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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Noutro dia li um artigo no jornal sobre blogs por género. Que há blogs femininos e masculinos. Que a blogosfera é masculina e que os blogs das mulheres são confessionais e o dos homens políticos...Achei o artigo todo estúpido. Assim como acho estúpidas as pessoas que estão sempre a ver se as mulheres são rosas e os homens azuis. Então não é evidente que numa sociedade machista como a nossa a maior parte dos homens, sobretudo de uma certa idade, e com uma faceta pública, terá pudor em ser sentimental e poético? Se o quiser ser assume um pseudónimo qualquer onde se possa esconder?
Acho o machismo uma ideia tão desinteligente. É tão evidente que as sociedades onde existe menos machismo são mais equilibradas, evoluídas em termos civilizacionais, inteligentes e com melhor qualidade de vida.
Nunca vejo as pessoas como homens ou mulheres, a não ser que seja essa a intenção deles/as. Vejo sempre como pessoas. Já andava na faculdade quando tive, pela primeira vez, noção do machismo, através de um professor idiota. Até lá, nunca me tinha apercebido disso -nunca me tinham tratado como 'mulher' em vez de pessoa- e, para mim os parvos eram só parvos, o que não tinha nada a ver com serem rapazes, ou raparigas, mas apenas com serem parvos. E ainda assim é.
Hoje em dia toda a arte e até a vida quotidiana exploram muito o lado sentimental das pessoas. Os homens já se vestem de rosa e com camisas de flores. Usam lingerie e choram na TV. Por muito lamecha que isso possa parecer é um sinal positivo de que as coisas podem melhorar. No dia em que a ideia de brutidade e de homem deixarem de estar ligadas o mundo melhorará.
O dia nasceu cinzento
- não quis provocar com cores
feridas nos meus sentimentos.
(...)
bja
mondrian
Às vezes é difícil ter uma atitude filosófica perante as coisas. Manter a distância e o espírito crítico; ser objectivo e analítico...detached...como dizem os ingleses - desligado; mas desligado é também não emocional, não afectado pelas coisas.
Aceitar o inaceitável, o inconcebível e fazê-lo entrar no decurso normal das coisas tirando-lhe a significação única e particular. Dissecar, desmembrar e juntar os pedaços dos acontecimentos até estarem limpos das gorduras do sentir.
Então, vendo as coisas por esse lado, não sei se é bom, em certas coisas ter uma atitude filosófica, mesmo que tal fosse possível, porque parece uma espécie de traição afectiva e uma cobardia isso de ser capaz de evitar o envolvimento emocional em determinadas situações.
É o que estou a fazer neste momento? Uma incursão pela estrada da análise que leve à distância?
Se calhar é exactamente o contrário: às vezes é muito mais fácil ter uma atitude filosófica em relação às coisas.
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