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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Muito bom.
É a Síria que vai permirtir-lhe desatar o nó górdio em que estava metido com a Ucrânia.
Convocou Al-Assad à Rússia para lhe explicar como é que ele deve comportar-se politicamente no seu próprio País no fim do conflito, que tipo de regime vai instaurar e como. Al-Assad a tudo disse sim, claro, que a alternativa é ser linchado como os outros dois ou, pior, ter que gramar com uma democracia nos queixos.
Faz hoje um ano que a Rússia anexou a Crimeia e iniciou este percurso de, 'Regresso ao passado, orgulhosamente quase só'. O Ocidente não sabe o que fazer, como responder ou, melhor, como travar o Putin. Tiveram a oportunidade e deixaram-na passar.
“Crimea: o regresso a Casa”, um documentário para celebrar esta data, foi transmitido no canal Rossiya 1 no dia 15 de Março. Nele Putin gaba-se de ter planeado tudo e muito antes do referendo.
Indeed, Putin stated that he had ordered a specific force mix, including Russian military intelligence (GRU) Spetsnaz, elite airborne units (VDV) and marine infantry, to lead the operation under the guise of “reinforcing” the Russian Black Sea Fleet HQ in Sevastopol. In this sense, he takes sole credit for the entire operation, planned and coordinated though the Kremlin;
But on the possibility of conflict escalation, Putin said he would have placed the nuclear forces on alert if things had gone badly. The operation, in fact, resulted in a relatively smooth seizing of territory and no outside power tried to intervene; Putin’s later reference to the nuclear card seems calculated to be a warning to the West to tread carefully with Russia in the future and respect its interests (Rossiya 1, March 15).
Putin reinforced this message time and again during the documentary, saying he ordered the placement of K-300P Bastian-P coastal defense batteries to be seen from space, in order to send a message: this could only have been meant for the United States and the North Atlantic Treaty Organization (NATO) as a signal to “keep out” (Rossiya 1, March 15).
Ao contrário da cortina de ferro que era estática, esta nova linha nostálgica [do passado poderoso] geoestratégica é móvel e está em andamento. Agora foi à Ucrânia seccionar um corredor, desde a Crimeia até lá acima [ainda não está acabada] onde pode pôr os seus brinquedos [tanques, mísseis etc.] mas pode ir à Lituânia ou a outro país Báltico que tal como a Ucrânia, fazem fronteira com a Rússia e estão cheio de russos do tempo da gloriosa URSS, sabe-se lá se desejosos de 'regressar à Casa', prolongar para Norte o corredor começado na Crimeia. Ou seja, ele declara-se, não como alguém que agiu apenas para defender algo, cuja 'missão' foi cumprida mas como alguém que 'tem interesses futuros'... e meios para os ir buscar...
Isto -esta Putinline- assusta-me dramaticamente. Pior que isto só me assustam as pessoas que estão à frente dos organismos internacionais e países que têm que lidar com estas coisas porque que só têm feito asneiras.
A situação na Ucrância em 15 de Agosto do ano passado no que respeita ao avanço e controlo dos rebeldes.
A situação na Ucrância há meia dúzia de dias no que respeita ao avanço e controlo dos rebeldes.
A Rússia criou um fosso de crocodilos, por assim dizer. Nada que não tivéssemos todos previsto há um ano apesar de quem tem o poder não ter feito quase nada para o evitar, em grande parte por erros de cálculo quanto à ideologia e determinação de Putin. O fosso ainda não está acabado. Faltam as regiões de Lugansk, Shostka, Sumy e Carcóvia passarem para o controlo russo para a fronteira russa ficar resguardada em caso da Ucrânia entrar na UE e na Nato. Não acredito que alguma coisa melhore antes de piorar muito porque não acredito um átomo nos líderes europeus que andam a tratar do assunto. Eles próprios fazem aos seus parceiros, embora sem armas, o mesmo que o Putin faz à Ucrânia... enfraquecê-la para a controlar e nunca ser por ela incomodada...
... e a Europa da Merkele não percebe. Yegor Sobolev (primeiro ministro ucraniano) e Vadim Ivchenko no interior da Verkhovna Rada (parlamento) em Kiev a propósito de uma lei ani-corrupção, pegam-se à pancada.
... a propósito disto:
It is obvious to any one who has been in charge of the interests of his country abroad that the day secrecy is abolished negotiations of any kind will become impossible. [Jules Cambon, "The Diplomatist" (transl. Christopher Rede Turner), 1931]
Diplomacia e tacto são irmãos inseparáveis nas relações internacionais.
Ontem encontrei uma ex-aluna ucraniana que já acabou o curso e está a trabalhar. A maior parte da sua família -irmão, tios, avós- vivem na Ucrânia e são da região de Zaporizhia. Ela foi visitá-los na semana passada. Esteve lá uma semana. Disse-me que enquanto lá esteve ouve um problema na central eléctrica que deixou a Crimeia às escuras - muitos serviços da Crimeia dependem de instalações e serviços de outras regiões, o que explica o interesse da Rússia nessas ouras regiões. Também me disse que as pessoas esperam que a UE as queiram; que estão numa posição de já não terem nada a perder e dispostas a tudo para não irem parar às mãos da Rússia. Destruiram todo o seu imenso poder nuclear (nos anos 90) para agradar à Rússia e aos EUA, com a garantia da protecção do seu território: sentem-se traídos pela Rússia e esperam que os EUA cumpram a sua palavra.
Palavras e expressões como, 'nuclear', 'ponto de não retorno', Hitler', 'Novarrússia', 'ex-Ucrânia' e outras do género não são diplomáticas.
War in Europe is not a hysterical idea
Anne Applebaum
A few days ago, Alexander Dugin, an extreme nationalist whose views have helped shape those of the Russian president, issued an extraordinary statement. “Ukraine must be cleansed of idiots,” he wrote — and then called for the “genocide” of the “race of bastards.”
E a guerra civil na Ucrânia é um cancro que começa a deixar metásteses... e por falar em cancros com mestásteses...
Os ucranianos mortos são todos eurocéticos
por Ferreira Fernandes
A Europa procura com contas de merceeiro quem será o seu próximo presidente, que será quem quer que seja, mas pouco. E, entretanto, em noticiário só de pequenas linhas, a guerra civil instala-se na Ucrânia. É a Jugoslávia Parte II. Ainda não tão emocionante mas lá chegaremos, as imagens da anarquia em Donetsk, homens musculados e loiras de camuflado, confirmarão que as guerras civis mais populares no prime-time são das terras com gente bonita. Espetáculo que deveria envergonhar-nos porque a tragédia, a poucas semanas da magna tragédia que vai ser, é também culpa nossa. Dessa, dita em cima, falta de Europa. Se nos tivéssemos ocupado menos com as medidas das sanitas e mais com o tamanho e a profundidade da Europa, não tínhamos chegado aqui. Era claro que não devíamos ter acirrado a Ucrânia contra a Rússia. Devíamos, se fôssemos europeus, ter pensado Ucrânia e Rússia. E porque éramos os menos envolvidos deveríamos ter sido os que agiram de cabeça fria. Chama-se política, que é coisa que devia ser entregue só a grandes, não a amanuenses de geoestratégia. Em 1959, ainda a URSS tinha 30 anos para viver, De Gaulle definiu o nosso espaço numa frase: "Do Atlântico aos Urais." Ele percebeu, quando ainda só se podia adivinhar, que a Rússia é nossa ou somos pouco. Hoje, com ela aí, a Europa tratou-a como inimiga e, cobardemente, por interposto e fraco país. Ucrânia, mais um dano colateral da falta de Europa.
Acho que acertei em tudo o que disse neste post (Ucrânia futura?)
Agora vai na fase do Putin se preocupar com a saúde dos separatistas pró-russos enquanto diz publicamente que adora a paz e é todo a favor da amizade e do amor no mundo e tal... entretanto o pseudo-referendo vai a caminho e para a semana aquele pedaço de terra torna-se independente da Ucrânia, amigo preferencial da Rússia... passa a ser, para os russos, o fosso intransponível que defende a Rússia da pan-europa.
Quando olhamos para estes mapas e para a evolução da Ucrânia parece clara a intenção de Putin em recuperar o que há muito era da Rússia. No último mapa é fácil ver que só falta preencher uma região para a Rússia ter ali uma espécie de muro de Berlim - um corredor tampão sem interrupções de território hostil ucraniano- uma qualquer Républica auto-proclamada independente da Ucrânia e pró-Russia.
Primeiro aparecem separatistas a dizer que são mal tratados pela Ucrânia, depois fazem apelos à Rússia, esta aparece a dizer que é toda a favor da autodeterminação dos povos e que quer proteger os (falantes) russos que lá vivem, finalmente, num qualquer referendo ou posição de força os separatistas efectivamente separam-se e aliam-se à Rússia que, dum golpe, enfraquece a Ucrânia, territorial e politicamente, retirando-lhe, sem declaradamente a invadir, uma bela fatia... esta é a minha aposta.
2014
2014
2014
Russian Official Tells U.S. to ‘Chill Out’ Over Crimea, Maybe Practice Yoga or Something...separate their food groups and perhaps watch comedies on television...
Estas declarações deste alto funcionário dos negócios Estrangeiros russo em que chama histéricos aos EUA são assustadoras porque dão a entender que os russos não reswpeitam nenhum limite a não ser o medo. Desvaloriza a anexação como se o abuso de poder fosse uma ilusão ou uma coisa sem importância nenhuma, goza com as vítimas da sua violência e os seus defensores chamamdo-lhes histéricos e mandando-os entreterem-se ou arranjarem qualquer coisa para serem felizes.
Esta arrogância prepotente do 'porque posso e, quero, faço' é assustadora porque não se limita nem pelo dever, nem pelo Direito mais básico. Agora, porque viu que pode e nada lhe acontece a não ser protestos, vai mais longe e anda a fomentar a destabilização nas provìncias de fronteira. É a vingança do Putin por a Ucrânia ter preferido um acordo com a Europa à aliança com a Rússia e vai continuar por muitos anos. É uma forma de 'bullying' que funciona porque a Ucrânia está numa posição de fraqueza. É obsceno.
Por uma vez os EUA estão a fazer o que devem: diplomacia; mesmo que os protestos e sanções não tenham resultados práticos de pôr fim à prepotência russa, é assim que as coisas devem ser feitas, quer dizer, deve-se combater sempre dentro da legalidade e da ética, fazendo o oposto dos abusadores. O respeito e credibilidade que a Europa tinha pelo mundo fora nestes últimos 60 anos -e que está a perder- vinha exactamente de ter este modo ético de estar.
O que esta crise mostra é a insuficiência e menoridade dos mecanismos internacionais em lidar com estes casos, em grande parte porque os que têm a força, em vez de optarem por ser um modelo de ética democrática e de respeito pelos direitos humanos e dos povos, optam, geralmente, pela demonstração prepotente da força, passando uma mensagem implícita, que é percebida e imitada por outros, do que é aceitável nas relações entre nações e povos.
O que é que se (re)aprende com esta crise da Ucrânia? O planeta pertence a quatro ou cinco países e a noção de independência e soberania que os outros países têm é uma ilusão. A Ucrânia teve a pretensão ingénua de pensar quue era um país independente e que, por isso, podia decidir do seu destino e das suas alianças como quisesse. Engano... na realidade os países são independentes enquanto não incomodam um dos quatro ou cinco países que mandam no planeta ou enquanto não exibem algum 'diamante' que desperte a cobiça de um dos grandes.
A ordem do planeta, em vez de estar estruturada sobre um projecto de paz, está estruturada sobre um projecto de conflito inevitável, de modo que a estratégia dos grandes países é estarem sempre por cima nas armas e no controlo dos territórios chave para os seus fins bélicos. É pena. Sobretudo o que é pena é a UE ter falhado em toda a linha, por ganância de alguns, a possibilidade de se tornar um modelo de uma nova ordem de cooperação e entendimento...
Stay classy, Putin!
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