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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Vejo cada vez mais pessoas preocupadas com algumas consequências do turismo. Consequências que antes de existirem eram referidas nas mesmas conversas de café como situações desejáveis: centro das principais cidades cheio, uma remodelação do parque imobiliário e novas formas de circular – transportes individuais baratos e amigos do ambiente.
Ninguém está contra o turismo. As pessoas estão contra a edilidade e o governo que na pressa de contar as notas esquecem-se que há portugueses que precisam de viver agora já, e depois, quando os turistas se cansarem do país.
É que de cada vez que entra dinheiro no país, em vez de se aproveitar para melhorar as condições de vida das pessoas, estou a falar de habitação, saúde, educação e emprego, gasta-se todo o dinheiro a embelezar(em-se) e a especular e quando o dinheiro se acaba voltamos à estaca zero como se não tivesse havido esse período de relativa abundância.
Fazemos sempre isto: aconteceu com a riqueza que veio das Índias, a seguir com o ouro do Brasil, depois com a entrada na UE e agora Lisboa está a fazer o mesmo com os milhões que entram do turismo. Eles servem a quem? Sim, é verdade que a cidade está mais bonita, mais vivaz e interessante. Come-se muito melhor, por exemplo. No entanto, as pessoas foram expulsas da cidade e agora viajam de carro duas horas para chegar ao emprego e outro tanto para chegar a casa. Está tudo mais caro e os ordenados não chegam. Não há, nem parece haver, vontade de regular e de pensar nos portugueses não políticos. É o descontrolo total e a cidade está nas mãos de especuladores e amigos do poder.
Histórica livraria da rua do Carmo, no Chiado, fechou as portas no virar do ano por causa do aumento “brutal” da renda que o proprietário não está disposto a comportar. E nem a distinção no programa “Lojas com História” da câmara de Lisboa impediu que as estantes se esvaziassem definitivamente.
Passei lá há ontem e nem queria acreditar quando vi a loja com papéis a tapar as montras e um cartaz a dizer, 'encerrado'. A Hélio também desapareceu. As lojas estão a ser substituídas por 'espaços' que vendem coisas ridículas iguais às que se vêem nos espaços comuns dos shoppings, como pestanas, lojas com vacas à porta que vendem parvoíces... é triste. Qualquer dia não há razão para metermos os pés na baixa e fica só mesmo para turistas.
Thomas Pesquet - Lisbonne et son poumon vert: le parc forestier de Monsanto, ici symbole d’écologie.
NASA
Largo de São Domingos em Lisboa
Não se consegue ir a lado nenhum em Lisboa. Caos total. Na semana passada meti-me num táxi (a minha rotina de táxi é a seguinte: se o carro é de 1920 sem ar condicionado e com um motorista com ar furioso de quem defende que se deve violar raparigas, espero que alguém entre nele. Vou esperando até o da frente ser um carro como deve ser. Não estou para pagar caro e ter que gramar um carro sem molas, tipo sauna, com um tipo chateado que só ouve a rádio amália como diz o puto do vídeo) e num trajecto de pagar aí uns 5 euros paguei 10 porque está tudo em obras e todos fogem para as mesmas escapatórias.
O tipo da Câmara podia pegar nos milhões de que se gaba tanto a Câmara ter e aproveitar para ir comprar uma mioleira com, pelo menos, umas centenas de neurónios comunicativos.
Era bom que alguém começasse a reparar nestes pontos negativos senão qualquer dia nem turismo, nem Lisboa...
imagens da net
... já que não ouvem outros que falam em vão. As cidades, como diz um comentador da notícia, tornam-se todas iguais: os mesmos pavimentos seguros para turistas, as mesmas cadeias de fast-food, as mesmas lojas de marcas de roupas, os mesmos tuc-tucs, os mesmos preços inflacionados... seria uma pena Lisboa ficar deserta, sem moradores, por causa dos preços inflacionados das casas e da invasão de hotéis e hostéis, as pessoas só para inglês ver, durante o dia, como vendedores de lojas. Sacrificar a personalidade e qualidade de vida da cidade ao lucro do turista é o primeiro passo para o afugentar. A calçada portuguesa é a primeira concessão que se faz ao turista. O que virá a seguir...?
Vale a pena ler este artigo sobre o que aconteceu a Kyoto Give my love to Kyoto — if you get to see her. Os japoneses já não têm dinheiro para ir a Kyoto a um restaurante ou ficar num hotel e nem sequer têm lugar num café de tal modo tudo está ocupado por turistas. Todos sabemos o que aconteceu ao Algarve com a ganância do lucro fácil... quem quer que Lisboa se torne num novo Algarve?
Ilustradora alemã retrata Lisboa em livro e alerta para riscos do turismo
A ilustradora alemã Alexandra Klobouk, que lança na quinta-feira um roteiro de Lisboa, considera que o turismo está a afetar a cidade e teme que os moradores abandonem bairros históricos como Alfama, transformando-os em locais de atração como “jardins zoológicos“.
Falando à agência Lusa a propósito do lançamento do livro ilustrado bilingue (português e alemão) ‘Lissabon im Land am Rand/Lisboa num país sempre à beira‘, Alexandra Klobouk diz temer que a capital portuguesa se transforme numa “cidade limpa e perfeita“, sem traços históricos e sem moradores.
“Quando há crises [financeiras], as pessoas com dinheiro são os turistas, pelo que é totalmente compreensível” que haja casas e lojas dedicadas ao setor, mas “tenho a sensação de que a renovação de Alfama a torna num jardim zoológico“, só com atrações, defende a autora.
“Eu quero vir cá para ver as barbearias e as livrarias antigas, quero ir a Alfama e poder encontrar o Zé e a Maria“, insiste, pedindo equilíbrio.
Apontando o caso da barbearia Campos, que fechou temporariamente no Chiado para o edifício onde se encontra ser reabilitado e acolher um restaurante de ‘fast food‘, a artista vinca que os turistas procuram a cidade “porque Lisboa é especial e não para frequentar cadeias de hotéis e de restaurantes“.
No livro, Alexandra Klobouk escreve que a cidade “está a transformar-se” devido ao turismo.
Eduard Gordeev
Uma iniciativa muito bem pensada :))
No topo do Arco da Rua Augusta. Acho que todos os povos, tal como as pessoas particulares, se sobrevalorizam assim que têm uma oportunidade/pretexto para isso, seja encontrar ouro, petróleo, ganhar poder de um modo ou outro...
(fotografia da Anabela Simões)
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