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Manhã de Abril

por beatriz j a, em 01.04.19

 

«(...)

Também causam sonolência
Os livros dos grandes mestres;
Eu hoje aos frutos da ciência
Prefiro amoras silvestres.

Nos livros há muita asneira.
Nos campos muita razão:
Caiu de uma laranjeira
A lei da gravitação.

Viva a loucura! Minerva,
Ergue um pouco os teus vestidos
E vem rolar sobre a erva
Dos belos campos floridos!

Toda a manhã, que martírio!
Tem andado além defronte
Um melro a ensinar a um lírio
Os versos de Anacreonte.
(...)»
Guerra Junqueiro, Manhã de Abril

 

roubado à Luísa B. no FB

 

publicado às 05:43


Guerra Junqueiro e os 'gadgets'

por beatriz j a, em 09.03.09

 

 

  

 

O Luís Contumélias enviou-me um texto do Guerra Junqueiro que eu, confesso, não conhecia. O texto é perfeito, na análise e na actualidade. Dá que pensar... passado mais de um século, uma ditadura, uma revolução política e quinhentos mil 'gadgets' tecnológicos o país que temos ainda é o país do Guerra Junqueiro.

A evolução está muito para além de Magalhães e quadros interactivos. Precisa de outros alimentos... e precisa das gentes das Letras.

 

 

Crónica num pasquim português

 

Excerto

 

    (...) Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de miséria, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia de um coice, pois que nem já com as orelhas consegue sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando de onde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da inconsciência como que um lampejo misterioso de alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

       Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida política em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a infâmia, da mentira da falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedem, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis.

    Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este, criado de quarto do moderador; e este, finalmente tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

    A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogo nas palavras, idênticos nos actos. Iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu ao parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.

 

Abílio Manuel Guerra Junqueiro

in Pátria Março 1896

 

 

publicado às 11:33


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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