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Um Calendário de Sabedoria de Tolstoy

por beatriz j a, em 05.11.18

 

 

Tolstoy passou os últimos quase vinte anos de sua vida a coleccionar frases de sabedoria para um livro, uma espécie de florilegiumuma colectânea de pensamentos, um para cada dia do ano, acerca da vida e de como levar uma boa vida.

Em 1904 publicou-o com o título, Pensamentos de Homens Sábios. De seguida saiu uma edição alargada com o nome, Um Calendário de Sabedoria. Pensamentos diários para alimentar a alma. Só em 1997 foi traduzida para inglês. Ainda houve uma terceira edição organizada por temas.

O livro tem, mais ou menos, cinco pensamentos para cada dia.

 

I know that it gives one great inner force, calmness, and happiness to communicate with such great thinkers as Socrates, Epictetus, Arnold, Parker. ... They tell us about what is most important for humanity, about the meaning of life and about virtue. ... I would like to create a book ... in which I could tell a person about his life, and about the Good Way of Life.

 

I hope that the readers of this book may experience the same benevolent and elevating feeling which I have experienced when I was working on its creation, and which I experience again and again, when I reread it every day, working on the enlargement and improvement of the previous edition.

(Tolstoy)

 

imagem da net

 

Aos 18 anos Tolstoy começou um diário de actividades auto-motivadoras diárias com regras para melhorar a sua força de vontade. Por exemplo, 

  • Acordar às cinco da manhã (isto já faço :)
  • Fazer uma coisa de cada vez (humm...)
  • Visitar um bordel apenas duas vezes por mês (esta passo...)
  • Evitar doces (isto já faço :)
  • Deixar de se importar com a opinião dos outros (isto faço, excepto com a opinião das pessoas que me importam)
  • Ajudar os que têm menos (isto vou fazendo, mais ou menos)

 

A ideia dele de felicidade era esta:

A quiet secluded life in the country, with the possibility of being useful to people to whom it is easy to do good, and who are not accustomed to have it done to them; then work which one hopes may be of some use; then rest, nature, books, music, love for one’s neighbour — such is my idea of happiness.”

(a ideia de secluded não atrai mas percebe-se como uma maneira de não se deixar absorver pelo caos da vida urbana; o que agrada muito é a ideia de paz e tranquilidade deste tipo de vida :)

 

Alguns dos pensamentos do livro:

 

On avoiding regret:

Do not regret the past. What is the use of regrets? The lie says that you should not regret. The truth says you should be filled with love. Push all sad memories away from you. Do not speak of the past. Live in the light of love, and all things will be given to you.
- Persian wisdom (January 27)

 

On being mindful:

A wise person thinks more about life than about death.
- Benedictus Spinoza (June 24)

 

On gaining control of your thoughts:

Do not allow yourself to be infected by the mood or spirit of those who abuse you; do not step onto their path.
- Marcus Aurelius (August 5)

 

On remembering what’s important:

When you feel the desire for power, you should stay in solitude for some time.
- Henry David Thoreau (August 27)

 

publicado às 07:54

 

 

via IArt

 

publicado às 06:43

 

 

By TPM

 

Our world suffers from bad philosophy. Universities around the world have, built into their intellectual/institutional structure, a seriously defective philosophy of inquiry we have inherited from the past. This holds that, in order to help promote human welfare, academia must devote itself to the pursuit of knowledge. First, knowledge is to be acquired; then, once acquired, it can be applied to help solve social problems. It is this ‘knowledge-inquiry’ philosophy that betrays both reason and humanity.

 

(...)

 

I suggest that philosophers should start to take very seriously the possibility that a bad philosophy of inquiry, inherited from the past, and built into the intellectual/institutional structure of universities round the world, is at the root of many of the troubles of our world today. What philosophers do should take account of this possibility – if philosophy is not to be the intellectual equivalent of Nero fiddling while Rome burns.

 

.

Nicholas Maxwell is emeritus reader at University College London, where he taught philosophy of science for twenty-nine years, and author of From Knowledge to Wisdom (Blackwell, 1984; 2nd ed., Pentire Press, 2007).

 

 

A técnica e a tecnicidade ocuparam o espaço todo. Por isso quando o Heidegger começou a publicar e a falar dizia-se que finalmente o espírito estava de novo vivo mas o aviso dele contra a técnica e a tecnicidade per si chegou no tempo da adoração da técnica... este artigo não é contra o conhecimento mas contra o conhecimento que não se traduz em sabedoria, em prática alterada, o conhecimento que se enrola sobre si próprio e resulta estéril.

 

 

publicado às 21:53


escrito numa parede

por beatriz j a, em 19.08.11

 

 

 

As melhores coisas da vida

não são coisas.

 

 

publicado às 17:04


os limites do pensamento crítico

por beatriz j a, em 27.12.10

 

 

 

Até onde devemos levar o pensamento crítico e onde devemos parar?  Vem isto a propósito do vídeo de Philip K. Howard, Four Ways to Fix a Broken legal System. Assumindo que a análise que ele faz da sociedade actual é correcta vemos que quase todas as experiências de interacção social são hoje em dia 'proto-jurídicas'. Ir a um restaurante comemorar um aniversário pode resultar num processo legal, bastando para tanto que não se fique satisfeito com o serviço. Frequentar aulas ou fazer um exame já não é apenas uma uma experiência pedagógica porque tem uma carga jurídica muito grande. Ir ao hospital ou visitar um museu...enfim, qualquer interacção social está eivada de um potencial jurídico que não só complica desnecessariamente a vida como paralisia a acção. Este extremismo advém, por um lado da exaltação radical dos direitos individuais, por outro, da tentativa de racionalizar os processos retirando-lhes toda a subjectividade, o que faz com que a cada momento se visualizem opções de acção alternativas que cada um considera, ou não, mais eficientes, justas, igualitárias, etc. Daí a questão: até onde devemos levar o pensamento crítico? Pois, se sujeitarmos toda a acção a processos de depuração total de subjectividade não agimos, porque não é possível, nem desejável, eliminar toda a subjectividade. Isso seria regressar a uma vida instintiva sem liberdade de decisão.

Na realidade, o excesso de criticismo leva ao cepticismo e o cepticismo não é criativo, é destrutivo. Podemos sempre duvidar de tudo. Não há uma única ideia, afirmação que seja à prova de dúvida céptica e se vamos por aí teríamos que para cada ideia fornecer provas não subjectivas que por sua vez careceriam de provas e assim sucessivamente numa regressão infinita.

Temos de, por um lado impôr um limite ao pensamento crítico entendendo que a objectividade absoluta não existe, e por outro lado dar espaço ao pensamento intuitivo intelectual (não falo de intuições sensíveis ou impressões) que é aquele que se apura na interacção entre o pensamento e a experiência: aquilo que normalmente chamamos de sabedoria.

A ideia de Wittgenstein segundo a qual se devia reduzir a semântica à sintaxe para que o discurso fosse tão objectivo e únivoco que não pudesse dar azo a mal entendidos é empobrecedora, como se vê pelo declínio da educação e da vida cultural em geral. A semântica é o que enriquece a linguagem. É por isso que é tão difícil de traduzir poesia e que é necessário encontrar alguém que, para além do conhecimento das regras da sintaxe, seja também um conhecedor da vida, porque a tradução implica uma escolha em liberdade do sentido que mais se poderá aproximar daquilo que o autor queria transmitir. Ora, isso obriga a uma escolha, que tendo por base conhecimentos de língua é, em última análise, intuitiva. Também na vida em geral, e apesar das interacções sociais não serem da ordem da poesia, há uma margem de decisão que se aproveita da sabedoria em que a experiência transformou os conhecimentos.

Nesse sentido estou de acordo em que é necessário confiar que um professor, por exemplo, saiba o que está a fazer quando toma certas medidas e que não se pode querer que disseque todas as medidas, todas as palavras em esquemas e organigramas objectivos, pois isso desvirtua o processo pedagógico. Quem diz o professor, diz o juíz ou o médico ou o chefe cozinheiro. Daí não se segue que devemos abolir o juízo crítico, pelo contrário, mantemos o pensamento crítico vigilante para que os processos intuitivos não se transformem em arbitrariedades subjectivas, mas usamos o pensamento crítico como instrumento e não como fim da acção. Do mesmo modo que uma pessoa toma precauções antes de ir fazer alpinismo, para reduzir as possibilidades de acidente, mas não leva os cuidados até ao ponto de querer evitar em absoluto qualquer acidente porque isso não é possível e para o fazer a única acção possível é não ir.

Este querer objectividade absoluta, que na educação tem desvirtuado todo o ensino como se vê pelos exames que cada vez mais se resumem a escolhas múltiplas numa tentativa de eliminar a subjectividade da avaliação dos professores, destruiu o próprio ensino, porque eliminou a sua maior riqueza que é justamente a 'sabedoria', entenda-se, os anos de saber e experiência acumulados que os professores usam para estimular e desenvolver todo o potencial dos alunos. Sim, porque 'ver' num aluno um potencial de capacidade artística ou científica ou ainda 'vêr' que este aluno se motivará com uma repreensão que apela ao brio, e aquele outro com uma recompensa que instile confiança, é sobretudo uma questão intuitiva que advém de anos e anos de lidar com pessoas duma certa faixa etária numa determinada situação de aprendizagem. Nenhum processo crítico de objectivação poderá substituir essa 'sabedoria'.

Era necessário termos nos cargos pessoas capazes de reflexão, que não fossem atrás de qualquer ideia só porque é moda e os outros também fazem.

Desde o Platão que isto se sabe: o pensamento crítico, racional dialéctico é fundamental como instrumento, mas é mecânico: A intuição precisa dele para não ser arbitrária, mas ultrapassa-o em 'sabedoria', em criatividade, em fecundidade e riqueza, em inteligência. A inteligência nas interacções sociais, tem a ver com essa 'sabedoria' e não com a repetição mecância de processos. Qualquer bom vendedor de carros sabe isto. Mais, qualquer dono de stand de automóveis sabe isto e confia nos seus vendedores, dá-lhes espaço para desenvolverem as suas técnicas e aperfeiçoarem a sua 'sabedoria' sem tentar impôr uma única maneira de vender os carros. Porque, parte desta arte é ciência e aprende-se em técnicas de persuasão, estatísticas de venda, público-alvo, etc., mas outra parte, aquela que distingue o bom do excelente vendedor, é intuitiva e resulta de uma 'sabedoria' acumulada pela experiência e afinada pela inteligência livre.

 

publicado às 06:18


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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