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Os blogs e a 'real politik'

por beatriz j a, em 29.10.11

 

 

 

 

 

Mobilização dos professores para a greve geral

Secretário-geral da Fenprof apela “à luta a sério”

Costumava pensar que era importante falar: blogs grandes ou blogs pequenos, todas as vozes eram vozes e cada uma contribuia, de uma maneira ou de outra para a mudança das coisas, por muito lenta que fosse. Agora vejo que não é assim.

Quem influencia o rumo das coisas são os políticos e os grupos organizados capazes de exercer pressão.

Na educação, este indivíduo desprezível, que há dezenas de anos ocupa 'democraticamente' o mesmo cargo, não sabe o que é um dia de trabalho na escola pois caso contrário não viria apelar que se lute 'a sério': enquanto ele assinava acordos e memorandos com a Lurdes Rodrigues e a Alçada nós estávamos, a sério, a lutar contra a entrega de objectivos, contra o concurso de titulares, contra as pressões do ME. No entanto, é ele e o grupo dele, que já pouco ou nada sabem do que é o trabalho nas escolas que influenciam as políticas educativas, para mal dos nossos pecados.

Mesmo os blogs como o do Paulo Guinote, que tem milhares de visitantes por dia, pouca influência têm na mudança das coisas. Isto acontece porque os blogs são vozes isoladas. Ilhas que podem influenciar-se umas às outras mas não influenciam políticas: protesta-se, fala-se mas não há organização. Há quem tenha blogs muito sérios onde fazem grandes tiradas sobre os assuntos da educação mas que nada mudam.

Os blogs servem mais, no geral, para pensar alto e comunicar entre pares que para mudar alguma coisa, por muito que alguns se iludam a pensar que sim.

A única maneira de haver mudanças na educação será as pessoas que se preocupam com a educação organizarem-se em grupos(s), crescerem e exercerem pressão sobre o poder. Aí sim, poder-se-ia apresentar alternativas às políticas governamentais e influenciar as mudanças.

Até que as pessoas se consciencializem que a organização em grupos de pressão são o único modo de fazer mudanças andaremos à mercê de ignorantes sem escrúpulos que parasitam os professores em manifestações e greves que só a eles servem. O que muito agrada aos governos e nos deixa reféns das asneiras alheias.



publicado às 23:12


democracia

por beatriz j a, em 18.05.09

 

 

 

   

 

Não é a crise que nos destrói. É o dinheiro

 

Mário Crespo, Jornal de Notícias

 

Nada no mundo me faria revelar o nome de quem relatou este episódio. É oportuno divulgá-lo agora porque o parlamento abriu as comportas do dinheiro vivo para o financiamento dos partidos.

O que vou descrever foi-me contado na primeira pessoa. Passou-se na década de oitenta.

Estando a haver grande dificuldade na aprovação de um projecto, foi sugerido a uma empresária que um donativo partidário resolveria a situação. O que a surpreendeu foi a frontalidade da proposta e o montante pedido.

Ela tinha tentado mover influências entre os seus conhecimentos para desbloquear uma tramitação emperrada num labirinto burocrático e foi-lhe dito sem rodeios que se desse um donativo de cem mil Contos "ao partido" o projecto seria aprovado.

O proponente desta troca de favores tinha enorme influência na vida nacional.

Seguiu-se uma fase de regateio que durou alguns dias. Sem avançar nenhuma contraproposta, a empresária disse que por esse dinheiro o projecto deixaria de ser rentável e ela seria forçada a desistir. Aí o montante exigido começou a baixar muito rapidamente. Chegou aos quinze mil Contos, com uma irritada referência de que era "pegar ou largar".

Para apressar as coisas e numa manifestação de poder, nas últimas fases da negociação o político facilitador surpreendeu novamente a empresária trazendo consigo aos encontros um colega de partido, pessoa muito conhecida e bem colocada no aparelho do Estado. Este segundo elemento mostrou estar a par de tudo. Acertado o preço foram dadas à empresária instruções muito específicas. O donativo para o partido seria feito em dinheiro vivo com os quinze mil Contos em notas de mil Escudos divididos em três lotes de cinco mil. Tudo numa pasta.

A entrega foi feita dentro do carro da empresária. Um dos políticos estava sentado no banco do passageiro, o outro no banco de trás. O da frente recebeu a pasta, abriu-a, tirou um dos maços de cinco mil Contos e passou-a para trás dizendo que cinco mil seriam para cada um deles e cinco mil seriam entregues ao partido.

O projecto foi aprovado nessa semana. Cumpria-se a velha tradição de extorsão que se tornou norma em Portugal e que nesses idos de oitenta abrangia todo o aparelho de Estado.

 

Rui Mateus no seu livro, Memórias de um PS desconhecido (D. Quixote 1996), descreve extensivamente os mecanismos de financiamento partidário, incluindo o uso de contas em off shore (por exemplo na Compagnie Financière Espírito Santo da Suíça - pags. 276, 277) para onde eram remetidas avultadas entregas em dinheiro vivo. Estamos portanto face a uma cultura de impunidade que se entranhou na nossa vida pública e que o aparelho político não está interessado em extirpar. Pelo contrario. Sub-repticiamente, no meio do Freeport e do BPN, sem debate parlamentar, através de um mero entendimento à porta fechada entre representantes de todos os partidos, o país político deu cobertura legal a estes dinheiros vivos elevados a quantitativos sem precedentes. Face ao clamor público e à coragem do voto contra de António José Seguro do PS, o bloco central de interesses afirma-se agora disposto a rever a legislação que aprovou. É tarde.

 

Com esta lei do financiamento partidário, o parlamento, todo, leiloou o que restava de ética num convite aberto à troca de favores por dinheiro. Em fase pré eleitoral e com falta de dinheiro, o parlamento decidiu pura e simplesmente privatizar a democracia.

 

 

11.Maio.2009

publicado às 20:40


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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