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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
«(...)
Também causam sonolência
Os livros dos grandes mestres;
Eu hoje aos frutos da ciência
Prefiro amoras silvestres.
Nos livros há muita asneira.
Nos campos muita razão:
Caiu de uma laranjeira
A lei da gravitação.
Viva a loucura! Minerva,
Ergue um pouco os teus vestidos
E vem rolar sobre a erva
Dos belos campos floridos!
Toda a manhã, que martírio!
Tem andado além defronte
Um melro a ensinar a um lírio
Os versos de Anacreonte.
(...)»
Guerra Junqueiro, Manhã de Abril
roubado à Luísa B. no FB
O Luís Contumélias enviou-me um texto do Guerra Junqueiro que eu, confesso, não conhecia. O texto é perfeito, na análise e na actualidade. Dá que pensar... passado mais de um século, uma ditadura, uma revolução política e quinhentos mil 'gadgets' tecnológicos o país que temos ainda é o país do Guerra Junqueiro.
A evolução está muito para além de Magalhães e quadros interactivos. Precisa de outros alimentos... e precisa das gentes das Letras.
Crónica num pasquim português
Excerto
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida política em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a infâmia, da mentira da falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedem, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este, criado de quarto do moderador; e este, finalmente tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogo nas palavras, idênticos nos actos. Iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu ao parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.
Abílio Manuel Guerra Junqueiro
in Pátria Março 1896
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