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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Uma pessoa acorda de uma sesta de uma hora e meia com a sensação de ter dormido seis horas e muito aliviada de perceber que era só sonho, a cena enorme com montes de gente, inclusivé familiares daqueles que não se vêem há quinhentos anos com quem não fomos, no sonho, muito simpáticos. O sonho cheio de pormenores simbólicos daqueles que fariam a delícia de qualquer psicanalista, como ter chamado sempre 'ponte' aos sofás. Enfim, bela sesta.
Suna Tufekcibasi - summer sleep
... ou, dito de outro modo, que tudo é possível. Se tudo é possível é uma questão de ir atrás da possibilidade :)
fonte:
Não há dias de sonho
só existe a realidade
e nenhum é o tempo de ser.
...estamos só a dormir" (lido algures)
bernard safran
Lago Nakuru, Quénia - flamingos
imagens da net
Hoje sonhei com o lago Nakuru, vá-se lá saber porquê...podia ter sonhado com essa viagem ao Quénia, mas não, foi só com o lago, a aproximação ao lago, que fica no vale duma floresta húmida - surpreendente, porque o resto do Quénia é sobretudo seco- e que, tanto quanto lembro, se vai vendo por entre as árvores, da estrada que desce para o vale em ziguezages. A primeira vez que se avista não se percebe o que é aquela mancha cor de rosa que se vê lá em baixo a ocupar parte do lago, mas o efeito é lindo. Hoje tive sonhos, literalmente, cor de rosa...
Phil Lewis
Tudo quanto Sonhei se Foi Perdido
O que sonhei e antes de vivido
Era perfeito e lúcido e divino,
Tudo quanto sonhei se foi perdido
Nas ondas caprichosas do destino.
Que os fados em mim mesmo depuseram
Razões de ser e de não ser, contrárias,
Nas emoções que, dentro em mim, cresceram
Tumultuosas, carinhosas, várias.
Naqueles seres que fui dentro de um ser,
Que viveram de mais para eu viver
A minha vida luminosa e calma,
Se desdobraram gestos de menino
E rudes arremedos de assassino.
Foram almas de mais numa só alma.
Francisco Bugalho, in "Dispersos e Inéditos
...não, não sonhei com o Sócrates. Sonhei com uma casa (a do meu filho, onde vim ficar hoje), uma porta e chaves, quatro pessoas das quais duas não sei quem são, não as reconheço, e uma conversa com as duas pessoas que não reconheço. O pesadelo foi a conversa que estas duas pessoas tiveram comigo. Foi uma coisa tão séria, assutadora e real que me fez acordar assustada. Quando vi que tinha sido só um sonho fiquei aliviada. A mente é uma coisa estranha e extraordinária. Todas as noites faz um check-up e uma desfragmentação: arruma, organiza, previne, etiqueta e avisa das causas do mau funcionamento do sistema. Se tivermos paciência para ler o relatório (que são os sonhos) e se soubermos interpretá-lo podemos reparar o sistema, ou pelo menos fazer melhorias. Infelizmente não o podemos restaurar para um ponto anterior...às vezes dava jeito...
A national Geographic traz um artigo sobre Kolmanskop, na Namíbia. Uma cidade mineira entretanto adandonada que está a ser engolida pelas areias do deserto, como se vê na fotografia. É assim que as civilizações desaparecem. Por falta de vida que alimente a sua continuidade e renovação.
A vida, quer parecer-me, está ligada aos sonhos, ao que somos capazes de sonhar. Como alguém disse um dia, 'Não deixamos de sonhar por ficarmos velhos, antes ficamos velhos e deaparecemos porque deixamos de sonhar'. Os sonhos, no entanto, constroem-se sobre possibilidades que existem. Os países e as civilizações têm que criar possibilidades que alimentem os sonhos, que prolongam a luta pela vida. Para isso não podemos reduzir a educação a técnicos disto e daquilo -embora sejam necessários. Precisamos de químicos e escritores, de engenheiros e filósofos, de médicos e de poetas, porque uns sem outros não impusionam a civilização para a frente, como se vê pela fotografia...
Só faz sentido perseguir sonhos se os pudermos partilhar. Que sentido tem perseguirem-se sonhos sozinho? Quem lutaria pela Democracia se não fosse um sonho partilhado? Quem, no Egipto, ou na Líbia, estaria sozinho a lutar por...nada? E nos sonhos pessoais é igual. Muito a propósito, o final do filme, 'A Rede Social' mostra o indivíduo rico mas sem alegria, sem ninguém com quem partilhar o seu triunfo pois tratou de descartar e hostilizar os que mais dele gostavam. Sozinho a acrescentar amigos no facebook.
Gabriel Sainz
O que sonhas, criança
de olhos fixos no ar
no dirigível que avança
balão colorido a planar?
O olhar compenetrado
imagina batalhas no ar
ou um dragão encarnado
de narinas a fumegar?
Mundos dentro do mundo
da infância a divagar
perdido em sonho profundo
onde é um herói sem par.
bja
Os sonhos são como os pesadelos: só continuam a existir se os alimentarmos.
A minha vizinha de baixo veio aqui deixar, há meia hora, uma taça com dúzia e meia de sonhos...meu deus(!)... são pesadelos para a linha. Os sonhos dela são só os melhores que já comi em toda a vida. Vou ter que andar muitos quilómetros depois destas férias...e beber litros e litros de água...
Há os que sonham e imaginam as coisas a acontecer-lhes, e há os que sonham e se vêem a si próprios a acontecer. Os primeiros raramente realizam os sonhos pois que vivem na ilusão de que basta imaginarem para que tudo lhes aconteça: desiludem-se. Mesmos os reis poderosos de antigamente, entre o sonharem e as coisas acontecerem tinham de colaborar e partilhar os seus sonhos com os outros, os fazedores de sonhos. Existir apenas, ou mostrarem-se de vez em quando ao povo não bastava. Os segundos realizam muitas vezes os sonhos porque sabem que para os sonhos nos encontrarem temos que fazer metade do caminho. Temos de ter a iniciativa. É assim em tudo: nos negócios e também na vida.
Se a vontade é indómita, se o coração é grande e a razão prevalece...o sonho acontece.
Edward Burns, aquele actor/realizador que tem uma das vozes mais sexy do cinema, acaba de estrear um filme no Tribeca Festival acerca do dilema entre escolher uma profissão/vida que se gosta sacrificando o sucesso económico ou escolher uma profissão/vida que garanta bastante dinheiro sacrificando os sonhos.
Tenho de ver este filme, porque esta é uma questão que recorrentemente os alunos me põem e talvez o filme seja bom para problematizar o assunto. Ainda na sexta-feira passada discuti isso com duas turmas. Numa delas porque estamos a dar a estética e a vida de alguns artistas levou-os a essa questão e na outra porque estamos a dar o existencialismo e a questão do sentido da vida.
Alguns alunos têm ideias já ideias muito definidas sobre as suas prioridades. Como em mutos casos são muito radicais -o que é muito comum em adolescentes de 16, 17 anos- às vezes têm grandes discussões sobre alternativas e estilos de vida. Outros não.
Os filósofos, ou as filosofias, melhor dizendo, ajudam bastante a enquadrar essas questões em termos de valores e princípios que subjazem às diversas escolhas o que por sua vez ajuda a definir critérios na definição de prioridades pessoais.
um segundo antes de acordar de um sonho...
Hoje tive um sonho em que encarnei a Patricia Highsmith - provavelmente porque ando a ler a biografia dela. A Patricia Highsmith, para quem não sabe, era vendedora no Bloomingdale na secção de brinquedos infantis. Um dia, entrou lá uma mulher com um ar abastado e sofisticado de casaco de peles e comprou uma boneca. Embora o contacto tenha sido muito breve deixou nela uma impressão profunda, de tal modo que descobriu onde ela morava pelo talão da compra e um dia meteu-se no comboio e foi até New Jersey a casa da mulher espiá-la. Todo o incidente deu origem a um livro chamado The Price of Salt.
Pois hoje sonhei que trabalhava numa loja de brinquedos e que um homem entrava vestido com um casaco de zibelina e que comprava um comboio eléctrico daqueles que montados ocupam metade duma sala. Fiquei tão impressionada com todo o ar do indivíduo que senti o impulso de espreitar a vida dele. Fui até casa dele, que era perto do Saldanha (o Saldanha aparece aqui por causa duma conversa com um amigo) na rua Praia da Vitória (a escolha da rua no sonho também é simbólica - Vitória) e como era no 2º andar resolvi alugar o apartamento em frente. O que fiz. Comecei a espiar o indivíduo como no filme da Janela Indiscreta e descobri que o casaco de Zibelina era reversível e do outro lado era um casaco de pele negra. Arranjei um pretexto para ir a casa dele: inventei que faltavam peças no comboio e que ia lá entregá-las. Quando lá cheguei bati à porta e qual não é o meu espanto ao ver que quem abre a porta sou eu própria, com o casaco vestido do lado negro. Acordei.
É muito interessante a maneira como os bons livros são inspiradores. Muito interessante também o modo como se introduz nos sonhos o que paira à nossa volta e dentro de nós e se faz disso uma espécie de esclarecimento codificado do que nos preocupa ou até atormenta.
Tudo no sonho tem um significado relacionado comigo que eu compreendo: o homem, o comboio, o casaco duplo, o Saldanha, a rua da Vitória, o espiar o tipo, etc. Este sonho deu-me uma ideia para escrever uma história.
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