential — as masses of unemployed people know all too well. But in our economic system, most of us inevitably see our work as a means to something else: it makes a living, but it doesn’t make a life.”
In far too many cases in fact, the work we must do to survive robs us of the ability to live by ruining our health, consuming all our precious time, and degrading our environment. In his essay, Russell argued that “there is far too much work done in the world, that immense harm is caused by the belief that work is virtuous, and that what needs to be preached in modern industrial countries is quite different from what has always been preached.”
In any case, what most dissenters against modern notions of work share in common is the conviction that education should produce critical thinkers and self-directed individuals, and not, as Gutting puts it, “be primarily for training workers or consumers”—and that doing work we love for the sake of our own personal fulfillment should not be the exclusive preserve of a propertied leisure class.
Ontem, quando ia a pôr o pé no primeiro degrau duma escada rolante que ia subir lembrei-me da morte brutal da mulher chinesa numa escada rolante e, instintivamente, hesitei: 'Quantos segundos demora uma escada rolante a levar-me até ao andar de cima... 10 segundos? E se acontecesse agora, estar completamente despreocupada, neste dia de Verão e de férias e, daqui a 10 segundos, estar a morrer, engolida pelo mecanismo da escada?'
Estamos tão habituados, no mundo ocidental, a ter a vida e os mecanismos sociais pacificados e controlados que não nos damos conta da contingência permanente da vida, como acontece em partes do planeta onde as probabilidades de se chegar com vida ao fim de cada dia são muito baixas. Em grande parte, é à tecnologia que devemos essa ilusão de segurança, de controlo... a morte é uma violência que interrompe a violência que é a vida.
A minha hesitação durou menos de um segundo mas... subi as escadas um bocadinho desconfortável, a 'ver-me' ser engolida por um buraco dali a uns segundos.
H. Kiesse
Não sei de quem é a fotografia mas a música dos Madredeus vai bem com isto.
via ching yang tung
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.