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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
kandinsky
Pangeia político é um mapa conceptual do cartógrafo amador, Massimo Pietrobon para mostrar como seria o mundo político se a Pangeia não se tivesse partido, por assim dizer, há 300 milhões de anos. Nós estamos entalados entre a Algéria e o Canadá
E daqui a 250 milhões de anos, como será o mundo, se seguirmos os movimentos das placas? A África está em rota de colisão com a Europa do Sul (ou seja, nós), assim como a Austrália com o Sudeste asiático. Talvez no futuro a Terra forme outro super-continente de proporções épicas: Amasia, Pangea Proxima ou Novopangaea?
Amasia forming over the North Pole. Source: Yale University, Nature
Gostava de ter feito as viagens ao Magreb e ao Médio Oriente no final do século XIX ou até nas primeiras décadas do século XX. Há uma magia muito grande nesses sítios e de cada vez que leio relatos de viagens dessas épocas - como o da Gertrude Bell, o do Lawrence da Arábia ou o do Capitão James Riley, só para dar os exemplos mais impressionantes- vejo essa magia multiplicada por mil.
Não sei bem porquê mas acho que se deve ao facto de que, até à véspera da Segunda Grande Guerra, não só se vivia ainda antes da serpente e da maçã, numa inocência que essa guerra matou, como ainda se tinha os pés na Antiguidade. Quer dizer, o Renascimento da Antiguidade ainda estava muito presente. Havia o ideal da procura do saber guida pela visão inteligente dos clássicos e essas viagens eram acima de tudo uma procura de raízes das coisas. Eram ao mesmo tempo uma viagem no espaço e no tempo. As próprias coisas, monumentos e isso, ainda estavam num estado que considero 'poético'... naquele esplendor da imponência isolada, rodeados de nada, antes da comercialização, das multidões de turistas e da tecnologia.
Cada viagem dessas era uma viagem ao passado. Agora é mais difícil. Por exemplo, fui ao mercado das especiarias na Turquia e todos os vendedores tinham uma máquina para embalar as especiarias no vácuo...
No sul do Egipto e ao longo do Nilo ainda se sente a magia do passado porque os templos estão no deserto e não há nada à volta. A imponência de Abu Simbel ou de Karnak ou até das pirâmides, se as virmos do lado do deserto estão intactas. E há aldeias núbias milenares que continuam tal qual como eram.
Também na Túnisia ainda se sente a magia do Sahara e das grandes dunas. Mas andei lá de 4x4 com ar condicionado... o que não tem magia nenhuma. Andei de camelo. Fizémos um passeio de umas horas e deu para ter a experiência e a intuição do que é uma viagem dessas naquele cenário absoluto.
Resta imaginar porque hoje em dia certos autores, ideias, ambientes, atmosferas e ideais parecem-se muito como os templos que vemos no Egipto, enterrados nas areias do deserto, já só com os capitéis à vista...
What I believe is that other people will continue to live after I myself have died. (Samuel Scheffler no NYT)
Se tivéssemos a certeza do fim da Humanidade, se por exemplo, a hipótese do filme Children of Man fosse real e a Humanidade enfrentasse um futuro limitado em virtude da total e irreversível infertilidade da espécie, que sentido teriam agoras as nossas vidas, o nosso trabalho, as investigações sobre doenças, sobre o Universo... não é só o passado que justifica o presente, também o futuro o justifica. Precisamos acreditar que a seguir a nós vêm outros. Talvez seja mais importante acreditar e criar condições para a perpetuação da espécie, para um futuro do Homem (sem o qual nada do passado terá tido propósito) do que acreditar e trabalhar para uma vida depois da morte.
Do Duarte :)
O historiador holandês Jo Hedwig Teeuwisse resolveu vivificar o passado para mostrar o quão perto ele está de nós, combinando imagens actuais com imagens da Segunda Grande Guerra. Algumas das imagens são poderosas e, de facto, põem o passado a correr ao nosso lado como uma força presente.
Para ver toda a série: http://www.demilked.com/ghosts-of-world-war-2-blended-into-present/
“Captain WH Hooper, who commands the Company of the 314th IR of the 79th IUS D and some of his men surround a column of German prisoners. Column takes a southerly direction, it will join the POW camps located on the plateau of the Mountain Roule, near the farm of Fieffe.”
“Rue Armand Levéel à Cherbourg.”
“Corner covered, 1943, Acireale, Sicily”
Uma pessoa olha para o passado para se compreender e para corrigir erros. Se vai a tempo de os corrigir, corrige, senão anda em frente. Agora olhar para trás para se lamentar disto ou daquilo ou remoer o que poderia ter feito diferentemente...não entendo. É um exercício inútil que só atrapalha os passos porque na altura em que tomamos as decisões tomamo-las com base no que então somos, no que sabemos e no que são os condicionalismos da altura de modo que pensar 'ah se voltasse atrás' e tal não faz sentido nenhum. Não existe o 'voltar atrás' e enquanto se fica a remoer os erros do passado não se constrói presente nem futuro.
AST Hermes Boson
Max Ferguson
Nathan Wash
A história mostra que os ditadores não abandonam o poder de livre vontade.
Porque as pessoas aceitam o seu jugo durante muito tempo acreditam que são amados ou respeitados pelo povo.
Porque as ditaduras infantilizam politicamente os povos, tornam-se paternalistas.
Porque uma claque de leais rodeiam e adulam o ditador para obter os seus favores, ao fim de um tempo estes acreditam-se superiores e indispensáveis e perdem a noção da realidade.
Os ditadores não abandonam o poder. Têm que ser empurrados. O povo egípcio está a dar mostras de uma inteligência, maturidade e paciência impressionantes, mas isso não durará sempre. Quanto mais duro o discurso do poder, mais o sentimento de repúdio se interiorizará, maior será o fosso que já os separa. Neste momento a linguagem do poder e a linguagem da rua são já mutuamente alienígenas e incomensuráveis. Mubarak usa os argumentos do passado, o povo na rua fala a linguagem do futuro. E já não há um presente comum.
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