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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Das duas uma: ou a Europa é uma tragédia e o Reino Unido faz bem em sair do clube; ou a Europa é uma organização virtuosa e então sim, o Brexit é um erro tremendo. Podem fazer toda a espécie de contorcionismos, dar as piruetas que quiserem, que não há como fugir a isto. (José Cabrita Saraiva)
Este artigo dá ideia que só existem essas duas opções extremas mas não é verdade. Isso é uma falsa dicotomia. Existe, por exemplo, a opção em que a Europa não é, nem uma tragédia nem uma organização virtuosa mas uma experiência complexa, com grandes erros e grandes virtudes, de harmonizar países e nações com séculos e milénios de guerras que necessita do esforço positivo transformador de todos, sobretudo dos que têm mais poder e influência, como o Reino Unido, para que resulte como projecto positivo/democrático para os milhões de cidadãos que dele fazem parte.
Acontece que o Reino Unido nunca acreditou na Europa, nomeadamente na Europa alemã e só entrou nela porque a certa altura percebeu que não podia dar-se ao luxo de ficar de fora. Só que depois deixou de perceber.
Todos vamos perder com a saída do Reino Unido e não só do ponto de vista económico mas do ponto de vista político e de hipóteses de sucesso do projecto, agora que a Alemanha vai poder conduzir isto quase completamente destravada.
Em 2012 a Google lançou o projecto Aristóteles para descobrir qual é a marca de uma equipa de sucesso. Investigadores puseram várias hipóteses: interesses semelhantes, equilíbrio entre mulheres e homens, team building... como nenhuma correlação estatística conseguia destacar um factor sobre outros resolveram virar-se para a cultura do grupo, as interacções entre os membros. Depois de estudarem mais de 100 equipas da Google chegaram à conclusão que a marca do sucesso é a segurança psicológica que se traduz numa confiança em poder-se correr riscos interpessoais. Dizendo de outro modo, sentir-se à vontade para discordar, sabendo que não será punido ou humilhado por isso. Em suma, a marca do sucesso é um clima de confiança e respeito interpessoal.
Estas conclusões não espantam...
Aqueles que obtêm sucesso na vida, entendendo-se por sucesso coisas muito diferentes consoante as pessoas em causa, a certa altura começam a reescrever o seu passado implícita e explicitamente para corresponder à imagem de sucesso que têm de si mesmas e às etapas que no seu imaginário ou no seu ideal de ser forjaram a sua [nova] identidade. Dito por palavras simples, mentem a si mesmos e aos outros para que todo o percurso pareça um caminho da sua decisão esclarecida e determinada sem influências, seja da sorte, do acaso ou de terceiros.
Thomas Piketty refuse d'être honnoré par le gouvernement
"Je viens d'apprendre que j'étais proposé pour la Légion d'honneur. Je refuse cette nomination car je ne pense pas que ce soit le rôle d'un gouvernement de décider qui est honorable", a déclaré M. Piketty à l'AFP, ajoutant : "Ils feraient bien de se consacrer à la relance de la croissance en France et en Europe."
Numa época em que a sede de poder e de falsas honras se tornou epidemia alguém dá um exemplo de dignidade.
Investigação da Universidade Nova conclui que avaliação dos docentes no secundário está mais ligada ao desempenho dos alunos no superior do que a nota das provas nacionais.
As notas que os estudantes conseguem ao longo do ensino secundário dizem mais sobre como vai ser o seu desempenho na universidade do que os resultados que têm nos exames nacionais. A conclusão é de Dino Alves, da School of Business and Economics da Universidade Nova de Lisboa, que na sua tese de mestrado em Economia provou esta ligação. Os resultados, acredita o autor, podem ajudar as instituições de ensino superior a mudar o peso dado a cada uma das condições de acesso (atualmente a nota de exame pesa entre 35 a 50% na nota de candidatura).
No estudo Determinantes do Sucesso, o aluno de 24 anos analisou o percurso de 363 estudantes das licenciaturas de Economia e Gestão que entraram no ensino superior em 2009/10, com o objetivo de "prever o seu sucesso educativo". Para isso foram analisados dados como as áreas de estudo no secundário (Ciências ou Economia), o tipo de escola (pública ou privada), a nota no exame de Matemática (que é o específico para entrada nestes cursos) e o desempenho no curso superior.Dino Alves chegou à conclusão que "o resultado mais robusto era a correspondência entre a nota do secundário e a nota do superior".
O primeiro-ministro dramatizou hoje a importância da disponibilidade dos portugueses para prosseguirem o "esforço de ajustamento" da economia portuguesa, afirmando que "se isto vai tudo correr bem ou tudo correr mal" depende muito da vontade coletiva.
Depende acima de tudo do governo: do modo como fazem as coisas, das prioridades que estabelecerem e da justiça e equidade de todo o processo.
Encontrar uma pessoa que foi nosso/a aluno/a passados uns dez anos e ver a pessoa num trabalho muito abaixo das suas potencialidades e das suas expectativas e desejos, em virtude de vissicitudes da vida. E custa ver na cara da pessoa que ela sabe isso (e sabe que nós sabemos) e que essa espécie de desistência forçada a fez perder uma vivacidade que tinha e que lhe dava confiança.
Não quer dizer que não tenha uma vida válida mas custa porque apanhamos os alunos numa idade em que [quase] tudo ainda é possível e temos sempre a esperança de que as pessoas façam o caminho que sabemos que desejam.
Detesto, verdadeiramente, duma maneira que vem lá do fundo, a ideia de sucesso que a sociedade injecta nas pessoas e no que isso lhes faz. Toda essa conversa do sucesso e da excelência me irrita profundamente porque é falsa e feita de ilusões que destroem as pessoas, umas por medo, outras por cobardia. E pessoas que não valem nada terem a vida facilitada por serem aldrabões e falsearem currículos e/ou serem netos de alguém com um apelido qualquer enquanto pessoas que valem muito vão para o fim da linha por não serem netos de alguém e por acreditarem que o mérito não tem apelidos.
O desmentido surge quando têm vindo a público vários escândalos envolvendo a família real. De acordo com as sondagens a maioria dos suecos é favor que Gustavo, de 65 anos, no trono há 37, abdique a favor da filha, Vitória.
Acho que era o Descartes que dizia que a aprendizagem da História é contrária à aprendizagem moral, na medida em que ensina como heróis os piores exemplos morais. E, na realidade assim é. Ensinam-nos a admirar indivíduos que invadiram países, mataram e oprimiram povos inteiros com grande violência e por aí fora, só porque tiveram sucesso ou poder.
Isto acontece a todos os níveis. Por exemplo, esta semana ouvia uma pessoa na TV a dizer, sobre o Pinto da Costa, que era preciso reconhecer ser ele um grande dirigente porque o Porto ganhou quase todos os títulos que tem com ele. Que os tenha ganho, por suposição, com recurso a subornos, prostitutas, gente que dá sovas e ameça pessoas e etc., é coisa que não parece ser relevante nesta avaliação, quando a questão é exactamente essa: todo o sucesso é de mérito e invejável ou existe sucesso vergonhoso que devia ser considerado fracasso devido aos meios utilizados para o alcançar?
Quanto a mim nenhum sucesso impressiona que seja erigido sobre corrupção ou crime.
Passa-se em todo o lado este fenómeno. O rei da Suécia, esse país sempre citado pelas virtudes de liberalismo, democracia e igualdade social, está metido com strippers, prostitutas e crime organizado!? Toda a sociedade tem uma educação retorcida. Um rei mete-se nestas coisas para quê? Não lhe chega o poder e riqueza que tem?
Isto é que mina a educação dos povos. Exalta-se a não violência mas depois pratica-se a violência como atalho para o sucesso e veneram-se
as pessoas que o fazem! As mesmas pessoas que falam no mérito ganham os lugares de poder à custa de cunhas e trafulhices.
É triste ver que o sacrifício que gerações fizeram para criar riqueza, paz e qualidade de vida na Europa esteja em franco retrocesso por causa duma ideia de sucesso distorcida.
Desde que o mundo para lá da cortina de ferro se desfez todo o planeta se converteu ao capitalismo e ao sucesso a qualquer preço.
O sucesso tem sido sempre um grande mentiroso.
Nietzsche, Para além do Bem e do Mal
Expresso, hoje
Vi isto no blog do Umbigo e nem queria acreditar! O aluno com melhor média a entrar para a faculdade não conseguiu acabar o secundário. Meteu-se (é este o termo) nas Novas Oprtunidades, fez um exame de inglês e aí está ele no topo do quadro de honra. Não sei para onde entrou, mas pode ter entrado para medicina, por exemplo. Quem é que o quer como médico? Aliás, quem vai querer os médicos, engenheiros, professores e outros no futuro sabendo como se consegue um canudo?
Alguém ainda tem dúvidas dos maleficios que advêm de contratarmos pessoas que têm cursos tendo feito toda a espécie de manigâncias ou até fraudes para ter o diploma? Não estamos à beira da bancarrota exactamente por isso?
Aí está o rapaz com ar sorridente sabendo que beneficiou de um truque para passar à frente dos que estudaram e têm mérito. Quantos é que entraram na faculdade à custa dos que estudaram e ficaram de fora?
O que diz o Umbigo é que penso há muito tempo: uma pessoa continua a falar de educação e a lutar pelas coisas mais por inércia e brio do que por fé, porque é por demais evidente, há muito tempo que quem governa e todos os que são satélites da governação, pouco percebem de educação e estão-se nas tintas para ela.Só ligam ao senhor 'sucesso'.
O sucesso é isto: conseguir chegar à frente, seja de que modo for. É assim que 'os melhores' (que chegam à frente) são na realidade dos piores!
A educação já não é para a excelência, mas para a Sua Excelência, O Grande Enganador...com sucesso. E quem é o paradigma....?
Edward Burns, aquele actor/realizador que tem uma das vozes mais sexy do cinema, acaba de estrear um filme no Tribeca Festival acerca do dilema entre escolher uma profissão/vida que se gosta sacrificando o sucesso económico ou escolher uma profissão/vida que garanta bastante dinheiro sacrificando os sonhos.
Tenho de ver este filme, porque esta é uma questão que recorrentemente os alunos me põem e talvez o filme seja bom para problematizar o assunto. Ainda na sexta-feira passada discuti isso com duas turmas. Numa delas porque estamos a dar a estética e a vida de alguns artistas levou-os a essa questão e na outra porque estamos a dar o existencialismo e a questão do sentido da vida.
Alguns alunos têm ideias já ideias muito definidas sobre as suas prioridades. Como em mutos casos são muito radicais -o que é muito comum em adolescentes de 16, 17 anos- às vezes têm grandes discussões sobre alternativas e estilos de vida. Outros não.
Os filósofos, ou as filosofias, melhor dizendo, ajudam bastante a enquadrar essas questões em termos de valores e princípios que subjazem às diversas escolhas o que por sua vez ajuda a definir critérios na definição de prioridades pessoais.
Cerca de 50 000 pessoas prestaram hoje a derradeira homenagem no estádio do Hannover 96 ao ex-guarda-redes do Benfica Robert Enke , que se suicidou na terça-feira, aos 32 anos, no auge da carreira, vítima de graves depressões. (jornal i)
Quando o sucesso é apenas exterior - fama e dinheiro - e não corresponde às vivências interiores, que o diminuem ou até o anulam.
E, no entanto, é para este tipo de sucesso que toda a sociedade está construída. É para ele que se inventaram as grelhas e as avaliações psicóticas nas escolas. É para ele que se endeusou a ciência e se destruiu a cultura das humanidades. Olha-se para as pessoas mas não se vêem as pessoas, vêem-se casos - de sucesso, de insucesso.
Nas escolas, os miúdos, desde pequenos, habituam-se a considerarem-se menos pessoas se têm más notas. Mais tarde têm dificuldade em interiorizar que uma nota só avalia um trabalho realizado e não a pessoa que o fez, que uma nota de 7 não equivale a dizer que são pessoas que valem 7, de tal modo a sociedade os bombardeia por todo o lado com ideias de competição e avaliação e mérito pessoal baseado em certo tipo de sucesso de aparência.
Esta generalização do darwinismo a todas as áreas da vida pessoal e social é catastrófica, corrosiva. O stress de não se ter um minuto de descontracção, por força de se estar sempre a percepcionar numa corrida em que, quem fica para trás, desaparece.
A avaliação deixou de ser um instrumento de progressão, nomeadamente interna, para se transformar numa regra 'dos nove - noves fora, nada'.
Preparar as pessoas para sucessos de fachada sem cuidar do que está dentro sendo a vida uma experiência tão complicada...o Jardel, em entrevista ao jornal i, diz que luta diariamente para não ir parar ao buraco - entregar-se ao Diabo, nas suas palavras.
Que raio de educação andamos a dar às pessoas?
Esta frase fazia o título dum artigo de jornal no dia da greve de professores, que teve uma adesão superior a 90%. Isto significa qualquer coisa como 120.000 professores, ou mais.
Ah! Mas a ministra não está impressionada e não cede!
Mas então, pergunto eu, a que é que ela cede?
Os professores têm tentado fazer-se ouvir, utilizando os meios próprios das democracias: falaram, avisaram que as coisas nas escolas estavam a resvalar perigosamente; escreveram, pediram aos seus representantes para alertarem o poder, denunciaram a violência, a indisciplina, a artificialidade dos resultados escolares, os perigos e custos da desagregação dos professores por causa dos efeitos preversos que a promoção política de uns professores a chefes dos outros, fixada no Estatuto da Carreira Docente veio gerar; alertaram para o absurdo e injusto campeão da revolta que é este modelo de (não)avalição dos professores.
Nada disto teve eco junto da senhora. Foi como chocar contra uma parede. A ministra nem se dava ao trabalho de fingir que ouvia os professores - dizia, com o maior despudor, não ligar às vozes dos professores, porque não passavam de rebanhos de sindicatos e chamava-nos 'professorzecos'. Que vergonha!
Ela se calhar não sabe, mas os professores são, na sua esmagadora maioria, pessoas com formação académica superior, com estágio profissional e ainda com inúmeras formações mais ou menos especializadas, que são obrigados a fazer sob pena de terem avaliação negativa e não progredirem na carreira (avaliação, sim).
Bem, como nada a demoveu, os professores resolveram fazer uma manifestação, que era um modo de mostrar que estas posições e juízos sobre a educação não eram obra de uns grupos, antes constituiam a visão da quase totalidade dos profissionais da educação.
Não quis saber. Desvalorizou?! Como é que uma pessoa que é chefe duma equipa de profissionais educados e especializados com os quais tem de trabalhar, se dá ao luxo de os desvalorizar? Se isto é uma regra de Gestão eu não a entendo.
Então, eu tenho uma equipa para realizar um trabalho e a primeira coisa que faço é maltratá-la de todos os modos possíveis de maneira a que ninguém consiga identificar-se comigo e com os meus objectivos? Tento pô-los uns contra os outros de modo a que já não consigam colaborar e fazer o trabalho? Faço de modo a que ninguém, na equipa, me tenha lealdade? LOL
Não percebo, mas se é esta a ideia de competência que anima os nossos governantes, muita coisa fica imediatamente explicada.
Mas, voltando à vaca fria, como costuma dizer-se, os professores ainda fizeram uma segunda manifestação, e uma terceira, para mostrar que a luta não era por poderes político-sindicais mas pela sobrevivência da escola. A senhora desvalorizou. Disse que eram agitadores.
Bem, como forma de luta radical fizemos greve, que é assim uma maneira de dizer: olha que estamos todos de acordo e isto significa que a questão é mesmo grave, é necessário olhar para a situação e corrigir o que pode ser corrigido.
Qual foi a resposta? A ministra não cede a ultimatos!! Mas então o que é preciso para que ouça?
Algo de muito errado se passa quando numa democracia nenhum processo democrático funciona.
Penso que a ministra da educação despreza os professores.
Talvez por vivermos numa sociedade em que o sucesso é medido pelo dinheiro que se tem, pelo poder económico, a maioria do povo pensa que ter este tipo de sucesso e ter qualidade são sinónimos.
Por essa ordem de ideias, raciocinam deste modo: se os professores não são (ou não foram) capazes de ter sucesso na vida (ganhar dinheiro e ter muito poder, entenda-se), segue-se claramente que são pessoas sem qualidade.
Deste tipo de raciocínios duas coisas ficam claras:
1ª, quem assim pensa, pensa também que ser professor e dedicar-se à educação é uma profissão menor já que não dá acesso àquele sucesso tão valorizado na sociedade.
A minha pergunta é: como é que alguém que tem em tão baixa estima a educação e a profissão de professor pode estar à frente duma equipa de professores a ditar políticas para a educação? É um contra-senso.
2ª, quem assim pensa não tem uma mente educada no conhecimento da História, por um lado, e na reflexão, por outro. É que a História mostra-nos muitos casos em que as sociedades foram tomadas de decadência das suas virtudes justamente por terem permitido que o sucesso aparente baseado na lógica do simulacro substituisse o saber real. E quem tem hábitos de reflexão descortina isso, por si mesmo, vendo como em tantos casos do quotidiano, pessoas cheias desse sucesso (enchem as televisões) exibem uma confrangedora ignorância a respeito dos assuntos de que falam.
A minha pergunta é esta: como é que se evita que as democracias acabem sempre nisto?
É claro que estas perguntas não são novas. Grandes pensadores já se questionaram sobre elas e sendo tão complexas, não têm respostas simplex.
Enfim, para quem pensa.
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