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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
... nomeadamente no que respeita ao conceito de espécie? A mais famosa definição de espécie vem do biólogo alemão, Ernst Mayr, que enfatizou o conceito de cruzamento. Dois organismos são da mesma espécie se podem cruzar-se um com o outro e produzir descendência fértil. É por isso que um cavalo e um burro não são da mesma espécie. Cruzam-se mas não produzem descendência fértil. (f)
Se aplicássemos esta definição da biologia à política, que partidos rotulados diferentemente como, esquerda e direita, isto é, como pertencendo a espécies diferentes, seriam afinal da mesma espécie?
Todos os partidos ditos de esquerda já tiveram membros que se cruzaram com a dita direita e produziram filhos para a política: do PCP, MRPP e outros partidos mais à esquerda já muitos migraram para o PS, para o PSD e até, nestas últimas eleições, muitos passaram o seu voto da esquerda para o Chega. A questão é que não há reciprocidade simétrica.
Quer dizer, do PSD já migraram elementos para o PS sem nenhum problema na produção de descendência fértil: esse é o maior cruzamento com descendência fértil na nossa política. É por isso que, se não nos avisassem de que partido são, seríamos incapazes de distinguir, pelas suas práticas, o Gaspar do Centeno, o Costa do PPC, etc.
À esquerda há muitos cruzamentos férteis: ente PCP, BE, PS e outros mais à esquerda há grande promiscuidade. À direita também há cruzamentos: entre o CDS e o PSD.
No entanto, do CDS ou de outros partidos mais à sua direita, que eu tenha conhecimento, ninguém se cruza com a esquerda, seja o PCP, o BE ou até mesmo o PS que é um partido com uma zona tão igual ao PSD que existe muito crossover, na sua meiose.
Por conseguinte, se pudéssemos aplicar esta definição da biologia à política, diríamos que à esquerda do CDS é tudo da mesma espécie... mais penas, menos penas, mais bico, menos bico, é tudo inter-cruzável com possibilidade de descendência fértil, como os ursos polares e os cinzentos que se pensava serem de espécies diferentes por teram dietas diferentes, tempos de hibernação diferentes, etc., mas que agora, com o degelo, têm-se cruzado e produzido descendência fértil.
A grande diferença que se vê entre a biologia e a política é que os cruzamentos desta última têm produzido decadência de ambas as espécies originárias, ao ponto de já não distinguirmos uma da outra, a não ser pela pelagem de cor diferente com que se vestem, o que é um atributo menor e sem nenhum peso ao nível dos princípios.
A questão é: vistas as coisas deste ponto de vista, até que ponto podemos confiar nos rótulos que os partidos se atribuem como medalhas de mérito e atribuem aos outros como ofensas?
Dantes nós votávamos em partidos individuais e havia, grosso modo, cinco em quem votar. O voto útil era possível.
Se não queríamos um dos partidos da governação (PSD ou PS) com maioria absoluta votámos num dos partidos mais pequenos, sabendo que um governo minoritário era obrigado a atender as vozes da oposição e sabíamos que o pequeno partido no qual o partido do governo se apoiava para governar, fazendo acordos, era mesmo oposição e tinha verdadeiro peso negocial.
Agora votamos em coligações e em vez de cinco opções possíveis de voto só temos duas: ou a coligação de esquerda, como a que lá está ou, uma alternativa, idêntica, de direita. Só temos duas opções e deixou de haver voto útil, uma vez que votar BE ou PCP ou CDS é igual a votar numa coligação (seja a de esquerda ou a de direita) que perfaz uma maioria absoluta no Parlamente onde os coligados, comprometidos formalmente com o partido que apoiam no goveno, não fazem oposição a não ser de cosmética e são uma extensão da vontade absoluta do partido governante.
Este novo arranjo político diminuiu o horizonte de possibilidades democráticas do país e é por isso que nem uma única pessoa com quem falo sabe onde votar nas próximas legislativas. Ninguém quer, nem a outra coligação que lá esteve (foi para tirá-la de lá que votaram em partidos da esquerda) nem esta que lá está que veio a ser igual ou pior, em termos de destruição dos bens e serviços públicos e, de reforço do clientelismo, que a outra.
A não ser que apareça uma nova força política ou que se alterem as regras das eleições e possamos eleger deputados que respondam mais a nós que ao líder partidário, há ninguém em quem votar.
Na realidade, esta coligação (a geringonça) que tanto é elogiada pelos próprios que a constituem e por outros na Europa piorou o nosso sistema político em termos de vitalidade democrática e, por consequência, possibilidade de regeneração política que permita que possamos sair deste marasmo de corrupção, clientelismo e amiguismo, uma autêntica inversão perversa do utilitarismo, em que estamos presos.
A não ser que se seja um crente desses partidos ou, um cego, todo o voto agora é inútil...
São uma espécie de seitas cujas prioridades são:
1. a sobrevivência do grupo no poder;
2º a promoção dos amigos a apoiantes a cargos e negócios vantajosos;
3º a colecta de dinheiro para os fundos do partido;
4º a resolução dos problemas do país. Esta vem lá tão longe e está tão condicionada pelas outras que fica sempre relegada para o fim e é atraiçoada sempre que os outros interesses estão em causa.
Costa e o seu Governo contam, de facto, com o ovo no dito cujo da galinha com uma vantagem supletiva: no caso de não existir ovo, ou seja, aprovação do Orçamento do Estado pela esquerda, Costa tem neste momento a possibilidade de alcançar uma maioria absoluta.
O PCP já percebeu e desistiu de associar a reposição do tempo de serviço dos professores à aprovação do Orçamento do Estado. Qualquer radicalização por parte dos partidos à esquerda do PS ajuda António Costa e pode prejudicar seriamente os parceiros do Governo. O BE, por exemplo, ainda precisa de tempo para que a memória sobre o caso Robles se desvaneça.
seitas -
O sociólogo inglês Roy Wallis [7] argumenta que uma seita é caracterizada por "autoritarismo epistemológico": seitas se definem como fonte de autoridade para a atribuição legítima de heresia a outros grupos. De acordo com Wallis, "seitas estabelecem uma reivindicação de possuir acesso exclusivo e privilegiado à verdade ou a salvação e seus adeptos comprometidos normalmente consideram todos aqueles que estão fora dos limites da coletividade como "um erro".
Normalmente os adeptos de uma seita negam que esta seja um grupo sectário, pois acreditam que suas visões de mundo consistem na verdade plena.
Comumente, as seitas adquirem atributos religiosos como a aderência a um líder, formulação de um corpus de ensinos aceitos e ratificados por suas autoridades, promoção de eventos socializadores, disposição de símbolos identificadores comuns, sentimento de superioridade em relação aos não-membros, noção de oposição entre sagrado/profano no sentido proposto por Durkheim, Eliada e Otto.
Wiki
Como é que há-de haver dinheiro para quem trabalha se os parasitas chupam tudo?
Em sentido inverso, os boys ‘laranjas’ teriam emprego nas juntas de freguesia, conquistadas pelo PS. Muitos destes cargos são fictícios e existem dezenas de assessores, nas juntas de freguesia, Câmara e Assembleia Municipal de Lisboa, que recebem entre dois a três mil euros liquidos mensais, sem nunca terem realizado qualquer tipo de serviço.
Para quem trabalham os deputados? Para os partidos políticos...
Se o PS for indigitado vai revogar estas nomeações para pôr lá os seus boys mais uns do BE e do PCP. Saem os boys do PSD/CDS entram os do PS/PCP/BE. Não percebo em que é que isso é bom para nós que pagamos estas danças de cadeira partidárias.
Nestes últimos dias tenho lido que os portugueses foram irresponsáveis a votar, que queriam uma coligação de esquerda, que não queriam uma coligação de esquerda, que ao votarem assim não querem a democracia, que a esquerda é lírica e age com pena dos pobrezinhos, que a culpa é da direita, que o povo não percebe de política...
Se calhar o que os portugueses não querem é voltar a dar maiorias absolutas a partidos porque aqueles que tiveram o voto dos portugueses nesse sentido não o usaram com responsabilidade e mostraram o perigo que é ter um partido com maioria absoluta - porque os partidos, em Portugal, pelo menos, não têm uma cultura democrática e não sabem ter maioria absoluta sem resvalar para o autoritarismo ditatorial ou paternalista.
Agem como se não tivessem que governar para todos os portugueses, como se não houvesse uma oposição que representa 30 ou 40% dos que votaram, como se a democracia e o Parlamento não fossem lugares de discussão, de compromissos, de cedências.
Quem não se lembra da maioria absoluta do PS de Sócrates onde nem ele nem os ministros se davam, sequer, ao trabalho de ouvir a oposição ou os movimentos e organizações sociais; quem não se lembra de ele e os seus ministros irem para o Parlamento ofender deputados da oposição, com gozos, desde chamar nomes a fazer 'cornos' às pessoas; quem não se lembra que aquela Lurdes Rodrigues já nem se dava ao trabalho de falar com os sindicatos, mandava um secretário qualquer ouvi-los e não queria saber do que diziam e só voltou a falar com eles depois das grandes manifestações de professores; quem não se lembra dos gastos dos gabinetes, das PPP, dos amigos todos sentados no poder, dos abusos de poder...
E quem é que não se lembra deste governo ter chegado ao poder a cortar salários, subir impostos, despedir em massa ao mesmo tempo que chamava sabotadores aos críticos, gozava com as pessoas a chamar-lhes maricas, dizia coisas do género, 'se não estão aqui bem emigrem'; quem não se lembra do Vítor Gaspar dizer que a culpa da crise eram os portugueses viverem acima das possibilidades; quem não se lembra das tentivas de manipular o TC sem o qual estávamos todos indigentes a pedir no meio da rua; dos dois milhões de crianças com fome, os 400 mil jovens emigrados, da arrogância com que cortavam e ainda diziam que era pouco; das ofensas a todos, desde a oposição ao povo que os elegeu; quem não se lembra da destruição da educação pública, da debandada de médicos e enfermeiras para fora do País, tudo feito com discursos de certezas absolutas.
E não parece que o PCP ou o BE seriam diferentes: o PCP sempre foi um partido de paternalismo não-democrático [como se vê pela actuação dos seus sindicatos] e o BE é um partido de intelectuais que dá mais importância ao facto de ter razão que ao interesse das pessoas.
Pois este é o problema pelo qual não têm maiorias absolutas e pelo qual não se responsabilizam -se calhar nem vêem o problema, de tal maneira vivem nos meandros dos interesses pessoais e partidários- e ainda têm o descaramento de responsabilizar o povo, que é quem paga na carne estes erros, por não terem votado como queriam ou lhes agradaria.
Pior é que esta cultura de autoritarismo não-democrático, de recusa em aceitar visões diferentes, de recusa em discutir, de denegrir e caluniar críticos e atirá-los para o canto dos sabotadores ou rudes ou o que seja, tem vindo a infectar todos os domínios da sociedade, todas as áreas de trabalho e, a corrosão é já por demais evidente, mesmo com as tentativas de máscara dos intervenientes e dos seus cúmplices, activos e passivos.
Se os partidos não querem fazer um exercício de auto-crítica e mudar as suas práticas, não façam, mas não culpem os portugueses pelas vossas ambições e arrogâncias partidárias.
Já contribuí, por duas vezes, há muito, muito tempo, desde que voto, para maiorias absolutas. Nunca mais o fiz, nunca mais o faço. Só se for necessário para defender a indepedência do País. Caso contrário, nunca mais. Os políticos que temos não sabem usar democraticamente o voto de maioria absoluta. Mas lá está... na opinião dos 'doutos' dos partidos eu devo fazer parte do povo ignorante que não percebe que o melhor para o País é aceitar o que os políticos dizem porque 'eles é que sabem, eles é que estão lá, eles é que estão por dentro das coisas'.
ou... riscar todos os nomes/símbolos partidários, acto que estará mais de acordo com o que penso e quero dizer.
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