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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
O tempo de serviço cumprido não se negoceia, conta-se todo! 5 equívocos que exigem esclarecimentos 1. “Os sindicatos de professores têm uma posição negocial intransigente sobre o tempo de serviço a recuperar” Não é verdade, simplesmente, porque o tempo de serviço já não é objeto de negociação. Essa negociação decorreu no 1.º período letivo dela resultando a assinatura de uma Declaração de Compromisso, entre o Governo e as organizações sindicais, que prevê a negociação do “modelo concreto da recomposição da carreira que permita recuperar o tempo de serviço”. Depois de largas horas de negociação o Governo acedeu a escrever “recuperar o tempo de serviço” e não, apenas, “recuperar tempo de serviço”, como pretendia. A única intransigência dos sindicatos é em relação à necessidade de o Governo honrar a palavra, respeitando o compromisso que assumiu, e cumprir a lei.
Não é verdade. O que o artigo 19.º da Lei n.º 114/2017, de 29 de dezembro (Lei do Orçamento do Estado para 2018), prevê é a negociação do prazo e do modo de efetivar a recuperação. Não prevê o tempo, pois a recuperação do tempo que esteve congelado já era compromisso assumido pelo Governo. Para que não restassem dúvidas, alguns dias depois de aprovar o OE para 2018, a mesma maioria aprovou a Resolução 1/2018, que recomenda ao Governo a recuperação de todo o tempo de serviço.
É falso e o Governo sabe disso, de tal maneira que, em janeiro passado, teve de corrigir esse número junto da comunicação social, admitindo um valor que, no máximo, seria de 1/3. Relativamente a 2019, os 87 milhões apresentados pelo Governo, afinal, não atingem 22 milhões e os 78 anunciados para 2020 não passam de 43. Ou seja, o valor que o Governo dizia gastar em 2018, feitas as contas, chega para 2018, 2019 e 2020. É evidente que as contas feitas pelo Governo e que o Primeiro-Ministro referiu no debate quinzenal foram feitas para impressionar a opinião pública, mas são falsas. Nas suas contas, o Governo considerou que os professores progrediriam anualmente em janeiro, quando as suas progressões se estendem pelos 12 meses do ano, e considerou, em 2018, que iriam receber o valor total do escalão seguinte quando, tal como na restante Função Pública, só receberão 25%, apenas atingindo o valor total em dezembro de 2019. Esta falta de rigor do Governo tem por único objetivo sustentar um discurso fraudulento.
Os governantes sabem que os Sindicatos de Professores não exigiram que a recuperação se desse de uma só vez. Tendo em conta o quadro de sustentabilidade subjacente à recuperação total, concordaram em, tal como no passado, recuperar o tempo de forma faseada a iniciar em 2019. Pelas palavras do Primeiro-Ministro fica a ideia de que o tempo nunca poderá ser recuperado, pois, seja quando for e de que forma for, terá um impacto que, apesar de incomparavelmente menor ao dinheiro injetado nos bancos e aos encargos da dívida, não é suportável. Se for isso, implicitamente, o Primeiro-Ministro refere que, para o Governo, a carreira dos professores, para quem já está no sistema, ficará para sempre destruída, passando a ter uma duração de mais de 43 anos (superior ao tempo de serviço fixado para a aposentação). Recorda-se que, com o congelamento das carreiras, o contributo dos professores para ultrapassar os piores anos de uma crise que não provocaram foi superior a 10.000 milhões de euros! Não é aceitável que, agora, o Governo ainda queira apagar os anos de serviço cumpridos em que os deveres profissionais dos docentes foram zelosamente respeitados. Esta intenção do Governo, a concretizar-se, seria uma inaceitável discriminação dos professores dentro da Administração Pública e mereceria uma fortíssima reação.
Segundo o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa os professores quererão receber retroativos. Isto é mentira. Desde a primeira hora que as organizações sindicais de docentes afirmaram que, apesar de muitos professores já não poderem recuperar o tempo perdido, por se encontrarem nos escalões de topo da carreira, essa era questão que não estava em cima da mesa. Nunca esteve, ainda que fosse inteiramente justo esse pagamento. O que tem sido proposto é que para esses docentes o tempo possa ser considerado para aposentação num quadro de despenalização do fator idade. O senhor Primeiro-Ministro afirmou na Assembleia da República que os 2 anos, 9 meses e 18 dias seriam para recuperar em 2019. Terá de esclarecer se está a referir-se à primeira de várias parcelas de recuperação de todo o tempo de serviço congelado (e, se assim for, será uma base negocial) ou se é o tempo a recuperar e, nesse caso, seria inaceitável, pois significaria a destruição da atual carreira docente. As organizações sindicais de professores e educadores estão disponíveis (e pretendem) continuar a negociar a recuperação do tempo de serviço que esteve congelado e que, para a grande maioria dos trabalhadores da Administração Pública, já foi contado, através da recuperação de pontos. Contudo, recordam, nos termos da lei, o que terá de ser negociado será o prazo e o modo de recuperar. Quanto ao tempo, esse está definido: 9 anos, 4 meses e 2 dias! É que o tempo cumprido não se negoceia, conta-se todo!
As organizações sindicais de professores e educadores |
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Para nos dar trabalho a nós, professores, e mais nada. As notas dos alunos nos anos de escolaridade a que a greve se refere não são decisivas em nada a não ser que atrasam as matrículas dos alunos, o que significa mais trabalho para nós, professores. Para o ME e para os pais o incómodo é pequeno e os custos nenhuns. Talvez atrase as férias de alguns pais, nada mais.
Então para quê esta greve? Para os sindicatos fingirem que estão do lado dos professores e depois negociarem um acordo de nos descongelarem os anos de trabalho até 2050 quando estivermos todos a fazer tijolo. Para salvarem a face destes anos de submissão à austeridade das cativações do ministro das finanças, aquelas que usam os professores como palhaços a quem se vai buscar dinheiro fácil para dar à banca e amigos, aquelas do governo da pseudo-esquerda a quem os sindicatos fazem voto de obediência como militantes amestrados que são.
Quantos professores vão alinhar nesta iniciativa fantoche? A minha previsão é que quase nenhuns. Apenas aqueles que fazem parte do rebanho das militâncias acéfalas arrebanhadas pelo poder do momento.
Já dou aulas há muito tempo. Desde 1985. Estive uns anos fora, em Bruxelas, mas sei que durante esses anos não houve nenhuma greve a exames de modo que, pelo menos desde 1985, só por duas vezes, que me lembre, foram marcadas greves a coincidir com exames - mais outras duas a coincidir com avaliações, o que é igualmente extremo. Em trinta e tal anos... Só quem não dá aulas há alguns anos é que não sabe que uma greve destas é um acontecimento tão excepcional que transforma o ambiente da sala de professores numa enorme tensão, cheia de discussões e polémica. Não se fala em outra coisa. O governo, que pressiona as direcções para que nos pressionem, ameaça-nos com faltas injustificadas, listas negras de consequências graves e outras medidas para meter medo; os sindicatos respondem com uma mobilização que começa muito antes a ser preparada, pois têm que convencer professores indecisos, pensar numa estratégia para lidar com as convocações em sucessão de modo que estas não recaiam, por questões de calendário, em cima das mesmas pessoas (lembro-me de num ano fazermos um peditório entre nós para compensar os colegas que teriam que faltar mais vezes, outro em que fizémos um calendário para as faltas às reuniões). Esta tensão passa para os alunos que se inquietam com o seu futuro e fazem pressão sobre os professores, mesmo quando estão de acordo com a greve, o que é uma das razões de muitos professores não a fazerem apesar de concordarem com ela. Quer dizer, o ambiente nas escolas, aquando destas greves, faz lembrar os tempos do PREC. Ora, o ambiente na sala de professores, neste momento, é completamente pacífico. Ninguém fala da greve. Nem professores, nem pais, nem alunos... cada um interprete isso como entender...
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