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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
O conceito operativo significativo da primeira é, flexibilidade. Disso gosto e vou usar. Aliás, há muito que uso mas com a dificuldade de remar contra a maré das imposições superiores de uniformização só porque sim desvirtuando a especificidade dos saberes, dos professores e das turmas.
Ao contrário do que diz aquele tipo da escola da Ponte que se diz frequentemente extraordinário e que pensa que todos nos devíamos uniformizar pela sua bitola só porque funciona com ele, há inúmeras maneiras e estilos de ser bom professor e o que resulta excelentemente com uns não resulta com outros e vice-versa.
Aliás, as únicas coisas que têm em comum todos os bons professores, na minha modesta mas observadora opinião é o respeitarem-se a si próprios, respeitarem os alunos, terem interesse pelos alunos, terem respeito pelo saber e terem respeito pela maneira dos outros professores trabalharem apesar de ser diferente da sua.
No que respeita a este diploma da inclusão com o qual não concordo logo nos fundamentos, tem o título errado porque o que querem, vêmo-lo pelo que advogam, não é incluir mas normalizar. Enquanto um aluno não está normalizado não está incluído... estou profundamente em desacordo com este pressuposto e a própria reforma da flexibilidade curricular está constantemente a contradizer este pressuposto... mas contradição é o middle name de quem nos governa... para não lhe chamar hipocrisia...
A normalização é o primeiro passo da submissão acrítica. Acho que é esse o objectivo.
A idade de acesso à reforma para usufruir da pensão completa vai aumentar um mês a partir de hoje, para os 66 anos e 3 meses, fruto da evolução da esperança média de vida.
O facto de se ter aumentado a esperança de vida não significa que as pessoas tenham deixado de envelhecer nos mesmos tempos. O corpo passa pelos mesmos processos de envelhecimento, as pessoas em geral, cansam-se mais, têm menos energia, precisam de mais repouso para recuperar, levam mais tempo a curar uma simples gripe, começam a aparecer as doenças, etc.
Uma pessoa dantes, aí pelo ano 2000, tinha uma esperança de vida de 75 anos. Reformava-se aos 55 anos se tinha descontado 30 anos (muita gente tinha começado a trabalhar cedo e aos 50 já tinha os descontos feitos) e ainda vivia 20 anos com um certo conforto porque nessa altura já tinha as coisas pagas - casa, carros, etc. e saúde suficiente para dar umas voltas, dedicar-se a qualquer coisa interessante. Agora, a reforma é aos 66 anos e meio e a esperança de vida são 80 anos (números médios da Pordata), ou seja, desde que se reforma até que se vai, tem 14 anos (só aqui perdeu seis anos, ou mais) e, em piores condições: a reforma é miserável, toda com cortes (a não ser que se tenha sido político ou banqueiro ou assim), nos últimos anos de trabalho em vez de se diminuir a carga e intensidade laboral faz-se exactamente o oposto de modo que se chega à reforma mais exausto, a saúde e o vigor aos 70 anos não os mesmos que aos 55, e muita gente não tem as coisas pagas porque teve que endividar-se para viver.
Um retrocesso dramático...
Dantes, quando a pessoa se reformava era costume dar um relógio, agora era melhor dar uma entrada para pagar o funeral...
In September 2014 more than 120 Islamic scholars from around the world issued an open letter to IS leader Abu Bakr al-Baghdadi refuting the group’s religious arguments to justify many of its actions. The scholars noted that the “reintroduction of slavery is forbidden in Islam.”
... para gerir as escravas e regulamentar as violações das crianças, adolescentes e mulheres. Deve haver perto de um bilião de muçulmanos no mundo: 120 académicos pronunciaram-se contra esta escravatura... 120... a religião não é terrorista? Não. Mas os terroristas agem sempre invocando a religião... essa é que é essa... nunca vi um terrorista ou um criminoso ou um esclavagista matar e violar em nome da Carta dos Direitos Humanos. É sempre em nome da religião. Nunva vi ninguém defender a intolerância e discriminação das mulheres ou dos homessexuais em nome da Carta dos Direitos Humanos. É sempre em nome de uma ética religiosa... essa é que é essa... as religiões precisam de reforma urgente? Parece-me uma evidência...
If you, Tony Abbott, want to go out preaching about the need for reformation, about the need to embrace modernity, about the dangers of retaining outdated theology, structures and rules of Islam, then I recommend you pay special attention to the royal commission into institutional responses to child sexual abuse.’ Photograph: Lukas Coch/AAP
Hoje andei a dar volta a papéis à procura de coisas antigas. Fui dar com uma fotografia de uma visita de estudo que fiz à Serra da Estrela. A primeira vez que vi neve. A fotografia foi tirada no dia 4 de Maio de 1973 :) como se vê houve anos em que fez frio até este dia. Não parece mas só tenho doze anos. Já era cavalona...
Depois encontrei o meu cartão de estudante do 1º ano do ciclo. Tirando o facto de ter mais vezes por semana Moral e Religião que Educação Musical, a 1ª Língua ser o Francês (só mais tarde começávamos o Inglês) e termos aulas ao sábado (!) não é muito diferente do que se passa hoje... muitas reformas para ficar no mais ou menos... este horário é da reforma do Veiga Simão e hoje em dia não seria legal por causa da quantidade de furos. Há ali uma disciplina chamada ACG que não faço ideia do que seja...
... antes de se definir, ao certo, quais são as funções do Conselho Pedagógico. Se é para ser o que tem sido desde a Lurdes Rodrigues, um orgão de moços de recados dos diretores e de avaliadores de colegas, de facto os pais, alunos e funcionários não fazem lá grande coisa...nem eles nem os professores...
Agora, se é para os C.P. terem funções efectivamente pedagógicas, autónomas relativamente aos critérios políticos das direcções, ah(!) então parece-me mal tirar de lá o representante dos pais, dos alunos e dos funcionários. As decisões pedagógicas, embora tomadas pela maioria de professores que compõem o C.P. beneficiam da voz destes representantes. O que lá se decide diz-lhes respeito também.
Nestes últimos anos temos tido muitas mexidas na educação com o nome de reforma, mas na realidade não houve reforma. Pelo menos no sentido em que entendo uma reforma. Uma reforma é uma mudança de espírito uma mudança de caminho(s) que serve um propósito. Ora, o que tem havido são mudanças a vulso, que não fazem parte dum todo coerente e que em geral servem interesses económicos e nenhum propósito pedagógico. Outras têm sido experimentações de curiosos que lêem o que se faz e diz aqui e ali e copiam tal qual, sendo que às vezes até copiam o que já falhou noutros sítios. Ora se muda o tempo das aulas -embora isso não sirva nenhum propósito global-, ora se muda a carga horária das disciplinas -mais uma vez sem propósito global-, ora se mudam a designação e composição dos cursos profissionais -também sem propósito global, ou a relação dos professores uns com os outros, etc. Muda-se isto e aquilo mas fica tudo mais ou menos na mesma: entretanto aumentou-se a legislação em quilos! Quanto a mim, devia deitar-se quase tudo para o lixo -os quilómetros de legislação inútil e burocracias sem rumo- e fazer de novo algo que respondesse a cinco questões:
1. O que queremos que seja a educação e qual o seu propósito? Da resposta a esta questão dependem todas as outras: desde saber que curriculo é o melhor para aquele propósito até saber se o ensino deve ser sobretudo público ou se isso é irrelevante.
2. Que currículo serve aquele propósito?
3. O que queremos que sejam os professores?
4. O que queremos que sejam os alunos?
5. Qual é o tipo de organização escolar que melhor serve aquele o propósito?
Uma reforma, quanto a mim, devia responder a estas questões de um modo o mais coerente possível. Algumas questões têm parte da resposta enunciada na Constituição da República e na Lei de Bases e há questões que têm sub-questões a pensar, mas nada pode ser a manta de retalhos faraónica e incoerente que temos agora com excesso de burocracia e leis que paralisam o acto educativo, que é essencialmente pedagógico e não jurídico.
Para quem quiser ler um artigo muito bom e fundamentado da Revista Dissent sobre o poder das três Fundações bilionárias (The Bill and Melinda Gates Foundation, the Eli and Edythe Broad Foundation, and the Walton Family Foundation) que controlam a educação nos EUA e o modo como as suas experimentações sucessivas que por ora vão nas famosas Charter Schools e no princípio do pay merit têm falhado sucessivamente bem como as consequências dessas experimentações feitas mais ao menos ao acaso:
Dissent Magazine - Winter 2011 Issue - Got Dough? How Billion...
A propósito da reforma que aí vem, com a (ainda maior) desresponsabilizaçãodos alunos na assiduidade, a (ainda maior) desautorização dos professores na disciplina, alguns comentários:
1. Disciplina é uma palavra que vem de "discípulo", que por sua vez deriva do termo latino 'pupilo' que, por sua vez, significa instruir, educar treinar. A ideia de dsiciplina e de disciplinar constrói-se em torno da ideia da educação do carácter da pessoa. Assim, a palavra disciplina tem um sentido pedagógico que indica a disposição dos (discípulos) alunos em seguir os ensinamentos e as regras de comportamento do educador, disciplinador.
Disciplina é, portanto, uma palavra de âmbito muito mais lato que a ideia de punição. Dito isto, a não aprendizagem da assiduidade e de outras medidas de comportamento social fundamentais à educação do carácter, quando não são levadas a sério e responsabilizadas, impedem essa mesma construção positiva do carácter. Se o aluno pode não seguir a orientação de assiduidade (disciplinadora dos hábitos, nomeadamente de trabalho) do professor, se essa aprendizagem for considerada de menor importância, o efeito é duplo: é uma mensagem de permissão de (in)disciplina - e, se se permite o não cumprimento de umas regras, com que argumento se há-de exigir o cumprimento de outras?- e de autorização para não seguir o educador, isto é, autorização para não dar sentido importante ao papel disciplinador do professor, o que, implicitamente, é tomado como autorização para ser o seu próprio educador. Como estamos a falar de crianças e adolescentes, nem é preciso explicar os perigos que isso comporta...vê-se pelos casos do Leandro e do professor de música, para não irmos mais longe.
2. A não repetência 'tout-court' alimenta a ideia de que os conhecimentos e a aprendizagem da vida em sociedade, não são importantes. Como é que nos poderemos espantar que depois estas pessoas passem o resto da vida a reivindicar direitos sem noção dos deveres, sem consciência dos problemas, sem conhecimento das situações?
3. Nestas coisas imagino sempre o que diria se um aluno, um dia mais tarde, viesse ter comigo, já adulto, e me confrontasse com as seguintes palavras: 'com que direito desisitiu de mim sem pensar duas vezes? Porque é que deixou que eu passasse sem saber nada? Porque é que não me disse 2 ou 3 verdades? Porque deixou que eu falasse como se soubesse o que se deve aprender e o que se deve ensinar? Porque me deixou ser mal educado? Não via que eu era um puto, com 15 ou 16 ou 17 ou 18 anos? Não era evidente que eu não sabia o que era a vida e o que necessitava? Não era evidente que estava a precisar de orientação, de educação? Desde quando é que um miúdo adolescente sabe o que é melhor para si? Desde quando é que passar sem saber nada ou não ser responsabilizado ajuda a preparar para a vida, para enfrentar os problemas?
Se o ministério for o primeiro a desistir dos alunos, e se tornar a vida negra aos professores e escolas que não querem desisitir dos alunos, que sociedade estamos a construir? Que pessoas construirão o futuro do meu país?
Uma pessoa não é menos criminosa por não pegar na faca e espetar no outro. As leis que perpetuam a ignorância e a pobreza por desprezo da educação dos mais fracos são mil facas que matam o futuro de gerações inteiras.
O editorial do NYT, sobre a educação, faz um apanhado dos pontos mais relevantes do discurso do presidente Obama sobre a educação. É desesperante! É tudo, mais do mesmo!
→ www.nytimes.com/2009/03/12/opinion/12thu1.html
1. Vai fazer uma super reforma;
2. Não apresenta uma única ideia sobre a educação propriamente dita: fala, sim, de excelência de resultados (sempre os mesmos chavões ocos), de dinheiro, de avaliar professores (já se sabe que de x em x anos os professores são avaliados por critérios diferentes, ao sabor das reformas dos 'especialistas da educação' e dos governantes reformisto-economistas) e de despedir professores.
3. A reforma não vai mudar nada; quer dizer, não se modifica a lógica da estrutura curricular, do funcionamento das escolas, do apoio às famílias, das aprovações/reprovações: a reforma é, sobretudo, questão de dinheiro para cativar alguns do sistema.
Os professores cujos alunos tenham melhores notas recebem mais dinheiro; os professores de matemática e de ciências terão estatuto (superior) à parte e receberão mais dinheiro. O artigo diz também que o presidente vai pôr a reforma à votação: serão os eleitores a decidir as reformas - como os 'especialistas da educação' não souberam fazer as reformas ele considera, talvez, que não há ninguém mais abalizado para se pronunciar sobre o assunto.
É claro, não é preciso ser muito esperto para perceber que a 'super reforma' está condenada ao fracasso, antes mesmo de começar.
Estas notícias são uma desilusão desencorajante (porque isto há-de servir para os nossos paradigmas da educação caseiros reforçarem a sua cegueira e incompetência, agora que têm um exemplo fresquinho vindo do admirável Mundo Novo).
A culpa do estado da educação é desta gente tornada estúpida pela ignorância, mas a culpa da desilusão é toda minha. Lembro-me das palavras de Sócrates, no Fédon de Platão, quando explica a Símias e Cebes que o problema da misantropia e da misologia reside nas próprias pessoas que delas sofrem: têm grandes expectativas e ilusões ácerca dos outros e depois, quando os vêem como aquilo que são e sempre foram, homens que erram, que mostram ignorância, etc., etc., desiludem-se com as pessoas e os argumentos.
A ideia de aplicar critérios de economia de gestão às escolas e à educação em geral é tão errada! Pôr a competição por dinheiro como fundamento e meta da educação e da sua prática desvirtua completamente o essencial da educação, bem como a profissão de professor! Desvirtua-os no verdadeiro sentido da palavra: despoja-os de toda(s) a(s) virtude(s). Ora, quando se despojam as coisas e os processos das suas virtudes, é inevitável que surjam e se instalem...os vícios.
Mas hoje não vou aí que depois de ler aquilo fiquei desanimada.
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