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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Outro dia li no jornal que agora já não é no básico mas no secundário que se chumba mais. Pudera... no básico tornou-se, na prática e, em alguns casos na lei, proibido chumbar, de modo que os alunos chegam ao secundário num estado tão primário que não conseguem ultrapassar nenhum obstáculo. O governo há-de mandar passar todos no secundário e depois, evidentemente, hão-de voltar-se para as universidades e exigir que passem todos também e assim teremos no futuro pessoas muito qualificadas para fazer nada e não trabalhar que foi o que aprenderam com muitos anos de prática na escola.
Como me dizia uma aluna, outro dia, 'porque é que a professora complica tudo com peguntas? Porque é que não simplifica e assim é mais fácil estudar'.
Vou contar um episódio de há duas semanas: entrei com a turma do 12º ano na sala x para a aula do meio-dia. Assim que entramos, duas alunas que se sentam à frente, dizem, 'que nojo! Professora, venha cá ver o que está aqui em cima da mesa e no chão. Unhas dos pés!' Lá me enchi de coragem para ir olhar nojices, pus os óculos e fui ver. A mesa da frente e o chão estavam cheios de unhas de pés. A turma toda foi ver. Disse a uma das garotas para ir chamar a funcionária do bloco, porque temos instruções para avisar a funcionária de serviço quando as salas estão sujas ou com algo estragado, para poder-se saber quem foi a turma responsável. Entretanto fui à entrada da sala ver no horário de ocupação da sala, que está afixado à porta, quem era a turma e as disciplinas que tinham estado na sala nesse dia. É uma turma do básico. Bem, veio a dona H. com uma vassoura e uma pá e varreu aquilo e limpou. Aproveitei para perguntar-lhe se tinha visto quem era a turma que ali esteve, ela confirmou ser a turma x e acrescentou, 'a professora não tem ideia do que são os dessa turma'.
Quando saí da aula fui ver, na sala de professores, quem era a DT dessa turma. No dia seguinte fui ter com ela e contei-lhe o episódio para ter conhecimento e poder tomar medidas. Ela não ficou surpreendida. A turma, disse-me, já leva várias participações disciplinares, repreensões registadas e ninguém os aguenta. Tem uns dez alunos que dominam a turma e não deixam os outros trabalhar. Passam as aulas a fazer barulho, falam com os professores com palavrões.
A turma tem lá alunos interessados mas têm medo destes e não se consegue trabalhar porque toda a aula é passada a gerir estes indivíduos. Isto não admira assim tanto. Quando lemos os comentários nas notícias dos jornais, são todos nestes termos muito ordinários. Ora, esses que comentam assim dessa maneira, são encarregados de educação de alguém. Ainda outro dia, aqui no blog uma pessoa anónima me deixou um comentário todo neste teor extremamente ordinário que fez-me lembrar a minha colega a contar como os alunos daquela turma falam aos professores. Portanto, se os pais falam assim e têm esta atitude perante os professores, não é de admirar que os filhos os imitem e façam o mesmo.
A questão é: estes alunos cujos pais têm este nível, são aos milhares e nenhuma aula de apoio, explicação, medida de recuperação de aprendizagem alguma vez funcionará com eles porque o problema deles não é falta de compreensão ou, como defendia, obscenamene, um artigo de jornal recente, a violênca contra professores dá-se porque estes são velhos e os alunos acham as aulas uma seca. Não, o problema destes alunos é a educação que trazem de casa e para a qual regressam a meio do dia ou ao fim do dia.
Os PIAs (processo individual do aluno) estão cheios de documentos reveladores. Nós vemos em muitos deles que os pais nunca ajudaram os filhos a fazer um trabalho de casa ou que nunca foram à escola saber deles, durante todos os anos do básico, desde que entraram para a escola.
Não digo que estes alunos não possam, daqui a uns 10 anos, quando não tiverem 15 mas 25 anos e estiverem num emprego qualquer a ganhar miseravelmente (embora me pareça que nesses casos culpem os professores por não os terem transformado magicamente, como se nós tivéssemos uma varinha mágica que os transforma de pessoas agressivas e com desprezo pelo conhecimento em pessoas corteses e ávidas de conhecimentos), perceber que deviam ter aproveitado a oportunidade da escola mas neste momento, nenhuma explicação ou aula de apoio lhes corrige o comportamento sem o qual nenhuma aprendizagem é possível. E nestes casos nenhum professor, com mais ou menos estratégias os modifica por milagre.
A única coisa que pode fazer-se é responsabilizá-los pelos seus comportamentos mas, para isso, seria preciso que o ME apoiasse os professores nas questões de disciplina, o que não faz; pelo contrário, o seu discuso é de vitimização destes alunos e de culpabilização dos professores, de modo que eles, os alunos, e os pais, sentem força para desrespeitar os professores.
Na educação não há milagres, tudo leva muito tempo a maturar e muitas vezes são necessárias certas experiências de vida transformadoras. No entretanto, o resto da turma não aprende nada porque aqueles não deixam. Os professores saem exaustos e stressados destas aulas e vão para as seguintes afectados, quer queiram quer não.
Passar este alunos com estes comportamentos, embora a maioria, de facto, seja uma vítima dos pais que tem, é dizer-lhes que não há diferença nenhuma entre a agressão e a ofensa, e o esforço, o respeito e o trabalho. Entretanto estragou-se a oportunidade dos outros da turma poderem aprender e progredir.
Na quinta-feira passada um aluno veio ter comigo no fim da aula e disse-me, 'professora, queria saber como é que se faz queixa de um professor'. Disse-lhe que se tem um problema com um professor a primeira coisa que deve fazer é ir falar com o professor em questão para resolvê-lo. Perguntei-lhe qual era o problema. Disse-me que o professor x não lhe aceitou um trabalho, disse-lhe que não estava bom e mandou-o corrigir; ora, dizia-me o rapaz, se não está bom é porque o professor não me sabe ensinar e quero fazer queixa dele... esta ideia que os alunos têm de que são bons em tudo, que não precisam de esforçar-se, que a aprendizagem é um acto instantâneo da responsabilidade dos professores e não um processo lento e gradual que se passa no interior e necessita de correções e ainda, que se não conseguem atingir resultados a culpa é dos professores, releva de anos de endoutrinação do ME a alunos e pais com slogans de os alunos serem excelentes por natureza e só não progridem porque os professores não prestam.
Não compreendem os problemas, partem de pressupostos errados e irreais do ser humano e do seu desenvolvimento e depois, como as soluções com base nestes princípios não resultam e querem a todo o custo apresentar tabelas com percentagens de sucesso total, mandam passar toda a gente de qualquer maneira. Para fingir que isto é a sério, carregam os professores de aulas de apoio, explicações, medidas universais, parciais e o diabo a nove...
Outro dia uma ignorante qualquer escrevia um artigo no jornal que é mais um pasquim de publicidade do Costacenteno que outra coisa, a dizer que até que enfim que alguém diz aos professores do secundários que os meninos (os meninos...) com educação especial têm tanto direito como os outros de estar ali. É que nem me lembro da última vez que estive um ano sem alunos com educação especial.
Mais, às vezes somos nós que temos que insistir com os pais para requererem para os filhos, as condições especiais a que têm direito porque a maioria dos pais não quer e tentam convencer os filhos a recusá-las. Rejeitam a ideia de alguém saber que os filhos têm uma doença ou uma incapacidade. Também há o inverso que é alguém da educação especial convencer os pais, desde a escola primária, que os filhos têm um problema e depois os miúdos crescerem a pensar que têm incapacidades, quando não as têm.
Mas é claro que o problema são os professores. Sempre. Porque é que estas pessoas todas não tiram 2 ou três anos para ir dar aulas aos 5ºs, 6ºs, 7ºs, 8ºs,9ºs, etc. anos que por aí andam a chamar palavrões aos professores ou a deixar unhas de pés nas aulas, antes de virem com conversas de quem pouco percebe de adolescentes e de aprendizagem. Talvez estes alunos não tivessem chegado assim ao fim se não lhes tivessem inculcado na cabeça que a educação e o sucesso são algo que lhes vem de fora como um presente e que está nas mãos dos professores.
A educação é como o voto: é um direito das pessoas e das famílias, sim, que o Estado providencia mas, também é um dever das famílias para com o Estado. E é isso que toda esta gente que traz a revolução no bolso não compreende.
É o caso desta comentadora que faz questão de ignorar as denúncias diárias acerca das condições de trabalho nas escolas, acerca dos diplomas asininos desta equipa da educação que aumentam os papéis sem nenhum acréscimo de qualidade para o ensino, acerca da gestão das escolas, da confusão e contradição dos currículos, dos concursos de professores, etc., etc., etc., que se podem ler um pouco pelos jornais, por blogues de professores, por cartas abaixo-assinadas por professores e por aí fora.
Ela rala-se tanto com o ensino público que sabe zero acerca do que se passa na educação e reduz os mais de 100 mil professores ao Mário Nogueira. Ora, como não acredito que seja assim tão estúpida, só posso inferir que é mal intencionada ou talvez esteja a escrever para fazer um favor a alguém do governo.
Na cabeça destes comentadores, um professor é um padre missionário e, se se preocupa com a educação dos seus alunos, então não pode preocupar-se com questões salariais, esse tema tão pouco espiritual. Já se se preocupa em não chegar à reforma, depois de uma vida de trabalho, a ganhar o salário mínimo, só quer dizer que não quer saber dos alunos.
Enfim, segundo esta comentadora os professores, que são, como é sabido, quem decide as políticas do país e os gastos dos milhares de milhões de euros, é que estão a cavar a desigualdade social e tudo porque o Mário Nogueira reivindica que não apaguem quase dez anos de trabalho dos professores.
Como se não bastasse a Lurdes Rodrigues ter cavado a sepultura da profissão tão bem cavada que 10 anos depois já não se arranjam professores ao ponto de ter que ir buscar-se os que no ano anterior ainda eram alunos nas escolas -ninguém quer uma profissão mal paga e vilipendiada por estas pessoas de pouca substância-, ainda querem degradá-la mais.
Olha, vendo bem, se calhar é mesmo estúpida.
Estamos a cavar a desigualdade, perante o silêncio da sociedade e dos próprios agentes do ensino, os professores.
São José Almeida
Ora, na permanente, extenuante e barulhenta reivindicação sindical dos professores, a começar pelo discurso do seu líder, Mário Nogueira, a gritaria gira toda em torno de objectivos individualistas de reconhecimento de tempo de serviço e de aumentos salariais. Nem uma palavra se ouve sobre a degradação do ensino público e as suas consequências para a comunidade e para o Portugal futuro. As consequências da degradação do ensino público são larvares, silenciosas, não visíveis imediatamente pelos pais nem pela comunidade. Não há os eventuais mortos nem doentes em estado agravado pela má assistência do SNS. Mas a prazo estamos a formar cidadãos em piores condições de se inserirem e contribuírem para o bem comum da sociedade e para a sua realização pessoal. Estamos a cavar a desigualdade, perante o silêncio da sociedade e dos próprios agentes do ensino, os professores. E é sobre isto que eu gostava de ouvir Mário Nogueira falar.
Last week, Rudd unveiled plans to force companies to reveal how many foreign staff they employ, to a chorus of disapproval. She said foreign workers should not be able to “take the jobs that British people should do” and announced proposals to make companies publish the proportion of “international staff on their books”.
... e foram substituídos por estranhos que falam inglês, parecem ingleses mas não são os ingleses.
Mais um artigo de um condutor de domingo da educação. Mais um que acredita mesmo que cem mil pessoas são marionetas de sindicalistas. Mais um que trata os professores com a condescendência com que se tratam os putos... não há pachorra para esta gente. Porque é que não se dedica a falar de penteados da moda ou dos capítulos da telenovela que, com certeza, segue?
No total, são 181 trabalhos os que a Câmara Municipal de Cascais já está a enviar para Inglaterra, onde a artista vive desde os anos 1950. Mas poderão vir a ser mais, caso Paula Rego decida pedir a devolução de trabalhos como a sua conhecida série das 'Óperas', deixada no museu para uma exposição a inaugurar este mês.
Onde os que governam são técnicos (os melhores, que os outros nem isso são), completamente estranhos ao universo da cultura, ignorantes, sem consciência da importância da cultura no desenvolvimento dos povos e, 'pour cause', com um enorme desprezo por ela.
Ninguém foi capaz de pensar em fazer uma proposta à autora para que as obras ficassem em Portugal... não temos museus que pudessem acolher as obras...?
...mas perdeu-se, concerteza, entre os corredores do poder e os bares dos deputados. Agora é um ignorante de tudo o que se passa na educação. Ainda tem aquela mentalidade comunista do 'nós' e os 'outros'. O discurso dele é o da Lurdes Rodrigues, e isso diz tudo da qualidade dele para falar destes assuntos...como dizia o outro...se não fosse parvo era um bocadinho mais alto.
por Lusa<input ... >Hoje A DECO disse hoje que as empresas com capitais públicos são as mais mal governadas entre 338 nacionais e internacionais cotadas em bolsa analisadas num estudo da DECO, que conclui haver pouca independência da administração, falta de transparência e remunerações exageradas. Mas isto é alguma novidade? Não é para lá que vão os clones do Sócrates? Ignorantes (mal)encartados, que nunca fizeram algo de útil na vida a não ser governarem-se? Ruis Soares, Varas e outros que tais? Parceiras P.P. que chupam mil e quinhentos milhões... Mas as pessoas votam neles uma e outra vez... DECO: Empresas públicas são as mais mal governadas
Ideia de "irresponsabilidade" do líder do PSD será a tónica da intervenção do primeiro-ministro no comício de amanhã em Mangualde.
Isto tudo porque o PSD tem uma sondagem na mão -que o PS também conhece- que lhe dá como garantida uma maioria absoluta desde que não mande o governo abaixo. A mesma sondagem mostra que o país penalizaria o PSD por essa destabilização. É por isso que o Sócrates e os do PS riem todos os dias apesar de terem enfiado o país na m..... para se encherem de dinheiro e mordomias: é porque sabem, ou pensam, que os outros estão de mãos atadas. O Sócrates vai bater na tecla da estabilidade e da irresponsabilidade do Passos Coelho até à exaustão.
Estamos como em 1960... Só para quem não anda nas escolas a trabalhar é que esta notícia surpreende. Se as pessoas que governam a pasta da educação de há uma dúzia de anos para cá tivessem algum conhecimento acerca de educação e da realidade das escolas (e se fossem pessoas sérias - e isto é muito importante, porque na educação nada se faz sem seriedade) talvez não estivéssemos tão mal.
Quem trabalha nas escolas, e basta andar aí pelos blogues de professores (falo dos que efectivamente dão aulas) concerteza nota que as opiniões são quase unanimes sobre assuntos chave da educação. E em geral os professores que escrevem blogues são, notoriamente, pessoas sérias, com graus académicos verdadeiros, pessoas cultas, actualizadas, activas, preocupadas e interessadas nos seus alunos e escolas. Por contraste, os que nos governam são, não raras vezes, o oposto.
Ainda esta semana que passou li num jornal que tinham andado a perguntar a ex-ministros (acho piada que ex-ministros que ajudaram a pôr o país neste estado passados 5 anos passem à categoria de 'sábios' - ainda havemos de ver o Sócrates fazer parte duma comissão qualquer de 'sábios') quem eram os grandes ministros desta República, ao que pelo menos dois citaram o nome da ex-ministra da educação, a Lurdes Rodrigues, que foi uma ministra que destruiu tudo em que mexeu. Ora, é esta gente que continua a decidir, de modo que 'Alea Jacta Est' em direcção ao abismo.
Ex-director-geral do Orçamento diz que não há meios humanos para controlar gastos públicos.
A corrida à reforma deixou a Direcção-Geral do Orçamento (DGO), organismo responsável pela execução orçamental, sem quadros suficientes para controlar de forma eficaz a despesa de quase 700 organismos públicos. Só em 2009, ano em que o défice das contas públicas subiu para 9,4 por cento do PIB, a DGO perdeu 45 funcionários, correspondentes a 16 por cento dos 275 efectivos de 2008.
Luís Morais Sarmento, o director da DGO que cessou funções em Abril após ter pedido a demissão do cargo em Outubro do ano passado, deixa claro, no relatório de actividades da DGO, que em 2009 se acentuou 'a carência de activos humanos'. E precisa que 'nos últimos cinco anos a DGO perdeu um terço dos seus efectivos'. Ou seja, 117 funcionários.
Por isso, Sarmento frisa que 'a situação descrita não é sustentável, estando em causa a capacidade da DGO para desenvolver adequadamente as suas atribuições e para assumir um papel mais activo na definição de reformas mais profundas do processo orçamental'. E essas reformas, diz o ex-director-geral do Orçamento, são 'indispensáveis à consolidação duradoura das contas públicas e ao reforço da eficiência e eficácia da despesa pública'.
É assim. Para que os amigos possam ser nomeados para consultores e ganhar milhões e para que ganhem ainda mais milhões com ajustes directos trataram-se mal os funcionários públicos. Forçou-se as saídas para contratar pessoal novinho, barato. O problema está em que a (falta de) experiência paga-se depois muito caro. Como se vê pelo estado das contas públicas.
Definindo a literacia como "a capacidade de compreender e de aplicar conhecimento apresentado em forma impressa" (talvez fosse preferível falar em forma "escrita") e partindo do princípio da relevância essencial de um bom nível de literacia para o desenvolvimento económico e o progresso, a igualdade de oportunidades e a justiça social, aí podemos ler que "os adultos com baixas competências de literacia passam mais frequentemente por episódios de desemprego, recebem salários mais baixos, apresentam muito maiores probabilidades de serem pobres, têm uma saúde mais débil, socialmente são menos empenhados e têm um acesso menos frequente a oportunidades educativas (...)". Tudo isto já era sabido e tenderá a agravar-se e muito numa situação de economia global, se não for atalhado convenientemente .
Segundo as conclusões do documento, Portugal encontra-se "entre os países da Europa que apresenta [sic] menos avanços no que respeita ao aumento da oferta e da qualidade da educação pré-escolar, do ensino básico, do ensino secundário e do ensino superior". Em consequência, "os níveis de literacia encontram-se entre os mais reduzidos da área da OCDE e Portugal tem as percentagens mais elevadas de adultos com baixas competências de todos os países europeus".
Por outro lado, "o nível de exigência, em termos de literacia, do mercado de trabalho português, está entre as mais baixas [sic] da Europa", embora a situação esteja a melhorar lentamente. "O mercado de trabalho português apenas recompensa as competências de literacia nos níveis mais elevados" o que não estimula ninguém a melhorar a sua formação.
O que todos já sabemos e dizemos há muito tempo mas que não adianta nem atrasa porque o ministério da educação parece uma confraria de tolos e de ignorantes. E porque o primeiro ministro tem como objectivo não mexer na educação a não ser para poupar dinheiro.
Quando se juntam as mesas em quadrado, muda-se também a hierarquia entre os alunos. Deixa de existir a divisão entre indisciplinados nos lugares de trás e "marrões" nas filas da frente. Como está agora, a sala de aula é "um espaço antinatural"
É por isso que anunciaram que vão fazer a reforma sem ouvir os professores. Pois, que interessa ouvir aqueles horríveis professores que nem sequer descobriram ainda o que um designer e um coreógrafo perceberam num minuto? Que tudo se resolvia com as mesas em U?
Eu leio estes artigos e o que me apetece dizer é que 'antinatural' é haver uma concentração tão grande de tolinhos a mandar e a influenciar as coisas na educação. É que este artigo é mesmo aquele tipo de coisa de gente que leu um livro de psicologia ou de sociologia e agora acha que descobriu a América. Isto faz lembrar a moda que varreu o ministério da educação aí há uns 10 anos, em que o que interessava era experimentar 'coisas giras e diferentes'. E mostra bem que esta gente não vai às escolas nem sabe o que lá se passa, pois há colegas que sempre deram as aulas com as mesas assim e a maior parte de nós já deu aulas com vários arranjos de espaço. Em U, juntando as mesas de modo a fazer dois grupos à volta de mesas rectangulares, ou quadradas, etc.
Há dois factos que estas pessoas parecem não perceber:
o primeiro é que as relações entre as pessoas não são estáticas, são dinâmicas. Assim, não há um modelo ou um 'truque' que as normalize. O que resulta numa turma, não resulta noutra; o que resulta com o modo de ser de um professor, não resulta com outro; na mesma turma, com o mesmo professor, o que resulta num certo tempo, ou espaço, pode não não resultar a seguir; às vezes basta mudar a matéria que se está a dar e as coisas mudam também. Quer dizer, as pessoas (sim, porque dentro da sala de aula estão pessoas - alunos e professores não são mecanismos automatizados ou automatizáveis) são influenciadas na sua disposição por inúmeros factores. E esse é o segundo facto: nada na educação se resolve com truques como se fossem macacos no circo. Não existe um ingrediente mágico que resolva todos os problemas. A educação é a formação de pessoas: nela tudo é moroso, em grande parte porque os processos de desenvolvimento e aprendizagem, tanto de conhecimentos como de atitudes, são interiores e dependem da maturação de outros factores.
Por exemplo, tenho uma turma do 11º com 26 alunos, que no primeiro período tinha um problema de concentração por causa de 5 deles. São bons miúdos mas não paravam de falar e obrigavam a interromper de modo que afectavam as aulas. Cada professor experimentou várias maneiras de resolver a questão. As mesmas técnicas não resultaram da mesma maneira para todos. A certa altura tivémos que mudar de sala porque uma das miúdas teve um problema num pé e não podia subir escadas. Passámos para uma sala muito pequenina. Aproveitei e separei os tais 5 como pontos cardeais - cada um para uma ponta - e pus os dois piores mesmo à minha frente. Estou em cima deles porque a sala não tem espaço, e entre o quadro e a mesa da frente tenho pouco mais de 50 cm para mim. Acabou-se completamente a conversa nas minhas aulas. No entanto, com outra colega a coisa foi exactamente ao contrário. O espaço exíguo e todos 'à molhada' teve como consequência que agora todos falam imenso. Entretanto eu, que resolvi o problema da conversa, fiquei com outro que não tinha. Uma das miúdas que falava muito mas também trabalhava, com a do lado, desde que está numa ponta afastada do grupo de amigos, deixou de prestar atenção à aula. Ela está sossegada mas a cabeça dela nunca está ali. Olha para a janela, 'está noutra'. Portanto, resolvi um problema arranjei outro que precisa de outra solução...
As pessoas que 'dizem coisas' sobre educação, e aulas, e técnicas pedagógicas e falam da boca para fora sem saber do que falam, a mim, tiram-me completamente a esperança de ver alguma coisa mudar para melhor quando vejo que quem decide as coisas é gente tolinha. Ignorante e tolinha.
Ultimamente tenho-me lembrado deste livro que li há mais de 20 anos. O livro analisa casos famosos de batalhas que correram mal ao longo da História. Analisa o comportamento das chefias e os estorvos inerentes à própria organização.
Na origem dos problemas estão: hierarquia fechada, tendência para premiar os servidores ambiciosos e desprezar as vozes contrárias, excesso de uniformização e de regras fora das quais não sabem funcionar e outras.
Na análise de batalhas as conclusões apontam quase sempre as mesmas causas, os mesmos vícios: ideias preconcebidas bebidas nos analistas da moda e desprezo absoluto pela informação disponível. Em inúmeros casos os documentos mostram claramente que as chefias estavam na posse de todas as informações necessárias para mudar o rumo dos acontecimentos e evitar a derrota. Porque não o fizeram? Porque foram para o terreno com ideias pre-concebidas, dos seus 'especialistas da moda' e escolheram desvalorizar as informações em contrário, por mais óbvias que fossem, por mais óbvios que fossem os factos a contrariar os preconceitos.
Tenho-me lembrado do livro porque há um paralelismo evidente com o estado actual da educação: a hierarquia é surda, com tendência ao nepotismo, premeia os servidores ambiciosos, despreza as vozes dissonantes, aposta no excesso de uniformização e, acima de tudo, desvaloriza e volta as costas às informações, mais que óbvias, do fracasso dessas ideias/políticas ao ponto dessa teimosia/estúpidez ficar à vista de todos. O caso da outra ministra é um exemplo de como as ideias preconcebidas de 'especialistas da moda' e a obsessão com a hierarquia de comando causam o colapso do sistema de modo tão ruínoso que pouco resta para salvar.
Este é um livro que as chefias de qualquer sistema, mas muito prementemente as da educação deste país (primeiro ministro -que nada percebe de educação, ministro das finanças - que nada percebe de educação e figurantes do ministério da educação - que nada percebem de educação) deviam ler.
A ler este livro aprende-se muito sobre a estrutura interna dos sistemas na sua relação com a psicologia das pessoas.
SOL
Esses quatro compromissos farão parte do programa eleitoral social-democrata...
«No nosso programa não poderemos deixar de contemplar a alteração destes quatro aspectos que estão a paralisar o sistema, estão a torná-lo inviável, desmotivador da acção dos professores», declarou.
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Na reunião de hoje, destinada a recolher contributos para o programa eleitoral do PSD na área da educação, juntaram-se «desde pessoas ligadas a sindicatos, a associações de pais, professores do ensino superior e do ensino secundário» e a crítica ao estado da escola pública «é generalizada», bem como a ideia de que não se pode reformar o sistema «contra os professores», segundo relatou Manuela Ferreira Leite.
«Não se pode manter um sistema em relação ao qual, na generalidade, todos estão contra e que é um tipo de sistema em que todos devem estar envolvidos», defendeu a presidente do PSD.
«Uma coisa é certa, vamos pôr em cima da mesa a modificação destes quatro aspectos: Estatuto do Aluno, avaliação dos professores, Estatuto da Carreira Docente e os aspectos de desburocratização», reiterou, dizendo que «as propostas, em concreto, hão de ser feitas com os agentes educativos».
De acordo com a presidente do PSD, «os professores devem ser avaliados» e «nunca ninguém negou a necessidade de avaliação dos professores, nem sequer os próprios professores».
«Agora, também já se viu este sistema não serve para avaliar, só serviu para paralisar. Portanto, insistir nisso seria o chamado suicídio, que evidentemente julgo que ninguém defende», acrescentou.
Quanto ao Estatuto do Aluno, «o problema é que com aquele estatuto o que acontece é que um aluno pode passar, transitar de ano, sem nunca ter sequer ido alguma vez à escola», apontou.
Na opinião da presidente do PSD, «estes quatro anos foram quatro anos absolutamente perdidos em termos de reforma da educação» e é preciso «lançar mão àquilo que é preciso fazer e não permitir que o sistema educativo se continue a deteriorar».
Depois disto, nenhum professor que esteja contra o horror em que se tornou a educação poderá votar noutra pessoa. Mesmo que não se morra de amores, antes pelo contrário pela Manela. Mas se é o único modo de evitar a destruição completa da educação, da carreira dos professores e da destruição do futuro, via destruição dos alunos, então parece-me obrigatório.
Quem hoje não vê que a educação se tornou um negócio para quem tem dinheiro, e que, cada vez mais, os piores é que decidem do futuro de todos, é completamente cego!
Se há uma maneira de mudar, então é obrigatório apoiá-la!
Eu, é o que vou fazer, desde que ela não mude o compromisso assumido.
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