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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
The atmosphere in the class is relaxed, collaborative, enquiring; learning is driven by curiosity and personal interest. The teacher offers no answers but instead records comments on a flip-chart as the class discusses. Nor does the lesson end with an answer. In fact it doesn’t end when the bell goes: the students are still arguing on the way out. This is my ideal classroom. In point of fact, it is more than just a dream. My real classroom sometimes looks like this, at least occasionally.
A minha também!! Quase sempre :))) embora não seja verdade que nunca ofereça respostas é verdade que nenhuma aula é fechada com uma resposta 😀
Mas as disciplinas que lecciono não têm, hoje em dia, exame obrigatório e a verdade é que a maioria das aulas onde há exames obrigatórios são dadas para os alunos passarem esses exames e como os programas são enormes e as turmas gigantes não há tempo para que possam fazer um exercício de progressão socrático. Na geral as coisas são mais assim:
‘Teaching to the test’, which increasingly dominates public school classrooms, produces an atmosphere of student passivity and teacher routinisation. The creativity and individuality that mark out the best humanistic teaching and learning has a hard time finding room to unfold.
Os malefícios do caos que atinge a constituição de turmas não tem explicação e ninguém fala disso. Estamos com 30, 32, 34 ou mais alunos dentro da sala de aula, sendo que esses alunos são de várias turmas misturadas anti-pedagogicamente só para poupar dinheiro.
Geralmente são duas turmas que se juntam mas, podem ser mais. Como estamos no nível secundário e não universitário, os alunos não têm autonomia suficiente para não dependerem do professor em quase todas as tarefas. Estamos a falar de adolescentes. Pessoas naquela fase da vida que é um universo diferente e alienígena dos adultos, onde levantar o braço para fazer uma pergunta ou ser capaz de dizer que não percebe pode ser um drama que leva um mês a ultrapassar, onde ter que expôr-se em frente de desconhecidos, mesmo que nesse universo reduzido da turma pode causar um ataque de pânico.
Outro dia vinha a falar com um colega de Matemática à saída da aula do meio da manhã acerca de termos mais de 30 alunos dentro da sala e nem haver cadeiras suficientes para se sentarem. Dizia-me ele, 'é impossível um ensino de qualidade - quando fazemos um exercício o mais que podemos é escolher um aluno para ir ao quadro e o que ele fizer serve de modelo para os outros porque não é possível ver o que cada um fez, como fez, tirar as dúvidas a cada um, ver onde cada um está a falhar, etc.'
Depois é a misturada de turmas. Uma turma no 10º ano tem 30 alunos. Se 5 ou 6 não passam, 2 ou 3 mudam de curso e outros 2 mudam de escola, a turma fica com 19, por exemplo. No ano seguinte essa turma tem aulas com outra turma que também ficou com menos 10 alunos, nas disciplinas como o Português e mais outas 2 ou 3 que são comuns a todos os cursos.
O resultado não é uma turma nova mas duas despersonalizadas enquanto grupo, com dinâmicas e modos de funcionamento diferentes enfiadas numa mesma sala. Uma pode ser uma turma de Humanidades e outra de Artes ou de Ciências e não têm nada em comum; depois de um ano no secundário num determinado curso, já têm um modo de funcionamento mental próprio do curso de maneira que não se fundem em uma só turma o que afecta os alunos, para além de nos afectar a nós porque depois temos 30 alunos dentro de uma sala de aula, sendo que muitas vezes estão desfazados em termos de ensino porque cada um teve seu professor.
Estamos ali a dar aulas a duas turmas e não uma, só que estão todos dentro de uma única sala. Às vezes juntam-se a duas turmas diferentes consoante as disciplinas. É o caos e já se tornou rotina quando dantes era uma excepção. Para os alunos isto tem consequências extremamente negativas.
Este ano tenho uma turma do 10º que está a começar agora e mais outras seis juntas duas a duas de modo a fazer 3.
As duas turmas do 12º ano que tenho são 4. Por exemplo, uma é a turma A+B e a outra é a turma C+D. Cada uma é a junção de 2 turmas. Em cada uma delas eu conheço metade da turma: por exemplo, na A+B conheço os da A desde o 10º ano e a outra metade (a B) só os conheci este ano.
O facto de eu conhecer perfeitamente todos os alunos de uma das turmas (A, por exemplo), ter um enorme à vontade com eles e trabalharmos muito bem porque já nos habituámos uns aos outros e porque os treinei desde o 10º para serem autónomos no trabalho e dependerem o mínimo possível de mim, afecta negativamente os da outra, cujos nomes não sei e vou levar muito tempo a decorar, coisa que eles reparam e não gostam embora compreendam, que estão agora a apanhar o modo de trabalhar nas minhas aulas comigo e a fazer um grande esforço para serem mais autónomos, que não têm o à vontade que vêem os outros ter no trabalho e na convivência dentro da sala, etc. Por muito que trabalhe para amenizar isso, para os pôr à vontade, etc., isso afecta-os no rendimento. São adolescentes, não adultos. Têm imensas inseguranças.
Para não falar que com turmas a 30 ou muito mais, deixamos de fazer a quantidade de avaliações que fazemos por ser matematicamente impossível de os corrigir. E quem perde são os alunos, claro, porque as avaliações são um instrumento para aferir do seu progresso e para desenvolver técnicas específicas e de desenvolvimento pessoal.
Isto está caótico. Agora até as Direcções de Turma querem que sejam à molhada, tipo dois em um... o trabalho mais importante do DT é a gestão dos conflitos: entre pais e professores, entre alunos e professores, entre alunos. Quando se consegue gerir bem os conflitos corre tudo às maravilhas e quando não se consegue transforma-se num inferno que afecta logo as aulas e o rendimento deles. Juntar DTs é o caminho mais curto para potenciar conflitos porque é misturar grupos com dinâmicas e problemas diferentes e tratá-los como iguais. Está tudo numa enorme degradação e ninguém fala de nada porque só o que interessa ao ME é poupar dinheiro, e ter alunos amestrados para vomitarem respostas em exames para aparecerem bem nas tabelas internacionais.
Se as coisas funcionam nas escolas deve-se exclusivamente aos professores que ainda têm profissionalismo, que se preocupam e gostam dos miúdos e não são capazes de desistir deles porque todo o sistema está organizado para que as escolas falhem, para que os professores desistam, para que tudo seja aparência e fogo de vista e o que mais choca é o total desprezo que têm pelo interesse dos alunos. No meio disto tudo que se faz para inglês ver, os alunos são a última coisa em que se pensa.
Um aluno hoje em dia que tenha o azar de não passar e ter 18 anos, está tramado e pode acontecer não ter lugar em nenhuma escola ou ter mas não poder matricular-se a todas as disciplinas porque as turmas estão juntas à molhada e o professor já tem 34 alunos ou algo assim. É revoltante.
Esta profissão, para quem leva o trabalho a sério e não faz tudo à balda só pelo (mau)salário ao fim do mês (porque podemos fazer isso, sim, tratar tudo chapa 5 já que está tudo à molhada, como se os alunos, os pais, as turmas fossem parafusos e não universos individuais) exige muita fortitude mental. Daí que milhares de professores andem com depressões, burnout, de baixa ou na escola tipo zombies. A mim custa-me o sono e não durmo como deve ser. Ao contrário do que se diz não tem que ver com a idade mas sobretudo com a impotência de ver tudo ser mal dirigido, mal pensado e mal feito, com gritantes injustiças e abusos e de não conseguir introduzir bom senso e inteligência num sistema cada vez mais estúpido que premeia os simulacros.
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