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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
De repente, percebemos que as maternidades do país estão presas por fios.
Inês Cardoso
Num país de baixa natalidade, é essencial não apenas assegurar capacidade de resposta, mas transmitir total confiança às populações.
Em contagem decrescente para as legislativas, o PCP e o Bloco de Esquerda reagiram de imediato e chamaram responsáveis técnicos e políticos ao Parlamento. É bom lembrar, contudo, que os orçamentos do Estado dos últimos anos tiveram a sua aprovação.
Aqui há meia dúzia de anos aquele Raposo que escreve para o Expresso publicou uma crónica, que na altura comentei, em que defendia, de um modo indirecto, que as mulheres de 30 anos (as outras já são lixo...) deviam ser assediadas pela sociedade no sentido de serem mal vistas se fossem procurar emprego antes de terem filhos e ficarem dois anos em casa a tomar conta deles. Acrescentava ainda que percebia que as mulheres portuguesas quisessem trabalhar para não serem vistas como "dondocas" mas que isso havia de passar se os homens ajudassem, ou até, partilhassem, as tarefas de casa.
O problema é este: os decisores portugueses, quase todos homens, mas também mulheres educadas neste sistema clerical/patriarcal entendem que os filhos são um problema das mulheres.
No artigo deste indivíduo nem uma única vez se diz que a sociedade devia pressionar os homens a não procurar emprego antes de terem filhos e ficarem em casa dois anos a tratar deles porque o problema dos filhos, no entender dele, não é dos homens, é das mulheres - embora os homens reservem para si as decisões acerca do que as mulheres podem e não podem fazer, relativamente ao seu corpo.
O homem é um ser humano substantivo, com ideias, projectos, presença e investimento no mundo, a mulher é uma categoria funcional, serve para ter filhos e cuidar deles. Talvez depois se deixe que tenha um trabalho para não parecer "dondoca". A ideia de que as mulheres tenham ideias, projectos de vida, ambições, preocupações científicas, sociais, filosóficas, etc. que as motivam mais que ter filhos e que se realizem no trabalho, nem lhe passa pela cabeça.
Portanto, estes homens que são os decisores políticos e seus influenciadores, demitem-se do problema dos filhos mas assumem-se como proprietários e decisores do corpo das mulheres.
As mulheres têm que ter os seus filhos e tratar deles, de preferência aos 30 anos.
Porque é que o dever de ter filhos e tomar conta deles não é estendido aos homens? Afinal, se os homens são capazes de fazer filhos e se há mulheres que querem ter filhos, e se os homens são perfeitamente capazes de cuidar e educar filhos como as mulheres, porque não obrigá-los a eles também a ter filhos aos 30 anos e a cuidar deles dois anos...?
Porque a revolução francesa, de que somos politicamente e socialmente herdeiros, teve como grande mérito, como sabemos, a ideia de que a liberdade é igual, em direitos, em todos os seres humanos, ao contrário do que acontecia até então, onde os reis e nobres em geral eram livres (como os ditadores, imperadores, etc.), entenda-se tinham a liberdade de escolher e ditavam as condições de vida aos outros, que eram obridados a submeter-se-lhes.
Ora, o que acontece é que a sociedade em que vivemos, clerical e patriarcal por tradição, não quer estender às mulheres esse código de liberdade. Por essa razão parece aceitável que um homem decida ter uma vida sem filhos ou decida tê-los mas se escuse a cuidar deles mas já não parece aceitável que uma mulher seja livre de tomar exactamente a mesma decisão.
Enquanto a sociedade não perceber que o problema dos filhos é também um problema de perpetuação da pátria que a todos diz respeito, o problema da natalidade não se resolve; enquanto a sociedade não perceber que as pessoas todas e não apenas os homens, têm direito a escolher o seu projecto de vida em liberdade, inclua ou não filhos, o problema não se resolve; enquanto a sociedade for patriarcal e não criar condições para que os filhos não sejam vistos como um obstáculo ao desenvolvimento pessoal, em liberdade, das mulheres, o problema da natalidade não se resolve.
Da mesma maneira que não se resolve o problema da falta de médicos no interior dizendo-lhes que é preciso médicos no interior ou obrigando-os a ir para lá como recrutas à força mas criando desenvolvimento e condições de atracção no interior, também o problema da natalidade não se resolve enquanto não se criar condições de vida que tornem a parentalidade uma tarefa apreciada e bem vinda socialmente com apoios e estruturas que a facilitem.
Não haver obstetras nem maternidades a funcionar não é um bom princípio.
O que é difícil é praticá-las. Este artigo pega nos vários temas ambientais -plástico, produtos lácteos, etc.- e analisa os prós e os contras de cada um. Por exemplo, pensamos que usar plástico é sempre pior mas não é. Se reutilizarmos ao máximo o saco de plástico que levamos para o supermercado e este for reciclável, é melhor que usar saco de pano e lavá-lo todos os dias, com detergentes e gastos de água. Achamos um desperdício as frutas e outros produtos virem embalados mas se não viessem estragavam-se muito rapidamente o que obrigava a ter que repôr stocks com mais frequência, ou seja, a produzir ainda mais.
A conclusão que se tira desde artigo é que a melhor política passa por usar materiais recicláveis, evitar os que aumentam muito a pegada ecológica (como a carne) e, acima de tudo, viver com menos. Comprar menos, dar o que não se usa, usar o que se tem o mais que se pode e consumir menos.
(isto faz-me lembrar um texto -subtract- do próximo livro do meu amigo Derek Sivers, "Hell Yeah or No")
É claro que em termos sociais nem sempre podemos fazer isso, como mostra o que se passa em França: Macron quer diminuir as emissões poluentes e aumenta os combustíveis para as classes mais pobres deixarem de andar de carro, sendo que está-se nas tintas para o facto dos transportes públicos serem poucos e maus e as pessoas não terem outra alternativa senão o automóvel particular. É claro que isso revolta...
No entanto, em termos particulares, podemos mudar a nossa acção. De modo que é isso, quando começamos a analisar as coisas elas são mais complexas do que, 'o plástico é sempre mau' mas depois de tudo pensado a acção é simples: viver com menos, ser mais frugal, menos consumista.
É claro que isso é difícil (ainda esta semana comprei uma camisa que não preciso...) porque a sociedade está orientada para nos fazer consumir mas aqui na Europa, e em grande parte é por isso que aparece como um eldorado para tantos, há uns séculos, desde a revolução francesa, que se assume que, para todos viverem melhor, todos têm que aceitar pagar impostos e em geral viver com menos, quer dizer, desistir de grandes fortunas e impérios, porque o dinheiro não cai do céu e para uns terem essas grandes fortunas de biliões outros têm que ter nada ou perto de nada.
A grande revolta do povo hoje em dia prende-se com essa incapacidade dos grandes empresários, das corporações multimilionárias e da grande banca não estar disposta a fazer os sacrifícios que impõe aos outros e os políticos serem cúmplices activos desses maus princípios.
Mais depressa fecham uma fábrica e deixam umas centenas ou milhares de pessoas numa aflição que desistem do seu 3º iate, do 5º Ferrari ou do avião particular. Assim que uma empresa dá menos lucro que o esperado deslocalizam para onde possam explorar os trabalhadores para poderem comprar o próximo iate ou ter aquelas férias naquela ilha onde a diária são 20 mil euros para poderem pôr nos instagrams. Esse é que é o problema, não estarem dispostos a viver com menos, embora vivendo bastante bem, para que todos possam viver melhor.
A nódoa que é, em minha opinião, a ministra do mar, queixa-se, não da ganância dos armadores, mas dos pobres coitados que trabalham ao turno, quando calha, e diz que, se as pessoas não aceitarem viver com aqueles salários miseráveis, o porto talvez não seja viável. Miserabilista é o ponto de vista dela.
De modo que as coisas parecem simples mas são complexas mas no fim são simples ou sê-lo-iam se aqueles que têm o poder nas mãos fossem mais racionais, mais disciplinados, menos gananciosos, menos ignorantes.
É bom não esquecer que esta ministra foi aquela que se gabou de andar a fazer a negociata da prospecção de petróleo à socapa para os portugueses não se aperceberem do que se estava a passar e não lhes darem problemas. Isto é um demérito político insanável.
Este artigo é sobre ideias para tornar os almoços dos miúdos excitantes. Comer faz parte das nossas pulsões vitais. Nenhuma criança que passe fome é esquisita a comer. Não seria preciso grande imaginação para pôr as crianças a comer, não fora o facto das nossas sociedades de abundância estarem saturadas de apelos emocionais a tudo o que faz mal: refrigerantes, doces, gomas, hamburgers, etc. Só assim se compreende esta imagem onde a refeição aparece colorida e com desenhos imaginativos como os doces costumam ser. A questão que se põe é a seguinte: se até para comer, esse instinto vital, é necessário convencer as crianças com comidas excitantes, imagine-se o que será necessário para que estudem e para que se disciplinem no trabalho, tudo coisas que não fazem parte das nossas pulsões vitais.
Pois, é esse o padrão: começamos a habituar as pessoas, desde crianças, a responder apenas a estímulos espectaculares, excitantes, divertidos mas, depois esperamos que sejam capazes de lidar com a realidade. Não estou a defender que as crianças vivam num mundo cinzento mas o excesso de excitação estimulante em todas as áreas das nossas sociedades não ajuda a crescer equilibrado. Quando chegam à escola só reagem a jogos, brincadeiras, divertimentos, excitações e tudo o que não corresponda a este padrão parece aborrecido e sem valor.
Todos os anos, no 10º ano, tenho que ensinar e habituar os alunos, quando vão à internet fazer uma pesquisa, a consultarem as páginas com texto porque o impulso deles é irem directamente às imagens e vídeos e nunca se lembram de ir ler. Ler não é excitante, não é fun ou divertido e eles não estão habituados a valorizar o que não é excitante. O mais difícil na educação é contrariar a corrente de superficialidade pseudo-excitante para que são empurrados por todos os lados, desde a alimentação aos jogos, tudo é tão exarcebado que nem a imaginação neles se desenvolve.
Thinking of healthy and exciting pack lunch fillings can be a daily challenge.
Dia 10 de Dezembro é o dia internacional dos direitos humanos:
Obama, que tanto fala de liberdade e direitos civis não fechou Guantanamo e não emite um perdão a Snowden. Porquê? Não sei. É uma grande desilusão e mancha um mandato muito mais positivo que negativo. No entanto, ainda está a tempo...
Edward Snowden NSA Using FEAR Excuses to Spy on People -Interview 19 Nov 2016
O que pode cada um fazer para sabotar a vigilância em massa, a legislação que nos retira direitos à medida que alarga o quem, como e onde nos podem vigiar? Várias coisas:
1. Descarregue e passe a usar o browser 'Tor' que não arquiva dados sobre pesquisas e permite uma navegação anónima. Aqui
2. Se não sabe o que mais pode fazer, suporte os que sabem: pode aderir à Liga de Defesa da Internet [https://www.internetdefenseleague.org] ou apenas fazer uma doação, nem que seja de 10 euros a essa liga e/ou a outras organizações que lutem pelos nossos direitos como a Amnistia Internacional ou outra organização da sua preferência.
3. Nenhuma medida resulta se a situação não for conhecida. Divulgue, fale, argumente a favor dos Direitos Humanos e contra o abuso de poder dos organismos governamentais, das empresas e das secretas. Nenhum político/chefe/líder é o salvador da humanidade e cabe-nos a nós defendermo-nos, o que começa no círculo pessoal de cada um: a família, os amigos, o trabalho: resista às tentativas de lhe retirarem liberdade, autonomia e tudo o que a lei garante. Se não tem capacidade ou coragem para lutar contra o abuso do poder suporte os que o fazem.
Este caso de violação foi a julgamento recentemente na universidade de Stanford. Uma rapariga que estava de visita à universidade foi atacada, violada e deixada inconsciente no meio da rua, despida, por um dos estudantes que recebeu de sentença pelo crime seis meses de prisão.
A rapariga escreveu uma carta ao criminoso que se safou com uma pena ridícula por ser, em seu entender, rico, branco e de uma família com poder.
O pai dele, que contratou advogados para tentarem dar a entender que se calhar ela até tinha gostado, comentou a sentença dizendo que "não fazia sentido estragar a vida dele por vinte minutos de acção". Não lhe chamou crime, chamou-lhe 'acção'...
Vinte minutos a esfaquear alguém é uma monstruosidade de tempo; vinte minutos a pontapear alguém é uma monstruosidade de tempo; vinte minutos a queimar alguém é uma monstruosidade de tempo; vinte minutos a torturar alguém é uma monstruosidade de tempo. Porque é que vinte minutos a violar alguém lhe parece pouca coisa? Porque violar, na cultura machista em que vivemos, é fazer sexo... não é entendido como aquilo que é: um ataque criminoso e violento. Por isso o pai acha que não há necessidade de estragar a vida dele, embora ele tenha estragado a vida dela.
Vivemos numa cultura de violência, de indução de violência contra as mulheres.
Parece que ele é um campeão de natação: talvez ele vá aos jogos olímpicos representar os EUA. Quem sabe, pode até ganhar uma medalha e depois havemos de vê-lo no podium, um criminoso violento sendo a face dos EUA, da sua bandeira e do seu hino. Que orgulho para os americanos...
Isto foi o que o pai do criminoso escreveu no Twitter:
Como se lê, ele contribui positivamente para a sociedade e é um coitadinho que já não consegue comer bifinhos.
Need we say more...?
O testemunho dela em tribunal é impressionante: statement
(...) the attacks on public-school teachers have been particularly virulent. They are lazy, mediocre, tenaciously clinging to tenure in order to receive their lavish pay...
As recent surveys have shown, the high-stakes testing mania has demoralized the profession as whole. It has forced teachers, if they want to survive, to teach to the test, in effect giving up curriculum for test preparation. Trying to score high, some schools gamed the system, or simply cheated on the tests; some abandoned such essentials as the arts, gym, and even recess. Teachers were discouraged from coöperating and from sharing material—this competitive ethos found in school, where coöperation and the sharing of information, particularly in the lower grades, is essential. Corporate thinking, mostly inappropriate to education, has turned teachers into individual operators potentially at war with one another. But men and women with that kind of competitive temperament are unlikely to go into teaching in the first place. The ones who do go into it may feel that their best instincts have been violated.
The purpose of tenure is to protect free speech, to make it impossible for principals to fire people for personal or political reasons. My own feeling is that it should be easier than it is now for principals to fire bad teachers, but that tenure should not be abolished. The political atmosphere in the country has become so polarized that spirited teachers—men and women who actually say something—will not survive hostile parents or a disapproving principal without the protection of tenure.
We have to make teaching the way to a decent middle-class life. And that means treating public-school teachers with the respect offered to good private-school teachers—treating them as distinguished members of the community, or at least as life-on-the-line public servants, like members of the military.
We also have to face the real problem, which, again, is persistent poverty. If we really want to improve scores and high-school-graduation rates and college readiness and the rest, we have to commit resources to helping poor parents raise their children by providing nutrition and health services, parenting support, a supply of books, and so on. We have to commit to universal pre-K and much more. And we have to stop blaming teachers for all of the ills and injustices of American society.
By the time kids from poor families of all races enter kindergarten, they are often significantly behind wealthier children in vocabulary, knowledge, and cognitive skills. Of course, good teachers can help—particularly that single teacher who takes a kid in hand and turns him around. But, in recent years, teachers have been held responsible for things that may often be beyond their powers to change. They are being assaulted because they can be assaulted. The real problem is persistent poverty.
David Denby
Cá é igual. Sem pôr nem tirar. O que não admira visto copiarmos o sistema americano que por sua vez inspirou o inglês, ambos na miséria que se sabe. Em Inglaterra já ninguém quer ser professor e já os recrutam pela Europa fora.
Há uma revolução a acontecer na Síria de que não se fala
É uma revolução anarquista que tem como pilares centrais os direitos das mulheres e a ecologia. Perto da fronteira entre a Turquia e o norte do Iraque há uma área, sobretudo curda, na região de Rojava, onde se está a experimentar um tipo de organização social muito diferente do Médio Oriente e também do Ocidente onde se mistura o libertarianismo e uma espécie de anarquismo soft. Estão a lutar contrar o ISIS ao mesmo tempo que mantêm uma organização social livre dos constrangimentos e consequências do capitalismo 'testosterónico' que se espalhou pelo planeta.
Na semana passada levei uma turma do 10º ano a uma sessão com o tema, A Violência no Namoro que a PSP faz nas escolas - uma iniciativa de muito mérito, diga-se de passagem. Um dos exemplos que o Powerpoint deles focava era a questão da roupa. Uma das raparigas, na altura do debate, disse que achava normal que os namorados tivessem ciúmes e pressionassem as namoradas para se taparem... De facto, a socialização implícita é tão forte que até as próprias vítimas de sexismo concordam com ele. A maioria dos meus alunos acha normal o ciúme, valoriza-o como barómetro do amor de uma pessoa por outra e não o vê como o que é: o controlo de uma pessoa por outra, numa relação de poder onde não há, da parte de um dos lados, nem amor nem confiança, unicamente posse.
Numa altura em que as mulheres são vítimas, um pouco por todo o mundo, da loucura violenta dos islamitas em particular e das práticas dos homens das religiões em geral, toda a ajuda para a mudança é pouca.
Toda a gente sabe as causas desta violência: a sociedade exige dos rapazes violência, agressividade e castração emocional. Como diz o artigo, à custa das raparigas e mulheres (agredidas como auto-gratificação) e da própria saúde mental dos rapazes/homens.
Nas escolas desvaloriza-se a cooperação e premeia-se a competição que implica rivalidade agressiva...as religiões promovem o apartheid e a passividade das mulheres e o complexo de patrão e a força sexual dos homens... as amizades entre homens, se são intímas são logo tratadas como 'paneleirices'... como não hão-de eles ser agressivos e emocionalment solitários?
Hoje recebi um email de publicidade da Taschen a um novo livro que saiu chamado, My Buddy. World War II Laid Bar, de Dian Hanson, muito interessante porque diz respeito a uma estratégia de incentivar amizade entre rapazes/soldados da Segunda Guerra Mundial com o objectivo de ajudá-los a serem capazes de suportar os horrores dos combates, a solidão em face da morte e a tendência para extravazar em violência a extrema tensão emocional.
A questão é, se todos sabem as causas da violência, porque não se resolve o problema? Porque os que estão em posição de definir políticas de mudança são os mesmos que querem a violência, a guerra, a ganância... seja à custa de quem for. Só no dia em que houver tantas mulheres quantos homens nos lugares de poder estas coisas mudarão. E ainda falta muito tempo.
The friendship crisis: Why are boys so lonely and violent?
Our culture prizes independence over human connection. It devalues and even discourages close friendships, particularly among boys and men. And our definitions of manhood emphasize aggression, toughness and rugged individualism at the expense of girls, women and relationships.
We know these aspects of our culture lie at the root of the problem not only because killers, like Rodgers, tell us so in their journals and media postings. The science has also been telling us so for decades. We simply aren’t paying attention."
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Uma rapariga faz uma acusação, a mãe defende-a e pede uma investigação mas, o pai é uma figura conhecida, amiga da maior parte das pessoas conhecidas e é popular, de modo que se abafa o caso, dá-se a entender que a rapariga estará a mentir apesar de se saber que os casos de abuso sexual são muito comuns, apesar de raramente as queixas serem falsas (as falsas queixas são uma décima de gota num oceano de crimes) e, sobretudo, apesar da Mia Farrow, que era mulher dele, ter afirmado a verdade da queixa e ter-se imediatamente separado dele assim que a garota fez a queixa há uns anos.
A presunção de inocência dele sem ao menos haver uma investigação à queixa dela, afirma a presunção de mentira da rapariga, o que representa o total desprezo pelos seus direitos. Alguém faz uma queixa e nem se dão ao trabalho de responder como se a rapariga fosse, ela mesma, a criminosa. A arbitrariedade de quem pode e o reforço da sociedade sexista.
Eu gosto dos filmes do Woody Allen mas, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa...
Este fim de semana estive a ver uma série americana que está a passar nos EUA e que todos diziam ser muito boa, com os actores Matthew McConaughey e Woody Harrelson, da HBO, chamada True Detective. Vi os três episódios que já saíram. A série está feita com bom gosto, bons diálogos e muito boas representações mas depois, o que estragou aquilo, para mim, é que todas as mulheres que aparecem, ou são prostitutas ou esposas sem identidade e vida própria, ou empregadas dos homens. Pior, de 20 em vinte minutos há uma cena metida a martelo com uma mulher a despir-se e a fazer sexo com alguém... para mim a série morreu ali... como não havemos de viver numa sociedade que tolera muito bem a violência sexual sobre as mulheres se toda a Tv e os media em geral são de uma ofensa e de uma violência constantes contra as mulheres, nomeadamente naquilo que chamo a 'pornificação' da imagem das mulheres.
If identity captures something about the relatively polished social persona we present to the world, then character—in my view—captures something about the wholly idiosyncratic and potentially rebellious energies that, every so often, break the facade of that persona. From this perspective, our character leaps forth whenever we do something "crazy," such as suddenly dissolving a committed relationship or leaving a promising career path. At such moments, what is fierce and unapologetic about us undermines our attempts to lead a "reasonable" life, causing us to follow an inner directive that may be as enigmatic as it is compelling. We may not know why we feel called to a new destiny, but we sense that not heeding that call will stifle what is most alive within us.
Unfortunately, we live in a culture that finds such insurrections threatening, not least because they make us less predictable and therefore harder to control. This is one reason we're constantly reminded of the importance of leading a happy, balanced life—the kind of life that "makes sense" from the viewpoint of the dominant social order. Many of us have, in fact, internalized the ideal of a happy, balanced life to such an extent that we find it hard to imagine alternatives. As Freud has already claimed, there is little doubt about what most people want out of life: "They want to become happy and to remain so."
A quick survey of our culture—particularly our self-help culture—confirms Freud's observation. One could even say that, in our era, the idea that we should lead happy, balanced lives carries the force of an obligation: We are supposed to push aside our anxieties in order to enjoy our lives, attain peace of mind, and maximize our productivity. The cult of "positive thinking" even assures us that we can bring good things into our lives just by thinking about them.
(...)
Needless to say, our fixation on the ideal of happiness diverts our attention from collective social ills, such as socioeconomic disparities. As Barbara Ehrenreich has shown, when we believe that our happiness is a matter of thinking the right kinds of (positive) thoughts, we become blind to the ways in which some of our unhappiness might be generated by collective forces, such as racism or sexism. Worst of all, we become callous to the lot of others, assuming that if they aren't doing well, if they aren't perfectly happy, it's not because they're poor, oppressed, or unemployed but because they're not trying hard enough.
(...)
Many of the people who have made the biggest contributions to our collective history—intellectuals, researchers, composers, writers, artists, and so on—have lived lives that, from the outside, seem fairly pathological. They have often been deeply solitary, have had trouble forming enduring relationships, have been consumed by their projects to the point of obsession, have plunged into the depths of despair, have doubted and disparaged themselves, and have had to endure the coldness and sharpness of the world's judgment.
(...)
It's also possible that the more we pursue happy, balanced lives, the more bland and boring, the more devoid of character, we become.
(...)
This is why our society's creed of happiness, with its witch hunt of anxiety, tends to be antithetical to the needs of our character. Granted, it's nice to feel calm and collected; there is nothing wrong with composure. But those reassuring feelings have little to do with the unruly singularity that lends weightiness to our character. After all, our character includes not only what is pleasing and gracious but also what appears volatile, disorderly, unwieldy, and even a bit tumultuous or derailing. Our character routinely mortifies the more refined parts of us. If we want to be faithful to our character, we need to learn to tolerate whatever undermines or refuses to be disciplined into the seamless persona that sustains our social viability. Heeding the call of our character, in short, means risking our composure.
(...)
This is why there is something quite hollow about the ideal of a happy, balanced life—a life unruffled by anxiety. It's why I think that underneath our quest for vibrant health lurks a tragic kind of discreet death: the demise of everything that is eccentric and messy about human life. Our society sells us the quick fix: If you get a cold, take some decongestants; if you get depressed, take some antidepressants; and if you get anxious, take those tranquilizers. But what are we supposed to take when we lose our character?
Mari Ruti is a professor of critical theory at the University of Toronto. Her latest book is The Call of Character: Living a Life Worth Living (Columbia University Press, 2013)
Declaração de Adrienne Rich sobre a arte e a sociedade e as razões de recusar a Medalha das Artes em 1997. A coerência entre as palavras e os actos, sendo tão rara, é particularmente inspiradora.
Tem-se falado muito na polémica das palavras da Margarida Rebelo Pinto e na resposta de Bruno Nogueira. Partindo do pressuposto, para mim incontestável, que as pessoas em geral e as oposições têm, não só o direito, mas também o dever, de vigiar e criticar a actuação dos governos, pois só assim podemos ter um país plural e democrático, parece-me a mim, que o tom do debate é condicionado pelas pessoas que têm o poder.
As pessoas reagem ao modo como os que têm o poder o exercem no que respeita ao debate e à discussão. Se aqueles que têm o poder sistematicamente bloqueiam o debate ou desvalorizam e crítica e a oposição, é inevitável que estes, a certa altura, azedem o tom do debate.
Por exemplo, tome-se o caso do ME. O ministro Crato, imitando nisso a Rodrigues, impõe normas, regras, programas, avaliações e o mais que lhe apetece, sem ouvir os outros, sejam os críticos, a oposição ou os próprios professores que têm que trabalhar com as medidas que ele vai 'vomitanto', a seu bel-prazer. Quando pode, bloqueia o debate e, quando não pode, desvaloriza-o mas, no geral, comporta-se como se fosse um patrão que não admite controvérsia às suas ideias. É evidente que a certa altura, não só as pessoas já não lhe têm respeito, como começam a mostrar um tom irritado, pela falta de respeito democrático que ele sistematicamente exibe quanto aos outros.
Ora, isto é válido, infelizmente, para a maioria dos nossos governantes -e serve de exemplo a muitos milhares de pessoas que têm mais ou menos poder por esse país fora- destes últimos quinze, ou mais, anos e, é por isso, parece-me, que o tom do debate, tem decaído: é que não propriamente debate. O que há são uns a querer debater ideias que lhes dizem respeito a si e às suas vidas e, outros, a quererem impôr a sua vontade sem o obstáculo do debate que obriga a argumentar e mostrar a justeza das suas posições.
Andrea Pitruzella também foi enviada para casa, porque os serviços das finanças onde trabalha fecharam portas. Em todo o país, 90% dos funcionários do departamento de IRS foram dispensados.
"Tudo ficou suspenso, menos os ordenados dos políticos do Congresso e da Casa Branca, responsáveis por esta situação", afirma num tom irritado.
Os vencimentos a que Andrea se refere são classificados de "Mandatory Payment", ou seja, aconteça o que acontecer nunca serão suspensos pela Câmara dos Representantes, a câmara baixa do Congresso Americano que tem a competência, definida pela Constituição, de financiar os programas públicos.
Imersas em sociedades de ambiente racista as próprias vítimas de racismo interiorizam os valores e preconceitos que as diminuem e agridem.
por João Céu e Silva
Para o banqueiro português mais internacional, a banca portuguesa está em dívida para com a sociedade que a ajudou a recapitalizar: "Há um contrato mútuo entre a sociedade e a banca, porque a sociedade apoiou a banca e a banca agora deve apoiar a sociedade e as empresas através da concessão de crédito às empresas saudáveis e aos projetos viáveis, de maneira a estimular a economia."
Na entrevista ao DN, Horta Osório considera que "os bancos têm que ter à frente as pessoas mais capazes, com altos valores éticos e que liderem pelo exemplo" e que para "uma economia ser forte, tem que ter um sistema bancário que apoie com crédito as empresas e proteja os depositantes, transferindo as poupanças para bons projetos de investimento".
Las principales medidas que ha adoptado el Ministerio de Educación para que las comunidades ahorren 3.000 millones de euros en las escuelas e institutos van dirigidas a reducir las plantillas y, en consecuencia, se verá afectada la calidad, según distintos especialistas. Por un lado, se aumenta el margen legal de estudiantes por aula: en primaria se pasa de 27 a 30, y de 30 a 36 en secundaria obligatoria. Y, por otro, se elimina el límite máximo de horas semanales de clase que imparten los docentes y se fija un mínimo de 25 horas en primaria (ahora este era el máximo) y de 20 en secundaria (la horquilla iba de 18 a 21).
Um movimento de recuo face aos deveres do Estado em fomentar a igualdade de oportunidades fornecendo uma educação de qualidade (quando a Igreja vem dizer que qualquer dia a educação universitária é só para ricos mostra o quanto tem andado distraída: é que a educação universitária JA É só para quem tem dinheiro), uma batida em retirada dos ideais de justiça social, como se a crise e o sucesso do capitalismo sem regras dos dias de hoje esvaziassem os ideais de conteúdo, os tornassem menos nobres ou até, menos reais. Mas não são menos reais.
O tipo de sociedade que queremos somos nós que contruímos. Se assim o quisermos.
A Noruega ou a Dinamarca, não sei ao certo, veio anunciar que ia acabar definitivamente com a dependência da energia fóssil nos próximos quinze ou vinte anos. É um ideal que pode a outros parecer ultrapassar o campo da realidade possível. Mas não é porque a sociedade deles o tomou como desígnio comum.
Um político, como um professor ou em geral aqueles que trabalham em funções públicas têm que ser optimistas. Com os pés na realidade, sim, mas optimistas. Pois se um professor não acredita que a educação tem uma influência positiva nas pessoas individuais e na sociedade, deve afastar-se pois fará mais mal que bem. Da mesma maneira um político ou um governo que não têm visão, que não têm ideais para concretizar e que não acreditam na mudança positiva da sociedade que lideram têm que afastar-se. Não nos podemos dar ao luxo de não ter objectivos que nos unam, políticas que nos galvanizem.
Desinvestir na educação, na saúde e na justiça é baixar os braços e desacreditar e, a descrença de quem governa é a perdição de todos nós.
Este recuo da Educação enquanto instrumento de justiça social, um pouco por todo o lado na Europa, é um recuo daquilo que fez da Europa a Europa. Associo-o, por alguma razão, aquele fenómeno de recuo precipitado das águas que antecede os tsunamis.
Li hoje num título de jornal que 85% dos que recebem pensão de reforma recebem menos de 500 euros. Qualquer coisa está muito errada neste sistema que desacredita da sociedade como um todo e se acossa na sobrevivência do mais forte.
O facto da Europa estar em crise e dominada pela mentalidade franco-germânica não nos deve fazer desistir dos objectivos que guiaram e motivaram as pessoas à formação da União. A submissão aos critérios económicos é uma ilusão que bem se vê pelo nosso caso: de PEC em PEC cada vez as agências baixam mais o nosso rating e aumentam os juros nas mãos dos agiotas. Sim, porque o país está a pôr a corda no pescoço para que alguns agiotas fiquem trilionários com a nossa dívida.
Desde o fim da segunda guerra mundial que a Europa tenta pôr de pé a ideia do Kant da Paz Perpétua. Uma ideia de cooperação, de justiça social, de diminuição das desiguldades de direitos, de liberdade e universalidade de ensino, de deslocação, de expressão e partilha. Esses eram, e não deixaram de ser, bons ideais. O facto de terem surgido problemas no caminho não é razão para que se deite tudo fora como uma experiência ou aventura que correu mal.
Sejamos racionais: vamos viver para quê: para melhorar a sociedade em geral de modo a melhorar a vida particular também, ou doravante vamos ter como ideal social, 'cada um que se desenrasque a seu modo'? Vamos ter como ideal de sociedade uma espécie organização tribal, onde cada um tem as suas posses e os senhores de guerra para as guardar?
É que parece evidente que uma sociedade não é apenas um aglomerado de pessoas. Na realidade, se houvesse vontade de pôr travão, como o Obama está a tentar fazer, nos mecanismos que permitem aos bancos e multinacionais fazerem lucros desmesurados e mecanismos de prevenção à corrupção, o dinheiro estaria mais bem distribuido e muitos dos problemas sociais que temos, não os teríamos, ou estariam muito mais apaziguados.
Uma sociedade não desiste de lutar pelo que é correcto só porque os líderes do momento são fracos e pobres de espírito. É evidente que a pobreza de espírito dos outros não nos obriga, nem à desinteligência nem à abdicação dos nossos princípios e ideais.
Os princípios da construção duma sociedade mais justa, mais livre, de rosto mais humano continuam plenamente válidos, sem uma beliscadura. Que as pessoas atraiçoem os seus princípios e ideais, isso não desvirtua o ideal em si, nem a sua busca, ou construção, melhor dizendo. Porque uma tal sociedade depende de nós e da nossa vontade.
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