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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
De nada serve cantar hossanas à "democracia europeia" para, depois, acabarmos nisto.
Será normal que os professores portugueses estejam coagidos a semanas de trabalho com duração superior às 48 horas?
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Será normal que os professores portugueses estejam coagidos a semanas de trabalho com duração superior às 48 horas, que o Tribunal de Justiça da União Europeia definiu como linha vermelha? Exagero meu? Então façamos um exercício, que está longe de configurar as situações mais desfavoráveis.
Tomemos por referência uma distribuição “simpática” de serviço, nada extrema, (há muito pior) de um hipotético professor com 6 turmas, 25 alunos por turma e 3 níveis de ensino (7º, 8º e 9º anos). Tomemos ainda por referência as 13 semanas que estão estabelecidas no calendário escolar oficial, como duração do 1º período lectivo de 2015-16. Continuemos em cenários que pequem por defeito: as turmas do mesmo nível são exactamente homogéneas, não necessitando de aulas diferentes, e o professor tem os mesmos alunos duas vezes por semana. Então, este professor terá que preparar 6 aulas diferentes em cada semana. Se pensarmos numa hora de trabalho para preparar cada lição (o que é mais que razoável), estaremos a falar de 6 horas por semana. Nas 13 do período, resultarão 78 horas.
O nosso hipotético professor vai fazer 2 testes a cada turma. Nas 13 semanas lectivas fará 12 testes. Voltemos a considerar apenas uma hora para conceber cada teste (concebê-lo propriamente, desenhar a grelha de classificação e digitar tudo requer mais tempo). Claro está que os testes têm que ser corrigidos. Se o nosso professor cobaia for razoavelmente experiente e despachado, vamos dar-lhe meia hora para corrigir cada um dos 300 testes. Feitas as contas, transitam para a soma final 162 horas.
O que se aprende tem que ser “apreendido”. Os exercícios de aplicação e de pesquisa são necessários. Então agora, com a “orientação para os resultados” com que o assediam em permanência, o nosso professor não pode prescindir dos trabalhos de casa e de outros tipos de práticas. Imaginemos que apenas pede um trabalho em cada semana e que vê cada um deles nuns simples 5 minutos. Então teremos de contabilizar mais 162 horas e meia, relativas a todo o período.
Se este professor reservar 2 escassas horas por semana para cuidar da sua formação contínua e actualização científica, são mais 26 que devemos somar no fim.
Acrescentemos, finalmente, as horas de aulas e as denominadas horas de componente não lectiva “de estabelecimento”. São mais 318 horas e meia. Somemos tudo e dividamos pelas 13 semanas, para ver o número de horas que o professor trabalhou em cada semana: 57 horas!
Além disto, há actividades extracurriculares, visitas de estudo, conversas com alunos e pais, reuniões que não caem dentro das horas não lectivas de estabelecimento e, em anos de exames, pelo menos, algumas aulas suplementares.
Um tal de João Quadros escreveu um artigo de opinião mesquinho e xenófobo no Jornal de Negócios [Os avós de Schäuble] no qual chama nazis, brutos, ignorantes e insensíveis a todos os alemães. Se o artigo não tivesse sido publicado num jornal com alguma reputação não seria digno de nota, de tal modo é ofensivo de um modo básico, mas a verdade é que o publicaram. Não que me admire muito, pois outro dia uma professora universitária foi convidada para ir ao Expresso da Meia Noite exibir a sua xenofobia básica contra os gregos. Este articulista, querendo criticar o espírito dogmático e duro de Schäuble, fê-lo exibindo esse mesmo espírito dogmático mas de um modo superlativamente empedernido e limitado. Parece ele que faz parte de um povo iluminado, que nós portugueses somos um povo culto, magnânimo, impoluto...
De facto, não estamos preparados para uma União Democrática Europeia, muito menos para uma Ordem Mundial, se cada povo vê os outros pelos olhos da xenofobia: os alemães são nazis, os gregos caloteiros, os portugueses calões, os árabes são muçulmanos, os muçulmanos terroristas... até mesmo dentro do país o Presidente exibe uma opinião segundo a qual os portugueses não são de confiança já que não serão capazes de respeitar-se e entender-se sem maiorias para obrigar...
Outro dia estava a ver na TV uma conversa sobre a decadência do sistema político português. Uma das pessoas dizia que em Portugal, um partido novo que quisesse chegar com outros valores não teria entrada pois os directórios têm o espaço político fechado. Logo a seguir perguntaram-lhe sobre a Grécia: disse que os dois gregos eram uns extremistas irresponsáveis e que era uma lição para Portugal, para 'esses partidozecos' que querem chegar e mudar as coisas... assim é difícil...
Thanks!
Hoje li no "Público" uma reportagem sobre professores que se vão reformar. Os protagonistas são pessoas que têm 60, 56, outra vez 56 e 55 anos de idade (a mesma que eu) e que trabalham, respetivamente, há 37, 36, 35 e 33 anos. Começaram, portanto, relativamente jovens. Vão-se reformar porque o futuro é incerto. Mas o que mais se nota é desmotivação. Esta geração de professores, que estão no sistema desde a "explosão" da escola de massas, acumularam muitos saberes. Agora, quando as gerações diminuem e entram menos alunos nos anos iniciais de escolaridade, o Ministro diz que não fazem falta tantos professores. O Ministro, que aceita sê-lo apesar dos humilhantes cortes no Orçamento do seu ministério, não percebe o essencial. Não há professores a mais. Há é alunos a menos (ele próprio trata de os reduzir). Se quisermos combater o insucesso escolar e assegurar a escolaridade até que os jovens concluam o secundário, e se quisermos que os adultos regressem à escola para se qualificarem, depois de terem, quando eram jovens, sido excluídos, então precisamos destes professores. E os indicadores já não falarão de rácios professor/aluno inaceitáveis, porque teremos aumentado o denominador, como é essencial que se faça.
Além disso, estes professores estarão no auge das suas potencialidades. São ainda jovens. A reforma precoce é, por isso, má para o sistema de ensino, mas também má para a sustentabilidade dos sistemas de pensões. Este governo está a cometer um erro duplo: mina os pilares básicos da solidariedade e desinveste naquilo que o país mais precisa de investir, as qualificações. Não me conformo.
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