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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Os gregos entendiam a sua liberdade como independência. Uma vez que só se pode ser totalmente independente nos juízos e acções se se tiver outro que cuide das necessidades da vida, sentiam-se compelidos a viver num mundo construído sobre a escravatura e a opressão das mulheres.
E embora alguns gregos vissem estas iniquidades como perturbadoras, a maioria tomava-as como inevitáveis, como 'o modo como as coisas são'. No entanto, Hegel via o desconforto implícito dos gregos consigo próprios surgir de modo dramático na arte.
O seu exemplo favorito era a tragédia de Sófocles, Antígona. Na peça, dois dos filhos de Édipo lutam pela herança do poder. Ambos morrem e o tio, Creonte, intervém para proibir que um deles tenha direito a ritual fúnebre; mas Antígona, sua sobrinha e irmã dos mortos, desobedece enterrando-o secretamente. Ela fá-lo porque é o seu dever de irmã fazê-lo, quer dizer, enterrar o irmão, mas sabendo que é também o seu dever obedecer a Creonte (sobretudo como jovem mulher).
Antígona é apanhada numa situação contraditória quanto aos seus deveres. Ela também tem o dever de não decidir por si própria acerca do que deve fazer - o seu estatuto na vida obriga-a a obedecer aos requerimentos que lhe fazem- e o coro, mais tarde, condena-a por esta tentativa injustificada de autonomia.
Antígona é apanhada no desejo de conseguir algo normalmente proibido às mulheres: ela quer liberdade, o que requer que seja reconhecida como igual. Mas, quem teria autoridade para a reconhecer como tal? Não um marido (não na Grécia Antiga). Não os seus filhos, se os tivesse. Nem os seus parentes. Nem a sua irmã. Só os seus irmãos o poderiam fazer e estão ambos mortos. No seu desejo de liberdade, Antígona tenta convocar esse reconhecimento dos seus irmãos mortos. Acaba mal, como se sabe, porque o tio descobre e manda enterrá-la viva numa gruta; e embora depois se arrependa e resolva libertá-la, ela já se tinha suicidado.
Através do seu desafio, Antígona representa o que correu mal com o ideal grego: o modo como instituiu um regime de igualdade para alguns homens mas o negou a outros. Ao desafiá-lo, Antígona também se tornou a voz dos excluídos exigindo inclusão e reconhecimento como iguais e, por conseguinte, igualmente livres. Se 'alguns são livres', diz ela, porque não eu também? Para uma audiência grega isto criava um desconfortável sentimento de que talvez todo o esquema social/político não fizesse sentido.
(baseado num excerto de The Spirit of History de Terry Pinkard)
O que causa espanto é que passados 2500 anos ainda esta questão não esteja resolvida, no que respeita à liberdade e igualdade de direitos, de facto e não apenas formal, das mulheres e que a sociedade continue construída em toda a espécie de esquemas para condicionar a sua [nossa] liberdade.
"‘We’ are peculiarly our own products, and the philosophical study of history is a study of how we shape-shifted ourselves across time." (Hegel)
ChingYang Tung - Hudson Valley, New York 2009
HEGEL'S PHILOSOPHICAL DEVELOPMENT
Outro dia, enquanto procurava uns artigos sobre liberdade, auto-determinação e consciência, fui dar com um blog de um tipo que é completamente apaixonado por Hegel de tal modo que todos os posts que escreve são acerca de Hegel; pus-me a lê-lo e lembrei-me de como em certa altura, quando era muito nova e ainda mais ignorante, fui um bocadinho obcecada por interiorizar a filosofia dele porque tive dificuldade em mastigá-lo quando o estudei. Hegel é um filósofo que pode ler-se e compreender-se do ponto de vista lógico mas sem se perceber ao certo de que está ele a falar a não ser depois de ter-se um certo à vontade nos problemas da metafísica, da epistemologia, da lógica, etc., que eu na altura não tinha.
O certo é que o blog deste indivíduo ressuscitou-me o desejo, a curiosidade e a vontade de reler Hegel. Estou interessada na solução dele para o problema da liberdade da vontade.
Vou começar por reler hoje este pequeno estudo só para voltar a mergulhar dentro do universo mental hegeliano e das suas condicionantes. São 40 páginas de leitura leve. Lê-se num instante. Está todo online.
No dia 10 de maio de 2012, João Perna, o antigo motorista de José Sócrates e um dos arguidos do processo Operação Marquês, depositou um cheque de 15 mil euros passado pelo empresário Carlos Santos Silva, arguido em prisão preventiva, na sua conta bancária. Quatro dias depois, outro cheque, desta vez emitido por João Perna, no mesmo montante, foi depositado na conta do seu então patrão, José Sócrates.
Uma relação hegeliana senhor-escravo onde o escravo trabalha e depois ainda paga e empresta ao seu senhor para que este possa fruir de vida luxuosa.
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