Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
teresa de sousa
1. Ninguém viu chegar os gilets jaunes.
Imensa gente viu chegar os 'gilets jaunes'. Talvez não literalmente, com o colete amarelo mas muita gente em França alertava para a degradação das condições de vida dos trabalhadores, para o aumento obsceno da riqeueza dos ricos. Até Chirac, um insuspeito, avisou que se estavam a criar condições para insurreições. E não é só na França. Fala-se muito disso nos EUA e até há quem defenda a criação de exércitos especializados em revoltas populares. Cá em Portugal também se fala disso há muito tempo. O que acontece em França, como nos EUA, em Portugal e um pouco pela Europa fora é que não temos tido, desde há muito tempo, políticos acima da mediocridade com visão para além do seu umbigo.
...«Não quermos nada com os políticos. Ou seja, uma greve [está a falar da greve dos camionistas] contra a política. Ou seja, contra o sistema.
Os camionistas não dizem que são contra o sistema ou contra a política mas contra 'os' políticos, estes políticos que nos governam há anos num nepotismo divorciado do povo. Ora, dizer que perdemos a fé nestes políticos e precisamos de regeneração é muito diferente de dizer que se é contra 'a' política em si mesma.
Depois esta articulista fala na irresponsabilidade dos enfermeiros, insinua que se deve limitar as greves e diz que culpar o governo é de pessoas infantis. Quem é que toma as decisões e distribui dinheiros? Somos nós? A seguir mete-se com os professores para dizer que não queremos saber da qualidade do ensino. Assim sem mais. Só porque lhe apeteceu dizer, apesar de não perceber um boi do que se passa no ensino.
A seguir diz mal da campanha para o PE, chama populistas a estes e outros e diz que o debate político caiu para níveis muito baixos, o que é verdade mas ela própria, em grande parte deste artigo também mostra falta de nível: falta de conhecimentos e falta de argumentação para a sua tese. Não há uma reflexão, uma ideia. Nada. O artigo ocupa uma página inteira do jornal.
Quando o jornalista assume que divulga boatos como se fossem notícias...
Greek archaeologists believe they have discovered the lost tomb of Aristotle, the greatest philosopher in history.
Women getting the blame for being raped is an old story, one that, incredibly, refuses to die. When this trope is applied to children one sees misogyny in its purest form, with its belief that 11-year-old girls lure helpless men on and deserve what they get. I wrote a few months ago about the Jeremy Forrest case, the teacher who was jailed for five-and-a-half years for child abduction and sexual activity with a child, and said the scary thing was not that he was a monster but how common he could be. But at least as scary is the eagerness of people in authority to absolve rapists, even when the victim later shoots herself in the head in her mother's bed. As Cherice Moralez's mother said in a written statement after the sentencing of her daughter's rapist: "I guess somehow it makes a rape more acceptable if you blame the victim, even if she was only 14."
Misoginia - as profissões exercidas, sobretudo [ainda] por homens estão cheias deste ódio pelas mulheres, ao ponto de culpá-las, mesmo que tenham 11 ou 14 anos, pelos crimes de violação de que são vítimas, mesmo se os criminosos são homens de 50 anos. Ou porque não se vestem de naneira apropriada [?? apropriada para quem e segundo quem?] ou porque parecem mais velhas do que são ou porque eles [homens] até 'gostariam de ter uma mulher que os quisesse violar'... isto passa-se nos países 'civilizados'.
O traço que separa a o machismo da misoginia é ténue. Como se vê no nosso próprio país, as duas bloquistas que quiseram lançar um debate sobre o piropo, essa 'tradição portuguesa', no dizer de muitos homens [como se fosse uma espécie de festa dos tabuleiros] têm sido alvo de ataques e troças típicas dum machismo expresso que tenta diminuir e tornar invisível os problemas através do sarcasmo, arma agressiva que vota ao desprezo, duma assentada, os alvos e os seus intentos.
Mesmo ontem li uma crónica a propósito do assunto (O Bloco já não é bom como o milho) em que o jornalista solta o pedreiro misógino/machista que há em si (o exempo é dele, não meu - que me desculpem todos os pedreiros que não são como este jornalista): em primeiro lugar reduz as deputadas Joanna Dias e Ana Drago a miúdas giras, gajas boas, ridiculariza toda a iniciativa (provavelmente está de acordo com aquele argumento de, 'tomara eu que me mandassem piropos'), depois, em sua opinião, as mulheres reduzem-se a duas categorias, as miúdas giras e as velhas com buço (tão machista e ordinário que aqui tenho vontade de o mandar para algum sítio mesmo mau) dando a entender que as mulheres, se não forem miúdas e giras deviam desaparecer do espaço público, para não ofender a sua vista - quem se julga este tipo?) e, finalmente, sai em defesa do pedreiro que há em si, pois qual é o mal destes dizerem às mulheres, 'és tão boa'.
Pois, se fossemos falar a sério neste assunto e dizer as coisas com as palavras todas, teríamos que dizer que a maior parte das palavras e atitudes que os homens consideram 'piropos' e com que assediam as mulheres desde os doze ou treze anos (ou até antes, quando a puberdade lhes muda o corpo- estando sozinhas ou em grupo, ou até com filhos pequenos a ouvir) são extramente ofensivas e ordinárias, ouvem-se sobretudo na rua (a maioria dos homens que gosta de mandar 'piropos' não têm imaginação e são muito ordinários), mas também na escola dos colegas rapazes (devem ter exemplos lá em casa parecidos a este jornalista), e até no trabalho.
É claro que, na opinião deste jornalista, as mulheres que não ficam agradecidas com piropos devem ser velhas com buço que nunca ouviram um piropo daqueles à pedreiro ('és tão boa que te comia aqui', 'o que queria era enfiar o caralho aí dentro', 'anda cá chupa-me' e outras coisas piores que não vou enunciar, etc.) ou nunca tiveram um gajo qualquer a roçar-se nelas no metro, ou a segui-las até casa dizendo os tais 'piropos', ou outro a masturbar-se à sua frente num comboio ou no intervalo das aulas, ou segui-las até à casa de banho a dizer os tais piropos, ou tirar a pila para fora enquanto as miúdas esperam pelo autocarro ou até a dar-lhes palmadas como forma lisongeira de lhes dizer que são boas como o milho... ... e no trabalho também, há tipos que metem as mãos nos bolsos e se coçam ao pé das mulheres ou dizem alto e bom som, 'vem aí a gaja boa'... e outros mimos que não se percebe como é que as mulheres não gostam... num dia normal uma mulher, ou uma miúda a caminho da escola, pode ouvir e aturar estas coisas dez ou mais vezes, iato é, passar o dia a ser bombardeada com estas merdas insuportáveis.
O ataque que andam a fazer às deputadas do BE por causa disto já me anda a irritar e, pessoalmente, penso que há muitos homens como este jornalista ordinário que, não fora o acaso de terem nascido do sexo masculino e com pele branca numa sociedade machista e misogina, onde um ror de homens 'não se vêem a si mesmos', não teriam onde cair mortos pois, nem dizem nada de interesse sobre coisa alguma que nos informe ou faça aprender seja o que for e mais, se os julgássemos com os critérios com que eles julgam as mulheres, desapareciam quase todos da vida pública, pois são poucos os miúdos giros, bons como o milho e muitos os velhos, os feiosos, carecas, pançudos, com pelos a sair do nariz e, pior que tudo, completamente desinteressantes.
Se eu acho que faz sentido um debate que faça com que os homens percebam a diferença entre piropos e ofensas? Ah pois acho! E a prova está nesta crónica ordinária que este indíviduo escreveu, muito ufano de si mesmo e dos seus dotes de pôr as mulheres no seu lugar...
Vocês homens que são pais e têm filhas pequenas, devem saber que 'piropos' as esperam.
Este título dá ideia que a actriz tirou tirou fotografias nua para vender por 52.000 euros. Na volta, quando se lê a notícia, um jornalista roubou-lhe fotografias pessoais e pô-las na net; ela pô-lo em tribunal e, se ele for condenado, poderá ter que pagar-lhe 52.000 euros de indeminização.
Ou seja, o título induz em erro, fazendo crer que a falta de ética é dela, e não do ladrão.
Na minha modesta opinião, é nojento!
Tirem-nos deste filme
Helena Garrido
Irresponsabilidade, incompetência, partidarismo carreirista e mediocridade.
É impressão minha ou jornais estão a ficar um bocado 'ablogados'? Quer dizer: desde os títulos, assim um pouco à policial tipo B à estrutura dos artigos, que parecem posts de blogues até ao tom demasiado informal, demasiado subjectivo e sem rigor. Alguns blogues são muito mais objectivos. Isso choca-me, porque um blogue não é um jornal, não tem obrigação de ser rigoroso e informativo. Um blogue é comprometido com a pessoas(s) que o escrevem, que não são, na grande maioria, jornalistas e o escrevem por variadíssimas razões, geralmente entretenimento ou desabafos ou expressão de opiniões, etc. Ora os jornais, cada vez mais parecem blogues e os jornalistas opinam sem terem o cuidado de se informarem dos assuntos e sem fundamento para o que dizem. Dizem apenas a sua opinião. Mas num jornal, mesmos nos editoriais e artigos de opinião queremos ver argumentos razoáveis e não apenas 'queixas'. Isso é o que nós fazemos às vezes nos blogues. Mas nós não somos jornalistas. Eu, na minha profissão, tenho cuidado em não apresentar opiniões sem justificação ou fundamento, mas muitas vezes aqui no blogue assumo um tom jocoso ou de queixa que num jornal nunca adoptaria. Faz-me impressão que muitos jornalistas não saibam fazer esta distinção.
Hoje em dia leio os jornais e muitos parecem posts de blogues. Pior, muitos blogues que as pessoas escrevem nas horas vagas e não por profissão, são mais sérios, mais rigorosos e mais objectivos. Eu sei que isto mostra a importância crescente dos blogues, mas parece-me que os jornalistas deviam pensar seriamente no que andam a fazer. Este artigo, por exemplo, não tem nada de informativo ou de sintetizador da situação ou sequer de modelo de reflexão. É apenas um chorrilho de queixas e ofensas...nada mais.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.