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Nunca mais fomos aos putos...

por beatriz j a, em 15.08.15

 

 

 

Quando era muito mais nova, há mais de vinte anos, tínhamos o costume, quando vínhamos aqui para o Algarve, de sair da praia, uma vez por semana, lá pelas quatro da tarde e ir directamente aos putos comer ostras. Os 'putos' eram dois miúdos que ajudavam o pai com as ostras, as amêijoas, os camarões e outras coisas necessárias. 

 

Chegávamos a Cacela-a-Velha e às vezes ainda a porta estava fechada. Dávamos uma volta à Igreja, espreitávamos lá para baixo para a praia deserta (onde íamos de vez em quando) para ver se já vinham a caminho com as ostras acabadas de apanhar. Tirava umas fotografias ao largo, ao forte, à ria, aos miúdos a brincar.

 

Assim que chegavam carregados e abriam a porta entrávamos com o homem e os dois putos e íamos à cozinha buscar os pratos, os copos, etc. Trazíamos para uma das duas únicas mesas que a tasca tinha, na rua, uma de cada lado da porta, enquanto o homem abria as ostras e fazia as amêijoas e os camarões. Assávamos um chouriço na brasa para os miúdos, comíamos pão e azeitonas. Entretanto os putos traziam as ostras abertas e iam trazendo amêijoas, umas só cozidas, outras à Bulhão Pato. As ostras era só deitar-lhes um bocadinho de pimenta e uns esguichos de limão e engoli-las limpinhas a saber a mar. Ficávamos por ali a petiscar e a conversar até ao entardecer enquanto os miúdos brincavam no largo da igreja. Não se via vivalma.

 

Há uns quinze anos ou talvez mais, chegámos um dia à estradinha que vai dar ao largo da igreja e ficámos estupefactos ao vê-la entupida de Audis e outros que tais. Uma fila interminável à porta dos putos. Alguém nos disse que um tipo qualquer (um verdadeiro idiota que merecia levar uma surra...) tinha descoberto os putos e achou giro escrever sobre as ostras no Expresso (acho). Ainda lá fomos passados uns três anos ver se tinha melhorado, se se tinham esquecido dos putos, mas não, tinham agora mais mesas, gente em pé à espera e, do outro lado do largo, havia nascido um restaurante feio cheio de gente à porta. O largo da igreja, sempre de silêncio caiado de branco estava numa barulheira de vozes e motores.

 

Descobrimos entretanto um outro sítio para essas tardes de sair da praia cheios de sal e ir aos petiscos no vagar de ver o entardecer chegar [desse sítio não digo nada] mas nunca mais fomos aos putos. 

 

 

publicado às 08:47


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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