Os exames de 4.º e 6.º ano em Portugal podem ter sido introduzidos demasiado cedo no percurso escolar dos alunos, tendo «potencial penalizante» para agravar o risco de reprovação e de exclusão social, alertou um analista português da OCDE.
«O que mostra a investigação a nível de educação é que o fator mais importante é a envolvente socioeconómica do aluno: se tem um quarto para estudar, se tem pais que o empurram para estudar, tudo isso vai aparecer na nota do aluno. Se o exame é penalizante, no sentido que conta para a potencial reprovação, a proporção dos que vão reprovar é bastante mais significativa, e o que isso quer dizer é que o exame pode eventualmente ter uma função de exclusão social», afirmou o analista da OCDE.
Paulo Santiago referiu que em Portugal há uma tendência para equiparar as notas dos exames aos resultados das aprendizagens e que em muitos países apenas se introduzem notas quantitativas no percurso escolar dos alunos a partir dos 13, 14 anos.
«[Até essas idades] o que é preciso é fazer um diagnóstico sobre a progressão do aluno e refletir sobre os conselhos que se podem dar para que possa melhorar a sua aprendizagem», disse.
Paulo Santiago deixou ainda alertas sobre as escolhas precoces de uma via profissionalizante, sublinhado também o «potencial de penalização» para a carreira e o futuro dos jovens que escolhem este caminho demasiado cedo.
Por uma questão de maturidade dos alunos, a OCDE entende que essa escolhe nunca deve ser feita antes dos 14, 15 anos.
«O que analisamos em muitos outros países é que quando essa escolha é feita de uma maneira muito precoce, aos 10, 11, 12 anos, que pode ter implicações em termos da carreira futura e das oportunidades laborais. Os alunos ainda não estão suficientemente maduros. O que notamos na análise nos outros países é que há uma proporção maior de alunos nessas vias profissionalizantes que vêm de famílias mais desfavorecidas.
Paulo Santiago disse ainda que considera «surpreendente que não haja mais políticas de ação para desenvolver as competências e aprendizagens dos alunos».
É evidente que, para se fazer um diagnóstico sério sobre cada aluno e reflectir sobre modos de melhorar aprendizagens os professores não podem ter 4, 5, 6, 7 ou mais turmas com 30 (ou mais) alunos cada...