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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
(sem comentários. O Costa e o DeBorla são isto, nos negócios com bancos e grandes destrutoras empresas batem qualquer política de direita aos pontos...)
A única certeza é que se algo correr mal, governos e supervisores vão dizer-nos que fizeram tudo o que a lei lhes permitia. Foi assim do BPN ao BES. Agora não será diferente.
Estas terras pedem socorro. E o socorro de que precisam não são bombeiros, mas administração pública.
"O Público errou": é através desta coluna que o jornal se costuma explicar. É também através dela que, amanhã, deveria retratar-se dos erros que cometeu. Ou seja: números de manifestantes falsos, presença no palco da manifestação de pessoas que nunca lá estiveram, dados oficiais da psp que nunca existiram,...
Explicações precisam-se.
via Os truques da imprensa portuguesa
Cardeal-Patriarca de Lisboa fala pela primeira vez de financiamento a escolas privadas
O cardeal-patriarca de Lisboa acrescentou ainda, durante a homilia na missa celebrada no Patriarcado por ocasião da Festa da Vida e da Família, que os pais de crianças em escolas privadas “são tão contribuintes como os outros e também financiam as escolas estatais”.
Ao pé desta movimentação 'lobista' o Nogueira é um baby. Só falta arregimentarem a Merkele ou a Lagarde para a pressão. O que tem graça é ver os que sempre defenderam a iniciativa privada e se queixam dos que vivem do subsídio, que nos custa a todos, a defenderem eles mesmos o subsídio... enfim, quase defendem o comunismo onde tudo é pago pelo público.
No dia em que tiver que pagar os colégios particulares dos outros com o meu salário congelado, começo a ir com os filhos para hotéis de 5 estrelas, a comer em restaurantes de 5 estrelas, a fazer tratamentos de spa de 5 estrelas e mando a factura para o sr. primeiro-ministro. Afinal, porque é que só os abastados têm direito a hotéis de 5 estrelas? Eu não sou uma pagadora de impostos?
O Estado tem o dever de contribuir para a igualdade de oportunidades e para a formação de cidadãos nos princípios da democracia portuguesa e, daí, a obrigação de ter uma escola pública de qualidade cuja finalidade não é o lucro em dinheiro mas, o lucro em cidadãos que perpetuem o país e o melhorem em termos sociais, humanistas, económicos, etc.
Com que sentido é que o Estado depaupera a escola pública, despede professores, fecha escolas, etc. falhando os seus deveres para agradar à iniciativa privada, seja esta a Igreja ou sejam cooperativas de ensino viradas para o lucro?
Luís Marques Mendes comenta os rankings da escola: diz que os colégios só aceitam certos alunos, expulsam a meio do ano os fracos, que as escolas em contextos mais ricos têm melhores notas, que se sabe que nesses contextos ricos os alunos sempre que precisam vão para explicações (porque podem pagá-las) e, no fim... conclui que a solução é a gestão privada, que há que levar as práticas privadas para a escola pública!! Isto é para rir... então, o fosso entre ricos e pobres acentuou-se, as escolas públicas, onde andam os pobres pioraram os resultados, as privadas, onde andam os que estão do outro lado do fosso, como se isso não chegasse ainda fazem batotas para andar à frente como mandar embora para o público os fracos e ele conclui que a solução é dar gestão privada às escolas...? Com fundos públicos...? Está a gozar??
Se os colégios privados fossem obrigados a tornar públicos os dados dos seus alunos e das suas práticas estes falsos argumentos acabavam-se logo.
Dito isto, acrescento que a gestão das escolas públicas, onde a prioridade da tutela é manter nas escolas submissos executores especialistas em meter dados em aplicações e em obedecer, deu origem a estruturas cheias dos vícios, em ponto pequeno, dos poderes centrais: trabalhar para inglês ver e para manter os amigos nos cargos sem atritos. E não me parece que isso vá mudar para melhor com as políticas mercantilistas que tomaram conta da educação.
Está tudo chocado por estes indivíduo ir ganhar 30 mil euros de salário para vender a 'coisa'. A mim o que me choca é o facto de ele ir ganhar o mesmo que já ganhava na CGD, ou seja, choca-me que ele ou outro qualquer tenha tido ou ainda tenha esse salário num banco ou empresa públicos, como é a CGD. Se o banco fosse privado e não viesse depois pedir ajuda aos contribuintes para pagar as suas loucuras, como fez o do BESgate, cá por mim até podia ganhar 100 mil euros por mês, agora num banco público... estamos em crise e austeridade, o meu salário está cortado, a carreira congelada e pago esses salários a uns tipos para gerirem bancos? E, quantos administradores acabadinhos de sair de governos se vão entachar aí com esses salários? Isso é que me choca!
“Estas coisas são privadas e não são para estar permanentemente na comunicação social”, disse Guterres aos jornalistas.
Esta coisa de figuras públicas que ocupam regularmente cargos públicos que decidem das nossas vidas e pagos por todos nós acharem que o que fazem publicamente é um assunto que só a eles diz respeito explica muito da desresponsabilização que se outorgam.
Uma pessoa que já foi deputado e primeiro ministro e que terá ainda carreira pública no País ou em representação, declarar-se amigo de um outro que também o foi e que está acusado de ter roubado o País no exercício do cargo, não é um assunto privado. Interessa-me saber quem são os amigos e associados das figuras públicas uma vez que esses amigos exercem sempre grande influência nos nossos destinos quando os outros ocupam lugares de poder com acesso a dinheiro.
Das duas uma: ou os que estiveram nos governos e no partido com Sócrates e nele confiaram estão muito surpreendidos com a gravidade das coisas de que o acusam e, então, é difícil compreender que continuem a apoiá-lo como se os actos de que é acusado fossem de menor importância e não uma enorme traição, o que me faz não ter um átomo de confiança nestas pessoas ou, não ficaram nada surpreendidos, o que dá a entender que sempre souberam e não achavam nada de mal, o que me faz não ter um átomo de confiança nestas pessoas...
Como são pessoas que continuam na vida pública, interessa muito ao público saber não só quem são as pessoas mas também quem são os seus aliados porque estas coisas custam muito caro ao tal público que constitui o País.
Logo, não é um assunto privado.
O Chomsky do Mondego!
In a masterly essay in the New Statesman two weeks ago, David and George Kynaston demonstrated, beyond challenge, that the wonderfully liberating education offered by our great public schools is overwhelmingly the preserve of the wealthy.
I write as an enthusiastic admirer of the education these schools provide. Their cultivation of intellectual curiosity, insistence on academic rigour and provision of character-building extracurricular activities help students to succeed in every field.
But while the education these schools provide is rationed overwhelmingly to the rich, our nation remains poorer. From the England cricket team to the comment pages of the Guardian, the Baftas to the BBC, the privately educated – and wealthy – dominate. Access to the best universities and the most powerful seats around boardroom tables, influence in our media and office in our politics are allocated disproportionately to the privately educated children of already wealthy parents.
We have one of the most stratified and segregated education systems in the developed world, perpetuating inequality and holding our nation back.
Onde o interesse ou o investimento público se retiram há sempre forças, privadas, que invadem o terreno que vêm vazio e ao abandono para levar a cabo as suas agendas pessoais.
É assim no caso da educação, é assim no caso da saúde, é assim no caso da economia, é assim no caso das bolsas de doutoramento e de investigação.
É sabido que as ideologias económicas -parece-me que têm que ser assim chamadas pois, como tal, são implementadas e defendidas- que nos (des)governam foram o fruto de teses de doutoramento pagas com bolsas de estudo da Goldman Sachs e outras companhias do género, que se chegaram à frente, não para custear investigação isenta ou de interesse público mas, para desenvolver projectos com intenções financeiras privadas, calculadas. Vem isto a propósito de hoje ter lido que a investigação dos antibióticos está em queda livre (com tudo o que isso implica de custos para a saúde humana), pelo facto das companhias farmacêuticas, que são quem financia as teses de doutoramento e as bolsas de investigação científica, desde que os Estados se demitiram desse serviço público, terem interesse na investigação dos "fármacos para as doenças crónicas que são os que rendem muito".
Na educação é o mesmo. Desde que o Estado se retirou ou está a retirar do terreno e a abandonar um projecto de educação pública, as instituições privadas avançam na oferta de serviços educativos, não para prestar um serviço público mas para levar a cabo uma agenda de interesses próprios, privados, que nada têm que ver com liberdade de escolha.
Isto merece uma reflexão profunda em volta das consequências deste abandono de território por parte do Estado, desde logo, do ponto de vista dos próprios princípios republicanos e laicos com que queremos (?) governar-nos. Porque, é isso e não a liberdade de escolha de serviços competentes que está aqui em causa.
A educação pública não é uma questão de escolha. Não se escolhe ter um Estado repúblicano, laico e, democrático, porque isso já foi objecto de escolha, de modo que a educação pública, submissa a esses princípios que tanto nos custaram a conseguir, é uma obrigação que temos para com as gerações futuras. Não cabe ao Estado dizer aos cidadãos que, se quiserem, podem antes escolher escolas privadas. Cabe ao Estado assegurar uma rede de escolas públicas que funcionem bem. Mais nada. Quem quiser ter escolas privadas ou, pôr os seus filhos em escolas privadas, que os ponha. É justamente para isso que o Estado, que somos nós, tem que assegurar, não como uma escolha, a continuação, idealmente imarcescível, dos princípios da res publica e democrática numa escola pública de qualidade.
Dinheiros públicos, vícios privados - reportagem da TVI
Enquanto se diz que não há alunos e é preciso despedir professores, enviam-se os alunos para o privado com o pretexto das escolas públicas estarem lotadas de alunos.
As pressões sobre os professores que fazem tudo desde tirar cafés a fazer trabalho de arrumação e limpeza com horários ilegais. Tudo sob as ordens de ex-secretários de estado e ex-directores de DREs.
Quem se admira que a educação esteja no estado em que está?
No meio disto tudo uma certeza fica: nada do que é feito na educação é para o interesse dos alunos. Nadinha.
Tudo uma vergonha.
A escola pública tem uma grande vantagem: sabe-se o que lá se passa. O ministério sabe. Os pais sabem. A sociedade sabe.
Entroikado. A palavra não existe na língua portuguesa. Nem antes nem depois da “coisa” (leia-se Acordo Ortográfico). Confirmei no dicionário.
Entroikado. A palavra não existe na língua portuguesa. Nem antes nem depois da “coisa” (leia-se Acordo Ortográfico). Confirmei no dicionário. Se existisse estaria impressa na página 633 do Dicionário da Língua Portuguesa (Porto Editora, 8.ª edição). Acima teria por companhia mais próxima a palavra “entrizar-se” e abaixo a palavra “entroixar”.
Ou seja, ficaria entalada entre erguer-se para resistir e fazer trouxas, embrulhar.
Que deliciosa coincidência, uma palavra que não existe poder ficar entalada entre duas reais que hoje tanto lhe dizem respeito.
Entroikado. Viver apertado entre as ordens de um triúnviro internacional chamado para colocar ordem num país que vivia acima das suas possibilidades enquanto o seu Governo cantava alegremente vezes sem conta ter vencido uma crise que crescia sem parar. Viver calcado entre o aço de uma bigorna de um executivo de duas cabeças, em que uma se gaba de ser mais papista que o Papa e a outra não tem certezas sobre se o caminho que está a ser seguido leva ao Paraíso ou ao Inferno.
Viver, enfim, em tempos novos. Em tempos de incerteza, de reinvenção, de luta, de tomar decisões para uma vida. De se erguer e resistir, ou de calar e embrulhar.
Viver entroikado quer relatar semanalmente a vida dos que lutam e dos que entroixam.
Por mim, esta semana estou entre os que resistem. Acima de tudo contra o Papa. Saber se Maria, a mãe de Jesus, era virgem, como garante Bento XVI no seu novo livro, diz-me pouco. A possibilidade de a estrela de Belém não ser um milagre mas apenas uma supernova também não me aquece nem me arrefece. Já o facto de Sua Santidade me vir dizer agora que o burro e a vaca não estavam no local onde o Menino nasceu e que não foram os seus bafos que o aqueceram naquela noite fria de há quase 2012 anos tira-me do sério. Abate a tiro uma parte da minha vida.
Já tinha decidido que, este ano, o Gaspar ficava de fora do meu presépio. Agora, em protesto, sai a troika toda. O Gaspar, o Belchior e o Baltazar não cheiram o musgo. Não há ouro, incenso, mirra e camelos para ninguém. A vaca e o burro lá continuarão junto às palhinhas.
... mas publicam-no na mesma em grandes letras como se fosse válido... com que objectivo...? Defender o ensino privado...? A degradação do ensino público...? A quem interessa isto? Não à sociedade em geral, nem aos pais em particular.
Enaquanto participantes duma sociedade democrática e enquanto pais, no dia em que a educação pública desaparecer, ou degradar-se e ficar inconsequente, desaparece também uma parte importante das condições da democracia e da possibilidade dos filhos alterarem, para melhor, as suas condições iniciais de vida.
Que controlo e que possibilidade de intervenção têm os pais numa escola privada...? Nenhum. Numa escola pública, por o ser, há mecanismos de observação e intervenção democráticos.
Por Paulo Moura, no Cairo
Nas dezenas de checkpoints anteriores tínhamos conseguido passar, apesar de a presença de um estrangeiro no pequeno Daewoo vermelho de Ahmad suscitar grande excitação. Mas via-se logo que aquele era um checkpoint que se levava muito a sério. Eram dezenas de homens armados com paus e olhares a raiar a demência.
Depois de muita gritaria com Ahmad, o meu tradutor, pediram-me o passaporte, que alguém levou, fizeram-me sair do carro, para me revistarem. Um homem de gel no cabelo perguntou com a voz sinistra que deve ter aprendido em interrogatórios policiais: "O que veio fazer a este país, sir?" Depois surgiu alguém que gritava mais alto que todos, que me fez entrar para o banco traseiro do carro. Sentou-se no da frente e dois homens instalaram-se a meu lado. Um tinha um penso no nariz e outro sangrava da cabeça. Deram instruções a Ahmad para seguir por um labirinto de ruelas, através de um bairro escuro, cheio de homens armados com bastões e ferros. Silêncio no carro. À passagem, ouvi alguém dizer-me lá de fora, em inglês: "Eles vão matar-te."
(continua)
Esta crónica é do mesmo jornalista que escreveu o artigo sobre a criação de cães Serra da Estrela, em Dezembro passado. Esteve preso no Cairo. Confirma-se que tem bom olhar e escreve bem. É um prazer lê-lo.
Por Paulo Moura
Não há ninguém na serra. Basta subir da Covilhã para as Penhas da Saúde, e daí até à nave de Santo António, para que dos seres humanos desapareça qualquer vestígio. O nevão da noite fechou a estrada para a Torre, só é possível seguir em direcção a Manteigas, dobrando a curva do Covão da Ametade, onde nasce o Zêzere, em jorros do peito rochoso do Cântaro Magro, continuando pelo vale glaciar do rio, cavado por 20 mil anos de degelo.
A neve acentua os contornos dos pinheiros e das rochas, do matagal de fetos e giestas, das escarpas húmidas ensombrando a turfa de cervum, as imensidões de urze, argençana, orégãos e zimbro rasteiro, cobrindo tudo de estranhas tonalidades azuis e rosa. Ninguém. A temperatura desceu para os quatro graus negativos, as nuvens deslocam-se no céu a uma velocidade frenética.
Subindo de Manteigas para as Penhas Douradas, e daí acompanhando o vento rumo a Gouveia, cortando para Seia, e enveredando pelo Sabugueiro, experimenta-se a solidão altiva e soberana de um mundo inabitável. Um planeta onde a vida, há milénios extinta, ensaiasse agora um absurdo recomeço. Dá a impressão de que a serra foi abandonada. Corrompida no ancestral equilíbrio que dava aos homens também o seu lugar. E que dessa traição ela se vingou, abandonando os homens também.
(continua)
Henrique Neto tem 74 anos e é militante do PS há cerca de 20. Mas é também um empresário da Marinha Grande, tendo criado a Iberomoldes em 1975, uma exportadora de moldes, de componentes para automóveis e de engenharia de produtos.
Em entrevista ao PÚBLICO, voltou a não poupar críticas às políticas económicas deste Governo. Diz que só os estadistas sabem ouvir os "críticos" e acrescenta que o chefe de governo utilizou um optimismo "bacoco e inconsciente" para esconder os problemas.
Desde o Governo de António Guterres, tem participado nos congressos do PS apresentando moções críticas para as políticas na área económica, por as considerar desajustadas das necessidades do país. Como vê a actual situação?
Com grande preocupação. Como português que gosta muito do seu país, não posso deixar de lamentar as oportunidades perdidas e os erros cometidos. Infelizmente, os nossos governantes não sabem da importância de ouvir os críticos, que é uma qualidade que está apenas ao alcance dos estadistas.
Como é que explica que, apesar dos avisos, o Governo tenha ignorado o impacto que a crise financeira iria ter na economia nacional?
Não há uma resposta simples para essa questão. Penso que é um misto de falta de sentido de Estado, de ignorância, de voluntarismo e de teimosia e, porventura mais importante, de falta de convicção sobre o interesse geral a que muitos chamam patriotismo.
Como avalia as linhas gerais propostas pelo Governo para reduzir o défice do Estado em 2011?
Pelo que se ficou a saber, certo é apenas que os portugueses pagarão, em 2011 e nos anos seguintes, os erros, a imprevidência e a demagogia acumulada em cinco anos de mau Governo. É por isso que, nestas circunstâncias, falar da coragem do primeiro-ministro e do ministro das Finanças, como alguns têm feito, é um insulto de mau gosto a todos os portugueses que trabalham, pagam os seus impostos e vêem defraudadas as suas expectativas de uma vida melhor. As medidas propostas, sendo inevitáveis, dada a dimensão da dívida e a desconfiança criada pelo Governo junto dos credores internacionais, não tocam no essencial da gordura do aparelho do Estado e nos interesses da oligarquia dirigente. Mas o pior é que estas medidas, pela sua própria natureza, não são sustentáveis no futuro e não é expectável que, com este Governo, se consiga o crescimento sustentado da economia.
Acredita na execução orçamental de 2010?
Tanto quanto se sabe, o Governo não cumpriu as medidas acordadas com o PSD, do lado da despesa, no PEC (Plano de estabilidade e Crescimento)1 e no PEC 2. Mas, como todos sabemos, a contabilidade governamental é elástica e algumas das medidas agora apresentadas terão efeito ainda este ano, pelo que seria um absurdo indesculpável o Governo não cumprir o objectivo do défice para 2010.
Quais os efeitos das medidas anunciadas na economia real?
Os livros de Economia ensinam que estas medidas matam qualquer economia, e essa é uma razão adicional para as evitar em tempo útil, com bom senso e boa governação. Em qualquer caso, temos a vantagem de ser um pequeno país e acredito que as empresas têm condições para salvar a economia portuguesa. Mas, para isso, precisam de uma estratégia nacional clara e coerente, um Estado sério e competente que defenda o interesse geral e uma profunda reforma ao nível da exigência educativa. O objectivo principal terá de ser subir na cadeia de valor através da inovação e de recursos humanos mais qualificados.
Continua a haver risco de Portugal necessitar da intervenção do FMI?
Um Governo que deixou chegar as finanças à presente situação, dificilmente evitará a vinda do FMI.
Partilha da opinião dos que defendem que o melhor contributo que o Governo pode dar à economia é consolidar as contas públicas?
A consolidação das contas públicas é uma condição necessária mas não suficiente. Apenas o crescimento sustentado da economia abrirá novas perspectivas aos portugueses. Mas, neste domínio, José Sócrates iludiu, durante cinco longos anos, todos os reais problemas da economia através de um optimismo bacoco e inconsciente.
Não o fez apenas por ignorância, mas para servir os interesses da oligarquia do regime, através da especulação fundiária e imobiliária, das parcerias público-privadas, dos concursos públicos a feitio, das revisões de preços e de uma miríade de empresas, institutos, fundos e serviços autónomos, além das empresas municipais. Regabofe pago com recurso ao crédito e sem nenhum respeito pelas gerações futuras.
Como se resolve o dilema: estimular a economia e equilibrar as contas públicas?
Nas actuais condições de endividamento, dificilmente se conseguirão ambas as coisas. Por isso a dívida pública que os últimos governos deixaram acumular deveria constituir crime público. Porque nos tornou dependentes dos credores internacionais e coloca em causa o bem mais precioso de qualquer país, que é a independência nacional. Que, no caso de Portugal, tem mais de oito séculos e custou muito sofrimento. Aliás, por isso, e talvez não por acaso, infelizmente, são cada vez mais frequentes as tiradas vindas de alguns sectores apregoando que o país não é viável e que os portugueses não se sabem governar, ou que a solução dos nossos problemas passaria por uma qualquer união ibérica.
É possível cumprir as metas orçamentais sem aumento de impostos que permitem receitas imediatas?
Teria sido possível se a previsão fizesse parte do léxico do Governo de José Sócrates. Mas como, a três meses do final do ano, o ministro das Finanças ainda precisa de medidas adicionais e pede à oposição que lhe indique onde cortar na despesa, a resposta é não, no curto prazo, os impostos adicionais são inevitáveis.
Das declarações do Governo, ficou com ideia de que ele deixou cair o investimento público associado às grandes obras, TGV e aeroporto?
A ideia com que se fica é que o primeiro-ministro não leva em conta o interesse nacional, mas os interesses dos grupos de pressão dos sectores financeiro e das obras públicas, o que é a única explicação para a dimensão dos erros cometidos. Estamos a construir mais auto-estradas que ficam vazias e sem carros e um TGV com um traçado que não favorece a economia, ao mesmo tempo que nada foi feito para termos um porto de transhipment e transporte ferroviário de mercadorias para a Europa, investimentos cruciais em logística, para podermos ambicionar atrair mais investimento estrangeiro e desenvolver uma verdadeira capacidade exportadora. Em qualquer caso, contra toda a sanidade económica e financeira, o Governo não parou a maioria das obras programadas e utilizará o fantasma das indemnizações aos empreiteiros para as não parar.
Durante as últimas eleições, Passos Coelho desalinhou com a liderança do PSD da altura e veio também defender os grandes investimentos públicos como o TGV?
Infelizmente, Portugal está na senda de escolher jovens primeiros-ministros que não sabem do que falam. O que é agravado pela inexistência de uma estratégia nacional integradora das grandes decisões de investimento público. Desta forma, os investimentos são encarados como obra pública avulsa, o que conduz a cada cabeça cada sentença. Pedro Passos Coelho é parte desse problema, que, além disso, permite as constantes mudanças de opinião.
O que diz é que o jogo político entre as altas figuras que lideram o PS e o PSD se tem sobreposto ao desenvolvimento do país?
É inegável que existe um bloco central inorgânico na política portuguesa, que defende interesses privados ilegítimos e permite a acumulação de altos e bem pagos cargos na administração do Estado e nas empresas do regime. O que é facilitado pelo chamado centralismo democrático praticado nos diversos partidos políticos e pela habitual passividade e clubismo do povo português. Nesse capítulo, atingimos o ponto zero da moralidade pública e não vejo como será possível colocar a economia portuguesa no caminho do progresso e do crescimento, com algumas das principais empresas e grupos económicos a poderem ter relações privilegiadas com o poder político e a ser-lhes permitido fugir da concorrência e dos mercados externos, por força do clima de facilidade e de privilégio que detêm no mercado interno.
Nos últimos anos, chamou várias vezes a atenção para a promiscuidade dos grandes interesses privados com altas figuras do Estado. O cidadão tem a ideia de que não paga essa factura. O facto de o cidadão ser chamado agora a pagar a factura vai ter consequências?
Não sei quando é que os portugueses dirão "basta!". Mas sei que o maior problema resultante da imoralidade das classes dirigentes é a pedagogia de sinal negativo que isso comporta. Infelizmente, muitos portugueses têm a tentação de pensar que, se alguns enriquecem de forma fácil e rápida por via da sua actividade política, isso também lhes pode acontecer a eles no futuro. Fenómenos como o BPN e o BPP têm muito a ver com esta amoralidade geral reinante. Por outro lado, como pode o cidadão comum combater a corrupção, se o próprio Governo não fizer o que deve e pode para encabeçar esse combate, como ainda aconteceu recentemente?
jornal i
Esta última é favorecida pela crescente municipalização do ensino público no nosso país. A escola tenderá a ficar refém de directores pouco escrutinados e da lógica clientelar de muitos municípios. Em conjunto, terão, no futuro, poder para contratar e despedir pessoal docente e não-docente cada vez mais precário. Juntem a isto o crescente peso do ensino privado, promovido pelo escandaloso aumento do financiamento público directo (que passou de 30 milhões de euros em 2000 para 221 milhões em 2007) e pelos regressivos benefícios fiscais às despesas privadas em educação, ou os pouco informativos rankings de escolas que, apesar de se prestarem a todas as manipulações, captaram o imaginário social.
Estão assim reunidos alguns dos ingredientes para uma receita de desastre feita de incentivos à selecção e exclusão dos alunos pelas escolas públicas, imitando as práticas das escolas privadas, de acordo com o capital económico e cultural das famílias, determinante no sucesso escolar, ou com as necessidades dos alunos. O reforço da uniformização das escolas - escolas para ricos e escolas para pobres -, num país desigual e com taxas recorde de pobreza infantil, será imparável. A qualidade do ensino e dos desempenhos degradar-se-á à medida que as relações cooperativas se tornarem mais difíceis numa escola obcecada pelo controlo, pela mensuração intrinsecamente redutora e pela concorrência.
A esquerda que defende a escola pública democrática, exigente e de qualidade terá de ser capaz de reverter este processo. Podemos começar com simplicidade: acabar com o financiamento directo e indirecto ao ensino privado.
Economista e co-autor do blogue Ladrões de Bicicletas
É isto que ele diz,sem pôr nem tirar. Mas impressiona ver a injecção de milhões no ensino privado em simultâneo com o desinvestimento no ensino público - e, claro, as consequências que estão à vista de todos que não são 'burriciegos' como se diz na gíria taurina.
Estes 4 anos de Sócrates e Mª Lurdes Rodrigues foram um crime no que respeita à educação - o maior desrespeito pelo direito à educação, pelo direito à oportunidade duma vida melhor. A indiferença pelo destino dos outros.
Mete nojo, isto.
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