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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Fui ver esta exposição. Achei preciosíssima. Tem peças peças tão bonitas e algumas cartas muito esclarecedoras dos seus dealers de arte. Um deles ameaça cortar as mãos se a peça não for muito antiga como diz que é.

pintura de Osman Hamdi
pormenores


Isto é PARTIS. Ou como a arte pode transformar a vida de reclusos, jovens em risco, refugiados, pessoas isoladas ou com deficiência.
Quatro dias com Música, Documentários, Teatro, Artes Circenses. De 12 a 15 de janeiro, a entrada é livre na Fundação Calouste Gulbenkian.
Mais informação em: bit.ly/IstoePARTIS

“40 Anos Eleições Presidenciais – Um Presidente para todos os Portugueses”, é o nome da exposição que está na Gulbenkian.
António Ramalho Eanes foi eleito, à primeira volta, com 61,59% dos votos e tomou posse, na Assembleia da República, a 14 de julho de 1976. Foi o 14.º Presidente da República portuguesa.
Vale a pena ir vê-la. Tem documentos da época como livros, jornais e filmes. Tirei duas fotografias a jornais, só pela piada de ver-se como era, à época, a mentalidade e a linguagem utilizada.
Havia sempre tantas greves a decorrer que o jornal trazia uma página com a enumeração e de relato das greves da semana mais as respectivas reivindicações dos grevistas:
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Esta notícia tem piada pela linguagem da época:
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Outro dia quando fui à Gulbenkian ver a exposição 'O Gosto Inglês' comprei este livro. Tenho -e já li- uma biografia do Gulbenkian mas esta é escrita por uma familiar do neto dele que dá o aval ao livro através dum prefácio e, portanto, tem outro interesse por ter uma perspectiva interior.
Gulbenkian, como se sabe, veio viver para Portugal por causa da Segunda Guerra e nunca mais saiu daqui. O que me chamou a atenção foi e, isso não sabia, o facto dele não ter nenhum tipo de relacionamento com os portugueses com excepção do seu advogado e grande amigo Azeredo Perdigão e, nunca sequer ter tentado aprender umas palavras em português.
No entanto, sentia-se aqui bem. Gostava do clima, da pacatez e da ausência de pressão própria das grandes metrópoles. O que me parece (e a autora dá a entender isso embora de modo vago, por educação, talvez...) é que ele terá achado Portugal muito parecido com a sua Arménia: pobre, rural, fechada sobre si mesma, analfabeta, submissa, cheia de crendice religiosa e infantil mas, amena, não conflituosa e pacífica.
O livro traça a vida dele a partir da sua identidade otomana, no sentido em que ele e a família dele são filhos do Império Otomano. Muito interessante. O livro existe online em versão pdf aqui para quem o quiser ler.

Hoje fui ver a exposição Wentworth-Fitzwilliam, Uma Colecção Inglesa à Gulbenkian. Esta é a 1ª parte da exposição. Trata-se de peças da colecção da família Wentworth-Fitzwilliam reunidas durante mais de 400 anos. É uma das mais prestigiadas coleções particulares da Grã-Bretanha. Tem obras de Van Dyck e de George Stubbs, tem obras de mestres flamengos. Tem paisagens preciosas de mestres flamengos: gostei particularmente de uma paisagem fluvial de Ruysdael e de uma campestre de Hobbema, o pintor que dava o nome à rua onde morei em Bruxelas. É certo que amo particularmente as paisagens dos renascentistas, cheias de uma atmosfera entre o sombrio e o misterioso, densas de verdes fechados. Também gostei muito de um Van Dyck que retrata o 1º conde de Strafford e do retrato da Catarina de Bragança. Gostei de um pequeno medalhão com uma pintura de Cadmo matando o dragão. Tem obras muito boas. A 2ª parte da exposição chama-se O Gosto Inglês e tem peças, sobretudo gravuras mas, também, pintura, livros e cartas inglesas da colecção do Gulbenkian.

Sir Anthony Van Dyck (1599-1641), 'Thomas, Visconde Wentworth, 1º Conde de Strafford, com Sir Philip Mainwaring', Inglaterra, c. 1639-1640. Óleo sobre tela.

Hobbema
... ou como devemos muito a alguns refugiados de guerra... ou ainda, a incompetência europeia em lidar com uns milhares de refugiados de uma guerra da qual não estão isentos de responsabilidades.

Já é o segundo ano que acontece: quando me lembro de ir à 'net' comprar bilhetes para a temporada de música da Gulbenkian, metade das coisas que quero já estão esgotadas... este país tem tão poucas coisas culturais a acontecer que esgotam logo. Merde
... foi dia de ir à ópera: 'Otelo', em versão concerto, na Gulbenkian. Como foi o concerto de encerramento da temporada da Orquestra e, porque fazem 50 anos de inestimáveis serviços à cidade de Lisboa, houve uma pequena cerimónia no início em que o presidente da Câmara lhes entregou a medalha de ouro de mérito da cidade.
O Otelo é uma ópera muito exigente em termos de vozes -como são, por costume, as óperas do Verdi. Foi muito bem tocada e muito bem cantada, excepto o Otelo... de quem gostei mais foi da soprano russa que fazia de Desdémona. Uma voz verdiana vibrante, muito expressiva, com um enorme alcance e cheia de lirismo. Uma coisa linda. O Iago, um americano enorme, foi sempre em crescendo e achei-o muito bom. O Cassio com uma voz perfeita para... Cassio. O Otelo é que desiludiu (embora à minha frente umas pessoas estivessem em delírio com ele, o que mostra que nunca ouviram um Otelo a sério): uma voz sem nuances que só cumpria quando cantava a plenos pulmões; sempre que cantou em dueto com a Desdémona não foi capaz de pôr, nem doçura, nem ironia, na voz, só agressividade. No dueto com o Iago, ouvia-se o Iago por cima dele... sem presença em palco... quer dizer, no final, quando entra no quarto dela para matá-la, a música com aquele tom de ameaça e ele muito pequenino onde tinha de ser intimidante e ameaçador... só gritava; depois de matá-la naquela cena de ciúmes, quando a música retoma o 'leitmotiv' do romance deles, aquela coisa linda e ondulada que acompanha as palavras dele, 'um beijo, só mais um beijo' e o homem a dizer aquilo como se estivesse com soluços.
Mas tudo o resto fio muito bom. Adorei a Desdémona e a orquestra tocou com grande nível. A música é uma coisa que sendo deste mundo, não é deste mundo... (suspiros...) Bem, como fiquei naquele estado de euforia em que se fica depois de uma grande ópera/concerto, bem tocada e cantada, amanhã devo estar linda para ir trabalhar...
Hoje fui à Gulbenkian ouvir a Flauta Mágica do Mozart, em versão concerto, pela Academia de Música de Berlim. Muito bom. A ópera já de si é encantadora, com uma música elegante e amável e, como se isso fosse pouco, ainda tem um humor muito de conto infantil que nos deixa bem dispostos :)
Os músicos muito bons -adorei o Sarastro, o Papageno e a Tamina-, o coro afinadíssimo, as flautas no ponto... enfim, um serão mesmo agradável.
Fernando Pessoa é "um poeta português sem sotaque". Esta frase é dita a brincar por Carlos Felipe Moisés, o curador brasileiro da exposição Fernando Pessoa - Plural como o universo, que já pode ser visitada na Fundação Gulbenkian e assinala o Ano do Brasil em Portugal.
...é o Tannhauser de Wagner. Adoro absolutamente essa orpa ![]()
Tem algumas coisas verdadeiramente apetecíveis e o Philippe Jaroussky é uma delas ![]()
Quinta-feira, em visita de estudo aos museus da Gulbenkian, vi esta obra de Helena Almeida no Centro de Arte Moderna. Gostei muito dela. É uma sequência de fotografias de uma tela na qual se vê uma mulher (a própria artista, suponho) em contraluz. O ponto de vista do observador é o da parte posterior da tela com a estrutura de madeira que a prende. A mulher, que se vê à transparência, vai-se aproximando da tela até rompê-la e passar para o outro lado. Temos a ideia de que as pessoas são mais que os rectângulos de tela em que as querem enquadrar. A própria estrutura da tela faz lembrar uma janela gradeada, um confinamento ao qual a mulher se recusa submeter.
Também gostei desta outra aí em baixo - chama-se Durante o Sono e é de Rui Chafes- que representa uma bola de ferro, à primeira vista suspensa no ar, mas na realidade está sustida por finas fitas que se elevam do chão. Gosto da ruptura com o senso comum, com a representação normal do ferro enquanto material pesado e duro a contrastar com esta escultura, toda ela leveza e ausência de gravidade, tal como o conteúdo dos sonhos.


Esta semana fui ver as 'naturezas mortas' . Ainda hei-de ir lá uma segunda vez. Fui na terça e estava cheio de gente, talvez por ser feriado, de modo que quero ir outra vez numa altura em que tenha menos pessoas.
A exposição está muito boa. Muito completa. Quanto a mim, não tanto por ter uma enorme quantidade de obras- há centenas de 'naturezas mortas' famosas que não estão lá- mas porque tem todas as categorias representadas com excelentes escolhas.
A mim impressionaram-se, sobretudo, a do Chardin, pela atmosfera; a do Giuseppe Recco pela concretude do espaço a partir de uns peixes, uma lagosta e uma vasilha (é de tal maneira que de repente estamos dentro daquela cozinha a sentir uma desolação cinzenta), a 'taça náutilo' do W. Kalf, carregada de simbolismo filosófico,as flores efémeras e a cena de caça do van Aelst, os azuis do Brughel ou as lebres como vítimas de sangue do Goya.
Na próxima visita vou reparar noutras.
A arte tem virtudes terapêuticas de sublimação vital.
A Gulbenkian vai ter uma exposição só de naturezas mortas (os ingleses chamam-lhes 'still life' o que é mais exacto porque é mais disso que se trata - figuras 'paradas') em duas partes. A primeira de Fevereiro a Maio, com pinturas dos séculos XVII e XVIII, a segunda lá para Outubro, com pinturas dos séculos XIX e XX.
Mal posso esperar! Adoro naturezas mortas de todos os géneros: mesas de refeição, caça, objectos, etc. Gosto especialmente das de flores e das Vanitas. Gosto de explorar a simbologia da transitoriedade da vida e do efémero nos elementos da pintura.
Dessas que se seguem, de que gosto muito, a primeira é a típica pintura Vanitas com a caveira a indicar a fatalidade da morte em contraste com os objectos da vida transitória - o relógio (vida) parado, a espada (violência) de guerra, o livro (o conhecimento),a música...
A segunda pintura é lindíssima. Objectos iluminados num fundo escuro um bocadinho assustador. A luz que ilumina os objectos ricos parece ténue e parece ser a única coisa que os retira -por momentos- da escuridão opressiva da não-vida. Como a dizer-nos que estamos aqui, mesmo se na maior riqueza, por breves momentos,enquanto a luz incide sobre nós. Depois, voltamos à escuridão de onde viémos.
A terceira é uma natureza morta do tipo chamada 'metafísico', do século XX, pintada a seguir à Primeira Grande Guerra, do Chirico. Gosto imenso dela. Parece perguntar 'onde ficou, na História, no progresso e no Tempo (representados pela parede e pela locomotiva) o ideal de Homem (representado pela cabeça grega) que se acalentava construir?'
STEENWIJCK
Willem Kalf

De Chirico
Hoje à tarde fui à Gulbenkian ver a exposição do Fatin-Latour. Fiquei impressionadíssima com 4 telas, se bem que no geral quase todas impressionam.
As naturezas mortas dele - para mim que já sou uma apaixonada de naturezas mortas - são muito belas, cheias de côr e ambiente carregado de romantismo. Jarro azul com rosas em cima de mármore e Taça japonesa em cima de livro - esta especialmente - cativaram-me. Esta última é uma tela pequena, onde se vê uma espécie de caderno antigo com uma taça decorada com motivos orientais dentro da qual estão duas cartas com selos carimbados. Três ou quatros elementos e olhamos para a tela e apreendemos todo o exotismo das viagens, só de divagar o olhar pelos motivos orientais da taça e pelas cartas seladas que fazem adivinhar ligações distantes, viagens longas e cheias de recordações exóticas.
Outras telas impressionam - A lição de desenho, À volta da mesa, etc.
Mas, de todas, aquela que me prendeu por muito tempo foi um auto-retrato (o nº 7) que se vê aí a seguir, embora as cores não sejam bem essas, assim tão amareladas. Aliás, andei a ver o livro da exposição, mas infelizmente as reproduções não dão sequer ideia da vivacidade das flores e do dramatismo dos retratos.
Este auto-retrato está carregado duma tal emoção que nos atinge. Latour olha-nos directamente e o olhar dele parece dizer: 'estou a ver-te aí.' É como se olhasse através da cortina do tempo e chegasse vivo a nós, e soubesse disso. Podemos sentir a presença dele, não como figura retratada, mas como alguém que no momento em que olhamos para ele nos devolve o olhar e comunica. É díficil explicar a maneira como este retrato me tocou.
Reparei que o retrato é da Galeria del Uffizi, onde já estive, e dei-me conta de que não me lembro de o ter visto lá. De facto, nesses grandes museus, somos tão esmagados pelo peso de tantas telas famosas e autores também famosos que a certa altura passamos ao lado de outras telas com este potencial de impressionar e nem reparamos.
Gostei imenso desta exposição.
É pena que a Gulbenkian, desde que tem como administrador o Marçalo Grilo, que foi ministro da educação, tenha retirado aos professores a entrada livre que tinham nas exposições da casa, e que eram, penso, um grande incentivo ao aperfeiçoamento cultural. Mas enfim, parece que escolhem de propósito para ministros da educação gente que tem raiva aos professores.
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