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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Esta peça tenta ridicularizar a moda dos anos 70. Sim, é verdade que tinha coisas que agora parecem ridículas (algumas já na altura pareciam) mas o que vejo nestas imagens é outra coisa. Houve nesta época uma aproximação de géneros. Muitas barreiras de preconceitos caíram e as mulheres e os homens tiveram, por uns momentos que duraram uns anos, uma visão de si mesmos como seres iguais em liberdade. De repente, aquilo que antes distanciava raparigas e rapazes parecia pouca coisa quando comparado com o que os separava das gerações mais velhas e conservadoras dos anos 50. Isso vê-se nestas roupas que são um documento da mudança de mentalidades.
Nessa altura, era possível, rapazes e raparigas vestirem as mesmas roupas e não parecerem ridículos, nem uns, nem outros. Passados estes anos, elas continuam a poder vestir aquelas roupas sem parecer ridículas mas eles não, e isso, a mim, parece-me um retrocesso neste movimento de libertação de preconceitos de género. Desde então os homens foram tornando-se cada vez mais reprimidos na maneira de vestir. Têm uma indumentária limitada, seja na forma das roupas, seja nas cores e padrões.
Têm que vestir azul, preto, castanho, beje, camisas sem padrão... quanto muito umas riscas ou quadrados mas de cores sóbrias... imagine-se aparecerem de camisa às florinhas, rosa shoking ou de mini-saia... arriscavam-se a ir presos como acontecia às mulheres que usavam calças no início do século XX e ainda acontece nos países dos islamitas... têm que vestir calças, mesmo no verão quando as saias são muito mais confortáveis. Têm um código de vestuário muito restrito e repressivo a não ser em situações muito particulares de excepção. É um sintoma visível da divisão de géneros que desde os anos 70 veio crescendo.
Por essa razão, olho para as imagens da peça e o que vejo é um certo espírito de união e uma certa ingenuidade que infelizmente se perderam.
... o resultado é lindo :)
May-Britt Moser, fundadora do Kavli Institute for Systems Neuroscience and Centre for the Biology of Memory do Norwegian University of Science and Technology (NTNU) é uma pioneira na investigação do raciocínio espacial e memória; o seu trabalho na identificação da rede neuronal que forma um sistema de posicionamento no cérebro humano, uma espécie de "GPS" interno, deu-lhe -juntamente com o marido e um colega, John O’Keefe, colaboradores- o prémio Nobel da Medicina em 2014.
Ao saber da notícia, um ex-colega cientista, Matthew Hubble, um engenheiro que resolveu mudar de vida e dedicar-se ao design tendo-se especializado em roupa feminina inspirada na ciência, criou um vestido para ela usar na cerimónia da entrega do prémio, inspirado no trabalho dela: o vestido, em azul-noite, está decorado com pedras que formam o desenho de redes neuronais.
Onde se prova que é tempo dos designers deixarem as mulheres sairem das prisões de princesas e borboletas côr-de-rosa que são a ditadura das garotas, desde que nascem ou até antes. Espero que a moda pegue. O Valentino tem uma linha de roupas e botas, muito recente, inspirada nas estrelas, sistemas solares e galáxias. Claro que cada peça custa no mínimo 1500 euros, o que não é para toda a gente mas, se a moda pega, outros designers menos haute couture largam as borboletas côr-de-rosa e começam a produzir roupas mais interessantes e inspiradoras.
Hoje vi uma entrevista no canal Euronews ao estilista Jean-Paul Gaultier. A entrevistadora, muito agressiva -achei- perguntou-lhe, a certa altura, se não achava que fazer tops para as mulheres em renda era torná-las objectos sexuais e dar azo a que os homens pensem que estão a querer provocá-los... Ele respondeu-lhe que quando apareceram as mini-saias diziam que as mulheres que as usavam eram prostitutas a provocar homens... a entrevistadora interrompeu-o várias vezes sem cerimónia. A certa altura perguntou-lhe se o problema da moda não estava em os estilistas serem todos indivíduos de 70 anos com visões conservadoras e já sem estamina para inovar...???!!!
Fez-me lembrar alguns iluminados que dizem que se devem subsituir os professores mais velhos porque concerteza são eles que, por serem conservadores e velhos se tornaram preguiçosos e incapazes de acompanhar os tempos...
Mas o que é que a mentalidade tem a ver com o conservadorismo? Tenho alunos que são muito mais conservadores e quadrados que eu alguma vez fui ou serei.
Por essa ordem de ideias estes modelos aqui em baixo estão vestidos de modo a serem objectos sexuais e não devemos ter respeito por eles?
J-P Gaultier
Roccobarroco (ainda é mais velho)
Pode, pois!
Está pois. E para melhor? Sim, sim. Coisas menos monótonas, aborrecidas e monocromáticas. Felizmente, já lá vai o tempo (ou quase...) em que os homens tinham de estar sempre de escuro e sem enfeites. Já lá vai o tempo (ou quase...) em que achavam que quem falasse ou escrevesse doutras coisas para além de política, futebol ou 'gajas' era visto como fraco e amaricado porque isso eram coisas de mulheres. Felizmente, já lá vai o tempo (ou quase...) em que achavam que ser inteligente era ser muito sério. Felizmente já lá vai o tempo (ou quase...) em que achavam que certos assuntos eram só para mulheres e faziam do machisto bacoco um estilo de ser e viver. Felizmente porque não há razão para que os homens se auto-limitem, só por convenção e preconceito.
Então hoje fica aqui uma amostra duma colecção para homens mesmo gira e provocante ao som duma música fantástica
Um amigo pediu-.me para ir hoje com ele ajudá-lo a comprar fatos, camisas, gravatas e um sobretudo, porque queria comprar umas coisas assim mais 'trendy' e achava que não ia saber escolher devido a ter um gosto muito conservador - apesar de ser um bocado mais novo que eu. Um dos sítios a que fomos tinha um vendedor notoriamente gay que se embasbacou com ele...lol. Disse-me boa tarde quando entrámos e nunca mais percebeu sequer que eu ali estava. Eu era a mulher invisível. Só tinha olhos e sorrisos para ele...lol. De vez em quando batia à porta, entrava no provador esvoaçante com mais camisas e um fato qualquer que achava que ia ficar 'superlativo' (era a palavra dele) e ajeitava aqui e ajeitava ali....lol. Estava feérico! Bué engraçado lol.
A quantidade de mulheres que hoje vi de leggings brancas com sapatos de ir para uma arena romana enfrentar leões não tem explicação. Leggings não é coisa que fique bem a toda a gente e a moda dos sapatos de gladiador ainda fica menos bem. A moda é uma ditadura, por vezes sem nenhum gosto.
PÚBLICO
15.06.2009, Joana Amaral Cardoso
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Ela é um dos pesos-pesados da moda. E decidiu enviar uma carta a dezenas de criadores e designers de moda europeus e americanos a queixar-se de uma questão de leveza: eles enviam-lhe roupas "minúsculas" para as produções da sua revista - a Vogue - e isso obriga-a a contratar modelos irrealmente magras. A carta de Alexandra Shulman, directora da Vogue britânica, já fez o seu papel: relançou o debate sobre o chamado "tamanho zero".
Alexandra Shulman pesou bem as suas palavras na carta enviada no final de Maio e que não se destinava ao conhecimento dos media, mas que foi revelada sábado pelo Times. "Chegámos ao ponto em que muitos dos tamanhos das peças de mostruário não servem às modelos-estrela, já estabelecidas [no mercado], de forma confortável", lê-se na carta enviada às casas - Prada, Versace, Yves Saint Laurent, Balenciaga - e aos criadores - Karl Lagerfeld, John Galliano, Stella McCartney, Alexander McQueen - mais conceituados do mundo.
Mais de dois anos depois de ter eclodido a discussão sobre o peso dos manequins e modelos nas passerelles, na sequência da morte de duas modelos sul-americanas por subnutrição e da proibição de modelos demasiado magras (o tal "tamanho zero" na tabela americana, que corresponderia a um tamanho 30 na tabela europeia) nas passerelles de Madrid, Nova Iorque e Milão, agora o dedo é apontado aos criadores de moda. Até aqui, o peso da questão estava sobre os manequins.
Paulo Gomes, produtor de moda, explicou ao P2 que a questão da diminuição dos tamanhos - "nos últimos anos, mesmo em Portugal, já há alguns criadores que usam o tamanho 34" para as suas peças de amostra.
Até que enfim que alguém com peso no mundo da moda diz qualquer coisa positiva sobre este assunto. Numa época em que a pressão da imagem é esmagadora e em que as modelos são contra-exemplos de crescimento e vida saudável, o exemplo que dão e que é seguido por milhões de pessoas, sobretudo adolescentes é vergonhoso.
Mas, como se diz no artigo, as modelos vestem a roupa dos 'designers', não são elas que impõem o 34 como medida standard.
Para quem lida com adolescentes diariamente é aflitivo ver a angústia e o sofrimento que acompanham o esforço destas miúdas para se esqueletizarem até tamanhos de roupa próprios para crianças.
Passar fome impede o crescimento, perturba a concentração, o estudo e o bem estar geral.
Algumas miúdas parecem saídas de um campo de concentração, mas têm uma percepção tão enviezada da realidade que não se vêem como são.
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