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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
O Futuro foi esta semana.
http://lsoares.blogs.sapo.pt/o-futuro-foi-esta-semana-975770
via RAA
What I believe is that other people will continue to live after I myself have died. (Samuel Scheffler no NYT)
Se tivéssemos a certeza do fim da Humanidade, se por exemplo, a hipótese do filme Children of Man fosse real e a Humanidade enfrentasse um futuro limitado em virtude da total e irreversível infertilidade da espécie, que sentido teriam agoras as nossas vidas, o nosso trabalho, as investigações sobre doenças, sobre o Universo... não é só o passado que justifica o presente, também o futuro o justifica. Precisamos acreditar que a seguir a nós vêm outros. Talvez seja mais importante acreditar e criar condições para a perpetuação da espécie, para um futuro do Homem (sem o qual nada do passado terá tido propósito) do que acreditar e trabalhar para uma vida depois da morte.
O que faremos se o sistema já não conseguir criar trabalho?
Ultrapassar os fracassos da sociedade capitalista.
Do Duarte :)
O historiador holandês Jo Hedwig Teeuwisse resolveu vivificar o passado para mostrar o quão perto ele está de nós, combinando imagens actuais com imagens da Segunda Grande Guerra. Algumas das imagens são poderosas e, de facto, põem o passado a correr ao nosso lado como uma força presente.
Para ver toda a série: http://www.demilked.com/ghosts-of-world-war-2-blended-into-present/
“Captain WH Hooper, who commands the Company of the 314th IR of the 79th IUS D and some of his men surround a column of German prisoners. Column takes a southerly direction, it will join the POW camps located on the plateau of the Mountain Roule, near the farm of Fieffe.”
“Rue Armand Levéel à Cherbourg.”
“Corner covered, 1943, Acireale, Sicily”
Uma pessoa olha para o passado para se compreender e para corrigir erros. Se vai a tempo de os corrigir, corrige, senão anda em frente. Agora olhar para trás para se lamentar disto ou daquilo ou remoer o que poderia ter feito diferentemente...não entendo. É um exercício inútil que só atrapalha os passos porque na altura em que tomamos as decisões tomamo-las com base no que então somos, no que sabemos e no que são os condicionalismos da altura de modo que pensar 'ah se voltasse atrás' e tal não faz sentido nenhum. Não existe o 'voltar atrás' e enquanto se fica a remoer os erros do passado não se constrói presente nem futuro.
AST Hermes Boson
Max Ferguson
Nathan Wash
elenco do filme Freaks de Tod Browning
Há coincidências estranhas. Vi este filme há muitos anos. Não é filme que se veja mais que uma vez. Mas vê-lo uma vez é importante. Eu aprendi com ele a compreender o destino dos inadaptados, dos outsiders, dos que não estão no mesmo Tempo e Realidade que os outros.
Hoje, a pensar numa conversa que tive com umas alunas numa aula sobre temperamentos e padrões de comportamento e pessoas que não são como as outras, e nos tormentos que isso pode trazer, lembrei-me dele.
Porque, se calhar, o ser diferente é uma inadaptação a um tempo presente específico e não ao Tempo.
Os adolescentes preocupam-se muito com a questão de serem normais, como os outros, e fazem a si próprios essa questão muitas vezes, será que sou normal? É causa de grande angústia verem-se como 'a-normais'. A esmagadora maioria, no entanto, é mesmo normal, de modo que a questão só por pouco tempo lhes é angustiante. Mas um número reduzido de pessoas são mesmo 'a-normais', fogem à norma na maneira de ver as coisas e de as fazer e no modo de ser. Esses são para sempre inadaptados: 'freaks' aos olhos dos outros, e a seus próprios também, durante muito tempo, porque os outros fazem de espelho para nós.
(um aparte - Leyla Hyams também entra no filme. Uma actriz cheia de talento dos anos 30 que desapareceu, não sei porquê. Mas que responde à questão: certas coisas, pessoas, ideias estão todas destinadas a perder actualidade e sentido só porque são de outro tempo? Obviamente, não. Basta vê-la.
Talvez certas pessoas, coisas, ideias não estejam em ligação com o tempo presente, mas com o presente no Tempo).
Bem, mas a coincidência está no facto de ter ido hoje ao cinema ver um filme que, para minha surpresa, é todo sobre essa inadaptação à vida, ao Tempo, aos outros. Fui ver os Irmãos Bloom e estava à espera duma espécie de filme de aventura para entreter, depois de ter lido uma sinopse no Público. Grande surpresa! O filme é uma jóia. Os personagens - os irmãos Stephan e Bloom, Bang-Bang, uma cúmplice nas burlas e Penélope, a burlada, que não o é, de facto - são, todos eles, inadaptados.
Durante todo o filme eles parecem, e estão, deslocados: a maneira como se vestem, os ambientes que fazem o cenário e que parecem saídos dos anos 20 ou 30...tudo ajuda a conferir aos personagens esse ar de pessoas que estão no tempo errado, ou melhor, que estão fora do tempo, e que vivem a vida como personagens a cumprir papéis numa história já escrita e da qual conhecem o enredo, os padrões e a estrutura, de cor e salteados. Todas as outras pessoas à volta deles são para eles apenas contexto e não realidade.
Eles procuram um sentido para a vida. Cada um deles tem uma especialidade. A de Bloom é encarnar o personagem. Bloom procura desesperadamente a realidade por detrás das histórias que o irmão arquitecta e ele encarna, para concluir que as histórias são, afinal, a realidade em que cada um transforma a sua vida, com as escolhas que faz.
Muito existencialista no final.
Não sei se foi por ter estado, desde ontem, a pensar obsessivamente nesse assunto e não estar à espera que o filme fosse tão bom, mas a verdade é que adorei o filme.
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