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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Andrea Pitruzella também foi enviada para casa, porque os serviços das finanças onde trabalha fecharam portas. Em todo o país, 90% dos funcionários do departamento de IRS foram dispensados.
"Tudo ficou suspenso, menos os ordenados dos políticos do Congresso e da Casa Branca, responsáveis por esta situação", afirma num tom irritado.
Os vencimentos a que Andrea se refere são classificados de "Mandatory Payment", ou seja, aconteça o que acontecer nunca serão suspensos pela Câmara dos Representantes, a câmara baixa do Congresso Americano que tem a competência, definida pela Constituição, de financiar os programas públicos.
O núcleo de Sintra da APEDE organizará no próximo dia 4 de Março, sexta-feira, pelas 21 horas, junto ao edifício da Câmara Municipal de Sintra, uma Concentração/Vigília de professores que visa reforçar e dar visibilidade pública ao sentimento geral de contestação à actual política educativa.
As razões desta Acção de Protesto e Luta são, acima de tudo, as seguintes:
- a recusa e a exigência do fim imediato da verdadeira farsa que constitui este modelo de Avaliação (?!) de Desempenho Docente, dada a sua injustiça, falta de rigor e seriedade, para além da profunda incompetência técnica e delirante teia burocrática que o envolve;
- o combate à anunciada constituição de Mega-Agrupamentos em Sintra, por razões meramente economicistas, situação que irá criar ainda mais dificuldades à gestão das unidades educativas no nosso concelho (nalguns casos poderão atingir cerca de 4000 alunos), descaracterizando totalmente a identidade de cada Escola, fazendo tábua rasa da tão propalada autonomia, agravando a falta de recursos técnicos, materiais e humanos para fazer face aos problemas de insucesso, indisciplina e abandono escolar, comprometendo a qualidade do trabalho pedagógico e cooperativo dos professores (reuniões de departamento com mais de 1oo professores) reduzindo serviços e o número de funcionários administrativos, em suma, colocando em causa a qualidade do Ensino e o funcionamento das Escolas;
- a resistência activa à ofensiva de precarização laboral perpetrada por este governo que ameaça lançar no desemprego, já em Setembro, milhares de professores que investiram anos e anos da sua vida num projecto, num trabalho e num percurso profissional que se vê agora criminosamente interrompido, com a extinção/redução de AP e EA (defendemos a redistribuição dessas horas pelos Departamentos Curriculares), extinção do par pedagógico em EVT, etc.
- a defesa intransigente da dignidade profissional docente e de uma Escola Pública de Qualidade, sériamente ameaçadas por políticos sem estatura moral e ética para conduzirem os destinos da Nação.
- o reforço da mobilização dos colegas (das escolas do concelho de Sintra, mas não só) no sentido de um trabalho conjunto de esclarecimento, denúncia e resistência às actuais políticas educativas. É sobretudo nas escolas que a luta tem de persistir e aprofundar-se. Para isso, precisamos de criar redes de contactos e sinergias de actuação.
É por estas e outras razões, que nunca deixaremos caír, nomeadamente, o combate ao actual modelo de gestão, o reforço dos meios materiais e humanos de apoio ao trabalho dos professores e uma resistência activa à usurpação continuada dos nossos direitos laborais, que apelamos à presença combativa de todos os colegas nesta Concentração/Vigília de Professores, em Sintra, no próximo dia 4 de Março.
Pára de remoer a tua resignação e vem afirmar a tua dignidade!
O núcleo de Sintra da APEDE,
Ricardo Silva
Eduardo Alves
Cristina Didelet
Isabel Parente
José Manuel Faria
Como podem os professores lutar seja pelo que for enquanto estiverem desunidos e divididos por desconfianças derivadas da falta de transparência dos processos? Poderão assinar papéis, petições, protestos e pedidos e até ir à rua (não como dantes) com cartazes. Mas não passará disso. Não estenderão os protestos aos actos.
O tipo de resistência que se requer, seja para lutar contra o despedimento dos contratados ou dos professores de E.V., seja para lutar contra a aglutinação de disciplinas em coisas generalistas ou outra coisa qualquer implica uma unidade muito forte entre as pessoas, pois tomar sózinho e desprotegido pelos que o representam uma atitude de recusa em obedecer tem sacríficos e custos demasiado elevados para que alguém se arme em herói.
Ora, o que é que causa esta desunião entre os professores? Por que é que já não estão unidos como em 2008? Não estão, porque uns aceitaram o papel de serem avaliadores dos outros com tudo o que isso implica de ressentimentos de uns e abuso de outros, e porque a gestão das escolas, não sendo democrática, reforça as injustiças, os ressentimentos e os abusos de poder.
Existe maneira de unir os professores sem corrigir um destes dois factores que se implicam? Não me parece. Ou se mudava a gestão da escola, o que não é viável (pelo menos por agora) porque os próprios directores e adjuntos gostam deste sistema, ou muda-se a ADD. Se se mudasse o sistema de avaliação de modo a que uns não fossem juízes em causa própria e em detrimento dos colegas, talvez fosse possível reconstruir a unidade entre os professores, e talvez com essa unidade se mudassem outras coisas. Então porque não se muda? Bastava que uns não avaliassem e outros não pedissem para ser avaliados! Porque é que isso não se faz? Porque é que não há interesse em organizar os professores para essa resistência?
Porque é que tudo o que traria unidade aos professores é relegado para segundo plano? Apelos à unidade? Isso não é nada porque resulta em nada. Se a unidade não for construída sobre acções que restaurem a confiança, não passa de palavras ao vento.
O ministério goza com a nossa divisão? Pois goza, já que inventou certos processos mesmo com esse objectivo...de não termos união, logo, não termos força, para lhe opôr resistência. Mas, se sabemos disso, porque é que não fazemos da união a grande prioridade, sabendo que é dela é que vem o poder para resistir e para mudar? Porquê? Porque é que quem tem poder para organizar essa unidade não a organiza, não a promove, não a sustenta, sequer...?
A resposta a estas questões, penso, tem que ser dada, e tem que se tirar dela ilacções, sob pena de ficarmos eternamente divididos e à mercê de quem nos dividiu.
Isto é que nos espera porque a única coisa que os representantes sabem fazer é queixar, manifestar e gritar. Esse é, para mim, o pior lado destas manifestções e greves sem agenda nem objectivos. É que dão a ideia que as coisas estão tão mal e sem esperança que a única coisa que podemos fazer é esbracejar e gritar. Ora, isso não é verdade. Essa sensação de que nada podemos fazer senão isto leva a uma progressiva apatia construída por sucessivas acometidas de esperança (com os números das manifestações e greves) que depois se esvaziam em frustração. De cada vez é mais difícil a retoma da fé em sermos capazes de dar a volta à situação, porque o investimento motivacional necessário para as manifestções e greves cada vez tem de ser maior.
Penso convictamente que a acção dos sindicatos é imensamente negativa. São líderes que não sabem organizar as pessoas, não têm respostas para as situações, não têm projectos alternativos, não têm grupos de pressão e influência, não têm estratégia, não têm nada...até dizem publicamente que temos de nos resignar a este OE.
Na verdade, o objectivo, o único objectivo, em cada greve, é aumentar o número de participantes relativamente à anterior, como se se tratasse dum recorde a bater. Mas como podem as pessoas reagir, organizar-se e iniciar acções de oposição se os que os representam mostram, nas suas iniciativas e acções que a unica coisa possível é o protesto?
Afixaram hoje na minha escola -na sala de profs- a lista dos professores por relator (com o nome do relator respectivo) e o nome dos professores que pediram aulas assistidas (para o muito bom e excelente) por relator. Acho bem. Para não haver enganos. É que algumas pessoas falam em solidariedade e em greves e desgraças mas depois aceitam ser relatores, pedem excelentes com aulas assistidas e tudo o resto que for preciso para cumprir a legislação da Lurdes Rodrigues e da Alçada.
Eu não tenho nada contra quem pede estas coisas e muito menos com quem faz greves. Só tenho anticorpos a certo tipo de incoerências ou acções de inconsequência conscientes.
Se eu achasse que a greve é mais que um protesto desesperado, fá-la-ia. Se eu achasse que os que representam os professores (falo dos grandes, não de todos) eram diferentes dos que nos governam, também a faria. Mas acho justamente o oposto. Primeiro a greve é um esbracejar desesperado que não leva a lado algum. Nem sequer simbolicamente tem expressão porque depois das manifestções de professores com cento e tal mil isto pouco impressiona. Nessa altura é que alguma coisa devia ter sido feita. Agora é tarde...; depois, os que dizem representar os professores não se distinguem, quanto a mim, dos que nos governam. Aliás, nestes últimos anos alguns passaram de sindicalistas a secretários de estado e outros cargos do -supostamente- lado de lá da barreira. As mesmas lógicas, os mesmos mestres, o mesmo desprezo pelo professores, a mesma tentativa de os controlar e submeter.
Como li algures aí num post num blog, a única vez que os sindicatos lutaram pelos professores -nestes últimos anos- foi quando a isso foram obrigados pela força dos movimentos de professores...por causa dos quais arrepiaram o caminho de entendimento que já tinham iniciado com o poder.
Vejo tudo isto como um esbracejar, agora inútil. A luta agora já não é, penso, com greves e manifestações, mas com medidas de negociação, de pressão, de contrapartidas e a mim parece-me que os que nos representam não sabem fazê-lo. São doutro tempo com outras premissas. Assim como o Sócrates e o Teixeira não sabem como tirar-nos daqui, e portanto temos que ser nós a tirá-los de lá, também estes sindicalistas não sabem como melhorar as coisas, de modo que, dar-lhes força, é prolongá-los em cargos para o qual já mostraram não ter perfil e é dar-lhes um poder do qual não sabem servir-se para nos representar. Tal qual como os que nos governam esbanjaram um enorme capital que não era deles, era emprestado, e agora querem um novo cheque em branco. Pessoalmente não vejo vantagem nenhuma nisso, só vejo desvantagens e perigos.
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