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As origens filosóficas do patriarquismo

por beatriz j a, em 07.07.19

 

No dia 14 de Maio passado 25 senadores, todos homens, do Alabama, votaram a mais repressiva legislação referente à saúde das mulheres proibindo o aborto mesmo em casos de violação e incesto, ciosos de protegerem a santidade da maternidade e protegerem as mulheres de si mesmas. Um deles defendeu a 'pureza' da lei, "Deus criou o milagre da vida dentro do útero das mulheres e não cabe ao homem extingui-la". 

 

A audácia destas palavras pode ser traçada através de centenas de gerações de homens poderosos até aos primeiros escritos sobre o corpo das mulheres. Se o patriarquismo é o sistema com o qual os homens controlam as mulheres, nas palavras de Kate Manne, o sexismo é, 'o ramo da ideologia do patriarquismo que justifica e racionaliza uma ordem social patriarcal e a misoginia o sistema que policia e faz cumprir as normas de governo e expectativas dos patriarcas'. 

 

Grandes intelectuais do passado clássico lançaram as fundações de séculos de sexismo e, embora esses gregos não o tenham inventado, os seus escritos continham as ideias e os argumentos que foram usados para racionalizar uma forma particularmente virulenta de misoginia.

Argumentos para a subjugação das mulheres em nome de uma divindade que se tornaram auto-confirmantes no sentido em que as mulheres eram vistas como naturalmente inferiores aos homens, tratadas de modo diferente desde o nascimento e treinadas para se auto-subjugarem [ainda vemos isso de modo explícito nas sociedades muçulmanas mais radicais, que são quase todas...] o que, por sua vez, suportava a ideia de que eram, de facto, imperfeitas e justificava a sua marginalização.

 

Em todos os estádios do pensamento ocidental houve mulheres expeditas e rebeldes dentro das restrições a que estavam sumetidas. Em todas as épocas houve alturas em que a maré do sexismo podia ter sido virada mas tal nunca aconteceu e os defensores da inferioridade das mulheres saíram sempre vitoriosos.

 

Os argumentos dos gregos reflectiam os interesses patriarcais e davam-lhes, em sua opinião, excelentes razões para controlarem o corpo das mulheres em nome do maior bem. Por muito resilientes que as mulheres fossem, o policiamento dos misóginos da ordem divina venceu sempre.

 

A noção de teleologia e a sua relação aos poderes procriativos das mulheres ajuda a perceber esta obsessão dos misóginos. De Platão a Mike Pence homens com poder acreditaram numa ordem divina natural na qual os homens devem agir para o Bem. Para muitos, os poderes procriativos das mulheres eram a única maneira delas contribuírem para esse Bem, de onde se segue que os homens que se arvoraram em intérpretes das intenções divinas achavam, e acham, que deviam controlá-las.

 

No Timeu, um livro fundamental na teologia cristã, Platão conta o mito de como o mundo foi criado. Primeiro os deuses criaram os homens e depois castigaram os que vivem uma vida de covardia e injustiça, transformando-os em mulheres a reencarnação da vida seguinte. Isto é, o Timeu sugere que as mulheres são uma forma degradada de humanidade, uma espécie de castigo para os que agem de forma pouco sábia. O que tem o corpo das mulheres que as torna tão degradadas?

 

Os escritos mais antigos detalhados sobre o corpo das mulheres datam dos séculos cinco e quatro AEC, associados a Hipócrates. Estes escritos contêm a primeira diferenciação clara entre o corpo das mulheres e dos homens e foram fundacionais na tradição médica ocidental.

 

Os autores hipocráticos concordam que os ossos, a infraestrutura do corpo humano, está coberta de carne, sendo esta constituída de diversas espécies de fluídos, que são mais ou menos quentes ou frios, húmidos ou secos.

Antes do advento da dissecação, uma visão do corpo com base em fluídos deve ter parecido plausível. O corpo humano tem sangue, vísceras, bílis e coisas para serem vomitadas; a comida transforma-se em outros fluídos. Partindo daqui chega-se à ideia da saúde como um equilíbrio de fluídos. Nas palavras de um autor hipocrático, o ser humano alcança a melhor saúde quando os fluídos estão equilibrados em termos de mistura, poder e quantidade. 

 

Duas características do corpo das mulheres convenciam estes autores da principal diferença entre o corpo de homens e mulheres: as mulheres têm menstruação e um útero. A primeira mostrava que o corpo das mulheres era húmido, poroso, esponjoso e frio, ao passo que o dos homens era seco, firme e quente. Por causa da sua esponjosidade fria o corpo das mulheres absorvia mais fluídos e por isso sangravam regularmente. Os homens, devio à sua secura quente, absorviam o excesso de líquido e não precisavam de sangrar, sendo o sémen o único fluído em excesso neles.

 

Os textos hipocráticos imaginam os corpos das mulheres como uma espécie de tubo com duas bocas, uma em cada extremidade. Ambas tinham um pescoço (cervix) e lábios (labia), ligados por um sub-sistema de tubos e contentores. Quando os tubos trabalhavam correctamente, a passagem entre ambas estava desimpedida. Para verem se uma mulher estava fértil punham alho na sua vagina durante a noite e viam se de manhã isso tinha afectado o seu hálito, o que significava que os tubos estavam limpos e 'open for bussiness', para conceber... se tal não acontecesse e as mulheres não sangravam, considerava-se que tinham as vias entupidas e ficariam doentes por excesso de fluído que não saía. Os sintomas desta condição nas raparigas que não concebiam incluiam desorientação, enforcarem-se e desejarem a morte.

 

A segunda característica do corpo das mulheres que as diferenciava era o útero e a teoria do 'útero errante', causa, no entender deles, de muitas patologias das mulheres, era a crença de que um útero só está no devido lugar se os fluídos estão em equilíbrio. Quando estão em desequilíbrio o útero sai do sítio à procura de hidratação.

A cura incluia o reequilíbrio dos fluídos através do sexo... quer dizer, uma rapariga devia casar o mais cedo possível e ter muitos filhos para os seus fluídos estarem sempre equilibrados. Para estes primeiros ginecologistas a saúde da mulher estava ligada à sua subjugação à procriação. Mães, pais, maridos e, as próprias mulheres acreditavam nisto.

 

Quando os autores hipocráticos acorrentaram as mulheres aos seus poderes procriativos e aos seus maridos, iniciaram uma estratégia, no pensamento ocidental, de reduzirem as mulheres à sua capacidade de se reproduzirem e os homens a carrascos desta procriação.

 

Aristóteles, embora sugira que as mulheres possam atingir virtude e felicidade, diz que estas nunca são completas porque, 'o seu sangue, pesado e frio, torna-as mais permeáveis ao vício'. Uma mulher é, para ele, um homem mutilado e deve ser tratada dessa maneira. Escreve na Política, 'o macho é por natureza superior e a fémea inferior, o macho o governante e a mulher a subjugada'. Portanto, a Natureza, com os seus fluídos e humores, deu a cada um o seu lugar na ordem do mundo.

 

Quem sabe alguma coisa de Filosofia ou da História das Ideias, sabe a importância que estes autores tiveram na sociedade e mentalidades greco-cristãs ocidentais. O cristianismo foi construído sobre o platonismo e a sua doutrina do corpo-alma. Todo o cristianismo prega a submissão da mulher como uma coisa natural e Aristóteles foi chamado 'O Filósofo' durante muitos séculos medievais. As suas palavras eram a verdade, logo abaixo da palavra de Deus ou, até, ao mesmo nível. Os jovens que estudavam nas primeiras universidades, para além da Teologia e autoridades cristãs, elas mesmas uma incorporação do platonismo, o que aprendiam era Aristóteles. Até ao século XIX, os médicos continuavam a apoiar-se nas ideias médicas de Aristóteles e Hipócrates.

 

Um médico proeminente da época vitoriana descreve a atitude dos médicos relativamente às mulheres pacientes, 'Nós somos os fortes, elas as fracas. Elas são obrigadas a acreditar em tudo o que lhes dizemos. Não estão em posição de discutir seja o que for que lhes digamos e, por isso, estão à nossa mercê.'

Vemos esta mesma arrogância nos senadores do Alabama quando defendem que os homens são os guardas [eu diria carrascos] do corpo das mulheres.

 

O que uns poucos de homens escreveram há milénios alimentou séculos e séculos de sexismo. É perturbador perceber que tantos dos nossos contemporâneos abraçam a lógica desses antigos argumentos e usam-na com satisfação para subjugarem as mulheres em nome de um bem qualquer.

Se o conhecimento é poder, compreender as fontes antigas da misoginia corrente talvez ajude na luta contra estes homens conservadores e as suas falsas noções de bem.

 

by  Christia Mercer

(tradução adaptada minha)

 

publicado às 16:50

 

Homens abusados sexualmente quebram silêncio de décadas com ajuda de associação

 

Em Portugal os homens quebram o silêncio. Acho bem. Há aqui um problema mundial que só agora começa a ser reconhecido ao nível das estruturas de poder masculinas (porque as mulheres há muito tempo que sabem do problema) e só agora começa a ser trabalhado. No entanto, as mulheres, que infelizmente são em muito maior número que os homens, vítimas de abuso sexual e de assassinatos por esse motivo, continuam caladas. Alguém num artigo de jornal perguntava quando é que as mulheres portugueses ganham coragem para falar? A resposta, penso, é que isso será difícil. É que ainda ninguém falou e já os jornais trazem, todos os dias, artigos, às vezes de várias páginas inteiras (veja-se o 'i' de hoje) a dizer que há uma histeria (epíteto que os sexistas usam para desvalorizar as mulheres), uma caça às bruxas, um puritanismo idiota... escolhem dar relevo a um caso de uma mulher que acusou mal um homem (como se um caso, ou até 20 casos, de negros, que acusassem alguém indevidamente de esclavagista, pusesse em causa a dimensão do horror da escravatura) dando a entender que, se calhar, muitas mulheres acusam os homens indevidamente (a descrença nas denúnicas das mulheres com a consequente impunidade e retaliações que sofrem é o que as faz ficar caladas), de modo que, lá está, isto agora é uma caça às bruxas, outros dizem que se uma mulher não fala na altura e só fala passados muitos anos é porque é hipócrita mostrando não compreender nada do que é o assédio... enfim, neste contexto de agressividade, ignorância e falta de honestidade introspectiva de quem diz estas coisas difícilmente haverá mulheres a denunciar abusos. Mas não será esse o objectivo dos indivíduos que orquestram estas campanhas? Inibi-las de falar? Portugal, como todas sabemos, é um país muito machista, retrógado e com extremo desequilibrio no número de mulheres em cargos de poder. É triste.

 

 

primeira página grande título acerca da 'caça às bruxas' (a própria expressão, caça às bruxas, tem origem num tempo e práticas de extrema violência gratuita contra as mulheres, por serem mulheres. Que agora se use essa expressão para vitimizar homens que são predadores e agressores de mulheres, é de uma grande miséria moral).

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 mais caça às bruxas

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mais caça às bruxas, agora pondo em relevo esta actriz que assinou uma carta onde até se dizia que se pode ter prazer numa violação...

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publicado às 11:45

 

Talvez seja o grande paradoxo do consumismo: não faz ninguém feliz

 

Estava eu a ler com grande interesse este texto sobre o vazio do consumismo quando dou com isto, 

Entretanto, a certa altura - já venho a descer a Rua do Carmo - ouço atrás de mim:

- Não tanto Miami, sabe? Orlando, sim. Orlando tem muitas.

São duas brasileiras, altas e loiras como Gisele Bündchen - alemoas do Sul, provavelmente. Trazem muitos sacos nas mãos e, em poucos segundos, discorrem sobre mais de uma dezena de cidades, as lojas que proporcionam e os produtos que lá compraram. O seu mapa-mundo tem nomes de lojas no lugar dos nomes dos países, nomes de marcas no lugar dos nomes das cidades, nomes de modelos no lugar dos nomes das ruas. E, porém, em nenhum dos seus sacos há um presente embrulhado - compram para si mesmas.

 

O autor não resistiu à piada estereotipada da loura burra que só pensa em compras e lojas... claro, enquanto os homens são todos seres substanciais e graves, as mulheres, sobretudo se são louras e alemoadas, têm todas um discurso oco e são todas consumistas egoístas. É assim que muitos homens fazem para se sentirem moralmente superiores...

Praticamente, todos os dias há, pelo menos um, artigo de opinião, a ofender-nos com insinuações de sermos seres de categoria inferior... Enfim, estragou-me a leitura de um texto que estava a ir mesmo bem.

 

publicado às 10:30

 

Manuais diferentes para meninos e meninas. Serão elas mais limitadas?

Exercícios para crianças, dos quatro aos seis anos, em livros da Porto Editora, estão na mira da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.

A Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) está a analisar dois blocos de actividades publicados pela Porto Editora para crianças dos 4 aos 6 anos, que têm a particularidade de estarem divididos por género: um destina-se a meninos, outro a meninas. Acrescendo o facto de que alguns dos exercícios propostos, apesar de idênticos, serão de muito mais fácil resolução no livro para raparigas.

 

Manuais escolares que dizem, explicitamente, às raparigas que não vale a pena esforçarem-se porque são burras.

Acresce que os exercícios das raparigas são para princesas (submissas) e o dos rapazes para piratas (aventureiros) como se vê nos exemplos abaixo. 

É evidente que isto não é inocente... não é como se as pessoas que fizeram estes exercícios não percebessem o alcance de se inculcarem nas crianças estas ideias... espero que os pais se recusem a usar estes livros e que a CIG lhes ponha um processo. A sociedade, na pessoa das suas instituições, incluindo o sistema educativo, já é muito castrador das raparigas mas isto é demais. Já estou a ver articulistas que, embora vivam da palavra, defendem que o uso das palavras não tem consequência e que isso de linguagem sexista é uma mariquice, defenderem que isto não tem importância nenhuma e até é bom para fazer com que as mulheres se dediquem a ser mães e não tenham outras ambições.

Isto não é inocente e cá para mim tem a mão de certa instituição por detrás...

Pior é que estes manuais, se estão à venda, é porque foram aprovados pelo ministério. Mete nojo...

 

PS: fui à página de FB da Porto Editora deixar uma mensagem a dizer o que penso e porque não volto a comprar nem a apoiar ou subscrever nada da editora enquanto tiver estes manuais à venda.

 

PÚBLICO -
 

Um exemplo de um exercício proposto para as meninas:

PÚBLICO -

 

 

publicado às 19:04

 

 

 

 

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publicado às 22:58

 

 

 

 

publicado às 14:56


Pois claro que rejeita

por beatriz j a, em 22.09.16

 

China rejeita critérios de género e origem para novo líder da ONU

 

Na China como praticamente no resto do mundo está em uso um sistema de quotas masculino muito evidente mas não assumido onde o mais capaz, por grande coincidência, é sempre homem. Apesar de não ser... e é assim que continuamos com instituições que não nos representam nem trabalham para a igualdade de direitos a não ser ocasionalmente, quando há datas ou efemérides que lembram esses 'assuntos', 'temas', que, no entanto, são a vida de metade dos habitantes do planeta... infelizmente há muitas mulheres que, talvez, por receio que as pensem menos capazes, defendem este sistema de não se considerar a questão de género como válida, com o argumento de que queremos sempre a pessoa de maior valor, completamente cegas para o facto de que já existe, desde há milénios, um sistema de quotas masculino, só que assumido como coisa natural a que não dão esse nome.

Faz lembrar certas leis em certas áreas que prejudicam as mulheres e que parecem ter sido pensadas por juízas que queriam mostrar ser muito independentes e terem chegado aos cargos por valor próprio, em vez de pensar na situação real das pessoas e suas necessidades.

 

 

publicado às 05:34


Arábia Saudita é onde um homem quiser

por beatriz j a, em 13.09.16

 

 

 Apple responded to diversity criticism at its keynote by pointing out that it “had a Canadian” onstage. Spoiler: The Canadian doesn’t even work for Apple (and neither do these people).

 

 

publicado às 05:57


Admiro a resiliência desta mulher

por beatriz j a, em 07.08.16

 

 

... independentemente de ser ou não uma boa candidata a Presidente. É preciso ter muito valor para vencer num meio extremamente sexista, estúpido e fútil como é o dos políticos. O que admiro é a capacidade dela sorrir enquanto ouve vezes sem conta que tem demasiadas opiniões, que é muito crítica, que assim não gostam dela, que depois não se admire que tenham medo dela, que devia sorrir mais que fica mais feminina e outras parvoíces porque estas coisas que uma pessoa houve infinitas vezes durante a vida, a maior parte das vezes de pessoas fúteis e sexistas, irritam profundamente e dão vontade de dar respostas tortas.

 

 

 

publicado às 07:58


Boys will be girls

por beatriz j a, em 24.07.16

 

 

Brighton schoolboys protest shorts uniform ban by showing up in skirts

 

 

publicado às 12:34


Antes era assim

por beatriz j a, em 01.05.16

 

 

 

... porque o papel natural da mulher era ser mãe e a pretensão de ser e ser vista como pessoa ou profissional era tão alienígena que tinha que ser legislada e controlada. Ainda não nos afastámos muito disto. E, como se vê, há um ministro e um director que têm todo o poder nas suas mão: estamos outra vez nisso... 

 

 

 

publicado às 09:55


The 'pink tax' existe mesmo

por beatriz j a, em 08.03.16

 

 

As mulheres ganham menos, trabalham mais e pagam mais que os homens pelos mesmos produtos.

 

 

 

publicado às 15:42


Brinquedos de menina e de menino

por beatriz j a, em 03.03.16

 

 

 

O Happy Meal é sexista?

Uma coisa é respeitar a diferença. Outra é esbater as diferenças até ao ponto da mais estéril igualdade.

 

Eu tenho quatro filhos, duas meninas e dois meninos, e um só quarto de brincar. Nesse quarto está tudo misturado e cada um deles brinca com o que lhe apetece. Lamento muito, Fernanda e Catarina: as miúdas preferem mesmo os “brinquedos de menina” e os miúdos os “brinquedos de menino”. Se o Gui agarra numa boneca eu juro que não grito “tira daí a mão, ó maricas!”, e se a Rita pega num carro eu não a informo que automóveis é coisa de macho.

 

O articulista não precisa gritar com os filhos porque eles não são uma ilha separada da sociedade e a todo o lado que vão e são -McDonald's, infantários, lojas de roupa, parques infantis, conversas que ouvem de adultos, filmes infantis, programas infantis nas TVs, modos de os adultos se classificarem por género, etc.- estão envolvidos pela atmosfera, símbolos e práticas de diferenciação artificial sexista. E absorvem e imitam essas comportamentos, que é o que fazem as crianças. 

Uma coisa é respeitar as diferenças, outra é inventar diferenças artificiais e inculcá-las nas crianças e se o articulista não está consciente do papel de modelos que ele e a sociedade exercem no desenvolvimento psicológico dos filhos, coitados dos filhos.

 

publicado às 12:45

 

 

sexismo é isto...

 

 

 

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publicado às 05:05


Isto é triste

por beatriz j a, em 31.01.15

 

 

 

Colleen McCullough foi uma australiana, novelista de sucesso. Entre os seus livros destacam-se a série de romances históricos Masters of Rome, passados no tempo da Roma Imperial. Mas não era apenas escritora. Era médica, neurologista e respeitada professora do Departamento de Neurologia da Yale Medical School em New Haven, CT. Morreu há dois dias com 77 anos.

Seria de esperar que os jornais australianos dessem a notícia da sua morte com um elogio às várias carreiras de sucesso desta mulher. Mas não... isso teria acontecido se se tratasse de um homem mas, dado que era uma mulher, até depois da morte foi objecto de sexismo de idiotas e a notícia da sua morte realça que... tinha excesso de peso... de facto, uma mulher pode ser extraordinária em muitos campos mas esta sociedade sexista e descriminatória que faz das mulheres objectos de desejo dos homens quando as olha é para ver se são bonitas ou feias, magras ou gordas, que roupas usam e cenas do género.

A  vida das mulheres é valorizada/desvalorizada por coisas superficiais e nem depois da morte se livram de olhares sexistas.

Acho triste... mesmo...  deprimente...

 

 

 

publicado às 09:16


Em Inglaterra perceberam

por beatriz j a, em 21.01.15

 

 

The Sun has 'quietly' stopped publishing photos of bare-breasted women on Page 3.

 

Infelizmente por cá há jornais que vivem quase exclusivamente de objectificar as mulheres nas páginas dos jornais enquanto têm artigos a denunciar políticas sexistas. O problema não são as mulheres despidas mas a atitude de constante objectificação das pessoas.

O Obama, no discurso do Estado da União apelou para pagamento igual em trabalho igual, quer dizer, pagar às mulheres o que se paga aos homens por trabalho igual. Que tenhamos chegado ao século XXI e ainda seja preciso fazer campanhas sobre pagamento igual para trabalho igual é triste.

 

 

publicado às 05:24


O machismo sexista não é considerado doença

por beatriz j a, em 23.12.14

 

 

... apesar de fazer mal a metade das pessoas da congregação, isto é, milhares de milhões. Mas os papas são machos de modo que isso é-lhes indiferente...

As 15 doenças que afetam a Igreja e a Cúria romana pela voz do Papa

 

 

publicado às 10:16


"Entrega-me ao vento para me levar."

por beatriz j a, em 29.10.14

 

 

A carta de despedida da iraniana que foi enforcada

 

 

 

Reyhaneh Jabbari, detida desde 2007, quando tinha 19 anos, foi enforcada no sábado, acusada de ter matado o homem que a tentara violar. A sua confissão fora obtida sob ameaças e tortura e as organizações de direitos humanos mobilizaram-se, sem êxito, para que tivesse um julgamento justo. A carta que o Observador revela hoje (traduzida da sua versão em inglês) foi escrita em abril e entregue a militantes pacifistas, mas só agora foi revelada.

Nela dirige-se à sua mãe, Sholeh Pakravan, que tinha pedido aos juízes para ser enforcada em vez da sua filha. Na última semana antes do enforcamento, Sholeh só pode ver a filha durante uma hora, acabando por saber da execução com apenas algumas horas de antecedência e através de uma nota escrita.

 

Aqui fica a transcrição dessa carta que vale a pena ler:

 

“Querida Sholeh, recebi hoje a informação de que chegou a minha vez de enfrentar a qisas [a lei de retribuição do sistema legal iraniano]. Estou magoada por não me teres deixado saber através de ti que cheguei à última página do livro da minha vida. Não achas que tenho o direito a saber? Sabes o quanto me envergonha saber que estás triste. Porque não me deixaste beijar a tua mão e a do pai?

O mundo permitiu-me viver durante 19 anos. Aquela noite assustadora foi a noite em que eu deveria ter sido morta. O meu corpo seria atirado para um qualquer canto da cidade, e dias depois, a polícia chamar-te-ia ao departamento de medicina legal para me identificar e também saberias que fui violada. O assassino nunca seria encontrado pois nós não temos a riqueza e o poder deles. Tu irias continuar a tua vida em sofrimento e envergonhada, e poucos anos depois morrerias desse sofrimento e nada mais haveria a dizer.

No entanto, esse golpe amaldiçoado alterou o rumo da história. O meu corpo não foi atirado para um lado qualquer, mas sim para a sepultura que é a Evin Prison e as suas alas solitárias, e agora para a prisão-sepultura de Shahr-e Ray. Mas entrega-te ao destino e não te queixes. Sabes melhor do que ninguém que a morte não é o fim da vida.

Ensinaste-me que cada um de nós vem a este mundo para ganhar experiência e aprender uma lição e que cada pessoa que nasce tem uma responsabilidade depositada nos seus ombros. Aprendi que, por vezes, temos de lutar.

Lembro-me muito bem quando me disseste que o homem da carruagem protestou contra o homem que me estava a chicotear mas este acertou-lhe com o chicote no rosto e ele morreu. Disseste-me que, de modo a criar valores, temos de perseverar, mesmo que isso signifique morrer.

Ensinaste-nos que, na escola, devemos enfrentar as quezílias e os confrontos como senhoras. Recordas-te da insistência dos teus reparos sobre o nosso comportamento? A tua experiência estava incorreta. Quando este acidente ocorreu, os teus ensinamentos não me ajudaram. Quando me apresentei em tribunal aparentei ser uma assassina a sangue-frio e uma criminosa implacável. Não verti lágrimas. Não implorei. Não me desmanchei a chorar pois confiava na lei.

No entanto, fui acusada de indiferença perante um crime. Eu nem mosquitos matei e as baratas que tirei do caminho, levei-as pelas suas antenas. E agora tornei-me em alguém que assassina premeditadamente. O modo como trato os animais foi interpretado como sendo masculino e o juiz nem se deu ao trabalho de ver que, na altura do acidente, as minhas unhas eram grandes e estavam pintadas.

Quão otimista é o que espera justiça dos juízes! Ele nunca questionou o facto de as minhas mãos não serem grossas como as de uma desportista, em particular de uma boxeur.

E este país, pelo qual cultivaste um amor em mim, nunca me quis e ninguém me apoiou quando, perante as investidas do interrogador, eu gritava e ouvia as palavras mais obscenos. Quando o meu último indício de beleza desapareceu, ao cortar o meu cabelo, fui recompensada: 11 dias na solitária.

Querida Sholeh, não chores pelo que estás a ouvir. No primeiro dia na esquadra, um agente velho e não casado, magoou-me por causa das minhas unhas e eu percebi que a beleza não é desejável nesta era. A beleza das aparências, dos pensamentos e dos desejos, uma caligrafia bela, a beleza do olhar e da visão e até a beleza de uma voz agradável.

Minha querida mãe, a minha ideologia mudou e tu não és responsável por isso. As minhas palavras não têm fim e dei tudo a alguém para que, quando for executada sem a tua presença e conhecimento, te seja dado a ti. Deixo-te muito material manuscrito como herança.

No entanto, antes da minha morte quero algo de ti, algo que tens de me dar com todo o teu poder, custe o que custar. Na verdade, isto é a única coisa que eu quero deste mundo, deste país e de ti. Sei que precisas de tempo para isto.

Posto isto, vou-te revelar parte do meu testamento mais cedo. Por favor, não chores e presta atenção. Quero que vás ao tribunal e lhes faças o meu pedido. Não posso escrever tal carta, a partir da prisão, que fosse aprovada pelo diretor; mais uma vez terás de sofrer por mim. É a única coisa que, se chegares a implorar por ela, eu não ficarei chateada, embora te tenha dito várias vezes para não implorares por nada, exceto para me salvares de ser executada.

Minha mãe bondosa, querida Sholeh, mais querida para mim que a minha própria vida, eu não quero apodrecer debaixo do solo. Não quero que os meus olhos e o meu jovem coração se transformem em pó. Implora para que, assim que eu seja enforcada, o meu coração, rins, olhos, ossos e tudo o que possa ser transplantado, possa ser retirado do meu corpo e dado a alguém em necessidade, como uma doação.

Não quero que o destinatário saiba quem sou, que me envie um ramo de flores ou até que reze por mim.

Do fundo do meu coração te digo que não desejo ter uma sepultura onde tu venhas chorar e sofrer. Não quero que vistas roupas pretas por mim. Faz o teu melhor para esquecer os meus dias difíceis. Entrega-me ao vento para me levar.

O mundo não nos amou. Não quis o meu destino. E agora entrego-me a ele e abraço a morte pois no tribunal de Deus eu vou acusar os inspetores, vou acusar o inspetor Shamlou, vou acusar o juiz e os juízes do Supremo Tribunal que me espancaram quando eu estava acordada e que não se abstiveram de me intimidar.

No tribunal do criador eu vou acusar o Dr. Favandi, vou acusar Qassem Shabani e todos aqueles que, por ignorância ou pelas suas mentiras, fizeram-me mal, passaram por cima dos meus direitos e que não tiveram em conta o facto de que, por vezes, o que aparenta ser realidade não é.

Querida Sholeh de coração mole, no outro mundo tu e eu seremos quem acusa e os outros, os acusados. Veremos qual é a vontade de Deus. Quero abraçar-te até que a morte chegue. Amo-te.”

 

 Tradução da carta por Francisco Ferreira

publicado às 19:07


Did Bach’s wife write his finest works?

por beatriz j a, em 27.10.14

 

 

Did Bach’s wife write his finest works?

Martin Jarvis, professor of music at Charles Darwin University in Australia, claims some of Johann Sebastian Bach’s best-loved works were actually written by his wife.

.

Martin Jarvis, professor of music at Charles Darwin University in Australia, argues that Anna Magdalena, Bach’s second wife, was actually the composer of some of his major works, including the Cello Suites.

(...)

Prof Jarvis said he aims to overturn the “sexist” convention that recognised composers were always a “sole male creator”, to finally reinstate Mrs Bach into the history books.

 (...)

“What I found fascinating is the questions it raises about the assumptions we make: that music is always written by one person and all the great masters were male by definition,” she said.

 (...)

She pointed out that female musicians at the time were known to put their works out using a male relative’s name.

(...)

Prof Jarvis, from Wales, said people felt threatened and embarrassed by his revelation, as well as being “frightened of ridicule” if they publicly back him.

The documentary, entitled Written by Mrs Bach, argues that Anna wrote the Cello Suites, the aria from the Goldberg Variations, and even the first prelude of the Well-tempered Clavier: Book I.

 

Ms Harralson said: “I think she is the author. The evidence is more in her favour than it is in Bach’s.”

 

Interessante, a questão dos receios de encarar as provas científicas pelo facto de credibilizarem uma mulher e porem em dúvida a reputação de um homem. Na civilização machista em que vivemos os homens, educados a rejeitar como pouco sérias as produções das mulheres em qualquer campo intelectual -os casos na ciência começam agora a ser conhecidos- têm vergonha que o seu nome lhes seja associado, mesmo quando o seu mérito é evidente.

 

 

publicado às 17:28

 

 

... sexistas e paternalistas para com as mulheres ao ponto de acharem que lhes podem impôr, com legitimidade, a sua visão, preconceitos e experiência provincianas. Só faltou mandar a mulher rezar uma avé maria...

 

Cortam indemnização por considerarem que na meia-idade o sexo já não é tão importante.
 
 

publicado às 05:41


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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