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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Há pedacinho recebi um email duma rapariga que foi minha aluna entre 2015/16 e 2017/18 duma turma excepcional. Enviou uma fotografia para o caso de já não me lembrar dela. Como se esquecesse essa turma... muito querida, quis pôr-me a par do que andava a estudar e a fazer e queria saber de mim. Continua muito entusiasmada com a vida, o que me deixa muitíssimo satisfeita.
Hoje de madrugada li um artigo de um professor americano que se reformou três anos antes do tempo. O artigo é uma justificação dessa decisão. Ele conta como era um professor entusiasmado e carismático, fala da atmosfera que conseguia criar dentro da sala de aula, da experiência de crescimento e de aprendizagem e de como tudo isso desapareceu com os portáteis e os smartphones, focos permanentes de dispersão, de isolamento e silêncio onde antes havia questões e da falência da própria experiência de aprendizagem enquanto experiência social. Os alunos, diz ele, deixaram de olhar para ele, vão batendo nas teclas e pelo meio vão ao FB, atendem chamadas, vão à internet ver uma perspectiva alternativa ao que ele está a dizer e ele deixou de sentir-se ligado às turmas e aos alunos.
É um professor universitário mas fala da incapacidade de ter os alunos atentos e refere que muitos professores de escolas e de universidades lhe contam que já não têm autoridade dentro da sala, que os miúdos não querem saber de nada e que isso já chegou aos colégios privados, onde costumava haver turmas interessadas com alunos brilhantes.
Há qualquer coisa que não bate certo nisto. Eu não tenho esta experiência, pelo contrário. Mesmos com as turmas com as quais não me dou bem nem mal, por assim dizer, há um clima de trabalho. É verdade que não deixo usar o telemóvel dentro das aulas a não ser em certas ocasiões muito específicas e controladas, para trabalhar, e é no fim do ano, quando já tudo é muito claro. Sou muito rigorosa com isso.
Mas quer dizer, dou aulas numa escola pública de uma zona que não é rica e, no entanto, a minha experiência é positiva. A maioria das turmas é razoável com alguns bons alunos e volta e meia apanho uma turma excelente, como a desta rapariga. Turmas com muitos bons alunos e gente interessada, empenhada.
É muito mais raro apanhar uma turma de gente desinteressada que apanhar uma turma de gente interessada. É claro que não é fácil, no 10º ano, pôr os miúdos a trabalhar porque a quase totalidade não tem método de trabalho nem de estudo, nem dentro nem fora da sala de aula mas é para isso que nós, professores, existimos e, uma vez que lhe apanham o jeito, muitos tornam-se entusiasmados com as coisas.
Assim de repente, nos últimos cinco anos tive três turmas muito boas, a desta rapariga e mais duas.
Faço regularmente amigos entre os alunos. De modo que não percebo bem estes testemunhos.
Os alunos continuam a ser seres humanos e que eu saiba os seres humanos não desenvolveram escamas de modo que continuam como sempre: a maioria não gosta de estudar mas gosta de aprender, mesmo que tenham interesses limitados; no entanto, têm potencial para alargar os interesses e fazem-no.
Enfim, espero não vir a ter, nunca, o discurso desiludido daquele indivíduo, relativamente aos alunos.
Este artigo é muito interessante. De certo tipo de experiências pouco se fala porque são muito subjectivas, difíceis de traduzir em palavras, de partilhar e de categorizar. Daí que um artigo bem escrito sobre o assunto seja sempre interessante.
Duas experiências deste género que tive foram há muitos anos, uma no norte de França, perto de Rouen (uma cidade muito bonita mas com uma atmosfera tão negativa que me deixou com um nó no estômago) e outra no sul da Alemanha, ali na zona da Floresta Negra, numa altura em que vivia perto e viajei, com alguma frequência, por esses sítios. O que tem piada é que consigo recriar os pormenores das experiências porque tiveram grande impacto e ficaram gravados na memória, mas não consigo lembrar-me do nome dos sítios onde aconteceram nem os consigo encontrar na net. De vez em quando lembro-me e vou para o google maps esquadrinhar essas zonas, ver o nome de todas os sítios, ir às imagens e ao youtube olhar para os sítios (porque sei exactamente como são os sítios e as coisas no sítio em que as vi e acho que os reconheço se os vir), procurar nos lugares e... nada... não consigo encontrar. Frustração. Queria ver se olhando as coisas e os sítios à distância física e dos anos conseguia recriar a experiência da experiência.
Ruído branco do Ártico e aroma intensíssimo e um bocadinho inebriante do Jacinto que uma colega me deu hoje :))
Lá por a democracia directa não ser possível a nível nacional, devido à escala, daí não se segue que não possa ser possível a nível local. E se a democracia directa funcionar positivamente a nível local necessariamente há-de influenciar, também positivamente, a política nacional.
Reykjavík não está sozinha no que diz respeito ao fenômeno do renascimento democrático. Um renascimento que reforça ainda mais a posição central dos cidadãos no processo democrático de decisões. Nos últimos dez anos, pequenas e grandes cidades no planeta adotaram reformas políticas correspondentes após viverem a desconfiança entre os eleitores e os eleitos. Em Seoul, na Coreia do Sul (10 milhões de habitantes), o prefeito Park Won Soon mudou completamente seu papel no espaço de poucos anos. Ao invés de "trabalhar para o governo, hoje el trabalha para os cidadãos", declarou Park.
Por isso muitos governos municipais lutam para adotar essas mudanças. Elas já funcionam há muito tempo em cidades, municípios e cantões da Suíça: a participação na política através de instrumentos da democracia direta. Esses direitos oferecem a possibilidade ao cidadão de apresentar ao governo propostas de leis através de iniciativas e de levá-las à votação popular. Com o direito do referendo, os cidadãos podem também questionar as propostas dos políticos e eleitos e, se necessário, levá-las às urnas.
A apresentação de iniciativas para incluir nas leis instrumentos de democracia em nível local provocam muitas vezes conflitos com as autoridades locais. É o caso de San Sebastián, no País Basco espanhol, onde ocorre este ano o Fórum Global da Moderna Democracia Direta. Um tribunal nacional já declarou ilegal as regras municipais correspondentes. Concretamente isso significa: um plebiscito municipal para discutir as contribuições públicas para a touradas, previsto para ocorre em fevereiro do ano que vem, não poderá ocorrer.
Partindo do princípio de que o ponto de partida de uma democracia viva é o nível local, as autoridades de San Sebastián tentam encontrar uma solução para os entraves políticos e jurídicos. Assim convidaram assim especialistas de mais de 30 países a participar do sexto fórum global do gênero.
Nessa conferencia mundial - na cidade que é a capital cultural do ano - representantes suíços informarão sobre a ampla experiência e as práticas democráticas em nível local. Dentre eles, o cientista político Andreas Gross, um dos mais renomados especialistas internacionais na área. Até instituições como o Fórum Político de Berna servirão de exemplo, já que inspiram há anos iniciativas semelhantes mesmo na Ásia.
Ao mesmo tempo, em muitas cidades do mundo, onde as possibilidades de utilização dos instrumentos da democracia direta ainda não estão tão desenvolvidas como na Suíça, novas formas de participação surgem. O governo de Viena, a capital da Áustria, dialoga com o cidadão sobre a questão das grandes obras, explica Maria Vassilakou. A vice-prefeita e responsável pelo tema "Participação popular" no governo de Viena falará no encontro em Donostia sobre suas experiências.
O estado alemão de Baden-Württemberg irá apresentar o o projeto de reforço das possibilidades locais de participação no processo decisório. "Representantes dos municípios e cidadãos individuais podem se informar, comentar e participar através do portal de participação popular", relata Fabian Reidinger, funcionário responsável no ministério do Interior de Baden-Württemberg, que participa também do encontro.
A cidade como local de "mais democracia" é tema nessa conferencia de quatro dias com palestras, debates abertos e workshops. Dentre os temas abordados: as tentativas recentes em Barcelona, Madrid e Los Angeles de encontrar novas formas de aproximação com os cidadãos e seus projetos de ajuda comunitária e orçamento participativo.
E como essas iniciativas dos governos locais sofrem, muitas vezes, da oposição dos governos centrais por questões de disputa de poder - como mostra o exemplo dessa cidade anfitriã - essas cidades querem agora estar em contato umas com as outras para compartilhar de experiências e aprender "as melhores práticas". Um início foi dado pelo Conselho Europeu em Estrasburgo: ao fundar a "Aliança pela Participação Popular", da qual participam até agora 16 cidades em 13 países.
Não se pode aplicar, porque estamos a falar de pessoas e de efeitos dificilmente reversíveis. A Secretaria Regional de Educação diz que não vai desistir do projecto só por não ser 'politicamente correcto'. Como se a não discriminação fosse uma prática meramente correcta para manter etiqueta social e não estivesse cimentada em muitos anos de estudos e observação no terreno.
Este projecto-piloto que vai ser experimentado em sete escolas é um caso de discriminação não-positiva.
O secretário vincou, ao Diário de Notícias do Funchal, que o conceito de “bom” e “mau” está “ultrapassado” e não faz parte do léxico do Executivo madeirense, (...)
O que ele não percebe é que o conceito de “bom” e “mau” não é uma linguagem de decreto de Executivos, é uma linguagem social interiorizada e é evidente que os próprios alunos vão percepcionar-se desse modo. Ora, sabemos há muito dos efeitos das profecia auto-realizáveis que estão muito estudados e documentados.
O secretário diz que estas turmas vão ser menores, ter mais apoios, mais condições... A minha questão é: porque é que TODAS as turmas não são menores, porque é que TODAS as turmas não têm apoios nas disciplinas/alunos que necessitam e porque é que TODAS não têm boas condições?
Se todas as turmas tivessem boas condições, fossem de dimensões adequadas e tivessem possibilidade de apoios, não havia necessidade de separar alunos em bons ou regulares e maus ou com problemas. Sabemos que numa turma de bom nível, havendo condições, os alunos menos bons sobem imenso de nível, porque o ritmo da turma puxa por eles; e, quando têm dificuldade em acompanhar, apoios cirúrgicos, dados nos momentos adequados, põem-nos no caminho certo outra vez.
É pena que seja preciso um projecto especial para dar boas condições de trabalho aos alunos e professores e é ainda mais de pesar que este projecto seja uma experiência que vai contra aquilo que sabemos ter influência positiva no desenvolvimento das crianças e adolescentes, com o pretexto de 'é melhor fazer mal que fazer nada'.
Em França os alunos podem deixar de ser avaliados com notas em 2016.
França debate a abolição das notas nas escolas
Em França quer-se abolir as notas porque segundo o Hollande, os alunos as entendem como castigos e ainda porque os critérios de exigência mudam de escola para escola e um 12 numa escola equivale a um 14 noutra.
Por cá o David Justino resolveu defender que os alunos não devem ter notas senão no 4º e 6º ano embora não apresente nenhuma razão para o facto. Apenas diz que era melhor as notas serem substituídas por avaliações de competências e capacidades gerais.
Em relação a esta questão da avaliação com notas quantitativas, se bem que não seja um sistema perfeito -isso existe?- é melhor que considerações vagas e subjectivas acerca de capacidades e competências do género de diagnóstico próprio de psicológicos e não de professores.
Ou o que se pretende são afirmações 'chapa 5' do género, 'este aluno não atingiu a meta 1 nem a 2 mas atingiu a 3'? Ou ainda, o que se pretende são testes de diagnóstico do tipo: o ponto forte deste é isto e o fraco é aquilo? Por exemplo, este é fraco no calculo. E depois? Os que são fracos vão para a turma dos fracos? Em que é que isso é diferente das notas? Ou vão dar um número pequeno de alunos a cada professor para trabalhar com os fracos? E no fim da escolaridade quando tiverem que fazer testes e exames com notas como se preparam nunca tendo tido notas quantitativas?
E há nestas conversas muitos enganos: que a Alemanha e a Suécia não têm notas quantitativas... para já nem é verdade e depois, quem é que quer essses sistemas de ensino que só têm dado problemas? Porque é que vêm cá recrutar engenheiros, médicos e enfermeiros às centenas?
E quem diz que o fim da avaliação quantitativa faz com que os critérios de exigência se uniformizem? Como se os avaliadores, por magia, passassem a ser pessoas idênticas, com percepções semelhantes do mundo, da educação e da melhor maneira de preparar crianças e jovens para o mundo. Só no dia em que os professores e os alunos forem substituídos por robots programados pelo mesmo programa é que isso acontecerá.
Uma avaliação qualitativa é mais justa e menos castigadora? Não necessariamente. Uma avaliação quantitativa avalia o trabalho efctivamente realizado pelos alunos e não faz considerações de ordem valorativa. É certo que um aluno que tire uma má nota tem um conjunto de razões que a explica: pode ser preguiçoso, não ter acompanhamento em casa, ter-se atrasado um ano por qualquer razão (doença, por exemplo), não ter sido estimulado na altura certa, etc. Agora, a verdade é que a avaliação quantitativa não tece considerações: não diz que o aluno não tem capacidades ou qualidades para esta ou aquela disciplina ou matéria nem outras coisas bastante subjectivas e muito mais castigadoras que as notas na pauta.
O que deveria mudar não são as notas mas todo o aparato e mercantilização que se faz com as notas porque se as notas fossem vistas como o que são: um indicador da distância a que os alunos estão das finalidades dos programas, não havia dramas com as notas, o que havia era reajustamentos de comportamentos e de trabalho para alcançar finalidades. Quem faz das notas um monstro é o MEC que lhes dá uma importância de gadanha com que corta o pescoço dos alunos de quem se serve como instrumento de políticas duvidosas.
Nas minhas turmas nenhum aluno gosta de ter má nota mas nenhum aluno se sente humilhado com as notas por muito baixas que sejam porque estão habituados a ver as notas baixas como um indicador do investimento que fizerem, ou não, no seu trabalho efectivo e não como um sinal do seu valor potencial. Há alunos como muito potencial que não trabalham nada e têm más notas por isso. O que está certo, porque nós não avaliamos capacidades mas trabalho realizado o que tem uma objectividade muito maior.
Isso é uma coisa que deixo claro desde o primeiro dia e em tudo o que faço que envolva avaliação: os alunos são pessoas em processo de evolução e nesse processo têm muitos precalços (de trabalho, de comportamento, de atenção, de concentração, de motivação, de gosto, de vida...) e isso é que está na origem das notas que vão tirando, não um suposto valor de competências ou capacidades que uns têm e outros não têm como coisa fixa que é coisa que não me cabe a mim dizer, tipo juíz do futuro alheio.
De modo que não entendo o barulho e o drama que se faz em torno das notas e parece-me que este é mais um ruído para alguém parecer que está a fazer trabalho.
Daqui não se segue que não possa achar que tem importância não haver notas nos primeiros quatro anos. Se calhar tem mas antes de se porem para aí com experiências, como é costume, sem pensar e só para imitar outros e para experimentar coisas diferentes, talvez fosse bom pensar seriamente nelas porque a escola não aguenta mais abanos estruturais e na escola tudo é muito complexo e tem efeitos a longo prazo.
Quase 700 mil utilizadores da rede social foram submetidos a um teste comportamental sem o seu conhecimento. Uma prática eticamente questionável.
O Facebook dividiu 689.003 utilizadores em dois grupos e filtrou o tipo de conteúdo que cada um deles recebeu no seu “feed de notícias” durante uma semana: uns receberam menos conteúdo “positivo” do que o habitual; os outros, menos publicações “negativas”. O objectivo era perceber se a exposição a conteúdos ligeiramente diferentes afectava o comportamento dos sujeitos da experiência na mesma rede social.
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Questionável? Reprovável! Usar as pessoas como cobaias sem saberem. A chatice é que uma pessoa já se habituou ao Facebook. Dá jeito ter ali agrupadas as notícias dos sites que gostamos de visitar e ter ali os amigos e os conhecidos à mão, por assim dizer. Não só para trocar três palavras ou quatro mas também para não perder o contacto.
É giro isso de ir acompanhando a vida da família distante, dos sobrinhos, dos ex-alunos, criar amizade, acompanhar o percurso deles na faculdade ou no trabalho, nas datas importantes e vê-los ter filhos e crescer.
É uma feliz disposição recuperar uma certa proximidade de vida que dantes era vulgar, quando as pessoas cresciam, estudavam e faziam a sua vida sempre nos mesmos meios acompanhando o ciclo de vida uns dos outros, quando todos se encontravam nos mesmos cafés, as várias gerações sempre em contacto umas com as outras. Isso que se perdeu com a mobilidade do trabalho e da vida moderna, num certo sentido, recupera-se no Face, essa espécie de café da aldeia onde nos cumprimentamos e vemos todos os dias.
The Journey From Self Employed To Successful Business Owner – with Derek Sivers -
Gostava de ter feito as viagens ao Magreb e ao Médio Oriente no final do século XIX ou até nas primeiras décadas do século XX. Há uma magia muito grande nesses sítios e de cada vez que leio relatos de viagens dessas épocas - como o da Gertrude Bell, o do Lawrence da Arábia ou o do Capitão James Riley, só para dar os exemplos mais impressionantes- vejo essa magia multiplicada por mil.
Não sei bem porquê mas acho que se deve ao facto de que, até à véspera da Segunda Grande Guerra, não só se vivia ainda antes da serpente e da maçã, numa inocência que essa guerra matou, como ainda se tinha os pés na Antiguidade. Quer dizer, o Renascimento da Antiguidade ainda estava muito presente. Havia o ideal da procura do saber guida pela visão inteligente dos clássicos e essas viagens eram acima de tudo uma procura de raízes das coisas. Eram ao mesmo tempo uma viagem no espaço e no tempo. As próprias coisas, monumentos e isso, ainda estavam num estado que considero 'poético'... naquele esplendor da imponência isolada, rodeados de nada, antes da comercialização, das multidões de turistas e da tecnologia.
Cada viagem dessas era uma viagem ao passado. Agora é mais difícil. Por exemplo, fui ao mercado das especiarias na Turquia e todos os vendedores tinham uma máquina para embalar as especiarias no vácuo...
No sul do Egipto e ao longo do Nilo ainda se sente a magia do passado porque os templos estão no deserto e não há nada à volta. A imponência de Abu Simbel ou de Karnak ou até das pirâmides, se as virmos do lado do deserto estão intactas. E há aldeias núbias milenares que continuam tal qual como eram.
Também na Túnisia ainda se sente a magia do Sahara e das grandes dunas. Mas andámos lá de 4x4 com ar condicionado... o que não tem magia nenhuma. Andei de camelo. Fizémos um passeio de umas horas e deu para ter a experiência e a intuição do que é uma viagem dessas naquele cenário absoluto.
Resta imaginar...
Ontem ao jantar alguém da família contava-me que tinha comido uma picanha Kobe no Olivier e que era bestial e tal e perguntava-me se eu já tinha experimentado. 'Então não? A minha experiência nesse campo é alargadíssima. Todos os computadores, TVs e leitores de DVD da minha escola são Kobe. Só trabalham se os massajarmos e falarmos em voz doce com festinhas para os acalmarmos. O choque tecnológico na minha escola é todo Kobe!. Um verdadeiro luxo!'
...numa pintura do Picasso. Mais ou menos como esta aqui em baixo, só que com a boca mais perto da testa. É preciso ver as coisas pelo lado positivo. Uma ida à dentista fornece-nos uma experiência estética.
Picasso, Mulher com chapéu azul
Há mais de 30 anos que faço praia no Algarve sempre no mesmo sítio. Antes de ser efectiva, quando começávamos as aulas em Outubro e ficávamos sem receber ordenado em Setembro, passava lá todo esse mês. O Algarve sem ninguém, a praia fenomenal... Agora passo menos tempo, mas gosto imenso daquilo.
É uma zona do Algarve que ainda não está saturada de turistas e construções e o sítio para onde vou fica à noite quase completamente às escuras, com excepção de umas luzes de presença perto do chão para vermos o caminho e de alguma luz ténue que vem das casas espalhadas por ali.
À noite o céu fica pejado de estrelas. Vê-se perfeitamente a via láctea, e uma quantidade grande de constelações. Fica-se maravilhado a olhar o céu. De vez em quando vamos até à praia depois do jantar porque ainda se anda um bocadinho entre as dunas, embora agora já não me aventure a ir tomar banho à noite como fiz umas poucas de vezes.
A sensação de enfiar os pés na finíssima areia branca, que nos refresca do ar quente da noite e de ouvir o restolhar das ondas com aquele céu por cima é uma coisa difícil de descrever. Uma dessas vezes, a caminho da praia, numa altura em que ia a olhar o céu, vi uma explosão duma estrela - enfim, penso que foi o que vi, não vejo outra explicação. Um enorme clarão repentino de explosão muito longe no meio de um polvilhado de estrelas. Fica-se tocado pelo espectáculo pela consciência de estarmos a ver um fenómeno que já aconteceu há muitos anos - 100, 500, mil anos? - e cuja imagem só agora chega a nós.
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