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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Desde a antiguidade clássica que as estátuas, erigidas em locais públicos, são lugares de memória que servem uma relação de identidade das pessoas à sua cidade ou à sua pátria, física, cultural, religiosa, etc. As estátuas veiculam valores: há estátuas de deuses, de chefes políticos, de guerreiros vencedores, de poetas, de artistas, de acontecimentos, etc.
O que as estátuas têm em comum é serem honoríficas, quer dizer, são pessoas cuja vida ou certas acções que fizeram, nos honram e, por isso mesmo, também as honramos e queremos que não sejam esquecidas e que os seus valores se mantenham através das gerações e fortaleçam a identidade do povo.
Em princípio, levantam-se estátuas aos melhores entre nós. Aos que são modelos positivos para os outros. É claro que nem sempre é assim. Há por aí estátuas de políticos que não valeram nada mas que conseguiram enfiar-se num pedestal... mas isso não interessa.
Sabemos que muitos dos que estão em estátuas em lugares de destaque foram pessoas com muitos defeitos: o Afonso de Albuquerque era impiedoso com os inimigos, o Marquês de Pombal foi crudelíssimo com os Távoras e muitos outros exemplos existem. No entanto, tanto um como o outro, citados, não tinham por fim ser cruéis ou impiedosos e, o bem que nos fizeram foi superior a esses defeitos de carácter.
Não é o caso de certas figuras históricas cujo objectivo das suas acções, embora tivesse agradado a muitos e tenha que ver-se no contexto do tempo, não pode ser tido como honroso, depósito de valores que queremos perpetuar e que fortaleçam a identidade de um povo. Nesse caso, o lugar dessas estátuas, não é o de destaque na praça pública mas no museu ou algo assim, onde podem ser vistas e compreendidas num contexto pedagógico.
É o caso, por exemplo, das estátuas de Robert E Lee que tanto têm dado que falar nos EUA. Robert E Lee lutou pelos Estados Confederados cujas declarações de secessão, sem excepção, afirmam explicitamente que estão a lutar com o objectivo de manter o sistema de escravatura. Não me parece um objectivo honroso cujo valor se queira perpetuar e que ajude ao fortelacimento da identidade dos americanos. Pelo contrário. Deve ser extremamente ofensivo para qualquer americano negro passar por uma estátua de Robert E Lee e, por exemplo, ter que explicar aos filhos que a pátria deles ainda honra e dá valor público a um guerreiro que lutou para os manter em situação de escravidão.
Um dos grandes erros da educação, parece-me, é ensinarem-se como modelos positivos ou heróis, indivíduos que foram grandes facínoras ou cujo objectivo de vida era a aniquilação, o assassínio, o totalitarismo, a subjugação, etc.
O mundo mudou, felizmente e, o que ontem se entendia normal, em muitas áreas, como os direitos dos animais, por exemplo, hoje já não aceitamos sequer que exista, quanto mais normalizado. E isto não é ser politicamente correcto. É evoluirmos para seres humanos mais decentes uns com os outros.
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