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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Quiz: how well do you know your Wagner?
O quizz é antigo mas é giro :)
Neste dia 13 de Fevereiro morreu Wagner.
Wagner era um romântico - No Domingo de Natal de 1870, ele e mais 17 músicos da orquestra foram até à porta do quarto de Cosima, sua mulher, e acordaram-na ao som de uma peça que ele tinha composto especialmente para ela, inspirado, em parte, pelo nascimento do filho, Siegfried, mas que incorporava elementos da vida em comum de ambos. Chamou-lhe O Idílio de Siegfried.
Wagner também era narcisista, anti-semita, misógino, tinha obssessão por dar cambalhotas, fazer o pino e vestir-se com roupas de mulher - 'negligés' e roupa interior de seda que comprava em Paris e guardava em sua casa numa sala secreta... Gottfried, o seu bisneto que escreveu um livro a desmistificá-lo, apela a que se acabe com as peregrinações a Bayreuth e com a sacralização do próprio festival.
Mas, na arte não há lugar para moralismos. Um dó continua a ser um dó e, um ré, um ré. Nenhum dos dois sabe nada de anti-semitismos ou outros ismos. E, apesar da polémica acerca dele ter plagiado o prelúdio e muitas outras partes do Tristão do Romeu e Julieta de Berlioz (Bernstein mostra-o aqui por volta da 1h) nada lhe retira a genialidade musical. Se tivesse que usar um só adjectivo para qualificar a música dele seria, 'selvagem'. Adoravelmente selvagem :)
"Wagner means total ecstasy," Maria Ossowski, a German art reporter and Wagner fan, told Berlin's rbb Inforadio. "Yes, he was a terrible person, but his music was grandiose."
(Kate Connolly, do Guardian)
Nem toda a gente gostava dele e da música dele:
Os países com pior liberdade moral são a Arábia Saudita, que ficou em último lugar, antecedida do Iémen, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Qatar, Kuwait, Irão, Egito, Afeganistão, Paquistão e Brunei. [que surpresa... por acaso são países com religião de Estado]
... no que respeita à organização social da actualidade, baseada numa mistura de poder e ignorância, no que respeita ao perigo da ciência perder o controlo sobre a sua própria direcção, sobre a ascenção da crendice que parecia ter sido definitivamente vencida pelo espírito científico de prudência céptica, sobre o que é a fé na sua relação com a vida e a ciência... etc.
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... e mesmo assim, vamos lá ver...
Land of Promise: An Economic History of the United States
Pages: 64-65
(fonte: delanceyplace.com)
"In 1823, Warren Delano II sailed to Canton and within seven years rose to be a senior partner in the Boston-based firm of Russell and Company. Having made his fortune, Delano retired in 1851 to Newburgh, New York. He wrote: 'I do not pretend to justify the prosecution of the opium trade from a moral and philosophical point of view, but as a merchant I insist that it is a fair, honorable, and legitimate trade. I considered it right to follow the example of England, the East India Company, and the merchants to whom I had always been accustomed to look up to-the Perkins, the Peabodys, the Russells, and the Lowes.' Delano's daughter Sara married James Roosevelt and gave birth to his grandson, Franklin Delano Roosevelt.
"In the Opium Wars of 1839-1842 and 1856-1860, the British, with assistance from the French, invaded China in response to the government's attempts to stamp out the foreign opium trade. Britain and other Western powers imposed 'unequal treaties' that gave them commercial privileges on the Chinese. In 1844, the Treaty of Wang Hiya guaranteed Americans the same terms that were extorted by the British. Following the example of Britain, the United States imposed trade treaties on Japan beginning on July 8, 1853, when Commodore Matthew Perry's fleet steamed into Tokyo Bay.
"From that point until the Chinese Revolution of 1911, China was a shattered state, riven by warlords and drenched with blood in the catastrophic Taiping Rebellion of 1850-1864. The historian John K. Fairbank called the opium trade in which American merchants took part 'the most long continued and systematic international crime of modern times.' "
É por isto que capitalismo não pode ser deixado a governar-se a si mesmo sem regulação e, muito menos, a governar os povos: é que, na sua forma mais dura (a mais pura...?), é incompatível com a moral humana. E o que é o homem sem código moral? Uma besta, sem mais.
O termo 'compreender' pode significar empatia, como em 'eu partilho das ideias ou razões de fulano tal' ou pode significar apenas, 'eu sou capaz de perceber o ponto de vista de fulano tal [mesmo não partilhando das suas ideias ou razões]'.
O ator que representa o papel de Hitler naquele filme sobre os últimos dias dele no 'bunker' teve que compreender Hitler e as suas razões para o interpretar com convicção e, daí, não se segue que partilhe das suas convicções. Todos os biógrafos de Hitler, como de Estaline e outros do género, têm que compreendê-los sob pena das suas análises não terem nenhum valor.
Quando Lars von Tiers diz que compreende Hitler não está, necessariamente, a dizer que partilha das suas ideias...
Por outro lado, a obra de arte é independente da moral do seu autor: ela vale, ou não, por si, e não pela vida ou palavras do seu autor. Quantas pinturas, edifícios, romances e músicas são criações belas de indivíduos imorais, cruéis, de vidas dissolutas, corruptas...etc.? Devemos queimá-las como faziam os nazis a tudo o que não concordasse com as suas razões?
Ainda não consegui ver uma crítica objetiva ao filme. Todas as críticas que leio são direta ou indiretamente, críticas ao autor por causa do que disse.
A experiência estética não tem moral.
Acabei de ler este livro que o André me emprestou. O livro consiste num conjunto de ensaios à roda de um mesmo interesse, escritos ao longo de vários anos. O interesse é, nas próprias palavras do autor, Os fios que ligam membros de comunidades políticas e, simultaneamente os separa do resto da raça humana. Especialmente no que respeita a comunidades que são um problema para si próprias... ... quando os esforços para proteger a sua segurança levam ao uso de excessiva força, a comportamentos cruéis e humilhantes, negligência e outros modos de infringir os princípios morais que asseguram a igualdade moral de todos os seres humanos. Interessam-se sobretudo pela relação entre, deveres que os indivíduos têm uns para com os outros enquanto cidadãos de estados separados e as obrigações que têm uns para com os outros enquanto pessoas como membros da humanidade.
O livro trata da dificíl conjugação entre o facto de sermos cidadãos de um estado (cultural, social, histórico, etc) e, simultaneamente, cidadãos do mundo (seres humanos). O autor aponta caminhos prudentemente optimistas no que respeita às relações entre povos e comunidades nesta era global.
É interessante fazer uma analogia com pequenas comunidades dentro de um estado. Por exemplo, no 'mundo da educação', como se relacionam e conjugam as lealdades e deveres intra-grupais, com as lealdades e deveres mais vastos entre seres humanos. O difícil é ser capaz de humanidade sem perder a especificidade do grupo restrito. O caminho talvez seja o de julgar os factos e situações a partir do ponto de vista do outro e do todo para não cair na tentação da redução à subjectividade de interesses. Podermos ser plenos indivíduos numa sociedade de outros plenos indivíduos em colaboração, não forçada mas desejada. O ideal de 'autonomia' Kantiana. Problema complicado mas eternamente urgente.
As palavras de Schoenborn, próximo de Bento XVI, surgem numa altura em que se multiplicam denúncias de abusos cometidos por padres. Ontem soube-se que a Justiça francesa está a investigar um padre, director da Rádio Cristã, por antigos crimes contra um menor.
Durante a homilia da missa crismal de ontem, que deu início às celebrações da Páscoa, o Papa não se referiu aos abusos, mas afirmou que os cristãos não devem aceitar leis injustas como o aborto. “Também hoje, é importante para os cristãos seguir o direito, que é o fundamento da paz. Também hoje, é importante para os cristãos não aceitar uma injustiça que é elevada a direito – por exemplo, quando se trata do assassinato de crianças inocentes ainda por nascer.”
A Igreja está cheia de pedófilos cujos crimes são acobertados, e até alimentados, uma vez que em muitos casos transferiam os padres de uma paróquia para outra, onde recomeçavam com outras crianças - mas o Papa, na homilía, só se lembra de chamar assassinas às mulheres...
Igreja concentrou-se em evitar o escândalo e não nas vítimas P
Altos responsáveis do Vaticano – incluindo o Papa Bento XVI – não tomaram medidas contra um padre que abusou de mais de 200 rapazes, noticia o “The New York Times”.
Isto é mesmo grave. É que não se trata de um ou outro padre pedófilos. Trata-se do Arcebispos e outros Bispos que, ao ocultarem uma série de crimes durante anos a fio, não só são cúmplice desses crimes (o Papa é uma dessas pessoas que encobriram milhares de crimes) como são traidores de tudo aquilo que representam e defendem, porque defendem, acima de tudo, uma ética, uma moral e uma virtude cristãs.
É muito diferente, no que respeita a este caso, serem talhantes ou médicos, por exemplo, do que serem padres, porque estes se assumem como modelos sociais do que deve ser o homem - sem complacências, já que ameaçam com o Inferno e a Eterna Danação. As pessoas ouvem o que eles dizem, fazem o que eles fazem. São guias espirituais e de conduta de milhares. São pessoas que julgam os seus semelhantes e, por isso, se põem acima deles em termos morais.
Acho isto mesmo grave e se essas pessoas tivessem de facto uma moral cristã coerente e vivida, abandonavam os cargos e iam fazer penitência paraqualquer sítio.
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