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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
As médias foram todas positivas, ou seja acima dos 100 pontos – dez valores -, à exceção da nota de Filosofia, que ficou nos 98 pontos...
Isto não espanta. O exame de Filosofia não é obrigatório, de modo que quem faz o exame de Filosofia são: os alunos que chumbam na disciplina e têm que ir fazer o exame para passá-la; os alunos que têm medo do exame de FQ, de Biologia, de Geografia e substituem-no pelo de Filosofia (um aluno pode substituir um único exame de uma cadeira específica pelo de Filosofia) na esperança de que seja mais fácil.
Portanto, estes dois tipos de alunos, que são a esmagadora maioria dos que fazem exame de Filosofia, são ambos fracos alunos, ou porque não conseguiram passar à disciplina ou porque são fracos às disciplinas específicas dos seus cursos, o que já diz muito e, querem evitar o seu exame.
Depois sobram os bons alunos que optam por ir fazer o exame de Filosofia em substituição de outro para subir a média do ano. Estes, quer dizer, os bons alunos a todas as diciplinas, são uma minoria e, geralmente tiram muito boas notas nos exames em quaisquer condições.
Portanto, a maioria dos que fazem exame de Filosofia são alunos que não conseguem atingir os mínimos, nem na disciplina de Filosofia nem em outras durante todo o ano, de modo que não espantam os maus resultados.
Acresce a isso o facto de o exame de Filosofia não estar feito para os mínimos, para alunos fracos. Diríamos que o produto não é congruente com o público alvo. Se devia ser assim já é outra questão diferente.
Várias escolas secundárias abriram as portas, ao primeiro minuto desta sexta-feira, para que os alunos ficassem a saber as notas dos exames nacionais. Mais de cem alunos e pais consultaram os resultados em escola de Famalicão.
Como os resultados só podem ser conhecidos no dia 12, sexta-feira, há estabelecimentos que deixaram os alunos entrar à meia-noite e um minuto.
Para José Morais, que acompanhou a filha, Mafalda, à escola, "essa é uma forma de partilharem o nervosismo e há um bom clima dentro da escola entre pais e professores".
A iniciativa, que "pretende acalmar alunos e pais, e também proporcionar um ambiente festivo e de descontração", repete-se há vários anos. "Os estudantes ficam menos nervosos e mais despreocupados com os resultados dos exames", disse ao JN fonte do estabelecimento de ensino.
Isto é mesmo anti-pedagógico. É o desnorte.
... ou pior...
O secretário de Estado da Educação defendeu esta quinta-feira que as escolas devem preocupar-se em ensinar em vez de se inquietarem com a preparação dos alunos para os exames nacionais, argumentando que desta forma os estudantes terão melhores resultados académicos.
1º Os exames são obrigatórios para muitas disciplinas e a nota dos alunos nos exames é determinante para as escolhas que os alunos podem fazer em termos de estudos universitários. Logo, um professor que ignore a importância desta condição na vida dos alunos e a sua responsabilidade na questão, é um professor que não se interessa pelos alunos. É isso que o secretário de Estado quer?
2º Os exames são momentos de avaliação de conhecimentos e de técnicas com particularidades específicas pois há 100 maneiras de se apresentar uma questão ou problema. Alunos que não são treinados para o modo como as questões são apresentadas nos exames e para o modo como são avaliadas (o que os correctores valorizam e o que desvalorizam) ao chegar ao exame perdem imenso tempo a perceber como devem organizar os conhecimentos que têm à volta da questão em causa. Isto para não falar de disciplinas como a Matemática onde os problemas podem ser apresentados de maneiras muito diferentes, sendo que, se os alunos não treinam vários modos de apresentação de questões, no exame nem percebem o que têm que fazer.
Como toda a gente que já fez testes psicotécnicos ou outros teste ou que já foi a uma entrevista de trabalho sabe, a experiência e o treino prévio aumentam a eficácia dos procedimentos. Ou o secretário de Estado quando ia a entrevistas de trabalho ou fazia exames não se preocupava em saber a melhor forma de responder à tipologia de avaliação e confiava que deslumbrava toda a gente com a sua genialidade? Um professor que não perceba a importância destas questões não ajuda os alunos.
3º Por exemplo, muitas questões de escolha múltipla dos exames de Filosfia são dúbias e prestam-se a várias interpretações; o problema da ambiguidade inescapável da linguagem, como se sabe, está na origem de toda uma corrente da filosofia; no entanto, como só aceita uma resposta como correta, é preciso ensinar os alunos acerca das interpretações que costumam ser aceite nessas questões, senão arriscam-se a saber e mesmo assim errar ou, pior, os que sabem menos mas têm sorte no totobola é que as acertam.
4º como sabemos, há imensos pormenores que afectam a performance dos alunos, até coisas como a temperatura das salas de exame (women perform better on tests of cognitive function at toastier room temperatures. ), de modo que dizer que quem sabe faz sempre bem ou até que os exames deviam mudar todos os anos e ser sempre uma surpresa, é de uma grande ignorância.
O que devia acontecer era termos currículos que permitissem dar os programas e ao mesmo tempo treinar o tipo de performance que os exames requerem.
Portanto, o secretário de Estado exortar os professores a não se importarem com os exames é o mesmo que incentivar-nos a desconsiderarmos um acontecimento que pesa no futuro dos alunos. Pela minha parte, não sigo o conselho, obrigada.
Sociedade Portuguesa de Matemática diz que foi posta em prática "uma receita para o desastre".
Uma coisa é o exame ser desadequado relativamente aos programas -se é está errado- ou ter mudado completamente de estrutura e não terem fornecido uma prova modelo, tendo em conta o peso e a importância do exame para milhares de alunos que investem na preparação para a prova. Outra coisa diferente é dizer-se que por a prova ter percursos alternativos, isto é, grupos onde o aluno que deve escolher entre responder à questão A se deu o programa x e à questão B se deu o programa Y vai ser um desastre. Se um aluno no 12º ano não é capaz de ler umas instruções simples também não será capaz de muito mais, seja na faculdade, seja na vida.
... ouvi dizer que o exame tinha perguntas iguais às de um exame de meia dúzia de anos atrás.
As máquinas de ressonância magnética foram inventadas nas prisões de Guantanamo e o objectivo era enlouquecer os presos. Chiça...
... and I'm a little afraid...
in the mood for headbangers :)
Se se confirmar uma fuga de informação, os autores serão punidos "civil, disciplinar e criminalmente".
Não há razão para punir todos em vez de se apurar os culpados e reservar, para eles, a punição que, a ser verdade a fraude, espero seja exemplar. Podia aproveitar-se este caso para tornar mais transparente todo o processo.
Assim, no ano lectivo de 2018-19, as provas de aferição do 8.º ano serão feitas online, no que diz respeito à elaboração dos testes nacionais pelo Ministério da Educação, à classificação das respostas dos alunos e à publicação dos resultados.
A ideia é que no futuro os alunos prestem as suas provas através de computadores nas escolas.
Este sistema online de provas de aferição vai poupar custo a médio e longo prazo, flexibilizar a realização das provas criar um sistema de classificação automática das perguntas com resposta fechada (...)
O novo sistema de exames online evitará também dupla classificação e monitorizará o trabalho dos classificadores. E permitirá acelerar o tempo de classificação. Além disso, facilitará o armazenamento das provas, dispensando o arquivo de papel.
Ou seja, no futuro todos os exames serão de resposta fechada (vulgo, de cruzinhas) e a classificação online para poderem ver, em tempo real, a classificação dos exames, e controlarem-na. Isto tudo para poupar dinheiro. Este é o sistema americano que como todos sabemos está pelas ruas da amargura, todos os anos a cair nos indíces internacionais PISA, com o caos nas escolas por falta de professores à conta de milhares de professores abandonarem o ensino nos primeiros anos. É isto que querem importar... porque aqui no rectângulo a educação é um parente pobre que só serve para poupar dinheiro, de modo que os critérios idiotas de curto prazo para financiar banqueiros financeiros, sobrepõem-se sempre aos pedagógicos. Control is the name of the game!
Todos os anos complicam mais a correção dos exames nacionais. Agora é preciso decompôr na grelha e na folha de resposta do aluno a classificação em cotações de níveis de desempenho... qualquer dia é necessário fazermos gravação dos pensamentos e raciocínios que elaboramos enquanto classificamos os testes de exame não vá termos pensado alguma coisa proibida pelo deus IAVÉ ou, termos pensado, sequer... ou temos que ver os exames com escolta policial para verem quantas vezes nos levantamos para descansar a cabeça ou outra coisa qualquer do género que possa ser pretexto para acção judicial.
The atmosphere in the class is relaxed, collaborative, enquiring; learning is driven by curiosity and personal interest. The teacher offers no answers but instead records comments on a flip-chart as the class discusses. Nor does the lesson end with an answer. In fact it doesn’t end when the bell goes: the students are still arguing on the way out. This is my ideal classroom. In point of fact, it is more than just a dream. My real classroom sometimes looks like this, at least occasionally.
A minha também!! Quase sempre :))) embora não seja verdade que nunca ofereça respostas é verdade que nenhuma aula é fechada com uma resposta 😀
Mas as disciplinas que lecciono não têm, hoje em dia, exame obrigatório e a verdade é que a maioria das aulas onde há exames obrigatórios são dadas para os alunos passarem esses exames e como os programas são enormes e as turmas gigantes não há tempo para que possam fazer um exercício de progressão socrático. Na geral as coisas são mais assim:
‘Teaching to the test’, which increasingly dominates public school classrooms, produces an atmosphere of student passivity and teacher routinisation. The creativity and individuality that mark out the best humanistic teaching and learning has a hard time finding room to unfold.
Os malefícios do caos que atinge a constituição de turmas não tem explicação e ninguém fala disso. Estamos com 30, 32, 34 ou mais alunos dentro da sala de aula, sendo que esses alunos são de várias turmas misturadas anti-pedagogicamente só para poupar dinheiro.
Geralmente são duas turmas que se juntam mas, podem ser mais. Como estamos no nível secundário e não universitário, os alunos não têm autonomia suficiente para não dependerem do professor em quase todas as tarefas. Estamos a falar de adolescentes. Pessoas naquela fase da vida que é um universo diferente e alienígena dos adultos, onde levantar o braço para fazer uma pergunta ou ser capaz de dizer que não percebe pode ser um drama que leva um mês a ultrapassar, onde ter que expôr-se em frente de desconhecidos, mesmo que nesse universo reduzido da turma pode causar um ataque de pânico.
Outro dia vinha a falar com um colega de Matemática à saída da aula do meio da manhã acerca de termos mais de 30 alunos dentro da sala e nem haver cadeiras suficientes para se sentarem. Dizia-me ele, 'é impossível um ensino de qualidade - quando fazemos um exercício o mais que podemos é escolher um aluno para ir ao quadro e o que ele fizer serve de modelo para os outros porque não é possível ver o que cada um fez, como fez, tirar as dúvidas a cada um, ver onde cada um está a falhar, etc.'
Depois é a misturada de turmas. Uma turma no 10º ano tem 30 alunos. Se 5 ou 6 não passam, 2 ou 3 mudam de curso e outros 2 mudam de escola, a turma fica com 19, por exemplo. No ano seguinte essa turma tem aulas com outra turma que também ficou com menos 10 alunos, nas disciplinas como o Português e mais outas 2 ou 3 que são comuns a todos os cursos.
O resultado não é uma turma nova mas duas despersonalizadas enquanto grupo, com dinâmicas e modos de funcionamento diferentes enfiadas numa mesma sala. Uma pode ser uma turma de Humanidades e outra de Artes ou de Ciências e não têm nada em comum; depois de um ano no secundário num determinado curso, já têm um modo de funcionamento mental próprio do curso de maneira que não se fundem em uma só turma o que afecta os alunos, para além de nos afectar a nós porque depois temos 30 alunos dentro de uma sala de aula, sendo que muitas vezes estão desfazados em termos de ensino porque cada um teve seu professor.
Estamos ali a dar aulas a duas turmas e não uma, só que estão todos dentro de uma única sala. Às vezes juntam-se a duas turmas diferentes consoante as disciplinas. É o caos e já se tornou rotina quando dantes era uma excepção. Para os alunos isto tem consequências extremamente negativas.
Este ano tenho uma turma do 10º que está a começar agora e mais outras seis juntas duas a duas de modo a fazer 3.
As duas turmas do 12º ano que tenho são 4. Por exemplo, uma é a turma A+B e a outra é a turma C+D. Cada uma é a junção de 2 turmas. Em cada uma delas eu conheço metade da turma: por exemplo, na A+B conheço os da A desde o 10º ano e a outra metade (a B) só os conheci este ano.
O facto de eu conhecer perfeitamente todos os alunos de uma das turmas (A, por exemplo), ter um enorme à vontade com eles e trabalharmos muito bem porque já nos habituámos uns aos outros e porque os treinei desde o 10º para serem autónomos no trabalho e dependerem o mínimo possível de mim, afecta negativamente os da outra, cujos nomes não sei e vou levar muito tempo a decorar, coisa que eles reparam e não gostam embora compreendam, que estão agora a apanhar o modo de trabalhar nas minhas aulas comigo e a fazer um grande esforço para serem mais autónomos, que não têm o à vontade que vêem os outros ter no trabalho e na convivência dentro da sala, etc. Por muito que trabalhe para amenizar isso, para os pôr à vontade, etc., isso afecta-os no rendimento. São adolescentes, não adultos. Têm imensas inseguranças.
Para não falar que com turmas a 30 ou muito mais, deixamos de fazer a quantidade de avaliações que fazemos por ser matematicamente impossível de os corrigir. E quem perde são os alunos, claro, porque as avaliações são um instrumento para aferir do seu progresso e para desenvolver técnicas específicas e de desenvolvimento pessoal.
Isto está caótico. Agora até as Direcções de Turma querem que sejam à molhada, tipo dois em um... o trabalho mais importante do DT é a gestão dos conflitos: entre pais e professores, entre alunos e professores, entre alunos. Quando se consegue gerir bem os conflitos corre tudo às maravilhas e quando não se consegue transforma-se num inferno que afecta logo as aulas e o rendimento deles. Juntar DTs é o caminho mais curto para potenciar conflitos porque é misturar grupos com dinâmicas e problemas diferentes e tratá-los como iguais. Está tudo numa enorme degradação e ninguém fala de nada porque só o que interessa ao ME é poupar dinheiro, e ter alunos amestrados para vomitarem respostas em exames para aparecerem bem nas tabelas internacionais.
Se as coisas funcionam nas escolas deve-se exclusivamente aos professores que ainda têm profissionalismo, que se preocupam e gostam dos miúdos e não são capazes de desistir deles porque todo o sistema está organizado para que as escolas falhem, para que os professores desistam, para que tudo seja aparência e fogo de vista e o que mais choca é o total desprezo que têm pelo interesse dos alunos. No meio disto tudo que se faz para inglês ver, os alunos são a última coisa em que se pensa.
Um aluno hoje em dia que tenha o azar de não passar e ter 18 anos, está tramado e pode acontecer não ter lugar em nenhuma escola ou ter mas não poder matricular-se a todas as disciplinas porque as turmas estão juntas à molhada e o professor já tem 34 alunos ou algo assim. É revoltante.
Esta profissão, para quem leva o trabalho a sério e não faz tudo à balda só pelo (mau)salário ao fim do mês (porque podemos fazer isso, sim, tratar tudo chapa 5 já que está tudo à molhada, como se os alunos, os pais, as turmas fossem parafusos e não universos individuais) exige muita fortitude mental. Daí que milhares de professores andem com depressões, burnout, de baixa ou na escola tipo zombies. A mim custa-me o sono e não durmo como deve ser. Ao contrário do que se diz não tem que ver com a idade mas sobretudo com a impotência de ver tudo ser mal dirigido, mal pensado e mal feito, com gritantes injustiças e abusos e de não conseguir introduzir bom senso e inteligência num sistema cada vez mais estúpido que premeia os simulacros.
Há gente que não tem nada que fazer de modo que inventa papéis, burocracias e cenas para chatear e dar trabalho aos outros sem que isso se traduza em um átomo de melhoria do ensino ou do processo de classificaçã, neste caso [as escola estão cheias de especialistas nesta arte de fazer nada e parecer que se faz muito] mas é uma maneira de se convencerem que fazem um grande serviço... isto para dizer que este ano a grelha de classificação de exames vem um bom bocado mais burocrática e infernal de preencher. Agora, não basta pormos as cotações das questões, temos que transcrever para a grelha as respostas dos alunos nas escolhas múltiplas, uma a uma... qualquer dia temos que transcrever os textos também... raios partam estes gajos com estas merdices que não interessam nem ao menino jesus porque não acrescentam rigor nem objectividade a coisa alguma... é só mesmo para aquilo que eu disse: chatear e convencerem-se que fazem um trabalho muito importante...
...já acabou há uma data de tempo... O que andam a fazer??? Nem se consegue aceder ao site. Até parece que é a primeira vez que fazem exames... a falta de profissionalismo é a norma...
19.00 h - Atraso de vida...
19.20 h - É muito difícil por o exame online... É PRECISO CLICAR NO BOTÃO!!!
20.06 h - Hello...??? Está aí alguém? Não há um técnico de informática que saiba clicar em botões?? HELLOOOOO!!!
Isto vem da Universidade de Harvard e outras da Ivy League que os opinadores a vulso tanto veneram. Finalmente alguém com cabeça começa a perceber alguns dos grandes erros deste sistema insano, contrário à meritocracia e favorecedor da manutenção da fraude e da cunha.
“Turning the Tide” sagely reflects on what’s wrong with admissions and rightly calls for a revolution, including specific suggestions. It could make a real difference not just because it has widespread backing but also because it nails the way in which society in general — and children in particular — are badly served by the status quo.
Focused on certain markers and metrics, the admissions process warps the values of students drawn into a competitive frenzy. It jeopardizes their mental health. And it fails to include — and identify the potential in — enough kids from less privileged backgrounds.
(...)
The report recommends less emphasis on standardized test scores, which largely correlate with family income.
(...)
“Turning the Tide” follows other reexaminations of the admissions process. A growing number of colleges have made the SAT or ACT optional. And late last year, more than 80 colleges, including all eight in the Ivy League, announced the formation of the Coalition for Access, Affordability and Success, which is developing a website and application process intended in part to diversify student bodies.
Colleges are becoming more conscious of their roles — too frequently neglected — in social mobility. They’re recognizing how many admissions measures favor students from affluent families.
They’re realizing that many kids admitted into top schools are emotional wrecks or slavish adherents to soulless scripts that forbid the exploration of genuine passions. And they’re acknowledging the extent to which the admissions process has contributed to this.
«O ministério de Tiago Brandão Rodrigues não se limitou a regressar atrás no tempo, também decidiu inovar ao anunciar que vai antecipar a realização de provas de aferição para os 2.º, 5.º e 8.º anos. Ou seja, os exames do 4.º e 6.º anos não se realizarão, mas também não serão substituídos por provas de aferição (estas não contam para a nota final), conforme recomendado pelo Conselho Nacional de Educação, nesta quinta-feira.
À semelhança dos exames, a realização das provas de aferição continuará também a ser obrigatória e com carácter universal. São elaboradas por um organismo central externo às escolas e o mesmo enunciado é apresentado a todos os alunos dos anos de escolaridade em causa. A justificação para que estas provas não sejam realizadas em final de ciclo (4.º e 6.º ano), mas a meio é porque assim as escolas podem “agir atempadamente sobre as dificuldades detetadas” nos alunos. (…)
Segundo o ministério, no final deste ano letivo realizar-se-ão duas provas no 2.º ano de escolaridade, uma de Português e outra de Matemática, mas “apresentando as duas uma componente de Estudo do Meio”. No ano seguinte, 2016/2017, a tutela promete que “a aferição já incluirá a área das Expressões”.
Nos 5.º e 8.º anos de escolaridade, as provas que se realizarão em 2016 serão ainda só às disciplinas de Português e Matemática. Já a partir do próximo ano lectivo passarão a incidir “rotativamente, sobre outras áreas do currículo”, indica ainda o comunicado do ME.
Quanto ao 9.º ano, desaparece o teste de Inglês, que nem sequer é mencionado na nota do Ministério da Educação, e continuarão a realizar-se exames nacionais às disciplinas de Português e de Matemática, “no regime em que decorrem desde 2005”(…).» (In: www.publico.pt, 8 de janeiro de 2016).
Não vejo razão para tanta celeuma à volta destas medidas que me parecem positivas.
1. Não há nenhum estudo em lado algum que indique, nem que seja a título de tendência haver benefícios de se sujeitarem os alunos a exames em idades precoces e, mesmos os exames que se fazem mais tarde, são necessários para se poder certificar alunos (atestar que concluiram com normalidade e aproveitamento o ciclo de estudos obrigatório) e/ou ordená-los hierarquicamente com vista às entradas no ensino superior onde não cabem todos nas opções desejadas. Na realidade, a esmagadora dos países que vão à frente nestes rankings não os têm.
2. Há uma diferença entre provas de aferição e exames dado que as primeiras não excluem e as segundas sim, mesmo que excluam poucos mas isso em idades tão pequenas tem um peso negativo muito grande.
3. Uma vez que os exames excluem e têm peso grande na nota, existe a tendência a moldar os conteúdos de modo a que as aulas sejam mais um treino de passar exames que uma aprendizagem pedagógica, ainda mais com a competição que forjaram à volta dos exames. Por exemplo, na disciplina de Filosofia, um grande número de Manuais à venda já nem se dá ao trabalho de trazer todos os conteúdos obrigatórios do programa, antes traz apenas os que são objecto de avaliação em exame e já estruturados no modo como saem no exame. É como um receituário preparado para um momento artificial. Como todos sabemos, nos colégios particulares desprezam-se os alunos que não se prevê terem potencial de exame e empurram-se para fora. Não é este o objectivo da educação.
Provas de aferição, se feitas e avaliadas com o mesmo rigor e universalidade que os exames permitem avaliar melhor se os alunos estão preparados e atingiram as metas num contexto não artificial, como é o das aulas planeadas com o único intuito de passar exames e, desse modo, permitem avaliar os professores também.
4. Não sei porque foram introduzidas estas provas no segundo ano mas calculo que se deva a que os alunos que por essa altura não aprenderam ou aprenderam mal a linguagem escrita e a arimética passam a acumular erros e defeitos que se transportam para os anos seguintes, sendo que, se apanhados a tempo, podem ainda ser corrigidos.
Então a nova equipa da educação não foi tida nem achada na questão da morte dos exames? Nem lhes pediram sequer opinião? Isso para mim é um péssimo sinal. Uma coisa é acabar-se com a obsessão dos exames do Crato, outra é arrasar tudo sem pensar.
O que eu gostava mesmo era que cada governo que chega ao poder não fizesse a 'sua reformazinha ideológica pessoal' sem ouvir ninguém, sem pensar, sem avaliar o que foi feito, etc. A questão dos exames não é partidária e é polémica. Tem opositores e tem defensores.
Este governo, ainda agora começou e já está a fazer o mesmo que o anterior: como tem uma maioria na AR que lhe permite aprovar o que quiser esquece-se que os outros deputados representam portugueses e não são um mero enfeite do hemiciclo.
Seja como for, a equipa da educação não tugir nem mugir quando aprovam medidas do seu pelouro à sua revelia, é, na minha modesta opinião, muito mau sinal, porque, lá está, quem decide das coisas da educação nunca são pessoas que estão por dentro dos problemas, seja teoricamente, enquanto pedagogos, seja porque têm experiência no campo. São economistas a mando do chefe do governo, são políticos raivosos que só pensam em vinganças, políticos que vivem naquele circuito entre S. Bento e as sedes dos partidos.
Não digo que é uma desilusão porque não tinha ilusões...
Eric Hanushek, especialista em Economia da Educação, convidado pela Gulbenkian, apresenta cálculos sobre o impacto que teria afastar os professores “menos eficazes”.
Esta notícia de economistas serem convidados para defender o despedimentos de professores e o aumento de exames é recorrente e geralmente antecede uma vaga de cortes e despedimentos. É claro que isto não tem nada a ver com educação. Os americanos têm um dos piores sistemas educativos, o que, hoje em dia, já toda a gente sabe que tem a ver com o excesso de medições e a submissão da educação a medidas economicistas mas nós estamos sempre a convidá-los para dizerem estas asneiras.
A meio do artigo diz-se que se despedissemos professores e fizéssemos mais exames, podíamos até aumentar o número de alunos por turma [os professores são bestas de carga] que ficávamos [milagrosamente?] com o sistema ao nível da Finlândia em termos de resultados. O quê?? A Finlândia que não despede professores nem faz exames a não ser no fim de tudo. Este é o nível de manipulação da informação.
E gasta-se dinheiro a encomendar estudos de como fundamentar o despedimento dos professores mais velhos, que ganham mais e meter gente que está no início de carreira e ganha menos? Porque essa é, sem dúvida, a intenção... entretanto ninguém fala de educação...
A educação está perto do caos e os professores perto do esgotamento desde que lhe introduziram uma estrutura de fincionamento e gestão próxima da repartição pública -como se o trabalho académico fosse semelhante a fazer turnos de carimbar cartões- e lhe retiraram tudo o que é próprio dum trabalho académico. Não por acaso a expressão, 'medir produtividade' aparece várias vezes. É como o Crato a querer medir as palavras por minuto dos miúdos. É a mesma lógica: a 'produtividade'.
Eu teria aí uns dezasseis anos quando li 'O Arquipélago do Gulag'. Nesse livro, Soljenitsin explica o método de produtividade que o sistema estalinista introduziu nas fábricas através dum sistema de medição cada vez mais exigente de tempo/número de objectos produzidos. Como isso poupava imenso dinheiro, embora levasse os trabalhadores a um permanente esgotamente e não melhorasse a qualidade do produto. É tal qual o que este estudo defende.
Este é o sistema americano. É aqui que queremos chegar?
A média mais alta no exame de Matemática A foi alcançada em 2008, com os alunos internos a obterem 14 no exame, o que levou a Sociedade Portuguesa de Matemática, então presidida por Nuno Crato, a acusar a ministra da Educação da altura, Maria de Lurdes Rodrigues, de promover o facilitismo. [parece que o ministro ficou muito surpreendido com a subida deste ano e mandou perguntar qual a razão... ahahah, isto é só rir]
Outra das novidades deste ano é também a média alcançada pelos alunos internos a Física e Química A, um das disciplinas que tradicionalmente apresenta piores resultados. Mas em 2015 a média subiu para 9,9 valores contra os 9,2 de 2014. Como a partir de 9,5 já é possível o arredondamento para 10 valores, o resultado é assim positivo, confirmando-se também aqui as previsões feitas por Hélder de Sousa para as disciplinas de Matemática A e Física e Química A. Segundo o presidente do Iave, os resultados nos últimos anos a estas disciplinas tinha-se desviado “daquilo que é reconhecido como adequado”.[deixa-me rir AHAHAH]
Os resultados dos exames de Física e Biologia, em termos de subida ou descida de média, como é sabido, não representam nada sem o factor, 'exame de filosofia', pois desde que os maus alunos podem fugir aos exames de Física e de Biologia e fazer, em vez deles, o de Filosofia, as notas destas disciplinas não têm parado de subir assim como as de Filosofia não têm parado de descer, de modo que, não se sabendo, do universo de inscritos a Biologia e a Física, quantos foram antes fazer o exame de Filosofia e que notas internas traziam, estas afirmações são vazias.
Hutchings said: “The problems are caused by increased pressure from tests/exams, [children’s] greater awareness at younger ages of their own ‘failure’, and the increased rigour and academic demands of the curriculum.
The study exposes the reduction in the quality of teacher-pupil interaction, the loss of flexibility and lack of time for teachers to respond to children as individuals, the growing pressure on children to do things before they are ready, and the focus on a narrower range of subjects.”
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