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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Os meus alunos dizem que depois de passarem por mim, apresentarem trabalhos na faculdade vai ser canja... lol ... isto é porque exijo que os trabalhos venham bem fundamentados e faço perguntas nesse sentido.
Quando damos com um trabalho que sabemos perfeitamente que não é da aluna que o assina. Nem ela tem maturidade para escrever o que escreveu sobre A Rapariga Com Brinco de Pérola de Vermeer, nem linguagem, sequer! Chiça! O que eu já li naqueles sites onde vão buscar trabalhos feitos, em sites de análise da obra e até acabei por ler um estudo universitário, bastante bom por sinal, com o qual fui dar nesta demanda. A certa altura lembrei-me que hoje em dia os miúdos raramente pesquisam texto e vão directamente às imagens e vídeos... hence, youtube :)) Descobri, mas perdi mais de uma hora nesta cena. Ahh, vai-me ouvir, vai.
Entretanto vi o trabalho da M., uma aluna excepcional, sobre A Persistência da Memória de Dali. Isto é um miúda que quando a conhecemos achamos que deve ser uma exagerada e marrona porque ela leva uma resma de papel para as aulas e escreve tudo o que toda a gente diz. E se tem que intervir ali em cima da hora, cumpre mas não é nada de extraordinário. Agora, se lhe damos meia hora para pensar... epá, ela disserta sobre o assunto de modo a integrar o que já demos, o que aprendeu em outras disciplinas e se relaciona com o tema, o que pensou e leu... o forte dela é o espírito analítico e a capacidade de ter uma visão integradora dos assuntos. É boa em tudo, desde a Matemática e a Biologia, à Física e à Filosofia e é boa com originalidade. Tem uma capacidade de trabalho e concentração bestiais, pode haver um terramoto que ela não se distrai. Completamente focada.
Enfim, como ontem andei a preguiçar ainda me faltam imensos trabalhos para ver... que massacre...
Eu sei que isto de classificar testes e trabalhos e fichas e o diabo a nove faz parte do trabalho mas já não se aguenta e este período é interminável... testes às resmas mais um caderno inteiro com anotações de apresentações orais de trabalhos para organizar/avaliar e depois traduzir em comentários escritos devolvidos aos alunos na parte escrita dos trabalhos, mais todo o resto do trabalho de apoios, de 3 DT ou, por exemplo, ter de voltar à escola daqui a bocado para uma reunião de burocracias que podiam ser resolvidas por email. Que massacre... E quando chegar às 'férias' (ahah) da Páscoa, que são cinco dias úteis, metade é para dormir e tentar recuperar do cansaço acumulado a outra metade para preparar o 3º período.
Hoje em dia as coisas são de tal maneira que ou se tem trabalho e se está sempre com excesso de trabalho [enfim, excepto os os queridos predilectos que formam uma elite ao contrário] ou não se tem trabalho e se está desempregado. O meio termo que é ter um trabalho equilibrado é uma espécie em vias de extinção.
É claro que se fosse uma portuguesa a sério ocupava o meu tempo com copos e homens para agradar ao Dijó...
Sim e não. Alarguei a data de entrega dos trabalhos de argumentação das turmas do 11º ano, a seu pedido, para dia 22, até à meia noite. Como a parte escrita do trabalho vale 50% da nota (o resto vai para a apresentação oral) e já estão de férias, sem testes, alguns grupos andam a esmerar-se na elaboração dos trabalhos (que vou ter que avaliar nas férias). À conta disso estou aqui meio presa ao PC a tirar dúvidas e a ajudar em algumas pesquisas porque alguns temas que escolheram argumentar não são nada fáceis, como por exemplo, 'A guerra não é uma inevitabilidade' ou 'Não existe a maldade o que existe são pessoas com doenças mentais'.
Se chateia isto de ter um pé nas férias e outro no trabalho? Chateia e não chateia. Estou a achar piada aos temas e a toda a cena de os ver arquitectar uma argumentação em defesa de uma tese. Há miúdos muito criativos :)
Fazer trabalhos em que não se acredita, muito antes p'lo contrário, ter-se a certeza do seu demérito, e mesmo assim termos que o fazer sob ordem.... não tenho grande jeito para obedecer a ordens que sei terem resultados ineficazes e perniciosos, assim como não tenho jeito para obedecer a ordens só porque quem as dá tem autoridade para o fazer. Isto é um conflito intestino.
Tenho aqui uns trabalhos tão bons da turma do 12º de Psicologia que acho que vou fazer uma publicaçãozinha com eles (se os alunos o permitirem, claro).
Pedi aos alunos que fizessem um trabalho sobre a Identidade - tema com o qual concluimos mais ou menos o ano.
Para fazer uma coisa diferente aproveitei parcialmente uma ideia dos autores do Manual à quel juntei mais umas cenas e pedi-lhes que escolhessem um sítio/objecto/pessoa etc. que reconhecessem como importante na construção da identidade, seja porque se identifiquem com ele/a seja porque ter estado presente em etapas chave da construção da identidade. É claro que esta reflexão tinha de ser feita aplicando os conceitos aprendidos.
Alguns trabalhos estão excelentes. Três, sobretudo. Conseguem identificar nas várias etapas do desenvolvimento a presença de um local e fazer a ligação com características da sua identidade e mostrar a influência. Interessante que um destes três trabalhos escolheu o colégio onde fez a pré-primária e a primária, um colégio de Salesianos.
Muito interessante. Devo dizer que nenhum destes trabalhos seria possível sem horas de discussão sobre matéria leccionada no espaço de sala de aula, que tem um ambiente próprio, onde a relação professor/aluno se constrói dentro duma dinâmica muito própria e difícil até de explicar. Um ambiente de à-vontade, por um lado, mas de concentração nos problemas, por outro. Este tipo de produtividade não é compatível com uma escola como recreio onde andamos a passear nos corredores e a falar de projectos de coisa nenhuma...
Isto hoje foi uma maratona de corrigir trabalhos. E está longe de estar acabado. Tenho uma aluna moldava que chegou a Portugal em Agosto passado e que começou o ano sem perceber o que eu dizia: acabo de ver o trabalho dela, um texto de apreciação estética de uma escultura, um busto, que fez na aula. Escreveu perfeitamente e com um vocabulário já desenvolvido - com expressões como 'as linhas que se observam na testa revelam tensão e preocupação que contrasta com o sorriso'.
Escreve melhor que muitos alunos portugueses.
Isto mostra bem como o estudo resulta quando há vontade e determinação.
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