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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
É o caso desta comentadora que faz questão de ignorar as denúncias diárias acerca das condições de trabalho nas escolas, acerca dos diplomas asininos desta equipa da educação que aumentam os papéis sem nenhum acréscimo de qualidade para o ensino, acerca da gestão das escolas, da confusão e contradição dos currículos, dos concursos de professores, etc., etc., etc., que se podem ler um pouco pelos jornais, por blogues de professores, por cartas abaixo-assinadas por professores e por aí fora.
Ela rala-se tanto com o ensino público que sabe zero acerca do que se passa na educação e reduz os mais de 100 mil professores ao Mário Nogueira. Ora, como não acredito que seja assim tão estúpida, só posso inferir que é mal intencionada ou talvez esteja a escrever para fazer um favor a alguém do governo.
Na cabeça destes comentadores, um professor é um padre missionário e, se se preocupa com a educação dos seus alunos, então não pode preocupar-se com questões salariais, esse tema tão pouco espiritual. Já se se preocupa em não chegar à reforma, depois de uma vida de trabalho, a ganhar o salário mínimo, só quer dizer que não quer saber dos alunos.
Enfim, segundo esta comentadora os professores, que são, como é sabido, quem decide as políticas do país e os gastos dos milhares de milhões de euros, é que estão a cavar a desigualdade social e tudo porque o Mário Nogueira reivindica que não apaguem quase dez anos de trabalho dos professores.
Como se não bastasse a Lurdes Rodrigues ter cavado a sepultura da profissão tão bem cavada que 10 anos depois já não se arranjam professores ao ponto de ter que ir buscar-se os que no ano anterior ainda eram alunos nas escolas -ninguém quer uma profissão mal paga e vilipendiada por estas pessoas de pouca substância-, ainda querem degradá-la mais.
Olha, vendo bem, se calhar é mesmo estúpida.
Estamos a cavar a desigualdade, perante o silêncio da sociedade e dos próprios agentes do ensino, os professores.
São José Almeida
Ora, na permanente, extenuante e barulhenta reivindicação sindical dos professores, a começar pelo discurso do seu líder, Mário Nogueira, a gritaria gira toda em torno de objectivos individualistas de reconhecimento de tempo de serviço e de aumentos salariais. Nem uma palavra se ouve sobre a degradação do ensino público e as suas consequências para a comunidade e para o Portugal futuro. As consequências da degradação do ensino público são larvares, silenciosas, não visíveis imediatamente pelos pais nem pela comunidade. Não há os eventuais mortos nem doentes em estado agravado pela má assistência do SNS. Mas a prazo estamos a formar cidadãos em piores condições de se inserirem e contribuírem para o bem comum da sociedade e para a sua realização pessoal. Estamos a cavar a desigualdade, perante o silêncio da sociedade e dos próprios agentes do ensino, os professores. E é sobre isto que eu gostava de ouvir Mário Nogueira falar.
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