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Ministro britânico do Trabalho demite-se

Iain Duncan Smith não gostou dos cortes anunciados pelo ministro das Finanças, George Osborne, na Segurança Social para deficientes. ... este referiu que os cortes no sector das pessoas dependentes seriam defensáveis num contexto de redução do défice, mas não tendo em conta que o orçamento "beneficia os contribuintes com rendimentos mais elevados".

 

 

O ministro inglês fez aquilo que os ministros portugueses não fazem nunca. Vão para os governos a defender uma política e depois, quando querem obrigá-los a trair tudo o que defendiam e prometeram, em vez de se demitirem e recusarem a fazer o oposto do que prometeram, fazem-se de desentendidos e continuam no posto, impávidos e serenos, tipo, non pasa nada. Quando se lhes pergunta porque estão a fazer o oposto do que prometeram fazer dizem que as informações são diferentes quando se chega aos cargos, como disse o Crato que falava contra as políticas da fulana Rodrigues e acabou por ser o seu maior seguidor. Ser honesto e ir embora? Ah, isso não! Também esta equipa da educação entrou com um discurso que rapidamente esqueceu.

 

 

publicado às 20:09


Lisboa é a cidade menos honesta?

por beatriz j a, em 24.04.15

 

 

 

 

 

publicado às 02:15

 

 

 

 

As pessoas nem sempre falam a verdade, às vezes por questões de tato ou para evitar um mal maior: dizer a um adolescente que está bonito ou mentir a tropas nazis quanto ao paradeiro duma família em fuga, são casos em que o engano é piedoso ou corajoso.

 

Algumas vocações parecem requerer um certo grau de engano como o caso dos políticos que, segundo Orwell, ora escondem, ora embelezam, verdades difíceis. A linguagem política, dizia ele, está concebida para fazer com que as mentiras pareçam verdadeiras, os crimes pareçam respeitáveis e, em geral, dar uma aparência de solidez ao que não passa de ar e vento.

 

Embora possa ser exagero, a verdade é que seria 'naif' (ou cínico) alguém, nos dias que correm, ficar muito chocado por um político tentar esconder a verdade do público. Para qualquer cidadão atual, acompanhar a política implica um processo de especulação quanto ao verdadeiro significado das palavras de um político e, de modo nenhum, aceitar as palavras tal como são ditas.

 

No entanto, reconhecer que a honestidade deixou de ser um padrão exigível em qualquer circunstância da vida -e que esperamos um qualquer grau de engano, até das mais respeitáveis figuras públicas- não implica aceitar que a honestdade pode ser desprezada com impunidade. A intenção de verdade, juntamente com a assunção de que podemos, geralmente, confiar na palavra das pessoas, é uma condição fundamental para a sustentação da vida civilizada.

 

ENSINAR A HONESTIDADE DEIXOU DE SER UMA PRIORIDADE NAS NOSSAS ESCOLAS

 

Nenhuma civilização pode tolerar uma expectativa de desonestidade nas comunicações sem se desintegrar por causa da quebra de confiança mútua. Todas as relações humanas assentam na confiança de que essas relações dirão, por regra, a verdade. A honestidade constrói e solidifica uma relação com confiança; muitas quebras de honestidade podem corroer as relações para além de qualquer possibilidade de reparação. Amizades, família, trabalho e relações cívicas, todas são afetadas quando há desonestidade. A principal razão pela qual ninguém quer ser conhecido como um mentiroso é o facto de saberem que serão postos de lado por não serem de confiança.

 

O papel vital da honestidade e da verdade nas sociedades humanas foi reconhecido e louvado em todas as civilizações. Já os romanos consideravam a verdade (Veritas) como a mãe de todas as virtudes. Embora a verdade seja essencial à integridade pessoal e às boas relações humanas, é muitas vezes abandonada por causa de outras prioridade da vida. Parece que em muitas áreas da vida contemporânea -a lei, os negócios, a política...- esperar honestidade é visto como ingenuidade ou estupidez. Tal percepção é praticamente um mandato para a desonestidade e é uma concessão à desconfiança interpessoal.

 

Quando deixamos de assumir que aqueles com quem lidamos estão, pelo menos a tentar dizer a verdade, desistimos deles como pessoas de confiança e passamos a lidar com eles duma maneira puramente instrumental. Os vínculos de confiança mútua dissolvem-se e reemerge a 'lei da selva'. Por consequência, o tipo de discurso próprio duma sociedade democrática, onde as pessoas se governam a si próprias por laços de confiança mútua, deixa de ser possível. É por isto que a confiança é essencial à manutenção de relações civilizadas.

 

Há vários sinais de que isso está a acontecer, desde logo na esfera pública, o que é perturbador, porque os líderes cívicos marcam a tónica para o tipo de comunicações da esfera pública. O sinal mais perturbador, no entanto, vem do contexto da educação onde a honestidade deixou de ser uma prioridade.

 

O futuro de qualquer sociedade depende do desenvolvimento do carácter da sua juventude. É nos primeiros anos de vida -especialmente as duas primeiras décadas- que se moldam as virtudes básicas do carácter. Embora as pessoas possam mudar, crescer e reformar-se a si próprias em qualquer idade, esta espécie de aprendizagem torna-se exponencialmente difícil à medida que os hábitos se solidificam ao longo da vida. A honestidade é um exemplo de uma virtude que se torna habitual ao longo dos anos se tiver sido praticada com consistência - e o mesmo se pode dizer da desonestidade...

 

A honestidade é a virtude de carácter mais importante na missão académica escolar. Em termos de 'integridade académica' o que geralmente tem a ver com o copiar, as escolas têm uma responsabilidade fundamental em transmitir aos alunos a importância da honestidade como virtude prática e ética. Infelizmente muitas escolas estão a falhar essa responsabilidade.

 

De todas as brechas que podem afetar profundamente o tecido moral duam escola, copiar está entre os mais demolidores porque lança a dúvida sobre a dedicação da escola à verdade e à equidade. Copiar é falta de ética pelo menos por quatro razões: 1) dá ao estudante que copia uma vantagem injusta sobre os outros; 2) é um ato de desonestidade num ambiente justamente dedicado à procura e ensino de conhecimentos verdadeiros; 3) é uma violação da confiança entre o estudante e o professor; 4) desprespeita o código de conduta e a ordem social da escola. Por estas razões, seria de esperar que qualquer situação de cópia fosse oportunidade para renovar e fazer passar a importância de padrões morais de honestidade, integridade, confiança e justiça.

 

Investigações mostraram que três quartos dos estudantes americanos copiam [em Portugal os números devem ser parecidos ou até maiores...] No entanto, muitos professores, para evitarem processos legais ou simplesmente para evitarem problemas devido ao insucesso escolar fecham os olhos aos copianços e, por vezes, eles próprios 'ajustam' as notas dos alunos, tanto as que dão acesso aos exames como as dos próprios exames, seja porque os consideram injustos, seja porque o financiameno das escolas está dependente dos resultados dos exames escolares. Os próprios diretores das escolas fecham os olhos e dissimulam desconhecimento dos factos.

 

As nossas sociedades arriscam um futuro perigoso em termos morais por causa do declínio da honestidade e de todas as virtudes que nela se fundamentam. A falha de cultivar as virtudes nos cidadãos pode ser uma ameaça letal a qualquer democracia.

 

(William Damon, excertos)


O que William Damon diz sobre a situação nos EUA pode aplicar-se a qualquer sociedade contemporânea e, na verdade, assenta como uma luva ao que se passa neste país à beira mar plantado. Tanto no que respeita à falta de honestidade dos líderes e figuras públicas que marcam e decidem os caminhos da nossa democracia como no que respeita ao que se passa nas escolas, desde logo incentivadas pela tutela desde há vários anos com o objetivo de fabricar estatísticas de sucesso.

Não só se incentivou a 'engenharia' de estatísticas como se fez pressão sobre todos os professores que insistiam na honestidade dos procedimentos e da vida nas escolas. Como se isso não bastasse, há uma pressão enorme para fazer da escola um local de aprendizagem instrumental -competências e ferramentas de aprendizagem- em detrimento das disciplinas e conteúdos que formam o caráter, com apenas algumas exceções.

Alunos que cresceram habituados a benevolência e até cumplicidade face à desonestidade tornam-se adultos instrumentais nas suas relações com os outros e com as obrigações da vida pública e profissional. Não admira a quantidade de políticos, gestores públicos e outros que diariamente nos aparecem despidos daquelas virtudes que mais deveriam prezar em razão da sua proeminência pública, completamente nús de honestidade, equidade e verdade, sem a mínima vergonha. O problema é que, ao marcarem a tónica para a sociedade em geral, são os principais instigadores da dissolução dos hábitos democráticos por via da instalação da desconfiança e falta de verdade no discurso.

As escolas? Em vez de contrariarem esta prática, tacitamente educam nela os estudantes. O resultado, a médio e longo prazo, não pode ser bom (como já se vai notando), para a manutenção da democracia.

 

publicado às 15:15


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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