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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Lord Hastings fez uma expedição, de Calcutá ao Punjab e volta, há cerca de 200 anos. Sita Ram documentou-a com aguarelas dos locais, templo, palácios e costumes da Índia do século XIX.
De vez em quando lembro-me de ir ao livro ver em que ponto da viagem estava Lord Hastings nesse dia. O marquês Hastings foi Governador Geral de Bengala entre 1813 e 1823.
No dia 14 de Janeiro estava em Hansi, no Punjab, relativmente perto de Nova Deli e é esta a entrada no diário de viagem:
daqui:
Gostava de ter feito as viagens ao Magreb e ao Médio Oriente no final do século XIX ou até nas primeiras décadas do século XX. Há uma magia muito grande nesses sítios e de cada vez que leio relatos de viagens dessas épocas - como o da Gertrude Bell, o do Lawrence da Arábia ou o do Capitão James Riley, só para dar os exemplos mais impressionantes- vejo essa magia multiplicada por mil.
Não sei bem porquê mas acho que se deve ao facto de que, até à véspera da Segunda Grande Guerra, não só se vivia ainda antes da serpente e da maçã, numa inocência que essa guerra matou, como ainda se tinha os pés na Antiguidade. Quer dizer, o Renascimento da Antiguidade ainda estava muito presente. Havia o ideal da procura do saber guida pela visão inteligente dos clássicos e essas viagens eram acima de tudo uma procura de raízes das coisas. Eram ao mesmo tempo uma viagem no espaço e no tempo. As próprias coisas, monumentos e isso, ainda estavam num estado que considero 'poético'... naquele esplendor da imponência isolada, rodeados de nada, antes da comercialização, das multidões de turistas e da tecnologia.
Cada viagem dessas era uma viagem ao passado. Agora é mais difícil. Por exemplo, fui ao mercado das especiarias na Turquia e todos os vendedores tinham uma máquina para embalar as especiarias no vácuo...
No sul do Egipto e ao longo do Nilo ainda se sente a magia do passado porque os templos estão no deserto e não há nada à volta. A imponência de Abu Simbel ou de Karnak ou até das pirâmides, se as virmos do lado do deserto estão intactas. E há aldeias núbias milenares que continuam tal qual como eram.
Também na Túnisia ainda se sente a magia do Sahara e das grandes dunas. Mas andei lá de 4x4 com ar condicionado... o que não tem magia nenhuma. Andei de camelo. Fizémos um passeio de umas horas e deu para ter a experiência e a intuição do que é uma viagem dessas naquele cenário absoluto.
Resta imaginar porque hoje em dia certos autores, ideias, ambientes, atmosferas e ideais parecem-se muito como os templos que vemos no Egipto, enterrados nas areias do deserto, já só com os capitéis à vista...
... daí o estado em que estamos... não foi a mulher dele que aqui há um par de anos gastou quase 30.000 euros no Canadá, às custas do Governo Regional a armar-se, ridiculamente, em primeira dama, com acessores e tudo? E é este tipo o número dois do governo...
Há sete anos, por esta altura, estava a fazer as malas para ir para o Egipto. Uma das viagens mais fantásticas que já fiz. A vitoriosa cosmopolita cidade do Cairo, as pirâmides, os templos gigantescos e... o Nilo. Viajar de barco no Nilo naquela quietude das águas calmas bordejadas pelas dunas do Sahara. Ver os barcos passar, os pescadores, os miúdos a brincar. É como viajar no tempo. Esta nostalgia do Nilo e das areias do deserto que visita periodicamente hoje chegou pelo livro The Nile - The Blue Nile; The White Nile.
Uma página do livro com o Templo de Philae que permanece tal qual...
esta tirei-a eu :)) Acho que hoje vou ver o filme, Morte no Nilo do livro da Agatha Christie. Agatha Christie, como se sabe, viajou por todos estes sítios com o segundo marido que era arqueólogo.
A Joanna Lumley, uma actriz inglesa nascida na Índia que viveu no Oriente tem um documentário em 4 partes em que viaja pelo Nilo até à sua fonte, atravessando o Egipto, o Sudão, a Etiópia, Uganda, Ruanda até ao lago Victória e, mais longe, a até sua fonte. Está todo no youtube e é muito interessante de ver.
Recebi uma mensagem dum amigo... da Índia! Tinha acabado de sair do Taj Mahal... 45 graus de calor, uma cerveja fresca e uma viagem mítica... ... também quero...
Jules Gervais Courtellemont, View of the Palace of Maharaja’s pond from the Island of the Sultans in Udaipur, India, 1923
Hoje, nas quatro horas e meia de viagem de regresso de Istambul tinha à minha frente um daqueles labregos que se encosta todo para trás para aumentar o seu espaço e reduzir o dos outros a zero de tal modo que temos que pedir à hospedeira para o mandar endireitar sob pena de não conseguirmos beber um copo de água, sequer. E no banco mesmo atrás do meu quem vinha, quem era? O irmão daqule moço que leva trezentos mil euros para tirar uma resma de fotocópias! Esse mesmo! Parecia que o tempo não passava...
Uma viagem deve ser o início de uma descoberta e de uma transformação interior, por pequena que seja. Para descobrir os sítios, tal como as pessoas, é preciso vencer o receio da proximidade. A proximidade é que traz o conhecimento e o conhecimento é que traz o amor. Podemos gostar dos sítios à primeira vista ou deixar que 'cresçam em nós': num e noutro caso é a proximidade ou a sensação de proximidade que actua em nós.
Viajar no espaço é um pouco viajar no tempo. Amar os sítios, a cultura, os povos que se ocultam nas tradições, na linguagem e no quotidiano. Saber alguma coisa dos sítios e da sua História ajuda muito a apreciar. Todo o conhecimento é adesão, assim como o desconhecimento é afastamento.
É semelhante aos que faziam os antigos navegadores, porque este é um navio sem os meios modernos de navegação. Desde logo não têm motor, andam à vela, de modo que precisam de muitos braços para lidar com aquele cordame todo que mantém as velas içadas. Têm geradores só para terem frigoríficos e outras pequenas comodidades que os antigos não tinham. Mas os perigos do mar são enfrentados a braços, com mestria, inteligência e destreza. São duzentos dentro daquele barco que trabalham ao som de setenta e sete apitos.
Estive a ver um documentário que acompanha uma viagem de dez meses na Sagres. Uma coisa que vemos é a maneira como mantêm os indivíduos em boas relações uns com os outros naquele espeaço exíguo durante tanto tempo. O principal recurso é a rotina do trabalho físico. Levam trezentos litros de Solarine e todos os dias, parte do dia é destinado a manter brilhante o latão, a lavar os pisos, reparar as cordas, pintar madeiras, enfim, cansá-los com tarefas de manutenção que os mantem ocupados e cansados na dose certa (faz-me lembrar as técnicas que uso com as turmas de Desporto - mantê-los ocupados com tarefas grande parte da aula). Depois têm outras coisas organizadas, claro, como jogos, etc.
Fascinante uma viagem assim. Um pouco como recuar nos tempos.
Por onde passa a marinha portuguesa deixa uma impressão positiva e vê-los neste navio lindo e imponente dá-no um certo orgulho do nosso passado.
Este post vem a propósito de estar a pensar dar um pulo a Istambul aproveitando um fim de semana grande. Coisa de quatro dias. É para me ir apaixonando pela cidade.
Uma turma pediu-me para ir com eles a Londres - uma visita de estudo de seis dias que está a ser organizada por uma colega de inglês. Precisam que vá um professor da turma e perguntaram-me se queria ir. O programa que a colega organizou é muito bom e a viagem fica muito barata (inclui entradas em museus, teatro...). Não vai a turma toda, só uns oito ou dez. Nunca vou a visitas de estudo que impliquem dormidas mas estou mesmo inclinada a ir a esta. Seis dias em Londres e dispensa das reuniões de notas :)
Hoje o André esteve a contar-me a viagem à Malásia. Fiquei com água na boca. Nunca fui lá para os lados do Oriente e gostava de ir. A Malásia está num boom económico e, pelos vistos, isso respira-se na atmosfera da capital e vê-se nos contrastes entre a parte nova e a antiga da cidade. A conferência do André correu muito bem e isso deixa-nos mesmo contentes, porque o assunto do equilíbrio da zona económica asiática é crucial para a reorganização de forças no planeta. Pelos vistos há, fora da Europa dos políticos medíocres e limitados, muita gente com vontade de construir caminhos positivos. Naquela zona da Ásia todos pensam que o século XXI é o século da Ásia -que está emergente de força- e dão como adquirida a decadência do poder europeu. Com os políticos que temos pela Europa fora, é bem capaz de ser verdade. Enquanto eles estão a tentar construir uma colaboração interna para criar uma zona forte asiática nós aqui na Europa estamos a ver se estragamos tudo o que se conquistou no pós-guerra (desde a paz à ideia de uma sociedade de Homens livres e autónomos em marcha para a equidade) para agradar a uns bancos, umas multinacionais e uns políticos corruptos.
...para onde o André vai daqui a uns dias, há praias fabulosas. Eu sei que há outras coisas, mas para quem está mesmo a precisar de descanso não há nada que bata o exercício de lagartar numa praia de areia fina e água fabulosa. Uma pontinha de inveja...
Há bocado passei por uma montra linda, toda construída à volta de uma mesa cujas pernas eram livros empilhados. Se eu tivesse uma livraria divertia-me e esmerava-me a fazer montras lindas. Por exemplo, podia fazer uma montra só com livros de viagens, com manequins e malas de viagem e os livros sobre o destino da viagem e gravuras de sítios e objectos: binóculos, máquina fotográfica e outras coisas, como um estúdio onde se está a preparar uma viagem.
Fui a Veneza há cerca de dez anos. Gostava de lá voltar outra vez. Estou a ler 'As Pedras de Veneza' e as ilustrações reavivaram-me a memória. De todos os sítios onde fui na Europa dois houve que tiveram um efeito imediato de me transportar no tempo, embora de maneira diferente. Um foi Rouen, em França, o sítio onde Joana D'arc foi torturada e morta pela Inquisição - a cidade é medieval, a arquitectura é Normanda com aquelas casas de madeira com traves negras no exterior em forma de cruz. Tem bairros labirínticos e uma pessoa sente-se fora deste tempo, mergulhada no mundo medieval. Mas Rouen, que é uma cidade que as pessoas gostam, deixou-me uma impressão estranha. Uma atmosfera sufocante, assustadora e violenta. Não sei porquê mas passei lá dois dias sempre incomodada. Talvez algo das pessoas e dos seus sentimentos fique nos sítios - partículas..qualquer coisa. Ali em Rouen o ódio e a violência...enfim, Veneza foi o oposto, porque tem o efeito de nos atirar para outro tempo mas de um modo belo e romântico.
Não se pode ir sozinho a Veneza. Não tem piada nenhuma porque a cidade apela aos sentidos e à partilha. Em Veneza até as portas dos fundos dos prédios são bonitas e cheias de ambiente. Está cheia de pracinhas com coisas surpreendentes, sejam fontes, igrejas, pequenos museus, restaurantes típicos, pequenas fábricas... uma pessoa perde-se encantada com os sítios. Andar no Grande Canal e ver aqueles palácios todos, ir aos cafés na Praça de Sao Marcos, ver o entardecer da esplanada.
Estive lá em Maio e houve um dia que choveu tanto que a praça de São Marcos inundou e andávamos sobre traves apoiadas em estacas. Quando fui ver o palácio do Doge vi duas gigantes pinturas que retratam a praça inundada e vêem-se as pessoas -bispos, princípes, etc.- a andar nas mesmas traves sobre estacas, o que mostra como todo o passado é presente em Veneza.
Decididamente um sítio que se quer desfrutar em companhia certa.
Algumas viagens são muito curtas mas os viajantes deixam marca. Saudades.
As gravuras do David Roberts sobre a viagem que fez ao Egipto e Terra Santa no século XIX, no rescaldo das invasões Napoleónicas que fizeram, sobretudo do Egipto, um lugar de moda para os europeus, são das coisas mais lindas que há no género. Ou, até, a mais linda. São duma beleza...e, sobretudo se já andámos pelos sítios, elas transportam-nos imediatamente aos lugares.
As gravuras dele apanham completamente o ambiente, a grandeza e a côr arenosa que envolvem aqueles lugares e lhes dão uma aura qualquer entre o misterioso, o romântico e o mágico.
Não me canso de olhar para elas.
Um dia tenho de voltar ao Egipto. A Petra nunca fui e gostava de ir.
David Roberts - Petra
David Roberts - Templo de Isis
David Roberts - Abu Simbel
David Roberts - Templo de Edfu
Um dos meus irmãos fez um passeio pelos E.U.A. este verão e passou pelo Grand Canyon, no Arizona, a caminho de las Vegas.
Disse-me que não há palavras para descrever o sítio, que é duma grandiosidade para além de tudo o que se tenha já visto, que deixa uma impressão indelével, que é uma enciclopédia geológica aberta da história evolutiva do planeta.
E certo que já sabia isto tudo, mas ouvi-lo contar a experiência abriu-me um tal apetite pelo lugar...é que acredito que a impressão estética e até religiosa, no sentido lato do termo, indelével, que alguns sítios/espetáculos, deixam em nós não só nos transformam interiormente, lenta mas sempre positivamente, como também alimentam a nossa capacidade de resistir ao stress e às tensões e pressões deste mundo louco e frenético em que vivemos.
Estou já a magicar (gosto desta palavra, pois que para ir ao Grand Canyon com o meu salário é precisa certa dose de magia...) uma ida ao Grand Canyon no proximo Verão.
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