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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Isto é lindo 🙂
No meu grupo disciplinar há uma falta de formação de qualidade, confrangedora. Tenho feito algumas formações na minha universidade, em Lisboa, mas é difícil porque muitas vezes os cursos são em horas de trabalho e, quando são pós-laborais, começam às seis e meia que é à hora que saio, este ano, às quintas e sextas. De modo que encontrar esta formação online foi uma sorte. Andava há uns anos a querer dar o programa da Lógica Proposicional Clássica mas a última vez que peguei nisso foi há tantos anos que já não me lembrava de quase nada e não me apetecia ter que ir estudar tudo sozinha como fiz há uns anos com a silogística. No entanto, precisava que fosse online por causa do meu horário. Com tanta sorte que estes dois indivíduos resolveram dar um curso de LPC, online, em sessões síncronas, o que dá para trabalhar como se estivéssemos numa sala uns com os outros. E gostei deles. Têm sido sessões de muito trabalho mas muito interessantes. Vou passar este ano a produzir materiais didácticos e a resolver exercícios e para o ano vou dar LPC. A cena das derivadas é mesmo gira. Descobrir padrões... nice :)
Fui dar uma volta pelos sites das universidades à procura de uma pós-graduação, uma formação interessante para fazer [queria fazer uma formação na ontologia. interessa-me muito o problema do movimento] e acabei por dar-me conta do marasmo em que estão os cursos de filosofia, que andei a pesquisar com mais cuidado e, os de humanidades em geral. Os cursos tem meia dúzia de professores para dar todas as cadeiras de todos os anos mais as de mestrado e ainda para orientar doutoramentos. A minha universidade que é a Nova, tem um só professor catedrático no curso... Em todas as universidades há professores que dão tudo quanto é cadeira... andei quase duas horas a bisbilhotar cursos e universidades e ofertas de formação. Muito pouca coisa pensada para quem tem um horário de trabalho e tudo um bocado, mais do mesmo. Vou pesquisar universidades estrangeiras. Pode ser que tenham formação interessante em formato e-learning.
Os professores são gente tratada pelo Estado, mesmo entre os funcionários públicos, como inferiores a aviltar.
Enquanto há gente que nem estuda, e com equivalências folclóricas ou turísticas acorda licenciado, os professores, que decidam estudar mais, encontram obstáculos em interpretações restritivas da lei e no seu Ministério (titulado da Educação), confortados por tribunais que aceitam olhar para o lado em relação à Constituição.
A primeira nota prévia sobre o que vem a seguir é que não sou licenciado em Direito (e, como verão, se quisesse, não podia, sendo professor). Logo não tenho realmente nenhum conhecimento técnico que me permita discutir direito com os tribunais. Mas sou povo e os tribunais administram a Justiça em nome do Povo. E como Povo (ignorante) gostava de entender melhor. Porque o Povo tem o direito de querer saber como os Tribunais chegam às suas conclusões e de fazer com que elas sejam discutidas. E já agora como o MEC gasta o seu dinheiro a litigar, supostamente em defesa do interesse público.
Comecemos pelo princípio do caso.
Há uns anos, a referência ao Estatuto do Trabalhador Estudante mudou no Estatuto da Carreira Docente, aplicável aos professores, e passou a constar uma condição para a sua atribuição que, na prática, permite ao patrão “Estado”, representado pelos Diretores de Escola, condicionar a matéria que os trabalhadores, que se candidatem às facilidades de horário para ir a exames e aulas, escolhem estudar.
Com a introdução de alterações, operada por iniciativa da nossa velha e prevaricadora amiga Lurdes e do muito assíduo compagnon Walter Lemos, passou a constar da lei, nos termos do que se dispõe no art.º 101.º/1 do ECD, que o Estatuto de trabalhador-estudante só pode ser atribuído aos docentes que frequentam o ensino superior com vista a obter grau académico ou pós graduação destinada ao desenvolvimento profissional da docência, isto é, “com vista a melhorar o seu desempenho enquanto docente” (na interpretação do Ministério).
Estatuto de trabalhador estudante: como funciona para os outros trabalhadores?
Imaginemos que sou funcionário de um café e decido estudar Ciências da Educação. O meu patrão nada tem a ver com isso. Desde que cumpra os requisitos gerais tem de me permitir usar o Estatuto de Trabalhador Estudante, dentro das regras gerais dos restantes trabalhadores. Desde que cumpra as regras e os critérios de assiduidade e horários não tem qualquer patrão o direito de interferir com a minha escolha do que vou estudar. Pode limitar até a concessão dos direitos do Estatuto, se houver muita gente a querer estudar ao mesmo tempo, mas não pode dizer: “tu não tens direito porque estudas algo que acho inútil para o trabalho que fazes!” (chama-se a isso liberdade de aprender e é um direito constitucional).
Se for um funcionário das Finanças, trabalhador em funções públicas, como também são os professores, e se quiser estudar agricultura ou teologia, como a lei que se lhe aplica remete para o Código de Trabalho, em nenhum ponto alguém lhe vai perguntar se o seu exercício do direito de estudar e beneficiar do Estatuto, previsto nesse Código, é útil para o serviço ou desenvolvimento profissional nas Finanças.
Contudo, um professor de Inglês do 2º ciclo que decida, na sua liberdade de aprender, estudar Filosofia, Artes ou História da Música pode não beneficiar do Estatuto e dos direitos que este consigna aos cidadãos. Basta, para isso, que o diretor da sua escola embirre com ele e decida que, como ensina Inglês, o grego Aristóteles ou o alemão Kant ou os espanhóis Goya ou Picasso não interessam nada e os Rolling Stones tanto podiam cantar em chinês como em Inglês, isto é, que estudar o curso que o cidadão escolheu não se “destina ao desenvolvimento profissional da docência”.
Isto é, o Estatuto do Trabalhador Estudante, que visava proteger a liberdade de aprender dos cidadãos que trabalham passou a ser, no caso dos professores, atribuído em função dos interesses do empregador público (para os comuns mortais, o patrão).
Naturalmente que esse conceito de “se destinar ao desenvolvimento profissional da docência” é geral e indeterminado e pode gerar todo o tipo de arbitrariedades que ficam na mão dos diretores.
ler o resto aqui
posted by Luís Braga @ quarta-feira, junho 24, 2015 0 comments
A formação inicial dos professores do ensino secundário poderá vir a ser também atribuída às Escolas Superiores de Educação do ensino politécnico, que actualmente apenas têm competências para formar educadores de infância e docentes dos 1.º e 2.º ciclos.
Esta possibilidade é defendida pela Direcção-Geral dos Recursos Humanos do Ministério da Educação (DGRHE), mas conta com a oposição declarada da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES). Para algumas associações de professores, constitui um novo ataque à qualidade da formação inicial dos docentes.
De machadada em machadada até à destruição total do ensino secundário. Pessoas especializadas em áreas de saber com formação superior? Não... para quê, se podemos ter animadores sociais com formação em conversa de café... a distância que vai dum ao outro perde-se nos corredores da espelunca que tem sido o ME.
Mas percebemos o golpe: as ESE formam professores (estão cheias de sindicalistas ex-professores primários agora mestres e doutores de algo...) e depois as mesmas escolas formam avaliadores de professores e avaliam professores. E assim se faz o jeito às Margaridas Moreiras e outros afins deste país. À custa da educação.
Para a semana vou a um congresso internacional na FCSH da minha universidade, a Nova de Lisboa. O congresso dura quatro dias. Não chega a uma semana, portanto. Tem creditação para vários grupos incluindo o meu que é o 410. Para tal faz-se um trabalho que é avaliado.
Esta formação paga-se - 75 euros. Mas quanto a mim vale bem a pena.
A alternativa é uma acção de formação aqui em Setúbal, que dura 3 meses, em regime pós-laboral, com trabalhos em quase todas as sessões mais o trabalho final. É um horror.
A última que fiz desse género também era à noite. Dar 6 aulas e ir depois para uma coisa daquelas mais 3 horas é de morrer. No outro dia aulas às 8.30 da manhã! É inaguentável.
Na maior parte das vezes são temas, ou que já ouvimos 500 vezes, ou dados por gente que arranjou ali um tacho e nem sequer sabe citar citar uma bibliografia.
Ao menos neste congresso, os congressistas sabem do que falam. Alguns são muitíssimo bons. No ano passado também escolhi esta modalidadede formação e fui ao congresso do padre António Vieira também no mesmo sítio. Teve comunicações interessantíssimas. A do professor Esteves Pereira, à qual chamou Futurações, por exemplo, foi excelente. E outras.
No último dia há passeio cultural. No ano passado, como o tema era o Vieira, andámos com um guia pelo Bairro Alto pelas zonas do Barroco e fomos acabar, claro, na Igreja de s. Roque, onde tantas vezes ele pregou. Assistimos a uma dramatização dum sermão do Vieira por uma actor, no púlpito da igreja. Já não ia aquela igreja há séculos. Bonitíssima.
Este ano, como tema é o Rafael Bordalo Pinheiro ( político, estético, histórico, etc) temos visita às Caldas, à fábrica das louças. Também já não vou às Caldas há mais de dois anos. Vai ser uma semana diferente, gira, relaxante.
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