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Um post à pressa

por beatriz j a, em 30.10.19

 

... que vim a correr a casa largar a mochila e ir a correr para Lisboa que hoja é dia de tratamento. É só porque uma coisa positiva parece que nunca vem sem outra negativa para equilibrar.

No intervalo das 10h da manhã uma colega de inglês veio dizer-me, 'não consigo dar aula por causa de ti'. Como assim? 'É a turma ... que só fala de Filosofia e do que discutiram na aula de Filosofia. Não sei se tens noção do impacto que causaste'. Não, por acaso não tinha. Fiquei bem disposta. Fui para a turma ... e a meio da aula diz uma aluna, 'ó professora, posso dizer uma coisa sem que a professora leve a mal?' Pode, claro. 'Porque é que a professora complica tudo com perguntas? Porque é que não diz o que é para saber de maneira simples e faz essas complicações e discussões? Assim não é possível'. LOL Passou-me logo aquele arzinho de satisfação que trazia do intervalo.

 

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publicado às 14:16


Why size matters

por beatriz j a, em 08.10.18

 

 

As turmas deviam ter cerca de 20 alunos.

 

Teachers Are Leaving the Profession Because of Large Class Sizes, and It’s Changing the Face of Education

 

We’re losing good teachers every day.

 

According to the National Center for Education Statistics, the average number of students enrolled per teacher in the U.S. has only grown from 15.41 percent to 15.96 percent in the last 10 years. This is a highly misleading number because it’s based on overall enrollment per teacher. So it’s using other staff positions to figure the average.

 

In one of the most credible studies of class reduction size ever completed in the 1980s, researchers compared Student Teacher Achievement Ratio (STAR) testing results between class sizes of 15 and class sizes of 22. They found that students in the smaller class were three months ahead of the students in the larger class.

 

 

 Changing careers is definitely something many teachers are considering, but it’s not their only option. Educators in public schools are moving to private and charter schools, where student-teacher ratios are 12:3. Who wouldn’t want to have fewer papers to grade, fewer behavior problems, or fewer outlandish parent requests to accommodate?

 

We also know that smaller class sizes would help restore the joy of teaching and retain quality educators. Routinely, state legislators who vote on education funding choose to ignore the voices of teaching professionals.

So what’s next? I think it’s time we take action, raise our voices, and walk hand in hand with parents and community members to our legislatures and other governing bodies. We can not and will not be crowded out of our own classrooms.

No. Teacher. Left. Behind.

 

publicado às 05:40


Hoje foi um dia bom 🙂

por beatriz j a, em 10.11.17

 

 

Já ontem tinha sido. Os miúdos do 10º ano passam o primeiro mês a testar os professores para ver até onde podem ir. Procuram fraquezas e inconsistências e cheiram a insegurança à distância. Provocam-nos para ver a nossa reacção. Depois há uma altura em que mudam de perspectiva e deixam-se cativar e a partir daí é tudo jóia, como dizem os brasileiros.

Ontem aconteceu isso com uma das turmas do 10º, no que tenho a agradecer a uma aluna porque foi a situação dela e a questão que fez que possibilitou a mudança de dinâmica da turma. O resto da aula foi fantástico.

Hoje aconteceu com outra turma que tem um grupo de alunos que estavam numa de mostrar que são muito cool e não precisam de professores para nada. Um deles, o líder, tem andado a provocar-me para ver se eu desisto dele e o mando sair da sala porque deve estar habituado a usar isso ao peito como uma medalha. Se me conhecesse um bocadinho que fosse mudava de estratégia; não mando sair ninguém da sala de aula porque eles estão ali para trabalhar e ademais não desisto de alunos muito menos por causa de provocações de adolescentes... nesta relação de professor-aluno o adulto somos nós de modo que não podemos reagir da mesma maneira que eles às provocações (a adolescência é um Universo muito diferente do nosso, com grande instabilidade emocional, inseguranças, dramas e sonhos recambolescos do qual só temos vislumbres) sendo que os que mais provocam são, geralmente, os que estão mais bloqueados e mais precisam de ajuda. 

Uma pessoa tem que pensar que estes miúdos um dia vão ser adultos e não quero que algum venha ter comigo e me diga, 'olhe lá, então quando eu tinha 15 anos e não sabia nada da vida, em vez de puxar por mim nas aulas e me obrigar a estudar e a progredir deixou-me fazer disparates e desistiu de mim?' Eu quero poder responder que fiz tudo o que era capaz e sabia. 

Pois, hoje foi o dia em que o grupinho que ele liderava entrou completamente na dinâmica da aula e o levou a fazer o mesmo.

É claro que, a partir do momento em que os cativamos a nossa responsabilidade cresce ainda mais porque eles depois confiam imenso em nós e levam muito a sério o que lhes dizemos; é que os adolescentes não relativizam bem as coisas, é tudo preto ou branco.

Quando as turmas estão cativadas e se fecha a porta da sala de aula entramos num Universo só nosso e o resto do mundo só está ali dentro como objecto de estudo. É difícil de explicar a dinâmica extraordinária que se cria ali dentro quando estamos todos em sintonia e o trabalho é uma colaboração.

 

Enfim, esta semana foi um ponto de viragem nestas duas turmas e daqui para a frente o trabalho vai ser jóia 🙂.

 

publicado às 19:03


Desce? Não desce nada, já é assim...

por beatriz j a, em 04.09.17

 

No 10.º ano, nos cursos científico-humanísticos, ensino artístico especializado e artes visuais e do espetáculo o número mínimo desce para 20 nas disciplinas de opção, com 28 como número máximo de alunos.

 

 

Mas onde é que esta gente se anda a informar? Na Tertúlia do Paço? Isto já é assim e o que não dizem é que se enfiam muitos mais que os 28 nas turmas com manigâncias de juntar turmas que aparecem com 28 alunos no livro de ponto mas dentro da sala de aula estão juntas com outra e podem ser 30, 32, 38...

É por estas e por outras que desconfio das notícias sobre enfermeiros, médicos, juízes... pois se na educação só aparecem inverdades, para não lhes chamar mentiras, nos outros casos deve ser o mesmo.

 

publicado às 15:56

 

 

Hoje dei aula a uma turma do 10º com menos cinco alunos porque estão doentes. Então, em vez dos 30 habituais estavam lá 25. Uma diferença abissal. Tivémos tempo para trabalhar uma ficha inteira com conceitos complexos (!), ainda tive tempo de ligar o projector e passar um pequeno documentário de 10 minutos, discuti-lo e fazer algumas sinteses conclusivas com eles e, porque falámos de hereditariedade e de gémeos homozigóticos e me lembrei duma cena esdruxulamente cómica que um aluno (o Zé A. que tinha a cara desarrumada, para usar a expressão do André)  com um gémeo homozigótico (coisa que eu desconhecia) me aprontou há mais de vinte anos, ainda contei essa cena e fartámo-nos de rir; quer dizer estava destressada, o que não é costume quando lá estão os trinta porque estou sempre preocupada em ver se apanho todos, se todos estão dentro do trabalho, depois há sempre alguém que não apanhou as coisas, depois como provoco sempre discussão de ideias gasta-se muito tempo até que todos consigam estruturar as ideias e apontá-las no caderno, paramos, outro aproveita para falar, tenho que voltar a trazê-los todos para a concentração no trabalho, enfim... os miúdos lá para o fim da aula, disseram-me, 'a professora já viu que hoje trabalhámos uma ficha inteira e ainda sobrou tempo?' Pois... menos cinco alunos... que diferença! E como eu estava destressada, os miúdos também estavam e a aula teve um ambiente menos duro e mais relacional e isso tem efeitos benéficos na relação entre a professora e a turma.

Quem é professor percebe o que digo, quem não é professor do básico ou do secundário, não percebe.

 

 

publicado às 21:04


Queixinhas 'mode'...

por beatriz j a, em 14.10.14

 

 

 

Tenho uma turma do 10º ano muito fraquinha que vai dar muito trabalho. Já está a dar porque tenho-os posto a fazer pequenos trabalhos todas as semanas para os obrigar a explicar ideias, desenvolver argumentos, justificar afirmações, analisar, etc., para ver se começam a desbloquear a linguagem e o pensamento. É que são mais as palavras que não conhecem que as que conhecem e não sabem fazer coisas elementares como comparar os elementos de uma analogia... emquanto não desenvolverem a linguagem não conseguirão trabalhar o pensamento que opera, justamente, com a linguagem...

Hoje disseram-me que eu tenho uma linguagem muito complexa e invulgar e que é difícil perceber... isto por causa de palavras como perdulário, incúria, abóbada (esta deu-lhes vontade de rir por causa de ter muito bês e dês), transcendente e outras coisas do género vulgares de lineu. O problema é que as turmas estão a abarrotar de alunos e corrigir um trabalho por semana, mesmo pequeno, dá um trabalhão porque é mais o que escrevo sobre o que fizeram mal e como o deviam ter feito que o que eles o escrevem. Não sei se vou conseguir manter este ritmo. Depois de seis tempos na escola não sobra muito tempo. Tenho a segunda para fazer essas coisas mas tenho outras turmas, tenho outras tarefas para fazer, pilhas de livros atrasados para ler...

As turmas grandes são o maior impedimento à qualidade do trabalho de um professor com os seus alunos.

 

 

publicado às 19:16

 

Os pais vão à escola às reuniões e perguntam-me -queixam-se- que os filhos não têm lugar nesta ou naquela turma desta ou daquela disciplina em que reprovaram e precisavam de frequentar para não terem que ir a exame como externos. Explico que as turmas estão cheias a abarrotar e que há dezenas de alunos nessas condições e já não há lugares. Porque é que a escola não abre mais umas turmas, perguntam eles...lol olhe, isso queríamos nós... não ter turmas a abarrotar e ter mais turmas e mais professores e lugar para todos os alunos... só que isso não depende de nós. As escolas não podem abrir turmas sem autorização do ministério. Porque é que os senhores, enquanto pais, não pressionam o ministério, não se mexem, não se queixam do número de alunos das turmas?

Os pais querem que os miúdos frequentem as disciplinas. Nós também!

 

 

publicado às 21:13


A minha turma do 10º ano

por beatriz j a, em 26.09.14

 

 

 

Uma das minhas turmas do 10º ano tem imensos alunos ainda com 14 anos completamente imersos no senso comum. Acreditam tudo o que vêem, tudo o que ouvem... Acham tudo na Filosofia tão estranho e 'maluco' que riem-se de tudo. Metade deles estão chocados e a outra metade acha que a Filosofia é coisa de gente que não bate bem - a começar por mim, calculo eu. Andamos a discutir um texto desde o início do ano e ainda nem vamos a meio porque cada frase do texto dá azo a grandes discussões e indignações da parte deles. Saio das aulas como se tivesse andavo a cavar à torreira do sol durante 2 horas: hoje, a certa altura, tinha aí uns dez com o braço no ar, cada um com uma pequena lista de perguntas para fazer lol

A Filosofia nesta turma está a ser uma descoberta violenta. Mas interessante. Não há um segundo de monotonia naquelas aulas :))

 

 

publicado às 19:42


Divagações de fim de ano lectivo

por beatriz j a, em 08.06.14

 

 

 

Hoje: dia de trabalho a preparar duas DTs -reuniões, matrículas...- e a tirar dúvidas por email para o exame de filosofia.

 

Sexta-feira foi o último dia de aulas e despedi-me mais ou menos das turmas (muitos ainda vejo para a semana porque pediram-me para ir lá um dia tirar dúvidas para o exame) ao fim de dois anos de trabalho com a maioria delas.

Cheguei à última aula tão cansada de testes e trabalhos e papelada de DTs que a minha vontade era despachar as coisas: entregar os testes, fazer uma correcção abreviada, falar das notas e ala que se faz tarde. Mas não pode ser, claro.

Em primeiro lugar porque não tive tempo de fazer uma correcção individualizada nos testes como costumo fazer, de modo que tive que fazê-la nas aulas porque muitos querem fazer o exame de filosofia; depois, porque os miúdos não compreenderiam que me fosse embora no fim deste ciclo sem dizer umas palavras, fazer um balanço, etc.

Precisam dessa sensação de ciclo encerrado. Sobretudo uma das turmas em que vou deixar de ver a maioria dos alunos -a não ser de vez em quando se nos cruzarmos nos corredores ou no bar- porque as opções que precisam no 12º ano não são as que dou.

Gostei de todas as turmas. As que trago desde o ano passado- com uma delas tive uma espécie de caso de amor à primeira vista e eles também- e as que conheci este ano, onde numa delas, excepto no primeiro dia de aulas em que não os conhecia, todas as aulas eram aulas de rir e divertir. Quando as turmas têm alunos curiosos e com sentido de humor divirto-me sempre nas aulas porque como eu gosto de falar de filosofia e discutir ideias, estou sempre na boa, o que foi o caso desta turma onde me encantei com os miúdos e eles comigo também. Mesmo da turma que me dava um trabalhão com as faltas e outras cenas gostei dos miúdos.

Enfim, falei um bocadinho com eles mais para eles se darem conta do que evoluiram nestes dois anos e perceberem que são capazes de mais do que pensam quando decidem trabalhar.

Dou-me conta de não ter falado muito com alguns dos alunos nestes dois anos. As turma são enormes, não há tempo nas aulas para pausas, temos muitos alunos, mais de 120 no meu caso, e vendo bem, só temos uns minutos para pensar em cada um. Quer dizer, na aula, acabamos por falar sobretudo com os que intervêm mais e, à conta disso, há alunos que levamos muito tempo a conhecer, a perceber quem são.

Há uns bons anos, a propósito de um incidente com um aluno com quem tinha falado pouco, pensei e construi um método para gostar de todos os alunos e para falar com todos, nem que apenas dois ou três minutos, nas duas primeiras semanas de aulas. Porque sei que, se passam duas semanas e não lhes dizemos nada, directamente, eles não percebem que é por falta de tempo e interpretam isso como desinteresse, até porque nos vêem a falar todas as aulas com os mais participativos.

Nós esquecemo-nos, porque temos 120 alunos (há colegas que têm muito mais que isso...), que eles só têm 6 ou 7 professores e, enquanto nos dispersamos por esses 120 eles estão concentrados a ouvir e interpretar tudo o que estes 6 ou 7 professores dizem e fazem. Daí que a primeira comunicação directa com cada aluno, olhos nos olhos, seja tão importante: é que eles forjam expectativas sobre nós e acham sempre que o que eles são e fazem é evidente para o professor. Por isso, às vezes, qualquer coisinha que fazemos -ou não fazemos- por falta de tempo eles levam a peito e acham-se injustiçados em coisas que nós não damos importância nenhuma.

Apesar de nós apurarmos um instinto dentro da sala de aula e estarmos certos 99 em 100 vezes, o problema é essa vez e esse aluno em que o instinto falha... com esta quantidade de alunos por turma e tantas turmas e o cansaço que isso gera as possibilidades de enganos multiplicam-se apesar dos cuidados. Li um artigo muito interessante de um professor acerca disso intitulado, 'Como me tornei um professor injusto', sem me dar conta.

Todos os professores tentam ser justos mas cada professor tem a sua noção de justiça e de autoridade o que é normal (dentro de certos limites, claro) e eles têm que aprender a lidar com isso. O que só lhes faz bem. Mas eles não percebem isso. Os pais também não o percebem e às vezes outros colegas também não percebem.

Os professores não são bons a trabalhar com noções de justiça vicariantes mas com as suas: há coisas que para um professor são indiferentes e para outro fundamentais. Às vezes tem que ver com a especificidade da disciplina outras com a pessoa. Por exemplo, eu sei qual é a maneira de trabalhar em que o meu trabalho rende mais, em que me motivo mais, em que consigo mais dos alunos, quais as metodologias e o tipo de avaliação que melhor resulta neste ou naquele tema, com o meu modo de trabalhar, etc. Assim como eu também os outros... o MEC e os chefes em geral não serem capazes de perceber isto é uma das grandes causas de mau trabalho, desresponsabilização e indisciplina nas escolas.

Enfim, vou sentir falta de alguns alunos. De outros, com que espero -e eles também- continuar a trabalhar para o ano, já sinto antecipadamente as saudades que vou sentir no fim do próximo ano lectivo...

 

 

publicado às 21:58


Segunda-feira

por beatriz j a, em 18.02.13

 

 

 

 

  Só não estou completamente exausta (hoje é dia de muuuuuiiitas aulas) porque gosto à brava da turma que tenho ao último tempo e divirto-me com os miúdos. Tem lá uns dez ou doze que são hiper-participativos, no bom sentido do termo e, com um sentido de humor muito ao meu jeito: inteligente e mordaz. São umas aulas divertidas. Aquele tipo de turmas, como diz um colega, que sabem estar à vontade sem ultrapassar os limites.

  Se fosse uma outra turma onde tenho que estar sempre com um ar muito mais sério e onde não há pausas de descontracção cómica, acabava as segundas meio-morta.

 

publicado às 18:25


Pré-época escolar

por beatriz j a, em 27.08.12

 

 

 

 

Este ano perdi uma turma que trazia desde o 10º ano porque, com a regra de juntarem alunos à matroca até perfazerem 30, as disciplinas do 12º ano de opção, onde os alunos escolhem opções diferentes, passaram a ser uma espécie de restos que se juntam de qualquer maneira até encher a sala. Quer dizer, se 15 alunos duma turma escolhem uma opção A, juntam-se a uma outra turma qualquer onde haja alunos que tenham escolhido a mesma opção, fazendo (só nessas disciplinas de opção) uma única turma. Foi à conta disso que eu e muitos outros professores perdemos as turmas que trazíamos e, para o ano, outros muitos perderão as suas.

 

Isto é errado por várias razões das quais refiro só três ou quatro:

 

- a primeira é que a continuidade pedagógica é um factor maior de sucesso. Os alunos e professores já se conhecem, sabem a maneira de trabalhar e rentabilizar o trabalho - é o mais díficil e o que leva mais tempo a fazer com uma turma, essa adaptação mútua ao estilo e ritmos de trabalho e disciplina, após o qual o trabalho, geralmente, corre sobre rodas e, nos anos seguintes, nota-se um aumento contínuo da qualidade e do rendimento do trabalho.

Ora, trocar, de ano para ano, os alunos de turma e, mudar os professores, torna todo esse investimento um trabalho inglório e inútil... com prejuízo para os alunos; o trabalho com crianças e adolescentes não é o mesmo que o trabalho com adultos que mudam de serviço e estão prontos a trabalhar com outra pessoa. Não é nada assim, não, é um processo muito complexo.

 

- outra razão é que, sabendo nós (agora já não) que continuamos com as turmas, fazemos projectos dum ano para o outro para desenvolver o trabalho com a turma, o que é um factor de motivação, tanto para o trabalho dos professores como para o dos alunos, que agora se perde;

 

- os alunos estão em idades em que, em termos de sucesso escolar, a ligação que têm com os professores é o seu maior factor de motivação e persistência no trabalho. É ao professor que vão buscar a sua identidade profissional, a sua imagem de competência e a sua confiança/capacidade de investir no trabalho. Cada aluno tem os seus professores preferidos com os quais estabeleceu uma ligação significativa que o ajuda nas alturas de dificuldades, a quem recorre quando tem problemas, seja de estudo, seja de integração na escola, etc., que é rompida assim artificialmente;

 

- a mudança dos professores afecta a relação com os pais, sobretudo se um dos professores que perde a turma é o DT. Ter já estabelecido uma relação de confiança e trabalho com os pais (o que não é nada fácil nos tempos que correm) e depois mandar isso tudo por água abaixo e ter de recomeçar do zero...

 

- juntar alunos de áreas diferentes impede um trabalho personalizado, quer dizer, pensado para as características da turma. Por exemplo, esta turma que perdi é de Humanidades e foi adicionada a uma turma de ciências na disciplina de Psicologia do 12º ano. São alunos com características e interesses diferentes. Dar aulas de Psicologia a turmas de Ciências ou de Humanidades não é igual, pois sabendo nós os interesses e características dos alunos vamos buscar materiais próximos da sua prática e escolhemos para aprofundar os temas que sabemos serem do seu interesse. A própria maneira de trabalhar na aula é diferente porque uns gostam muito de trabalhos práticos e outros gostam mais de pesquisar e escrever. Ora, se estão todos juntos não é possível motivar os alunos com temas e práticas que mais os cativam e seduzem porque o que motiva uns desmotiva os outros e vice-versa...

 

- já não falo, sequer, da dificuldade de trabalhar com uma data de turmas todas com 30 alunos...

 

Estas são algumas das razões que mostram, se mais razões fossem precisas do que aquelas dos despedimentos em massa camuflados de mobilidade, que o ministro Crato fala muito em sucesso e rigor, etc., mas na prática o que faz é erguer obstáculos e obstáculos e obstáculos no caminho desse sucesso e rigor.

 

publicado às 15:39


Afinal...

por beatriz j a, em 12.09.11

 

 

 

 

 

 

...há quem esteja pior que eu que tenho cinco turmas, quatro programas. Um colega de grupo tem cinco turmas e cinco programas para dar! Cada turma o seu programa. É um trabalho imenso porque para cada uma tem que se preparar materiais, fichas, aulas, enfim, tudo o que é necessário. Gasta-se um tempo imenso a preparar coisas que só servem uma vez. Quando se tem duas ou três turmas com o mesmo programa, o que preparamos para umas serve, grosso modo, para as outras.

 

Hoje fui picada por melgas, na escola...bloodsuckers everywere...

 

publicado às 13:16


a minha turma do 10º ano...

por beatriz j a, em 25.01.11

 

 

 

 

Cláudio Ganilla

 

 

...tal e qual, sem pôr nem tirar, quando eu pergunto, 'Quem é que está numa de ler aqui um textozinho'?

 

publicado às 08:12

 

 

 

Porque será que todos os colégios e escolas particulares do mundo inteiro têm, nas suas campanhas de promoção para angariação de alunos uma lista que traz à cabeça o número de alunos por turma, que é sempre reduzido - entre 12 a 15; e porque será que em segundo lugar nessa lista estão as condições da escola - equipamentos, espaços verdes, actividades extra-curriculares?

Pois não sei, deve ser só coincidência e o facto de não terem lido as palavras sábias da Lurdes Rodrigues e da Alçada que defendem que o que é bom mesmo é ter 28 numa sala.

E porque será que todos os estudos realizados sobre factores promotores de sucesso escolar referem à cabeça o conhecimento e relação de proximidade com o professor? Deve ser outra vez coincidência de quem não leu as palavras sábias daquelas duas sobre as turmas estarem cheias e os professores cheios de turmas de modo que só lá para o 3º período é que conhecem os alunos todos, e mesmo assim apenas superficialmente.

A Ana Betencourt fala em diferenciação pedagógica quando os professores chegam a ter 250 alunos...é só rir como diz um amigo meu. Agora vão atirar 2000 ou 3000 alunos para as escolas, digo, para as unidades de gestão verticais de sucesso industrial escolar. Pois pá, agora é que vai haver paletes de diferenciações padagógicas.

Agora ninguém vai chumbar - compreende-se: é desagradável e irritante que depois de criados cursos de treta e de ter falseado todos os números do sucesso, os alunos continuem a falhar... e a conversa dos 150.000 professores serem todos nababos e incompetentes já não pegar... acaba-se com as reprovações e fica logo o problema resolvido: 100% de sucesso garantido.

Não sei, mas parece que vão escolher os ministros e secretários de estado do sector àquele concurso americano que dá prémios aos piores actores - prémios rafta, razzie, rasca ou lá o que é. A minha pergunta é: não podemos exportá-los todos?

 

publicado às 18:41


número de alunos por turma

por beatriz j a, em 04.05.10

 

 

 

Governo rejeita redução do número de alunos por turma

 

O Governo rejeitou hoje, terça-feira, a redução do número de alunos por turma como forma de melhorar o aproveitamento e a disciplina nas escolas, alegando dispor de dados que contrariam os argumentos da petição lançada pelo Movimento Escola Pública.

 

"Olhando para o sistema educativo no seu conjunto, para as cerca de 60 mil turmas existentes no ensino público, verifica-se que não existe uma correlação entre a dimensão das turmas e os resultados dos alunos", disse.

Segundo o governante, os alunos não têm melhor aproveitamento escolar nas turmas mais pequenas: "Verifica-se inclusive que as turmas com menos de 10 alunos são as que geram maiores taxas de insucesso escolar".

 

Cá estão os argumentos desonestos do costume que dizem que não há correlação empírica que prove que o ensino melhora com menos alunos. Pois, não há nem nunca haverá! Quanto aos dados que mostram o contrário e que dizem que as turmas mais pequenas são as de maior insucesso, é mais outra: pois numa turma de 10 se 2 chumbam isso traduz-se em 20% de insucesso....

Já não são capazes de argumentação séria! É a aprendizagem por habituação a funcionar?

 

É como a ministra ir ao parlamento dizer que é injusto aquela avaliação simulacro não contar para o concurso e depois o tribunal dizer que é injusto aquela avaliação injusta contar para o concurso.

 

 


publicado às 20:55


o número de alunos por turma

por beatriz j a, em 02.05.10

 

 

As turmas deviam ter menos alunos do que têm.

Aqui há uns anos, num curso de pós-graduação que fiz com umas colegas referimos, numa apresentação dum trabalho, a necessidade de se reduzir o número de alunos por turma. Na altura, a formadora, respondeu, à laia de crítica, que "não está provado que a redução do número de alunos numa turma tenha, só por si, influencia positiva nos seus resultados". Já na altura o argumento me irritou, porque não é honesto.

É evidente que não está provado, nem nunca estará, porque é sempre possível ir buscar aqueles casos em que turmas, bastante grandes até, têm bons resultados e turmas pequenas têm maus resultados. Se agarrarmos em 30 bons alunos e os juntarmos numa turma, o mais certo é eles terem bons resultados, da mesma maneira que, se juntarmos, 12 maus alunos (indisciplinados e com historial de falta de aproveitamento), o mais certo é eles terem maus resultados. Estes casos não infirmam a minha declaração inicial.

É como afirmar que num restaurante o número de clientes por empregado não afecta a qualidade do serviço. Haverá sempre casos em que num restaurante com poucos empregados um grupo de pessoas grande saiu de lá satisfeito, e outro saiu insatisfeito num restaurante cheio de empregados. Mas isso não é a regra. A regra mostra que quanto maior é o número de pessoas que tem a seu cargo maior é o tempo de espera e de insatisfação dos clientes, maior é o stress do empregado, maiores também as hipóteses de se enganar nos pedidos ou desleixar aqueles pormenores que fazem a diferença. Por muito excepcioonal que seja o empregado, esse excesso de clientes diário acaba por cansá-lo física e animicamente (quanto mais velho menos aguenta) e impedir que brilhe nas suas melhores qualidades de atendimento.

Numa escola é a mesma coisa. Numa turma, se não há ambiente de trabalho nada funciona bem. Para haver ambiente de trabalho é preciso que o professor controle o que se passa lá dentro, ao mesmo tempo que trabalha com os alunos os conceitos que tem de ensinar, que detecta as dificuldades de aprendizagem, etc, etc. porque os alunos das escolas não são como os das universidades, pessoas mais ou menos autónomas, em geral motivadas e com percurso escolar positivo. Não. As escolas são locais de ensino e educação de crianças e jovens em formação que dependem muito da presença, atenção e proximidade constantes do professor. São muito dependentes. Por exemplo, se o professor está desanimado, eles desligam da aula. As turmas alimentam-se da energia dos professores e acalmam-se e concentram-se com a capacidade que o professor tem de manter a autoridade e o ambiente controlado. O bom trabalho, não episódica, mas permanentemente, é incompatível com turmas enormes e isto é independente de se ser muito bom professor.

O cansaço e a concentração a que cada aula obrigam, progridem geometricamente com cada aluno a mais. Mesmo nas boas turmas. Naqueles dias em que faltam 4 ou 5 alunos porque foram participar num evento, ou algo do género, nota-se uma diferença abissal. O ambiente torna-se mais próximo, o nosso tom da voz muda, a aula dá para tudo: trabalhar a matéria, conversar um pouco, conhecê-los melhor, perceber o que está a afectar este ou aquele, etc.

Se é possível trabalhar com trinta e tal? Ser, é. Mas não com a mesma qualidade. Se o professor tem várias (muitas) turmas, está num estado de exaustão permanente que afecta negativamente o seu trabalho, e por consequência, a turma.

Até pode acontecer que um professor inspirado consiga dar a volta a uma turma grande e problemática. Mas, isso acontecerá uma vez de vez em quando. Se um professor tem todos os anos, sete turmas com 30 alunos e dessas sete, duas são muito problemáticas com casos de indisciplina grave e maus resultados, isso torna-se uma impossibilidade física, até. Os professores são pessoas biológicas, físicas. Trabalham com pessoas. Miúdos ainda muito novos para terem noção e perceberem certas coisas mas já com idade e corpo suficientes para fazerem estragos. Adolescentes, naquelas idades em que estão numa de experimentar e correr riscos e de se armarem para o mundo. A disciplina numa aula depende de vários factores, onde a experiência ajuda muito mas a inspiração também porque é preciso, para cada acção, a reacção certa e adequada, o que implica presença de espírito, concentração, raciocínio claro na análise da situaçao. Ora, estas coisas, por sua vez, não se compadecem com estados de permanente exaustão que roubam a clareza à visão.

As pessoas todas que andam para aí a falar do que não sabem deviam ser obrigadas a ir dar aulas a seis ou sete turmas para a minha escola, ou outra idêntica, aqui da margem sul...

A minha escola tem muitos alunos do bairro da Bela Vista. Eles sabem e têm consciência que de as condições das escolas públicas, sobretudo em certos bairros, com falta de funcionários, alunos a mais por turmas, falta de condições, etc. é a maneira dos governos lhes dizerem que não querem saber deles, que o que querem é que não chateiem. No fim passam-nos a todos e mandam-nos trabalhar para as obras...não passam de um número que aparece num relatório qualquer.

É por isso que não acreditam na educação como modo de melhorar a vida (o que dificulta muito o nosso trabalho). E não têm razão? Um país que apostasse nas pessoas tratava-as de outro modo, com outra consideração.

publicado às 09:03


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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