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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Stefan Grimm era um professor reputado da Imperial College, uma universidade inglesa prestigiada. Suicidou-se depois de o ameaçarem com processo disciplinar e despedimento por não angariar fundos milionários para a universidade. Deixou uma carta a explicar tudo isto.
Na carta pode ler-se:
I fell into the trap of confusing the reputation of science here with the present reality. This is not a university anymore but a business with very few up in the hierarchy, like our formidable duo, profiteering and the rest of us are milked for money, be it professors for their grant income or students who pay 100.- pounds just to extend their write-up status.
If anyone believes that I feel what my excellent coworkers and I have accomplished here over the years is inferior to other work, is wrong. With our apoptosis genes and the concept of Anticancer Genes we have developed something that is probably much more exciting than most other projects, including those that are heavily supported by grants.
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É nisto que se transformou a educação, de alto a baixo: um negócio de muitos milhões e projectos vistosos com professores de nomes sonantes que possam dar nas vistas, tipo grandes estrelas da ciência televisiva nas mãos de corporações que são donas das instituições e só as querem para ganhar dinheiro. Todos os que não encaixam na máquina corporativa são trucidados, mesmo que sejam investigadores extraordinários que trabalhem em projectos de real interesse para todos nós.
Quem não vê que a Europa precisa de grandes mudanças se queremos evitar que se torne numa Rússia ou China é completamente cego; a educação, que outrora era o cunho de excelência da Europa dos Direitos Humanos, decaiu na prolatarização dos professores e na indiferença dos que detêm o dinheiro por um progresso nos conhecimentos que reverta a favor da sociedade como um todo e não de quatro ou cinco DDTs.
Trágico, perturbador e sintomático da decadência da sociedade de ideais de liberdade, justiça e equidade que costumávamos ser.
Ao Excelentíssimo Senhor Conde-Duque
Já na capela estou, e condenado
a partir sem remédio desta vida;
sinto a causa mais forte que a partida,
pla fome expulso como sitiado.
Culpa sem dúvida é ser desgraçado;
mais, minha condição ser retraída.
Delas me acuso nesta despedida,
e partirei ao menos confessado.
Examine minha sorte o ferro agudo,
que, apesar de seus gumes, me prometo
alta piedade de vossa excelsa mão.
E já que meu acanhamento é mudo,
os números, senhor, deste soneto
língua e lágrimas sejam não em vão.
Luís de Góngora
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