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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
O curso terá a duração de cinco anos e garante dois diplomas, Direito e Gestão, aos alunos que o concluírem. Este ano serão abertas 40 vagas.
O simplex chegou às Universidades que gostam de achar-se boas. A decadência e mercantilização da educação em todo o seu esplendor. Ainda havemos de ver as Licenciaturas ao domingo como uma grande inovação sintética.
Li hoje no Público uma notícia que me parece paradigmática também do que se passa na educação, e que mostra como é importante ler para além dos títulos e pensar um pouco sobre o que é que a notícia realmente diz.
Dizia a notícia que a FCEE da Universidade Católica aparece no ranking do Financial Times. Apesar de ter descido de posição relativamente ao ano passado, está bem posicionada no conjunto europeu. A notícia diz depois quais as universidades, em cada país, que estão melhor posicionadas. Lá para o fim, um pequeno parágrafo informa-nos que o critério do ranking é o emprego/ordenado das pessoas que saem do curso. As universidades referidas são, nos seus países, particulares e das mais caras.
Ou seja, se eu sou uma empresa que vive na lógica do mercado capitalista na sociedade política actual e preciso de um ou dois licenciados, onde vou recrutá-los? Será que tento arranjar o melhor? Vou a uma universidade pública, sabendo que é aí que se encontram os que mostraram ter melhores médias, mais motivação e empenho, embora me arrisque a que esses sejam provenientes de famílias mais modestas? Ou vou à Universidade Católica, onde sei que quem lá estuda tem poder económico e, consequentemente, influência social e até política? O que é que valorizo mais? É óbvio que valorizo alguém que me dá acesso a uma potencial rede de pessoas influentes, já que isso é o que, no fim de contas, interessa.
Muitos empregadores, hoje em dia, dizem à boca pequena isso mesmo: que o que interessa é ir buscar alguém que venha de certo estrato social. Que sabem que muitas vezes os melhores alunos estão em outras faculdades para onde tiveram que concorrer mostrando o seu mérito. Mas que, apesar de serem de qualquer modo de classe média (hoje em dia é raro um pobre chegar à faculdade - o ensino público quase não o permite) não serão a elite entre os que têm muito dinheiro e influência, e é isso que interessa (como o caso da rede de conhecimentos do sucateiro o demonstra).
Quer isto dizer que o curso da universidade católica não é bom? Claro que não quer dizer isso. Mas também não quer dizer que seja melhor que os outros. Só quer dizer que têm os alunos com mais posses. E as outras universidades do ranking são a mesma coisa: é a Business School inglesa, a outra da Suiça, etc.
As pessoas que frequentam essas escolas têm geralmente melhor empregos? Sim, mas não por serem melhores. Apenas porque alimentam a lógica desta sociedade onde o mérito não conta, o que conta é seres filho ou sobrinho deste ou daquele e o papá ter um iate na marina.
As notícias que aparecem muitas vezes sobre as escolas e a educação são também capciosas, como esta. Partem do pressuposto que os que têm os títulos e os cargos são melhores, porque os conseguiram, quando às vezes conseguiram-nos por outras razões muito alheadas do mérito.
Mas isso é para o próximo post que este já vai longo.
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