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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Em França a Filosofia está nos jornais e nos programas de TV. Por cá, como se sabe, é mais bola, novelas, casas de segredos e políticos a dizer mal uns dos outros.
Os deputados do Aurora Dourada (partido neonazi) votaram a favor do referendo, ao lado do Além do Syriza e dos Gregos Independentes (que formam a coligação de Governo). A Nova Democracia (conservadores), o Pasok (socialistas), o To Potami (centristas) e o KKE (comunistas) votaram contra.
As qualificações dos partidos estão desactualizadas. Direita, esquerda... extremistas... o que os comentadores chamam extremista é o mero acto de defender a mudança, aproximar a UE do espírito com que foi criada, perceber que na lógica do senhor e do servo, o senhor não existe sem o servo de modo que o servo pode erguer-se e sair dessa posição por causa disso mesmo.
Hoje-em-dia, e não só na Grécia, já não faz sentido divididir em esquerda e direita partidos que defendem e praticam as mesmas acções. Veja-se que na Grécia, os partidos que estavam antes coligados no governo e que defendem a privatização, a aceitação de austeridade, etc. incluem socialistas, conservadores, comunistas, centristas...
Na realidade, face ao esvaziamento de conteúdo, significância e consequência das ideologias políticas [pense-se na dificuldade que o BE, em Portugal, tem tido em encontrar uma ideologia que lhe convenha], devíamos, se queremos ser mais precisos na sua qualificação, dividi-los em partidos conservadores e partidos de mudança: os primeiros querem manter sem alterações o satus quo, os segundos querem alterações.
Direita e esquerda nada significam já, a não ser palavras que se usam para manipular o eleitorado: o governo antes deste era do PS: privatizou, liberalizou o despedimento, começou a destruição da escola pública, enriqueceu banqueiros e amigos... tudo coisas que se atribuem à direita; o PS e o PC pelas câmaras do país agem do mesmo modo e, sem diferença, que o PSD e o CDS. O PC é aquele partido que fala muito nos trabalhadores mas depois só aprova greves se forem organizadas por eles nos seus termos e se o povo resolve manifestar-se por sua conta aparecem logo a dizer que isso é perigoso. Os militantes passam dos sindicatos para os governos... há 100 anos, quando as ideologias eram significantes e as diferenças entre direita e esquerda existiam, de facto, uma coisa destas seria vista como uma traição com direito a execução...
Em Portugal, só algumas [poucas] pessoas do partido que sobrou do BE querem mudanças mas não sabem como nem onde, nem com quem. Não sabem organizar e organizar-se. Nem me parece que sejam de acção mas apenas de palavras.
Portanto, em Portugal, infelizmente, só temos partidos conservadores, incapazes de ideias de mudança, incapazes de um pensamento sem medos. Não são prudentes, no entanto, como se vê pelo estado de miséria das populações, o desemprego, o excesso de divída e a leveza com que enchem os bancos e banqueiros de dinheiro à custa do futuro do país. Não são prudentes, são só medrosos. Prudência era querer assegurar o pagamento da dívida em condições que não nos levassem à ruína, à destruição da economia, à fuga de jovens, ao empobrecimento dos mais pobre e enriquecimento dos mais ricos.
Na Grécia os conservadores estiveram durante estes anos todos no governo. Na Europa todos lhes emprestavam dinheiro desde que se mantivessem sossegadinhos nas suas baias. Agora que elegeram pessoas que querem a mudança, todos lhes chamam extremistas, mas isso é porque, a própria ideia de mudança, quando não sugerida pela Alemanha, a todos parece um perigoso extremismo radical.
No entanto, a Europa mudou muito, naquilo que parecia ser a sua vocação e espírito, após a Segunda Guerra.
Nada de duradouro se há-de alcançar na UE enquanto não se pensar no desvio que se fez, porque se fez e no que se quer para o futuro. Porque neste momento a UE é um grupo de comerciantes a comerciar para ver quem Conserva as coisas como estão para manter o monopólio do poder e dos lucros.
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