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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
The belief in a supernatural source of evil is not necessary. Men alone are quite capable of every wickedness.
Joseph Conrad
The Execution of Lady Jane Grey is an oil painting by Paul Delaroche completed in 1833
Jeff Goldblum
Martin Amis on Hitler and the nature of evil
In this edited afterword to his new novel ‘The Zone of Interest’, the author discusses Primo Levi and the Nazis’ incomprehensible brutality
O mais difícil de perceber não é a razão de muitas pessoas se juntarem a grupos exaltados que lhes dão esperança, sentido existencial e um discurso de enquadramento social. O mais difícil é perceber como é possível tanta, mas tanta, gente, conciliar a sua vida de normalidade social com actos de extrema brutalidade e crueldade continuadas.
O ser humano é fraco. Muito fraco. Não têm grande resistência à adversidade, ao confronto e às vicissitudes da vida. Guia-o o medo, o conformismo, a ambição e a culpa não assumida. E isto começa logo a ver-se na adolescência. As excepções são poucas. Muito poucas. Mas existem. E isso também começa a ver-se logo ali, na adolescência.
Esta semana estive a ver o filme Mystic River com as turmas do 10º ano. O filme é muito bom para discutir certas questões da acção humana e da condição humana. Os miúdos, quando os guiamos na reflexão sobre as personagens do filme -as suas acções, motivações, etc.-, percebem muito bem a questão da extrema complexidade e contradição do ser humano, das suas fraquezas, da sua moralidade comprometida, da possibilidade de extrema violência sob capas de aprente normalidade.
...muito semelhante a um PC. É portátil, na maior parte dos casos (há excepções, como aqueles PCs que ocupam uma sala inteira), tem um hardware e um software. Muito da vida dele depende da qualidade do hardware, nomeadamente do motor, da ventilação...depois a sua performance depende da memória RAM, da velocidade e do sistema operativo. Há vários sistemas operativos chamados temperamentos. Cada um tem um conjunto de mecanismos e e respostas para lidar com a realidade.
Alguns vêm com placas gráficas extra e são óptimos na imaginação, outros não têm imaginação e só sabem fazer cálculos, mas todos funcionam tendo por base um sistema binário: é a lógica.
Depois, enquanto portáteis que somos, vamo-nos enchendo de programas: uns carregam sobretudo jogos, outros filmes, outros só trabalham. A princípio o sistema está limpo e funciona bem -embora precise de entrar em modo de repouso com frequência, pois se está permanentemente wired estoura.
Aos poucos vamos instalando programas, extensões, vamos criando arquivos e ficheiros e sub-pastas até entrar-se em processo de entropia. Aí fazemos limpezas ao sistema e desinstalamos programas - alguns são difíceis de desinstalar, outros nunca desaparecem completamente, deixando lá marcadores somáticos que se activam com facilidade. Por vezes formatamos e voltamos a instalar programas novos.
Um portátil bem tratado dura mais tempo, claro. A certa altura pode ser preciso mandá-lo a um especialista para mudar ou apenas arranjar peças que se vão gastando. Pode acontecer apanhar um vírus e ficar sem recuperação, perder a memória de todos os ficheiros e arquivos. Se for tratado ao pontapé desgasta-se rapidamente.
Eventualmente torna-se desactualizado, ultrapassado e é substituído. Fica estacionado algures durante um tempo mas já pouco trabalha. Um dia vai para a reciclagem.
Poucos, muito poucos, são os que vivem à altura das suas palavras. Assim de repente, lembro-me de Sócrates (o filósofo, entenda-se...), do Cristo, da Joana D'arc... haverá outros, alguns desconhecidos, mas são muito poucos e a maioria acabou morto pelos semelhantes. Quem não percebe isto é tonto. No entanto e apesar disso, é legítimo esperarmos que todos vivam à altura das suas palavras. Se assim não fosse, não havia amizade, nem vida propriamente, porque o que nos alimenta é a esperança. A desesperança é a antecâmara da morte, mesmo que não seja física.
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