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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Porque é que o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas se calou? Porque é que ninguém deu a cara por ele? Medo. Toda a gente vê a perseguição de que é alvo a bastonária dos enfermeiros por ousar não concordar publicamente com suas excelências que nos governam. Também este ministro dos militares, não um primo mas um filho, logo, da grande famiglia, do alto da sua excelência ministerial, já aprendeu que o autoritarismo e a desresponsabilização são as virtudes da moda dos políticos actuais. Isso e mandarem as pessoas irem embora se não estão satissfeitas, como se a obrigação dos governos não fosse a de governar, justamente, mas antes fosse dever das pessoas aceitar o erro ou, o mal ou a injustiça e desaparecer para não incomodarem o desgoverno, ou pior, de suas excelências importantíssimas.
O desinteresse do poder político pelo sector levou a um considerável rombo nos recursos humanos da Instituição Militar, debatendo-se esta com a falta de seis mil efectivos previstos no seu quadro orgânico.
Perante o desabafo do chefe militar, o ministro responsável pela defesa nacional, uma criatura que nem à tropa foi, presumindo-se, assim, que perceba tanto de vida militar como eu percebo de plantação de abóboras, em vez da dar a mão à mais alta entidade militar de que o País dispõe, comprometendo-se a trabalhar mais e melhor para que este problema possa ser contornado, muito pelo contrário, veio a público retratá-lo, como se este não passasse de um miúdo de escola que fora inconveniente para com um professor.
Num acto de pura cobardia do assumir de responsabilidades, veio insinuar que o almirante insatisfeito já se deveria ter demitido caso não conseguisse desempenhar o seu papel com os efectivos que tem à mercê.
Não contente, teve ainda o desplante de se desculpar com erros do passado, como se não pertencesse a um governo, em funções há quatro anos, e que logo no início da legislatura apregoou a intenção de corrigir as deficiências que herdara.
Humilhado perante todos pelo ministro de quem depende, esperava-se, do oficial-general destratado, uma nova atitude de coragem, a qual somente poderia seguir um caminho: a imediata demissão e a solidarização dos seus pares, recusando-se todos a ocupar o cargo deixado vago.
Mas não, passada uma semana nem uma palavra do chefe militar desconsiderado. Comeu e calou!
E também um silêncio absoluto dos seus subordinados no activo, não havendo qualquer gesto destes que indicie uma tomada de posição de apoio ao seu superior.
O próprio Comandante Supremo das Forças Armadas, especialista em falar de assuntos nos quais não se deveria imiscuir, parece sofrer de amnésia nas matérias que lhe dizem directamente respeito, remetendo-se igualmente a um incompreensível silêncio.
Pedro Ochôa
O que parece é que as forças armadas estão numa rebaldaria total por falta de chefias ou por terem chefias socratizadas, quem sabe... o ministro, como dizem alguns comentadores, só existe para ir a comemorações ou tirar fotografias. De resto, ele não sabe nada, não viu nada e não diz nada. Será que os tropas também alugam as espingardas, as dragonas, as fardas, para festinhas e isso? Os tipos das armas metidos em tudo quanto é esquema... está lindo...
Instituto de Ação Social das Forças Armadas recebeu queixa sobre uso de apartamento como alojamento local para turistas estrangeiros em Lisboa.
Militares da PJM e da GNR são suspeitos de terem forjado a "recuperação" das armas roubada em Tancos em conivência com o assaltante.
Militares portugueses chegaram ao local dos incêndios e depararam-se com militares espanhóis a andar por ali à vontade com veículos e armas próprias como se estivessem no seu país, o capitão português e o espanhol sem saber quem primeiro bate pala a quem e isto sem ninguém ter sido avisado? Portanto, podemos ser invadidos que nem damos por isso?
Esta vergonha que se passa no meio militar dos EUA só surpreende quem não está acordado. Por todo o lado, no planeta, a esmagadora maioria dos rapazes são educados, desde que nascem, para serem agressivos, dominadores e sexualmente ofensivos. Ensinam-lhes que as mulheres são inferiores justamente por não exibirem esses comportamentos. Os pais reforçam, com orgulho, os comportamentos violentos dos filhos masculinos, sobretudo os de teor sexual. Quase todas as actividades masculinas incentivadas pelos pais envolvem agressividade e todas as que não envolvem são consideradas efeminadas, sendo que a palavra efeminado tem uma conotação negativa, inferior, não máscula. Depois a cultura militar ainda refina mais essa educação para a violência e para a ofensa sexual. Quem é que pode admirar-se que os homens, educados nesses modelos de vida e de relacionamento social tenham estes comportamentos de total desrespeito pelas colegas?
Outro dia a propósito de estar a dar teorias acerca da aprendizagem, na Psicologia, passei o vídeo da experiência do Bandura que defendia, simplificando, que aprendemos comportamentos imitando os nossos modelos sociais (pais, irmãos, profs, etc.). A certa altura a experiência mostra um grupo de crianças depois de observar um filme onde adultos são agressivos com um boneco a fazerem exactamente o que viram o adulto fazer e até mais. A turma ficou espantada porque não esperavam que as miúdas fossem tão agressivas quanto os rapazes. Achavam que os rapazes estão destinados a ser violentos por causa da testosterona e as raparigas a serem dóceis por causa do instinto maternal... lol
Antes de ontem li isto que me pareceu uma prisão virtual,
Men are performing for an invisible authority, the Department of Masculinity. We never know when we are being observed, so we constantly keep watch on ourselves and each other; we guard the boundaries of the role. We are all the authority figure and the prisoner. (Grayson Perry)
Querem ter filhos agressivos e sexualmente promíscuos e dão-lhes um exemplo de objectificação das mulheres e depois não querem que eles sejam... agressivos, sexualmente promíscuos e querem que tenham respeito pelas colegas mulheres...
A educação, a educação...
Pelos menos três ataques coordenados foram lançados este domingo de manhã na capital afegã, Cabul, um deles visando o Parlamento. Explosões e tiros são ouvidos perto da embaixada dos EU
Cerca de 400 detidos fugiram neste domingo de uma prisão no Norte do Paquistão, depois de um ataque reivindicado pelos taliban paquistaneses.
Mais de dez anos desde a invasão do Afeganistão pelos EUA e outras potências do Ocidente. E o que foi conseguido? Pois...
A baterem num colega: é repulsivo, bestial mesmo. Os indivíduos comportam-se como uma matilha de dingos e deviam ter sido expulsos. Uma violência extrema fisíca e psicológica que se manteve durante meses. É assim que educamos: é uma educação tolerante com a violência, o abuso, a humilhação. Não fui capaz de ver aquilo. É revoltante. Uns cobardes que se juntam a bater num e a filmar como se tivessem orgulhos no que fazem. Animais nojentos.
Ultimamente tenho-me lembrado deste livro que li há mais de 20 anos. O livro analisa casos famosos de batalhas que correram mal ao longo da História. Analisa o comportamento das chefias e os estorvos inerentes à própria organização.
Na origem dos problemas estão: hierarquia fechada, tendência para premiar os servidores ambiciosos e desprezar as vozes contrárias, excesso de uniformização e de regras fora das quais não sabem funcionar e outras.
Na análise de batalhas as conclusões apontam quase sempre as mesmas causas, os mesmos vícios: ideias preconcebidas bebidas nos analistas da moda e desprezo absoluto pela informação disponível. Em inúmeros casos os documentos mostram claramente que as chefias estavam na posse de todas as informações necessárias para mudar o rumo dos acontecimentos e evitar a derrota. Porque não o fizeram? Porque foram para o terreno com ideias pre-concebidas, dos seus 'especialistas da moda' e escolheram desvalorizar as informações em contrário, por mais óbvias que fossem, por mais óbvios que fossem os factos a contrariar os preconceitos.
Tenho-me lembrado do livro porque há um paralelismo evidente com o estado actual da educação: a hierarquia é surda, com tendência ao nepotismo, premeia os servidores ambiciosos, despreza as vozes dissonantes, aposta no excesso de uniformização e, acima de tudo, desvaloriza e volta as costas às informações, mais que óbvias, do fracasso dessas ideias/políticas ao ponto dessa teimosia/estúpidez ficar à vista de todos. O caso da outra ministra é um exemplo de como as ideias preconcebidas de 'especialistas da moda' e a obsessão com a hierarquia de comando causam o colapso do sistema de modo tão ruínoso que pouco resta para salvar.
Este é um livro que as chefias de qualquer sistema, mas muito prementemente as da educação deste país (primeiro ministro -que nada percebe de educação, ministro das finanças - que nada percebe de educação e figurantes do ministério da educação - que nada percebem de educação) deviam ler.
A ler este livro aprende-se muito sobre a estrutura interna dos sistemas na sua relação com a psicologia das pessoas.
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