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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Natham, um milionário engenheiro programador que concebe andróides, máquinas inteligentes, contrata Caleb e diz-lhe que quer fazer um Turing teste com uma delas, Eva. Caleb diz-lhe que no Turing teste é suposto ele não saber se Eva é uma máquina ao que ele lhe responde que o propósito do teste é mesmo ele saber que ela á uma máquina e o que ele quer saber é se ele acha que ela tem consciência.
O filme é interessante por dois conjuntos de questões. O primeiro questiona se a consciência é algo interno e subjectivo ou um conjunto de capacidades inteligentes em interacção, não apenas na máquina, Eva, mas em nós mesmos; a segunda é vermos até que ponto e porquê Caleb, o humano, se deixa afectar pela máquina como se fosse humana mesmo sabendo que é uma máquina o que levanta outra questão que é a de sabermos se nós mesmos não seremos uma máquina, embora orgânica, quer dizer, um conjunto de processos electro-químicos extremamente complexos mas, apenas isso e nada mais que isso e, nesse sentido, não somos muito diferentes de Eva, a máquina que aprende os comportamentos sociais esperados de ser mulher humana e de comportar-se como tal assim como todos nós aprendemos a ser humanos embora não nasçamos humanos. Caleb reage à andróide humana como um robot que ela manipula carregando nos botões próprios, neste caso o da sedução e das emoções que ele não sabe gerir. Levanta a questão da vontade livre versus o determinismo na acção humana.
Outro conjunto de questões tem a ver com o Bechdel teste. No filme as andróides são femininas e são estereótipos das fantasias masculinas e o seu papel reduz-se a isso, a um ponto de vista masculino. No entanto, há uma meta-linguagem no filme que mostra o estereótipo feminino enquanto tal, há uma conversa entre as duas andróides que vemos mas não ouvimos e que no fim as leva a uma acção conjunta contra os dois homens para Eva ganhar a liberdade que é o que ela quer.
Enfim, o filme é muito interessante e merece ser visto outra vez.
(Ontem fui comprar um telemóvel visto que o meu antigo morreu. O telemóvel vem com o SIRI instalado. Mandei-o fazer algumas coisas só para ver como funciona e depois escolhi para voz do SIRI uma voz masculina cativante - no meu imaginário SIRI é um homem... lembrei-me logo do filme e pensei-me uma máquina a reagir a uma máquina 😀)
A diferença que a literatura, neste caso a russa, está a ter, nas vidas dos jovens de um estabelecimento prisional. As técnicas podem dar-nos os instrumentos para ganhar a vida mas são as humanidades quem nos dá os instrumentos para vivê-la com sentido e consciência.
Uma história muito interessante de como 'o existencialismo é um humanismo' aqui
Se a clonagem de seres humanos fosse autorizada e vingasse o que aconteceria à espécie humana cuja vida e relações sociais se desenvolvem à volta da ideia de reprodução? Sabendo que a maior parte das relações humanas é, em maior ou menor dose, orientada por vectores sexuais, o que aconteceria à nossa espécie? Transformava-se? Evoluía para outro patamar? Deixávamos de constituir famílias já que os clonados não teriam parentesco com um dos progenitores sendo clones do outro? Ou até sedo clones de alguém fora da família? Assistiríamos a uma instrumentalização dos clones que faziam de filhos? Encomendaríamos um 'filho' clonado do Haendel, por exemplo, para ter sempre boa música em casa? Compraríamos clones para fazerem de 'maridos'/'mulheres' que fossem clones de estrelas famosas?
É difícil pensar o que aconteceria, mas é fácil de ver que mudaríamos na nossa natureza.
Somos aquilo que fazemos ou fazemos aquilo que somos? (acabado de ouvir no Taxi Driver)
Agumas questões suscitadas pela peça Hanna e Martin:
- todas as questões/problemas têm solução ou algumas são aporéticas?
- é possível o perdão? Se é, é uma coisa admirável ou um sinal de fraqueza,de cedência?
- as ideias são motores da acção humana ou são a sua consequência?
- a moral é contextual ou depende de princípios?
- a educação no sentido de elevação dum povo é possível ou é uma espécie de desejo ou alucinação da ordem da magia, isso de querer que haja uniformidade voluntária do pensar e ser?
- as épocas heróicas da História são as únicas admiráveis ou não?
- os grandes génios pensadores devem estar vivos?
- o amor da Humanidade e o amor ao próximo são incompatíveis?
- as pessoas dividem-se em padrões comportamentais antagónicos?
- a doença mental é uma falha dentro da racionalidade de um padrão cultural, um desvio à norma?
- procurar o sentido das coisas e ser uma pessoa 'normal', despreocupada e sem ansiedades é uma impossibilidade?
- as relações entre as pessoas são fios que se tecem sozinhos e escapam ao controlo da vontade?
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