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Coisas que não percebo nos hospitais

por beatriz j a, em 30.07.19

 

Será que os hospitais poupam muito dinheiro na baínha daquelas batas que nos mandam vestir?

É que mandam-nos ficar em cuecas e vestir uma bata. A bata é para crianças sem peito e não cruza. Para melhorar as coisas, mal tapa o rabo... depois, para piorar, metem um espelho naqueles vestiários, como se uma pessoa precisasse de ver-se naquela figurinha... se tentamos cruzar a bata vem toda para cima, se a puxamos para baixo... enfim, depois cruzamo-nos com outros nos corredores -homens e mulheres-, todos nesta figurinha de batinha babydoll.... enfim, todos não, já vi que há umas batas que chegam ao joelho e cruzam mas a mim nunca me calham essas... A certa altura temos que esperar sentados antes de virem tirar o catéter. Bem, aí ainda é pior, quer dizer, tentarmos sentar com alguma dignidade com um babydoll que se abre por todos os lados... chiça, mas não têm dinheiro para mandar baixar a baínha das batas e pôr mais um bocadinho de pano no peito? É que uma pessoa já não tem idade para andar a passear de mini-saia pelo rabo. Aquilo parece-me sempre que estou dentro de um sketch do Monty Python

 

publicado às 19:34

 

Porque vemos que vêm em último lugar. Havia um hospital em Braga que tinha uma PPP com o grupo José de Mello Saúde e que na avaliação de qualidade que fazem aos hospitais ficou em primeiro lugar. Ora, isto quer dizer que estão a tratar bem os doentes, sendo que esse é objectivo de um hospital, não? Pois acabaram com essa PPP com prejuízo dos doentes. Depois anunciaram que iam fazer uma parceria com outro grupo. Depois afinal vai ser gerido pelo Estado. Agora querem proibir todas as PPP... não só parecem baratas tontas (não há aqui nenhum princípio de beneficio público orientador, antes pelo contrário) como mostram não estar a pensar no interesse dos doentes. Querem servir uma ideologia, mesmo à custa dos doentes. Nisto o Presidente tem razão, não se fazem leis para fechar portas e erguer muros -à Trump- mas para potencializar possibilidades. Nenhum governo é obrigado a fazer uma PPP se não é do interesse do Estado mas para isso não é preciso proibir. Isso é coisa de ideologia leninista... as pessoas, no meio disto, ficaram em último lugar. Se isso não fosse grave, quer dizer, percebermos que o benefício das pessoas não orienta a acção governativa era só absurdo e desinteligente.

 

Marcelo prepara veto a fim das PPP na saúde

Marcelo Rebelo de Sousa entende que o espírito de uma lei de bases deve ser o de abrir possibilidades e não de as fechar.
 

publicado às 20:02

 

 

Helsínquia tem um novo hospital infantil construído para acolher crianças e adolescentes. Um hospital já é um sítio angustiante para adultos, para crianças então, deve ser assustador e, sendo-o, não ajuda ao combate à doença.

 

Eu, como agora ando muito em hospitais, noto as diferenças. Os hospitais antigos são escuros e sem janelas. Opressivos. As pessoas só têm umas às outras para olharem enquanto esperam naquelas salas ou corredores que parecem depósitos de pessoas. Os hospitais novos são claros e têm muita luz, o que já ajuda, mas são fechados, sem janelas. Nos hospitais em geral, as salas com janelas são os consultórios médicos e salas de tratamento. Aqui há tempos tive que ir fazer um tratamento num hospital que fica no meio de Lisboa e a sala onde me fizeram o tratamento tinha uma grande janela que dava para a rua, em frente a um prédio de escritórios do outro lado da rua. Quer dizer, eu dispensava isso de ter que me despir e ser tratada numa sala com uma total falta de privacidade. 

 

Aqui o hospital de Setúbal onde vou é claro, tem muita luz mas, está mal construído, quer dizer, não pensaram no ponto de vista dos doentes, o que é uma pena. Está no meio do campo, uma paisagem mesmo relaxante, de campo verde, a ver-se ao longe os rebanhos de ovelhas e as colmeias. Pois todas as salas de espera são pequenas e, quando cheias, o que acontece muito, são muito barulhentas, estamos sentados em cima uns dos outros e são quase todas fechadas, sem janelas. As crianças ficam rabujentas, os pais stressam-se, os funcionários do balcão stressam-se...

Depois, são capazes de ter cartazes a apelar à calma, ao silêncio e à meditação mas, tinham ali um espaço envolvente extraordinariamente bucólico e relaxante e não o aproveitaram... isto não compreendo... depois chamam as pessoas aos gritos... enfim, sempre que lá vou arranjo maneira de ir sentar-me, nem que seja cinco minutos, no café que tem uma vidraça enorme voltada para a paisagem campestre onde podemos relaxar o olhar e o estado de espírito. Depois, volto para a sala de espera e tento encontrar um lugar o mais longe possível das pessoas, de costas para o rebuliço à volta dos balcões para não me stressar.

 

O hospital onde ando a tratar-me do cancro, em Lisboa, está construído de modo a que todas as pessoas, enquanto esperam, estejam viradas para um jardim meio tropical, verdejante. Todo o espaço, muito amplo, tem imensa luz, cores reconfortantes e um ambiente meditativo o que faz uma diferença abissal na capacidade de nos abstrairmos uns dos outros e relaxarmos a mente, porque estamos todos ali em situação de grande stress e ansiedade devido à gravidade das doenças e porque muitas vezes vamos saber de resultados de exames de avaliação do estado e progressão da doença e isso é gerador de grande ansiedade. E às vezes as notícias são más e apesar disso existe um controlo das emoções devido à atmosfera calmante do espaço. Espalham uns jornais pelas mesas e as pessoas, nomeadamente os acompanhantes, distraem-se a ler em vez de falar e contribuir para o ruído.

 

Os próprios médicos, enfermeiros e técnicos, que lidam todos os dias com doentes nestas situações difíceis, são afectados positivamente pela calma do espaço e conseguem melhor lutar contra a ansiedade que também sentem.

 

É claro que há outros factores: não haver falta de enfermeiros, médicos e equipamentos. Nos hospitais públicos (abandonados pelo Costacenteno para que o Pinho possa receber uma reforma de 50 mil euros, o Salgado, o Tomás do Montepio e outros possam destruir bancos e contar com o dinheiro dos contribuintes para manterem as suas propriedades de 800 milhões e as suas vidinhas milionárias intactas bem como enfiar todos os familiares no governo) a falta de enfermeiros, médicos e equipamentos e a degradação do espaço contribui para um permanente mal-estar de todos os envolvidos com implicações negativas para a saúde dos doentes pois os profissionais trabalham com ratios impossíveis de doentes, sem apoios nem equipamentos. Uma pessoa ser atendida num hospital por pessoas atenciosas, bem dispostas e solicitas faz logo diferença.

 

Eu sou uma grande crente na importância da arquitectura e do espaço envolvente para a vida física e mental das pessoas. Pessoas que vivem em espaços exíguos, em zonas agressivas, degradadas, com horizontes saturados de prédios, sem espaços verdes nem contacto com a natureza andam muito mais stressados, vulneráveis ao cansaço, às doenças, à agressividade, ao desinteresse e desmotivação no trabalho, ao cuidado com os filhos e por aí fora. Isto custa muito dinheiro em termos de produtividade e saúde e podia ser evitado se houvesse cuidado na construção dos espaços pensando nas pessoas e no fim a que se destinam.

 

publicado às 07:00

 

Uma pessoa está mais de vinte anos sem ir a um médico a não ser aqueles dois que tem mesmo que ser, tipo o dentista e isso, sem entrar num hospital e sem tomar medicamentos. Nem sequer tem uma gaveta de medicamentos. Lembro-me de ter, literalmente, um termómetro dos antigos com mercúrio, uma caixa de aspirinas, uma de dimicina, uma bisnaga de hirudóide e uns pensos rápidos. Mais nada. Nem sequer conhecia nomes de medicamentos vulgares. Enquanto o meu filho era pequeno, de cada vez que estava doente comprava os medicamentos que o médico mandava e depois aquilo gastava-se e pronto.

Agora é isto. Uma gaveta cheia de medicamentos, mais os que não cabem na gaveta, fora os da cozinha, que estou a tomar e os que estão no quarto... ahh e o saco para onde atiro os exames e relatórios médicos que são às dezenas, pois neste último, quase um ano, fiz o quê...? Deixa ver... biópsias e endoscopias com biópsia, meia dúzia, electrocardiogramas, ressonâncias magnéticas, radiografias, quase três dezenas no acelerador linear, uma PET, TACs...? ohh, sei lá... uma dúzia, quase todas com contraste... os tratamentos, claro, que são na ordem das dezenas, os de químicos todos endovenosos (o tratamento da químio eram quatro horas a enfiar cenas no corpo e quando era a vez do saco do medicamento que levava duas horas a despejar, o braço onde o injectavam ficava tão frio, gelado, que parecia ir cair como nos desenhos animados ou o homem gelo no filme do batman) e análises ao sangue contam-se já pela centena... embora as análises não as guarde a não ser as últimas, umas primeiras que fiz pelas quais tenho estima (sim, sim, estima) e mais uma ou duas importantes. E os medicamentos que já tomei devem estar na ordem do milhar. [um aparte - acho que as Bayers e outras multinacionais farmacêuticas desincentivam a investigação de cura do cancro porque isto é uma mina de ouro. Milhões de pessoas no mundo a dependerem de medicamentos todos os dias.]

Outro dia uma colega disse-me que tinha feito dois exames e duas análises ao sangue para despistar um problema e que já não podia ver hospitais, médicos e técnicos à frente. lol   Já outra vez uma pessoa conhecida me dizia, 'fiz uma TAC em que injectam um líquido qualquer (iodo... radioactivo) e a Beatriz nem imagina! Aquilo foi horrível.'   lol   Nem lhe disse nada  :)) 

A minha vida agora é andar em hospitais. Ontem estive no hospital, hoje fui ao hospital fazer um ecocardiograma a amanhã vou ao hospital fazer tratamento.

Enfim, e de cada vez que passo por este caos de medicamentos penso que tenho que organizar aquilo mas quero lá saber de organizar medicamentos... não sou farmacêutica. 

É isto, como a vida de uma pessoa muda radicalmente em menos de um ano. 

 

Claro, no meio das coisas más descobrem-se coisas boas. Uma das minhas irmãs vem sempre comigo, não falhou um único tratamento e até nas endoscopias/biópsias esteve comigo e tem passado secas monumentais por causa de mim, para além de me ter apanhado nos piores momentos quando os tratamentos foram tão agressivos, os de final de Julho e os de Agosto, que houve ali uma semana que se não fosse ela e o meu amigo André eu não tinha ido fazer os tratamentos. E os maus momentos também ela os sentia um bocado por estar comigo. Aquelas quatro horas da químio passavam mais depressa e custavam menos por causa dela. Houve dias em que ríamos tanto, de parvoíces e a lembrar de coisas da infância, que as pessoas ficavam a olhar com aquela cara de, 'aquela deve ser maluca, como é que está ali com cinco sacos pendurados para injectar no braço e ri como se estivesse na esplanada ao sol ou assim?'

Estas coisas que fazem por nós não têm preço.

 

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publicado às 19:05

 

Conhecer um bocadinho da realidade dos outros porque não são só os professores que andam atacados de burnout.

 

 

 

publicado às 17:04


O caso de David Duarte

por beatriz j a, em 21.07.16

 

 

Carta da namorada do jovem que morreu por falta de médico ao fim de semana

 

O que choca neste caso são duas coisas: a 1ª é o hospital nunca ter pensado na possibilidade das pessoas adoecerem ao fim de semana com doença que precise de equipas especializadas e, por isso, não ter nada preparado, nenhuma prevenção. É o 'seja o que Deus quiser'. Afinal, não acontece até termos médicos a mais? Não é isso que dizem os médicos da Ordem? Para fechar vagas?

 

Não sei quem são os responsáveis por esta negligência grosseira, se a administração do hospital, se o ministro ou secretário da tutela mas, sejam lá quem forem deviam ser demitidos e impedidos de poder alguma vez liderar ou organizar, uma sardinhada que fosse.

A 2ª é lermos o relato da rapariga e percebermos que ninguém presente no hospital tentou uma alternativa qualquer para o salvar, desde mandá-lo para outro hospital, fazer qualquer coisa que atrasasse o processo... não sei, não tenho conhecimentos para saber o que poderia ter sido feito. O que se vê é que limitaram-se a esperar que o rapaz morresse sem fazer nada a não ser dizer à família para esperar... sabendo que as hipóteses dele sair daquilo vivo eram cada vez menores e que as de sair com sequelas mentais graves eram já o melhor cenário.

Se as pessoas quisessem entregar os familiares à vontade divina levavam os doentes para o padre cura e não para o hospital.

Ser enfermeiro em situações destas deve ser um inferno.

 

 

publicado às 17:03


Anos e anos e pessoas mortas

por beatriz j a, em 30.12.15

 

 

Hospitais asseguram, de forma rotativa, urgências para doença vascular cerebral

 

... e depois em cinco dias põem a funcionar um serviço... quer dizer que podia ter funcionado sempre... e não há responsáveis, para variar...

 

 

publicado às 22:36


E vão 9

por beatriz j a, em 18.01.15

 

 

 

Mais duas pessoas morrem nas urgência Demora na assistência faz novas vítimas. Mulher espera nove horas e homem quatro.

 

 

publicado às 14:24


Os factos

por beatriz j a, em 09.01.15

 

 

 

Em duas semanas, quatro doentes morreram nas urgências hospitalares, enquanto aguardavam assistência ou exames. Debaixo de fogo, o ministro anuncia reforma de serviços e contratação de profissionais.

No dia em que Paulo Macedo foi ao Parlamento responder à Oposição sobre a situação das urgências, foi conhecida a morte de dois doentes: uma em Setúbal, no passado dia 2 (mas só ontem divulgada), e outra, na segunda-feira, em Peniche. Estes dois casos somam-se à morte de um octogenário, no passado dia 27, no Hospital de S. José (Lisboa), e de um paciente de 57 anos, domingo, no Hospital de S. Sebastião (Feira)."

 

O ministro estava ontem na TV a dizer que estamos óptimos, tudo funciona às mil maravilhas.

 

 

publicado às 19:50

 

 

Urgências Ministro recomenda altas para desocupar camas

Os hospitais estão a ser recomendados a dar altas aos pacientes durante o fim de semana com o propósito de desocupar algumas camas.

 

Doentes em fase de convaslescença, provavelmente a precisar ainda de cuidados, mandados para casa para desocupar camas; ambulâncias paradas porque as macas ficam retidas à laia de marquesas nos hospitais, médicos contratados à hora em cima da hora, hospitais sem enfermeiros, sem antibióticos, sem rei nem roque!

Ora porque não acabar de vez com esse luxo das camas e em vez disso sentar os doentes? Ele era cadeiras em fila indiana e cabiam todos às molhadas. Agora camas? E hospitais? Vão para casa, tratem-se em casa e não incomodem que o ministro da doença saúde tem mais em que pensar, como fechar hospitais e despedir pessoal.

Disse-me o meu farmacêutico que o ministro da doença saúde está a pensar em permitir que os doentes renovem as suas próprias receitas médicas num portal online para não meterem os pés nas consultas médicas: com esta medida, matam-se dois coelhos duma cajadada, pois pode fechar-se mais uns centros de saúde e hospitais, por um lado e, por outro, todos os idosos que costumavam ir aos médicos e iam sendo monitorizados morrerão mais rapidamente, o que poupa imensas camas de hospital...

E no dia em que houver um acidente grave com muitos feridos temos uma catástrofe...

 

 

publicado às 20:10

 

 

 

A recent study from the Mayo Clinic published in the British Medical Journal examines patients with myocardial infarction (heart attack) presenting to hospital out of hours and those who present during normal working hours. They pool the data from all the studies that have been done around the world, and come to the conclusion that patients presenting at nights and weekends have a 5 percent increased risk of death. It therefore seems best, if you must have a heart attack, to have it during regular hours, though this is difficult to arrange for yourself.

 

Theodore Dalrymple in PJ Media

 

publicado às 10:50


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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