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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
A quantidade de homens que andam por aí a insurgir-se, em twits, blogs, no FB e em comentários dos artigos de jornais, contra a lei que criminaliza os piropos... uns dizem que há coisas mais importantes em que pensar e nisso imitam os iranianos e árabes que dizem que a questão das mulheres terem que andar todas tapadas não é uma prioridade (os direitos humanos dos outros nunca são uma prioridade...); outros argumentam que onde é que já se viu uma rapariga ou uma mulher incomodar-se por ser abordada constantemente por homens desconhecidos, mais ou menos repulsivos, que lhe fazem o favor de dizer-lhe, várias vezes ao dia, os seus anseios, hábitos e preferências sexuais pormenorizadamente.
No seu imenso narcisismo, acreditam que tratar as mulheres como coisas sexuais é um grande prazer para elas e não estão dispostos a abdicar dum hábito que alegra as suas tristes vidinhas. Portanto não entendem essa proibição dos machos perseguirem raparigas/mulheres dos 12 aos 72 anos com as suas bocas ordinárias e vão continuar a abordar as mulheres, sempre que lhes apetecer, com esses piropos pois só as feias, as gordas e as feministas é que não gostam de piropos...
Outro dia a passar à porta duma escola aqui do burgo, assisti à seguinte cena: uma professora vinha a sair e um tipo que ia a passar diz-lhe em voz bem alta, 'se fosse teu aluno andava sempre teso e lambia-te toda'. Os alunos que iam a sair atrás dela começaram a rir-se... a professora deve ter-se sentido muito lisonjeada...
Elisabete Rodrigues
Infelizmente (a provar que tem toda a razão no que diz) tem logo alguns comentários depreciativos de homens -e de uma mulher que desconfio ser homem que escreve com nome de mulher porque nenhuma mulher diria aquilo a não ser sendo mesmo estúpida [o que pode acontecer, claro]- a dizer que o problema da articulista é não ter homem, ser carente e por aí fora. Típico...
Agora o que me chocou foi ler que no vídeo promocional que a RTP exibiu a propósito das comemorações da implantação da República Portuguesa há uma cena sexista com um piropo daqueles que objectificam as mulheres. É triste.
Women getting the blame for being raped is an old story, one that, incredibly, refuses to die. When this trope is applied to children one sees misogyny in its purest form, with its belief that 11-year-old girls lure helpless men on and deserve what they get. I wrote a few months ago about the Jeremy Forrest case, the teacher who was jailed for five-and-a-half years for child abduction and sexual activity with a child, and said the scary thing was not that he was a monster but how common he could be. But at least as scary is the eagerness of people in authority to absolve rapists, even when the victim later shoots herself in the head in her mother's bed. As Cherice Moralez's mother said in a written statement after the sentencing of her daughter's rapist: "I guess somehow it makes a rape more acceptable if you blame the victim, even if she was only 14."
Misoginia - as profissões exercidas, sobretudo [ainda] por homens estão cheias deste ódio pelas mulheres, ao ponto de culpá-las, mesmo que tenham 11 ou 14 anos, pelos crimes de violação de que são vítimas, mesmo se os criminosos são homens de 50 anos. Ou porque não se vestem de naneira apropriada [?? apropriada para quem e segundo quem?] ou porque parecem mais velhas do que são ou porque eles [homens] até 'gostariam de ter uma mulher que os quisesse violar'... isto passa-se nos países 'civilizados'.
O traço que separa a o machismo da misoginia é ténue. Como se vê no nosso próprio país, as duas bloquistas que quiseram lançar um debate sobre o piropo, essa 'tradição portuguesa', no dizer de muitos homens [como se fosse uma espécie de festa dos tabuleiros] têm sido alvo de ataques e troças típicas dum machismo expresso que tenta diminuir e tornar invisível os problemas através do sarcasmo, arma agressiva que vota ao desprezo, duma assentada, os alvos e os seus intentos.
Mesmo ontem li uma crónica a propósito do assunto (O Bloco já não é bom como o milho) em que o jornalista solta o pedreiro misógino/machista que há em si (o exempo é dele, não meu - que me desculpem todos os pedreiros que não são como este jornalista): em primeiro lugar reduz as deputadas Joanna Dias e Ana Drago a miúdas giras, gajas boas, ridiculariza toda a iniciativa (provavelmente está de acordo com aquele argumento de, 'tomara eu que me mandassem piropos'), depois, em sua opinião, as mulheres reduzem-se a duas categorias, as miúdas giras e as velhas com buço (tão machista e ordinário que aqui tenho vontade de o mandar para algum sítio mesmo mau) dando a entender que as mulheres, se não forem miúdas e giras deviam desaparecer do espaço público, para não ofender a sua vista - quem se julga este tipo?) e, finalmente, sai em defesa do pedreiro que há em si, pois qual é o mal destes dizerem às mulheres, 'és tão boa'.
Pois, se fossemos falar a sério neste assunto e dizer as coisas com as palavras todas, teríamos que dizer que a maior parte das palavras e atitudes que os homens consideram 'piropos' e com que assediam as mulheres desde os doze ou treze anos (ou até antes, quando a puberdade lhes muda o corpo- estando sozinhas ou em grupo, ou até com filhos pequenos a ouvir) são extramente ofensivas e ordinárias, ouvem-se sobretudo na rua (a maioria dos homens que gosta de mandar 'piropos' não têm imaginação e são muito ordinários), mas também na escola dos colegas rapazes (devem ter exemplos lá em casa parecidos a este jornalista), e até no trabalho.
É claro que, na opinião deste jornalista, as mulheres que não ficam agradecidas com piropos devem ser velhas com buço que nunca ouviram um piropo daqueles à pedreiro ('és tão boa que te comia aqui', 'o que queria era enfiar o caralho aí dentro', 'anda cá chupa-me' e outras coisas piores que não vou enunciar, etc.) ou nunca tiveram um gajo qualquer a roçar-se nelas no metro, ou a segui-las até casa dizendo os tais 'piropos', ou outro a masturbar-se à sua frente num comboio ou no intervalo das aulas, ou segui-las até à casa de banho a dizer os tais piropos, ou tirar a pila para fora enquanto as miúdas esperam pelo autocarro ou até a dar-lhes palmadas como forma lisongeira de lhes dizer que são boas como o milho... ... e no trabalho também, há tipos que metem as mãos nos bolsos e se coçam ao pé das mulheres ou dizem alto e bom som, 'vem aí a gaja boa'... e outros mimos que não se percebe como é que as mulheres não gostam... num dia normal uma mulher, ou uma miúda a caminho da escola, pode ouvir e aturar estas coisas dez ou mais vezes, iato é, passar o dia a ser bombardeada com estas merdas insuportáveis.
O ataque que andam a fazer às deputadas do BE por causa disto já me anda a irritar e, pessoalmente, penso que há muitos homens como este jornalista ordinário que, não fora o acaso de terem nascido do sexo masculino e com pele branca numa sociedade machista e misogina, onde um ror de homens 'não se vêem a si mesmos', não teriam onde cair mortos pois, nem dizem nada de interesse sobre coisa alguma que nos informe ou faça aprender seja o que for e mais, se os julgássemos com os critérios com que eles julgam as mulheres, desapareciam quase todos da vida pública, pois são poucos os miúdos giros, bons como o milho e muitos os velhos, os feiosos, carecas, pançudos, com pelos a sair do nariz e, pior que tudo, completamente desinteressantes.
Se eu acho que faz sentido um debate que faça com que os homens percebam a diferença entre piropos e ofensas? Ah pois acho! E a prova está nesta crónica ordinária que este indíviduo escreveu, muito ufano de si mesmo e dos seus dotes de pôr as mulheres no seu lugar...
Vocês homens que são pais e têm filhas pequenas, devem saber que 'piropos' as esperam.
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