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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Este argumento é muito simples e transparente, mas não parece bem assimilado quando vemos a ligeireza com que se tomam algumas decisões com forte impacto no nosso sistema educativo. Depois da extinção de exames ao longo do ensino básico e secundário, passamos à bem orquestrada campanha contra os exames finais do secundário. E foi agora anunciado (PÚBLICO, 25 de março) que teremos um novo canal de acesso ao superior para que os diplomados pela via profissional possam fugir àqueles exames.
E que tem isto a ver com o nepotismo? Uma organização bem gerida e focada nos resultados seleciona o seu pessoal com base nas competências demonstradas e tendo em vista as tarefas propostas. Isso exige um bom sistema de certificação de competências. Falhando este, voltamos à velha prática de escolher os colaboradores entre os mais próximos de modo a satisfazer expectativas que são legítimas se não for público e notório que outros fariam melhor. Baixando a exigência e a seriedade do sistema de certificação do sistema educativo, estamos a destruir a sua função de ascensor social e a alimentar o nepotismo. Os mais bem relacionados ganharão. Os mais frágeis e socialmente marginais estarão condenados à marginalidade definitiva. É esta a opção que vemos crescer nos dias de hoje. Será este o resultado desejado?
José Ferreria Gomes, Educação e Nepotismo
O ensino nas escolas está demasiado fácil e os últimos quatro anos acentuaram o problema. Para a maioria dos 45 pais ouvidos pelo i, os problemas pioraram com a crispação entre professores e Governo, que criou instabilidade nas escolas. E dão exemplos "O estatuto do aluno é um desastre e uma ofensa aos alunos cumpridores. Valores e atitudes como o trabalho, o mérito, a assiduidade, o comportamento, a aprendizagem, o conhecimento, foram postos em causa e de repente considerados antiquados e conservadores", diz Manuel Marques, economista nas Caldas da Rainha, pai de um aluno matriculado no 8º ano. "O estatuto do aluno privilegia o facilitismo e desresponsabiliza os alunos", acrescenta Maria José Viseu, presidente da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE). "Esta norma de os alunos não poderem reprovar até ao 10º ano é um verdadeiro disparate. Desmotivador para alunos, pais e professores.
"A exigência académica é cada vez menor", remata Teresa dos Santos Paiva, mãe de um aluno do 10º ano e de duas filhas gémeas no 6º ano, que logo a seguir dispara contra um regime de faltas pouco rigoroso e que iliba os mais faltosos: "Os mais espertos olham para o regime de faltas como uma brincadeira. De que serve dizer-se que os alunos não podem faltar se sabem que estudam um pouco, fazem um teste de recuperação e já está, voltam a ficar sem faltas ou com elas todas justificadas?"
Agora é que os pais, e outros, como muitos políticos e jornalistas que faziam grandes elogios à ministra e ao Sócrates começam a acordar e a ver o desastre que isto tem sido.
Quase um milhão de 'não estudantes' sai da escola encartado com diploma à custa das "novas oportunidades". Um milhão! Quantos alunos tem este país?
Com este regime e estatuto de aluno só estudará quem quiser tirar um curso universitário, pois sabe que precisa fazer os exames nacionais com aproveitamento para entrar na universidade.
Todos os outros se arrastarão pelas cadeiras a brincar (como já fazem há anos no básico) pois sabem que para ter um diploma do ensino secundário basta inscrever-se nas 'novas oportunidades' e já está.
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